Virando do avesso escrita por calivillas


Capítulo 2
O que lhe foi negado




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Júlia só queria sair dali, fugir sem ser notada, então andou apressada e desceu pelas escadas até a garage, entrou no seu carro estacionado e fechou a porta com força. Sentia-se confusa, a respiração ofegante, as ideias embaralhadas, seu sexo em fogo, seus peitos contraídos e doloridos, com muita raiva de Leandro não só pela traição, mas por haver descoberto um outro homem bem diferente do que ela conhecia. Sentiu um estranho vazio, o rancor se transformou em mágoa, e as lágrimas transbordaram repentinas, soluçando alto fazendo seu corpo estremecer. A lembrança da outra mulher, gemendo de prazer sobre Leandro se repetindo na sua cabeça, era muito dolorosa para ela, sentia como se algo lhe fosse negado. Não percebeu quanto tempo demorou até seu pranto secar, assim, mais calma, fitou-se no espelho, depois, buscou lenços de papel no seu porta-luvas, na vã tentativa de melhorar a aparência, antes de ligar o carro e sair dali.

— Onde você está, Júlia?  Temos clientes esperando! – Júlia podia até imaginar o rosto ansioso de Rafael, seu sócio, falando ao telefone.

— Rafael, aconteceu algo hoje inesperado, que preciso resolver urgentemente. Por favor, poderia cuidar disso para mim?

Ouviu-se um minuto de silêncio do outro lado da linha, enquanto Rafael pensava se poderia perguntar.

— Algo sério? Posso ajudar?

— Não, obrigada. Mas, eu preciso resolver isso sozinha, Rafael, talvez, tenha que antecipar minhas férias alguns dias. Cuide dos clientes para mim, por favor.

— Claro, eu cuidarei, se é tão urgente assim. E lembre-se, Julia, caso necessite de ajuda e só ligar.

— Obrigada, Rafael. Você é um bom amigo, com quem sempre posso contar nas horas mais difíceis.

— Eu sei disso. Até mais, Júlia.

Depois que desligou o telefone, Júlia continuou dentro do carro, parada no estacionamento perto do edifício onde ficava o escritório de Leandro. Respirou fundo para criar coragem, para tomar uma atitude, fez uma nova ligação.

 - Leandro, precisamos conversar!

— Agora, Julia? É algo urgente? Porque acabei de retornar do almoço e eu terei uma reunião em uma hora.

— Sim, é muito urgente, preciso falar com você agora, Leandro! Não dá para deixar para depois! Eu estou perto do seu escritório e o que tenho para falar com você, não vai demorar muito.

— O que houve, Júlia? Você está me assustando.

— Não se preocupe, Leandro. Só posso adiantar que eu tenho a dizer será fundamental para o nosso futuro.

— Eu estarei esperando por você.

 Sem conseguir entender como, Júlia chegou na frente da porta do escritório de Leandro, sem prestar atenção em nada. Parou na frente da porta dele, sem bater, abriu e entrou, fechando atrás de si, com um baque seco. Ficou ali imóvel, as costas contra a madeira fria da porta, sem coragem para dar um passo para frente. Leandro levantou a cabeça do seu computador e a encarou, assustando-se com a aparência dela.

— Meu Deus! Júlia, o que houve?

Ele se ergueu, circundando sua mesa e indo até ela, olhando para os olhos delas inchados e vermelhos, envolveu-a em um abraço e tentou dar-lhe um beijo, mas, ela desviou o rosto para evitá-lo. Leandro se afastou, fitando-a, atordoado.

— O que está acontecendo com você, Júlia? – Ele ergueu as sobrancelhas, a interrogando.

Ela o olhou nos olhos.

— Estive no seu apartamento hoje, na hora do almoço – ela falou com firmeza, sustentando o olhar.

As mãos dele deslizaram pelos braços de Júlia até caírem pendentes ao lado do corpo, o seu rosto ficou pálido e seu pomo-de-Adão subiu e desceu, engolindo em seco, prevendo o que viria a seguir.

— Esteve?

— Estive.

— Júlia, eu posso explicar ...

Júlia ergueu a mão para ele parar.

— O que eu vi lá, dispensa explicações, Leandro.

— O que você viu?

— Você com outra mulher, na nossa cama.

O rosto de Leandro ficou branco de terror.

— Você deve estar me odiando. Eu sei que fui um idiota. Aquilo foi uma burrice, uma estupidez da minha parte. Nunca tinha feito algo parecido antes, Júlia.

— Mentira! – Júlia disse como cuspisse a palavra na cara dele. Leandro deu mais um passo para trás, atingido pelo o olhar de ódio de Júlia – Você já fez aquilo antes, mas não comigo. Quem era aquela mulher, Leandro?

— Uma mulher que eu conheci no trabalho. 

— Você conheceu ela hoje?!

— Sim - Júlia o olhou confusa, pensando em toda aquela intimidade e na entrega que ele teve com uma completa estranha. – Por favor, Júlia, nós vamos nos casar daqui alguns dias. Perdoa-me! Eu a amo, quero me casar com você! Vamos esquecer tudo isso, continuar a nossa vida, como ela é agora. – Leandro continuou suplicando, ela só o fitava, com um olhar vazio.

—Eu não quero continuar, Leandro. Não como nossa vida é agora.

Leandro abriu e fechou a boca, sem argumento, diante da voz fria de Júlia.

— Você quer terminar comigo?

— Não! Acho que não.

—Não? Então, o que você quer, Júlia?

— Eu quero aquilo que você deu a ela.

— Como assim? – Leandro estava cada vez mais confuso, deu mais um passo para trás, se afastando de Júlia.

— Eu quero aquela entrega, aquele prazer que você deu para ela. Eu quero que faça comigo o que fez com ela.

Por um instante, o rosto de Leandro demonstrava todo o espanto que aquelas palavras lhe causavam, não podia reconhecer a mulher parada ali na sua frente, olhava para Júlia como se ela falasse em outra língua, sem entender o que ela dizia, nunca havia pensando na sua noiva daquela maneira. Porém aos poucos, suas ideias ficaram mais claras, ele respirou fundo, sorriu de um modo encantador e se aproximou dela, acariciando uma mecha do cabelo dela.

— Júlia, meu amor, você não é esse tipo de mulher. Você é diferente – ele falou mansamente, como se ela fosse uma garotinha, envolvendo-a nos seus braços e olhando-a nos olhos.

— Como assim diferente?

— Você é mais recatada, respeitável, não é daquele tipo de mulher, uma vadia qualquer.

— Recatada e respeitável?

— Sim, que não se deixa levar pelo desejo aquela maneira, ainda mais por estranho, e eu gosto de você assim e você será uma esposa perfeita, linda, inteligente e respeitável, querida. Você é a mulher certa, a esposa que eu quero ter.

Leandro estava muito seguro enquanto falava e Júlia não queria acreditar naquelas palavras, era isso que ele queria que fosse apenas uma esposa respeitável, que poderia apresentar para a sociedade e ajudasse na sua ascensão profissional e social, enquanto ele se refastelava com fogosas estranhas fora do casamento.

— Eu lamento, Leandro. Como eu disse antes, não posso mais me casar com você assim.

Ela se virou, abriu a porta e já ia saindo.  

— Júlia! – Ela se voltou para ele. – Acho que você está um pouco confusa. Por favor, pense bem por algum tempo, antes de tomar essa decisão. Se mudar de ideia, eu estarei aqui esperando por você. Pense se é isso mesmo que você deseja, se quer desistir de tudo que planejamos por uma pequena falha minha.

Júlia não respondeu, abriu a porta e saiu


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