Virando do avesso escrita por calivillas


Capítulo 13
Uma nova mulher




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Caminharam lado a lado pela estradinha de terra batida, não falaram muito até chegarem a casa de Mauro. Ele abriu o portão, largou a bicicleta no jardim e entraram. A casa parecia tão agradável, como a primeira vez que Júlia estivera ali, com sua coleção de objetos inusitados de vários lugares do mundo.

— O que quer beber? - Mauro perguntou, enquanto ela se sentava no sofá.

— O que tiver aí. – Ela deu de ombros.

— Tenho uma cachaça da boa. Aceita?

— Cachaça? Eu nunca bebi cachaça, mas tudo bem, já que estou fazendo um monte de coisas que nunca fiz antes na vida, por isso vou experimentar.

Mauro serviu um pequeno copo para ela e outro para si mesmo de um líquido de cor dourada. Ela deu um pequeno gole, a bebida desceu queimando por sua garganta, dando um calorzinho reconfortante.

— Você deve estar aborrecida porque seu namorado foi embora – Mauro foi direto, sentando-se em uma banqueta na frente dela.

— Ele não era meu namorado.

— Não? Eu pensei quando vi vocês juntos no circo na outra noite.

— Bem, ele não era meu namorado. Ele era...eu não sei o que ele era! – Júlia falou confusa, e tomou mais um gole – A gente só se conheceu e ficou junto, porque gostávamos. Só isso, sem planos para o futuro, só uma aventura.

— Mesmo assim é muito difícil dizer adeus para alguém, que mexeu tanto com você, Júlia.

— É mesmo. Mas, como você sabe que ele mexeu assim comigo?

— Está na cara. Tem pessoas que você conhece a vida toda, mas que não acrescentam nada, quando vão embora, logo nem se lembra que ela existiu. Mas, em compensação, há outras que bastam cruzarem na sua vida, por um breve instante, e conseguem mudar você, completamente, e ficam marcada para sempre na sua alma.

— Acho que ele foi uma espécie de tábua de salvação. Eu me agarrei nele, quando estava afundando.

— Às vezes, é bom encontrar as tábuas de salvação, ajuda a manter nossa cabeça fora d’água para enxergar novos horizontes, mesmo sabendo que não precisa durar muito tempo.

— Mas isso doe. Dizer adeus dessa maneira, sem opção, não podia pedir nada a ele ou vice-versa.

— Sempre há uma opção.

— Não no meu caso. Eu vim para aqui, me esconder, esquecer da traição do meu noivo e me envolvi com o primeiro cara que me deu um pouco de atenção, mesmo sabendo que não iria dar em nada.

— Talvez, você precise disso. Uma dor substituindo a outra. Mudando seu foco.

— Você parece que sabe muito sobre isso, Mauro – Júlia limpou as lágrimas com a mão, depois, bebendo mais um gole, percebeu sua cabeça mais leve.

— Também tive minhas perdas. Por pior que seja, a dor diminui com o tempo e, às vezes, até podemos sair melhor e mais forte disso.

— Será?

— Isso porque você está vendo ainda muito de perto, mas quando nos distanciamos, observamos tudo melhor, em um panorama geral, e até podemos tirar as coisas boas disso.

Júlia tomou mais um gole, o copo estava vazio, Mauro o encheu novamente, sem pedir permissão.

— Eu sabia que não ia dar em nada, que ele era apenas um garoto e iria embora a qualquer momento. Era uma morte anunciada.

— Mas, foi bom para você?

— Foi. Ele é adorável, tão carinhoso, me fez sentir como nunca me senti antes – Ela sorriu ao pensar em Ricardo e nos seus momentos juntos.

— Então, apesar de ter durado tão pouco tempo, foi bom para você. E o seu noivo?

— Sabe, nós íamos nos casar daqui alguns meses. Casamentão mesmo! Com igreja e recepção, tudo quase pronto. Já estávamos juntos há mais de cinco anos. Um dia, cheguei no apartamento dele, sem avisar e ele estava na cama com outra mulher.

— Dureza.

— Sim, foi dureza, mesmo. No entanto, eu não fiquei tão zangada com a traição em si.

— Não?

— Não, mas eu fiquei zangada pela forma que ele fazia sexo com ela. Sabe como é? Quente, sensual, ele queria dar prazer a ela, mostrar que era bom, sabe como os homens gostam de se exibir.

— Sei.

 - Mas, ele nunca tinha sido assim comigo, dessa maneira tão viril. Aquilo me deixou com muita raiva! – Júlia bebeu mais um gole. – Nossa! Eu não devia estar falando essas intimidades com você, eu nem te conheço direito.

— Tudo bem, é bom se abrir. E o que você fez?

— Eu confrontei ele, disse que queria aquilo para mim. Queria que ele fizesse sexo comigo daquela maneira, como direi, audaciosa.

— E ele?

— Disse que eu era muito contida, uma moça de respeito, que comigo não podia ser assim, porque a outra mulher era uma vadia. Fiquei com muito ódio e terminei o casamento

— Por isso, se escondeu aqui?

— Foi. Não queria enfrentar ninguém, me explicar, dar uma desculpa. Contar porque eu terminei o casamento, ninguém entenderia que eu queria ser uma vadia na cama.

— Então, fugiu?

— Acho que sim.

— Aí conheceu o rapaz do circo? Qual é o nome dele?

— Ricardo. Aí, eu conheci Ricardo cheio de energia, quente, sensual, carinhoso. O sexo com ele era ótimo, quente, insaciável – Júlia revelou, enquanto Mauro tentava manter uma expressão impassível e não rir.

— Assim você provou para si mesma, que seu noivo estava errado, que você não era aquela noiva contida, que ele achava, mas uma mulher quente e sensual.

— Eu não tinha pensando nisso antes. Mas, talvez seja isso mesmo. Eu transei com um estranho, como nunca tinha feito antes.

— Assim, nasceu uma nova Júlia, uma nova mulher. Além disso, pense que o garoto terá uma bela história para recordar. Você viverá na memória dele para sempre. A bela mulher da cidade grande com quem ele viveu uma linda aventura sensual e romântica.

— Será?

— Com certeza! Então, vamos brindar a nova Júlia! – Mauro ergueu o copo em um brinde, que Júlia acompanhou, sem muita animação. – Às vezes, é melhor que acabe dessa maneira, pois só fica a fantasia romântica, sem a dor de ver aqueles momentos bons se transformarem em um enorme e pesado farto.


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