The Queen's Path escrita por Diamond


Capítulo 21
Capítulo XXI - 20 de Março de 1872




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Sentada sobre o parapeito da janela, a ruiva observava desinteressadamente a empolgação ímpar das três crianças em brincar de  pular corda. Delia sempre fora filha única, de modo que brincadeiras que necessitavam de ao menos três pessoas estavam terminantemente vedadas dentro de sua realidade familiar. Involuntariamente, a jovem soltou um suspiro cansado e por mais que seus olhos permanecessem fixos nos pequenos, sua mente já não estava mais ali. Ela vagueava em algum lugar distante do passado, cuja localização exata era bastante cobiçada por seu companheiro naquele momento.

Marco aproximou-se da jovem camponesa por trás, rodeando-a pela cintura com seus braços morenos, enquanto seu rosto acomodou-se suavemente na delicada curva entre seu ombro e pescoço, inalando o aroma único de canela que ela exalava. Delia não proferiu uma única palavra, deixando que ele fizesse o que bem entendesse. A falta de reação o incomodou profundamente, ainda que ele não estivesse surpreso com tamanha passividade. Já havia alguns meses que a ruiva encontrava-se cada dia mais fechada, reclusa dentro de si mesma, portando quase sempre um olhar pesado e melancólico.

— Será que você já está pronta para me dizer o que aconteceu? — ele questionou em um sussurro, enquanto esboçava uma carícia tímida com a ponta do nariz. — Já tem meses que você está agindo de maneira estranha e eu estou começando a ficar preocupado.

— Não é nada. — ela respondeu com desânimo, sem sequer tornar o rosto para encará-lo. — Ao menos nada com que você deva se preocupar. Eu ficarei bem, de verdade.

Apesar das palavras de encorajamento, seu tom de voz e sua expressão demonstravam exatamente o contrário, denotando que nem mesmo ela acreditava naquilo que dizia.

— Não é o que parece. Eu não a vejo mais tocar sua flauta, seja aqui ou na praça. Você nem mesmo canta como costumava fazer.

— E o que tem demais nisso? — ela arguiu um tanto aborrecida com aqueles questionamentos todos. — Certas infantilidades precisam ser deixadas para trás, mais cedo ou mais tarde.

Marco não gostou nada do que ouviu, mas também não conseguiu pensar em coisa melhor para dizer. Era difícil para ele manter-se ao lado de uma pessoa que não apresentava mais nenhuma das características que o fizeram se apaixonar. O sorriso brilhante raramente podia ser visto, o espírito otimista fora arbitrariamente substituído por uma melancolia mórbida e a comunicação sempre tão natural entre eles se restringia a diálogos curtos e vazios que não os levavam a lugar nenhum.

— A princesa Sarah está prestes a se casar, não é mesmo? — Delia comentou secamente, sem esboçar qualquer reação. — Com o primogênito da Família Avelar, foi o que ouvi dizer pelas ruas recentemente.

— Sim, estão finalizando hoje os últimos preparativos no castelo. A cerimônia ocorrerá amanhã no início da tarde. — ele respondeu um tanto incrédulo com aquela pergunta que não parecia ter qualquer nexo com a conversa que estavam tendo.

— Pobre Elliot… Cometeu o erro mais antigo e mais comum da história da humanidade: apaixonou-se por alguém absolutamente fora de seu alcance.

Aquelas palavras foram proferidas em um tom de voz baixo, voltadas totalmente para si. Entretanto, dada a proximidade dos dois, o monólogo proferido em tom sarcástico e até mesmo um tanto sádico pôde ser plenamente ouvido por sua companhia, que meneou negativamente a cabeça, incapaz de ocultar sua própria decepção.

Intimamente, o rapaz gostaria de dizer que ficaria ao seu lado até que ela se sentisse melhor, ou ao menos confiante o suficiente para compartilhar com ele o que tanto vinha lhe perturbando. No entanto, por alguma razão que lhe era desconhecida, tais palavras pareciam ficar presas em sua garganta, incapazes de serem expelidas. Após alguns instantes daquela batalha muda, ele terminou por desistir, afastando-se da camponesa em silêncio. Marco saiu da casa sem olhar para trás. “Espero que um dia possa me perdoar por tudo. Diferentemente de mim que estou fadada ao isolamento, você merece ser feliz”, ela pensou com pesar.

Do reflexo de sua janela, era possível visualizar as lágrimas silenciosas escorrendo por seu rosto.



As porteiras dos estábulos se encontravam parcialmente fechadas de modo a evitar que a fina neblina invadisse a área destinada aos animais mais caros e nobres de todo o reino. Mesmo sem raças plenamente definidas, os híbridos Pipo e Petruchio regozijavam das mesmas regalias dos demais cavalos, um pequeno mimo anonimamente custeado pela Coroa.

Elliot correu o mais rápido que pôde para dentro do ambiente fechado. A chuva ganhava força a cada instante e não demoraria muito até que ele estivesse completamente encharcado. Adentrando naquele ambiente tão familiar, seu objetivo inicial consistia em acender as lamparinas à óleo, para que então pudesse começar a trabalhar de fato. Delas se emanava um brilho fraco, mas duas foram suficientes para que ele reparasse que não se encontrava sozinho ali. Sentada sobre um estreito banco de madeira aos fundos dos estábulos era possível encontrar a figura desconsolada da princesa de Odarin.

Ele caminhou lentamente em sua direção até finalmente sentar-se ao seu lado em silêncio, encarando os próprios pés ao fazê-lo. Sarah era a definição exata da infelicidade e já havia chorado tanto nas últimas semanas que por vezes se questionava como ainda não tinha murchado como uma planta seca. O mesmo poderia ser dito de Elliot, ainda que o rapaz fizesse questão de manter aquele fato oculto de sua companheira. O tratador de cavalos era o tipo de pessoa que sempre questionava com veemência a falta de zelo da Coroa com sua própria população. Desta forma, ver-se inserido em uma decisão crucial o fazia entrar em contradição diversas vezes ao dia, sempre que se flagrava desejando com todas as forças que Sarah não tivesse de se casar com outro sob aquelas circunstâncias.

Em meio a sua ansiedade nervosa, ele chegou a questioná-la ao menos uma dúzia de vezes, buscando encontrar uma saída que pudesse ser minimamente viável aquela união forçada. No entanto, todas as tentativas resultaram em lágrimas silenciosas por parte da princesa, o que acabava por servir-lhe de resposta. Se de fato houvesse alguma alternativa para aquele casamento, aquela jovem em questão não era capaz de imaginar qual fosse.

— Então já é amanhã, não é mesmo? — a pergunta era retórica e por mais que estivesse consciente disso a jovem meneou a cabeça positivamente. Era uma forma de tentar aceitar aquele fato de uma vez por todas. — Sarah, eu...

Antes mesmo que ele pudesse finalizar sua frase, a princesa foi mais rápida em colocar o dedo indicador sobre a boca do rapaz. A última coisa que ela precisava naquele momento era de uma confissão apaixonada. Já não havia mais tempo para aquele tipo de coisa.

— Por favor, não diga. Não diga em voz alta. — ela praticamente implorou, restando-lhe apenas um fio de voz, sentido que estava prestes a verter mais lágrimas novamente. — A essa altura existem coisas que já não merecem mais ser ditas.

O dedo que ela havia repousado sobre os lábios se movimentou com delicadeza sobre a bochecha de Elliot. Não tardou muito para que os demais dedos se unissem ao primeiro, ensaiando uma carícia simbólica. Em um raro momento de relaxamento o rapaz se permitiu fechar os olhos, no intuito de memorizar a sensação daquele afago tenro, motivado pelo morno sentimento que os envolvia a tantos anos, mas que tornaram-se conscientes dele apenas agora.

Enquanto isso, Sarah observava com muita atenção os traços do rapaz a sua frente. Apesar de não ter mais que vinte e um anos, ele portava algumas poucas linhas de expressão, principalmente na testa e entre as sobrancelhas. Estas permaneciam boa parte do tempo ocultas pelos fios da cor de trigo que lhe emolduravam o rosto. Após alguns instantes ele tornou a abrir os olhos, permitindo-a mergulhar naquele olhar sôfrego que demonstrava um misto de carência e saudosismo. Embalados pelo som ininterrupto da chuva ambos aproximaram seus rostos simultaneamente, permitindo que seus lábios se encontrassem no meio do caminho.

Desde o dia em que soube com precisão o que o destino havia lhe reservado, ela chorou como se não houvesse amanhã, sentindo-se injustiçada pelo mundo e traída por seus próprios ideais. Elliot escutou os reiterados lamentos em silêncio enquanto tentava amenizar sua dor ao abraçá-la com força. Apesar de sentir-se tão abalado quanto a própria princesa, seu orgulho foi totalmente canalizado no intuito de impedir quaisquer lágrimas que pudessem ser vertidas, ao menos diante dela. Mesmo em um momento como aqueles ele se preocupava em parecer forte e ponderado, por mais que seu interior estivesse em frangalhos.

O dia 04 de Fevereiro marcou o início de uma série de encontros mudos entre eles. Qualquer tentativa de diálogo acabaria os levando de volta a um assunto que ambos se esforçavam para ignorar. Por esta razão eles permitiam nestas ocasiões suas mãos e bocas falassem por todo o resto. Mesmo após tomar conhecimento daquele casamento os beijos compartilhados por eles ainda conservavam toda a paixão daquele relacionamentos fugaz, mesmo que ao final todos tivessem o amargo gosto da saudade. Seu tempo estava se esgotando.

Ela pôde sentir o exato momento em que em que foi puxada para junto dele, esquecendo-se momentaneamente de que suas vestes encontravam-se molhadas por conta da chuva repentina. O tecido frio estava colado ao corpo quente do tratador de cavalos e aquele misto de sensações quase fez com que a jovem quisesse ir além do já não tão casto beijo. O devaneio fez com ela interrompesse o ato, que não havia sido suficiente para apaziguar o desejo de seu companheiro. Ainda insatisfeito, Elliot deslizou o rosto pelas maçãs de sua bochecha, descendo então até o pescoço da princesa, desferindo ali dezenas de beijos possessivos, arrancando dela alguns suspiros baixos e sôfregos. Sarah tinha consciência de que estava prestes a cruzar uma perigosa linha bem às vésperas de seu próprio casamento, mas ao invés de repeli-lo, seus braços rodearam o pescoço do rapaz, o que o incentivou a trabalhar com mais afinco naquela área.

Na realidade, se parasse para refletir por um instante, cada encontro entre eles já representava com precisão o rompimento de quaisquer limites que lhes eram impostos.

O som da chuva tornou-se distante, até desaparecer por completo. Ali, ela soube que o tempo deles estava esgotado por completo. Com uma gentileza incomum, ela afastou-se alguns centímetros, encarando-o  profundamente em seus olhos. Um último beijo rápido serviu como despedida e após se separarem, ele levantou-se e seguiu silenciosamente em direção ao castelo. Durante todo o trajeto Sarah tentou não olhar para trás, no intuito de não tornar aquele momento ainda mais doloroso. Apesar das tentativas bem intencionadas, ela falhou copiosamente.



Com as pernas estiradas sobre a própria cama, Sarah observava com descaso os preparativos finais para seu casamento. Contrastando com sua figura pálida e melancólica, Beatrice parecia estar mais do que radiante com todos aqueles acontecimentos repentinos. Para a jovem rainha, sua rotina costumavam ser vazia, ao passo de que as horas pareciam se arrastar com lentidão. Entretanto, nas últimas semanas ela esteve encarregada de todos os preparativos daquela cerimônia e o encargo preencheu seus dias quase que completamente, deixando-lhe com a sensação boa de utilidade.

— Qual desses brincos você acha que irá combinar melhor com o seu vestido? Este de cristais ou este outro com pérolas? — Beatrice questionou com uma empolgação ímpar.

— Qualquer um está bom. — Sarah respondeu com desanimo. Por um instante ela chegou a rir sem qualquer humor ao recordar de sua festa de aniversário de quinze anos. Na época, ela considerou que a pior coisa que poderia lhe acontecer seria ter que usar espartilhos até sua velhice. Tão ingênua.

— Querida, qual o problema? — a loira perguntou enquanto abandonava as jóias sobre a penteadeira e dirigia-se até o local onde sua companhia se encontrava prostrada. — Escute, eu sei que as palavras “casamento” ou “matrimônio” parecem pesadas, tamanha a responsabilidade que vem embutida nelas, não é mesmo? Mas você não deve se preocupar com isso, confie em mim. Apesar de se tratar de uma nova realidade, não é o fim do mundo. Você se adaptará antes que possa se dar conta.

— Não creio que será tão simples. — a princesa mencionou com desânimo. O gosto de Elliot ainda estava muito presente em sua boca, o que tornava aquela conversa ainda mais penosa.

— E não será mesmo, se você mantiver esse rostinho triste durante todo o tempo. — a jovem rainha respondeu de imediato com um sorriso encorajador. — Dê uma chance ao Edgar e tenho certeza de que ele a fará uma moça muito feliz.

— Além do mais, você está tendo a oportunidade única de casar-se com um conhecido. Mais o que isso, um amigo íntimo! — Evangeline mencionou tão logo adentrou no cômodo, trazendo consigo uma larga caixa. — São pouquíssimas as damas de nosso tempo que possuem este tipo de privilégio.

Sarah não se incomodou em responder a sua governanta. O jovem Avelar possuía um lado obscuro, conhecido por poucos e que por vezes parecia ser mais forte do que sua alma espirituosa. “Podre Edgar, deve estar tão infeliz quanto eu de fazer parte deste joguinho político”, ela pensou com tristeza, recordando-se de todo o sofrimento já enfrentado por ele em função do desaparecimento de Anya.

— Por falar em Edgar, saberiam me dizer onde ele se encontra? Há dias não vejo no castelo e gostaria muito de falar com ele. — a princesa mencionou após alguns instantes de silêncio, aparentando estar minimamente mais animada naquela ocasião.

— Ele teve de resolver alguns assunto muito urgentes em Hallbridge, mas deve estar de volta ainda esta noite, creio eu. — Beatrice respondeu enquanto abria com delicadeza a caixa trazida por Evangeline. Ao revelar seu conteúdo, ela não pôde conter um gritinho de empolgação. — Olhe isto, Sarah! Diga-me se este não é o vestido de noiva mais incrível que você já viu em toda a sua vida? É mais bonito até mesmo do que o meu!

Incapaz de compartilhar a euforia da jovem rainha, a princesa encostou-se melhor na pilha de travesseiros e almofadas dispostas atrás de si e fechou os olhos. Ela estava bastante cansada e, se conseguisse concentrar-se bem, poderia reviver mentalmente aqueles momentos vividos dentro do estábulo há algumas horas atrás. Tudo o que gostaria era que Elliot estivesse ali, ao seu lado, envolvendo-a com seu braços fortes e acolhedores, como sempre fazia quando estavam juntos.



O restante da tarde se passou num piscar de olhos, ou ao menos era essa a impressão que Sarah tinha, ainda que a realidade fosse bem diferente. Ter cochilado até o entardecer lhe custaria preciosas horas de sono. Infelizmente, não havia nada que pudesse ser feito. A princesa se sentia mais acesa do que uma vela, não sabendo precisar se aquilo se devia ao fato de ter dormido durante horas à fio ou pela ansiedade que a dominava em relação ao dia seguinte.

O casamento do ano!”, era o que os nobres lhe diziam a todo momento. “Casar-se com Edgar Avelar, você será provavelmente a dama mais feliz de todo o reino”, era o que as damas comentavam sempre que a ocasião surgia. Agora mais do que nunca ela compreendia todo o desprezo que seu futuro consorte nutria por aquelas pessoas. Tão supérfluas e egoístas que era de se admirar que não se apaixonassem por seus próprios reflexos, tal como ditava uma antiga lenda.

Trajando suas vestes de dormir, a princesa perambulava pelos corredores sem rumo certo. Acreditava que caminhar entre aquelas paredes de pedra fria poderia lhe trazer algum sono. Do corredor de onde estava, ela pôde vislumbrar o momento exato em que Edgar adentrou no castelo. Já era tarde da noite e por mais que ela quisesse conversar a sós com ele, sabia bem o quão cansado o rapaz deveria estar. Tal como fazia quando criança, ela correu silenciosamente até a viga mais próxima,escondendo-se atrás dela enquanto o observava arrastar-se até seu próprio quarto. Tão logo o jovem Avelar sumiu de sua vista, ela retomou sua caminhada indefinida até dar-se conta de que havia chegado a janela que ficava precisamente debaixo da sua.

Do lado de fora, o jardim encontrava-se tomado pela escuridão, sendo iluminado tão somente pela fraca luz da lua. Aquilo fora suficiente para que ela percebesse uma movimentação do lado de fora. Considerando-se a hora avançada, ter uma pessoa rondando o castelo era minimamente suspeito. Aproximando-se da vidraça, Sarah tomou um susto e recuou dois passos ao perceber que tratava-se de ninguém menos que Elliot. Com pressa, ela reaproximou-se da janela, tratando de abri-la o mais rápido que conseguiu.

— Por céus Elliot, o que está fazendo aqui uma hora dessas? — ela inquiriu com espanto e então logo recordou-se de que deveria falar baixo, pois à exceção de Edgar todos já deveria estar dormindo no castelo.

Com certeza urgência, ele tomou as mãos da princesa entre as suas, segurando-as com força. Ele fazia um esforço sobrehumano para não verter nenhuma lágrima na frente diante, consciente de que aquilo só pioraria a situação para os dois.

— Eu não posso permitir que você se case dessa maneira… — ele afirmou de modo vago, o que fez com que ela juntasse as sobrancelhas em uma clara expressão de confusão. — Ele não é capaz de fazê-la feliz como eu posso.

— Acha que não sei disso? Acha que estou feliz com esse casamento forçado? — ela respondeu com certa irritação. Não importa de ângulo ela analisasse aquela situação, em nenhum sentido as coisas lhe pareciam favoráveis. Ainda assim, um dever lhe fora imposto e ele precisava ser cumprido. As pessoas contavam com ela para tornar o fardo de suas vidas miseráveis um pouco mais leves. —  Esse é o peso da nobreza que poucas pessoas enxergam. Buscar a felicidade nem sempre é uma opção.

— Você não precisa ficar. Eles não precisam de você. Eu preciso de você! — o rapaz retrucou com certo desespero. Apesar de seu estado de espírito visivelmente abalado, Elliot parecia muito certo das coisas que dizia. — Ainda há uma opção. Por que não foge comigo? Só assim ia se ver livre de toda a hipocrisia e deveres que você detesta. Vamos, não deve ser uma decisão difícil. Venha comigo.

A menina levou uma das mãos até a boca, mas não pôde conter algumas lágrimas silenciosas. Apesar de seus esforços, alguns soluços escapavam e ela tinha certeza que parecia patética e fraca. Com a ponta dos dedos, o rapaz tentou limpar algumas das gotas que rolavam soltas por seu rosto rosado. Em um ato impulsivo, ela o abraçou com força e seu gesto de desespero foi prontamente retribuído. Àquela altura Sarah chorava com tanta intensidade que chegava a molhar a camisa de seu primeiro e único amor.

Ela, sentada sobre a soleira da janela baixa, enquanto ele se mantinha em pé ao lado de fora do castelo. O parapeito representavam bem o muro que a sociedade havia construído entre eles. Por muito tempo eles driblaram todos os obstáculos, até que um deles se mostrou mais impiedoso e intransponível que os demais. Em um ato desesperado, a jovem puxou-lhe o pescoço e eles selaram os lábios mais uma vez. O beijo tinha um gosto salgado por conta das lágrimas. Os dois tinham urgência em sentir um ao outro, pois havia grandes chances daquele ser o último contato compartilhado entre os dois e que os acompanhariam pelo restante de suas vidas.

A princesa segurava suas costas com força, enquanto que o tratador de cavalos repousava uma mão sobre sua bochecha e a outra agarrava-lhe a cintura com possessividade. O rapaz por vezes movimentava o rosto, buscando explorar aquele beijo de todos os ângulos possíveis. Não havia protestos por parte da jovem, que já não se importava mais com o decoro. Aquela seria sua última lembrança dos dois. Ela merecia aquele momento.

Quando por fim se separaram, foi a vez do rapaz esconder o rosto entre o pescoço e o ombro da moça, finalmente permitindo que algumas lágrimas caíssem de modo silencioso. Sarah enterrou os dedos entre os fios finos do cabelo de Elliot.

— Você não é capaz de imaginar o quanto gostaria de fugir com você. — ela respondeu com a voz embargada. — Mas eu não posso. O meu destino está atrelado à esta terra e existem milhares de pessoas que dependem de mim para ter uma vida melhor. Por mais que eu deteste dizer isso, sou obrigada a reconhecer que ficar é meu dever.

— Não é verdade, seu destino é onde você quiser que ele seja. — retrucou o tratador com a voz tão embargada quanto a dela. Suas mãos largas agarravam as vestes de repouso dela com força. Com delicadeza, ela afastou aquelas mãos de si.

— Eu sinto muito por isso, de verdade. Adeus, Elliot. — foi tudo que Sarah teve tempo de proferir, antes de retornar para seu quarto, correndo aos prantos enquanto distanciava-se daquele a quem ela mais ansiava em ter por perto.


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