Virando do avesso escrita por calivillas


Capítulo 12
Já houve muito adeus na sua vida




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O fim de semana passou em um turbilhão, como uma montanha russa de emoções cheias de altos e baixos. Noites sensuais, quando, às vezes, faziam sexo de forma selvagem e intensa e, outras, suaves e delicadas, mas sempre cheias de prazer, com o gosto de nunca mais. A cada manhã, Júlia acordava mais e mais triste ao lado de Ricardo, mas tentava disfarçar, para não se deixar abater, nem estragar aqueles últimos momentos juntos. No domingo à noite, no fim do espetáculo, o apresentador, dono do circo e pai de Ricardo, se despediu do público e agradeceu a acolhida que receberam cidade, comunicando que aquele era a última apresentação. Depois todo o elenco desfilou no picadeiro, Júlia que havia assistido as apresentações, quase todos os dias, esperou tudo acabar para se encontrar com Ricardo.

— Vamos!

— Ricardo! Não se esqueça que amanhã cedo, a gente tem que desmontar para ir embora! – Seu pai avisou de longe, enquanto saiam. Júlia engoliu seco.

— Você não precisa ficar para ajudar?

— Não, ele falou que não precisa de mim hoje. Eu quero ficar essa noite com você.

Voltaram para casa na moto de Ricardo. Não havia tempo a perder, aquilo era adeus definitivo. No quarto, tiraram a roupa um do outro, devagar, quase como um carinho. Admiraram-se nus, tocaram-se suavemente, sem pressa, como se quisesse guardar cada relevo, cada reentrância, como se quisesse guardar na memória todos os detalhes do corpo do outro. Ricardo mergulhou seu rosto na curva do pescoço de Júlia, aspirando seu cheiro, queria levá-lo na memória, depois beijou-a, sentindo seu gosto. Ela beijava seu peito, seus ombros, acariciava seus cabelos, desenhava com o dedo a curva da sua boca, sentiram o sabor dos seus corpos. Era quase doloroso, então quando ele a penetrou, foi sem pressa, não querendo que acabasse, não querendo mais sair daquela mulher. O prazer foi intenso, mais sofrido, que se prolongou por toda a noite, mas não dormiram, nos momentos de descanso ficaram assim abraçados, às vezes, sem falar nada.

— Eu não posso pedir para você vir comigo, Júlia. Essa vida não é para você, sem rumo, sem paradeiro, viver em um trailer – Ricardo falou, quebrando o silêncio, com os braços em volta dela, deitados na cama, na penumbra do amanhecer.

 - Eu, também, não posso pedir para você ficar, Ricardo. Porque o circo é a sua família, onde estão seu pai e seu irmão e eles precisam de vocês agora.

— Eu sei. Mesmo que quisesse, não posso deixar eles nesse momento. E eu não tenho nada para oferecer para você.

— Não fale isso, você me deu muito. Eu cheguei aqui, desamparada e perdida, então encontrei você que me ajudou a me equilibrar, descobrir quem eu sou.

— Eu fiz isso mesmo?

— Sim, fez e sempre terá um lugar no meu coração.

— Eu também nunca me esquecerei de você, Júlia. Talvez, um dia, eu possa estar a sua altura.

— Não, diga isso, qualquer mulher gostaria de ter um homem como você – Ela respirou forte, quase um suspiro. - Você deve estar acostumado com isso de estar sempre se mudando.

— A gente nunca se acostuma. Às vezes, a gente gosta de um lugar ou de uma pessoa, faz amigos, mas tem que ir embora. É como se tudo tivesse um tempo para terminar.  

— Já houve muito adeus na sua vida. Isso deve ser muito triste?

— Muitas vezes, é mesmo. Tem aquela vontade de ficar, mas ter que ir embora como agora. – A voz dele estava cheia de melancólica, Júlia beijou seu peito, alisou seus cabelos e os dois ficaram fizeram amor mais uma vez, lenta e suavemente, olhando um nos olhos do outro, para nunca mais esquecerem esse momento. Assim se passou aquela última noite e quando o sol invadiu o quarto, Ricardo se levantou e se vestiu em silêncio, Júlia se enrolou no lençol e o seguiu até lá fora. Mas, antes dele partir, ela entregou um cartão para ele.

 - O que é isso? – Ele a encarou, franzindo o cenho.

 - Meu telefone. Pode me ligar quando quiser, Ricardo. Mesmo se for só para conversar, quando se sentir sozinho.

— Obrigado, vou guardar isso sempre comigo – E colocou o cartão na carteira.

Pela última vez, eles se beijaram, sofrida e intensamente. Seus corpos se afastaram, devagar e não falaram mais nada, nem um adeus ou um até breve, Ricardo subiu na moto e partiu. Júlia ficou o observando se afastar até desaparecer na curva do fim da rua, sentiu um aperto no peito. Não! Aquilo não podia ser amor? Aconteceu muito rápido e foi tão intenso. Aí que as lágrimas rolaram pelo seu rosto, sem controle.

No fim da tarde, Júlia sentiu um imenso vazio, como se nada pudesse preenchê-lo. Pensou que já estava na hora de voltar para casa, mas não sabia se podia aguentar toda a pressão sobre ela, que teria que aguentar, em relação ao casamento desfeito com Leandro.

— Sua burra! Veio fugir de um problema e arranjou outro! – Brigou consigo mesma, em voz alta.

Sem ter mais o que fazer, caminhou em direção à cidade, até parar na frente da praça, onde o circo estivera armado e, agora, não passava de um terreno vazio, com lixo espalhado, restos esquecidos. Ficou olhando para o lugar, por um tempo, como se tudo que vivera nos dias anteriores fosse um sonho e ela tinha acordado agora.

— É! Eles foram embora! A cidade vai ficar mais triste. – Ao olhar para o lado ela viu Mauro, parado na sua bicicleta. – Vamos beber alguma coisa, Júlia. Se você quiser, podemos conversar.

Ela assentiu com a cabeça, e ele desceu da bicicleta para a acompanhá-la a pé.


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