The Queen's Path escrita por Diamond


Capítulo 20
Capítulo XX - 04 de Fevereiro de 1872


Notas iniciais do capítulo

Passando rapidamente apenas para desejar um maravilhoso Natal a todos os meus leitores. Vocês foram, sem sombra de dúvidas, meu maior presente neste 2017.

Desejo a todos uma boa leitura! :)



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Com três batidas leves na porta, Evangeline pediu licença para entrar e girou o trinco antes mesmo que sua passagem fosse permitida. Aquele era o procedimento padrão de todos os seus dias: acordar a princesa antes que ela desperdiçasse o dia inteiro na cama, levantando somente para a refeição de meio dia. Entrando no cômodo, ela surpreendeu-se ao ver que a menina já se encontrava desperta, o que era bastante peculiar dentro de sua rotina.

Ainda trajando suas roupas de dormir, Sarah estava de pé diante de seu guarda-roupas. A cama encontrava-se coberta de alguns vestidos mais antigos e jóias, muitas delas. A governanta observou a cena incredulamente por alguns instantes, sem entender a razão por trás de toda aquela bagunça. Em um determinado momento, a jovem tornou o rosto e vislumbrou o olhar preocupado da senhora voltado para si.

— Antes que você me encha de perguntas, eu esclareço: estou me desfazendo das coisas de que eu não preciso. Vou precisar da sua ajuda para levar estas roupas até o centro comercial. — sua fala era mansa, ainda que decidida. — Quanto acha que estas jóias valem numa Casa de Penhores?

— Por que você iria querer penhorar suas jóias? — Evangeline comentou de modo incrédulo enquanto sentava-se na beirada da cama. — Sarah, suas jóias quase todas estão aqui. Vai mesmo se desfazer de tudo isso?

— Mas é claro! Não preciso disso tudo, a maioria eu jamais usei inclusive. Existem pessoas que farão melhor uso deste dinheiro. — dirigindo-se até sua penteadeira, ela tomou uma caixa revestida de veludo em suas mãos e a encarou com carinho. Aquela era possivelmente uma de suas maiores heranças. — Estou preservando apenas as jóias da mamãe.

A governanta observava cada movimento da princesa de modo silencioso. Ela questionava-se o que motivava aquela mudança tão drástica de comportamento. Sarah sempre fora generosa, mas jamais havia sido dada às ações de caridade. Por um momento imaginou que poderia tratar-se da má influência de um certo tratador de cavalos, mas então recordou-se de que o rapaz não aparecia no castelo havia alguns dias e que nas duas últimas semanas Sarah não parecia esbanjar a mesma alegria de antes.

— O que mudou? — Evangeline questionou, após algum tempo. — Você não é a mesma de antes.

— E você é? — Sarah rebateu a pergunta de imediato, dando-se conta em seguida de que havia respondido tal qual Allen fizera algumas semanas atrás consigo. — Apenas dei-me conta de que já passei da idade de agir como um parasita.

— Quem lhe disse isso?

— Ninguém. — a jovem preferiu ocultar a realidade que Phillip trouxera à tona, mesmo sabendo que sua governanta enxergaria a verdade por trás daquela esquiva. — Eu apenas quero ser útil.

— Mas você é útil. — Evangeline comentou enquanto erguia-se da cama e caminhava em direção à princesa, desferindo um beijo singelo e carinhoso sobre sua testa, tal como uma mãe faria. — Se você não me desse tanto trabalho, a esta altura eu já estaria desempregada.

Sarah estranhou aquele ato e isto ficou visivelmente estampado em seu rosto. A governanta soltou uma risada baixa e a abraçou carinhosamente, enquanto alisava o emaranhado de mechas castanhas da jovem. Abraços e beijos não eram do feitio de Evangeline e a princesa sequer recordava-se da última vez que recebera alguma daquelas expressões de afeto. Levando isso em conta, ela preferiu não questionar, de modo a não arruinar aquele momento, limitando-se a retribuir o abraço, apoiando uma de suas bochechas no ombro alto e magro de sua eterna companheira. Por um instante, Sarah questionou-se o porquê de ter afastado-se  tanto de sua governanta.

Dentro daqueles braços, ela sentiu-se protegida e amada, bem do jeito que era, sem limites ou restrições. Era como estar dentro dos braços de Elliot. “Não, engano meu. É como estar nos braços da minha mãe”, ela pensou em meio a um sorriso tenro, o primeiro em muitos dias.



Ainda que concentrado em todos os documentos que precisava revisar antes de repassar para Allen, o jovem Avelar por vezes erguia seu rosto em direção ao rei de Odarin, que se encontrava escorado junto à janela, observando o lento esverdear do jardim que se recuperava de mais um inverno intenso. Quando começava a trabalhar, Edgar não costumava dispersar com facilidade, no entanto ele sentia no ar que algo não estava certo. Há muitos meses Allen vinha apresentando um comportamento irritadiço e seu humor estava mais intolerante que de costume. Por outro lado, naquele dia específico o monarca parecia animado e até mesmo murmurava uma canção baixinho, algo nunca presenciado por seu Secretário Real, nem mesmo durante as visitas esporádicas de Charlotte.

— Você parece estar de bom humor. — Edgar comentou, após algum tempo, incapaz de conter sua própria curiosidade. — Alguma boa notícia da qual eu não tenha sido informado ainda?

— Oh, sim, tenho muitas boas notícias. Excelentes, eu diria. — o rei comentou enquanto dirigia-se à mesa de centro de seu gabinete.

Sobre o móvel de madeira, um largo tabuleiro de xadrez encontrava-se disposto e com todas as peças em suas respectivas posições iniciais. Edgar havia reparado no objeto, mas não conseguia imaginar por qual razão ele encontrava-se ali. Nenhum dos dois era chegado ao jogo. Mais uma vez, sem conseguir conter sua curiosidade infantil, ele questionou:

— Achei que você detestasse xadrez. Alguma razão específica para termos um tabuleiro aqui?

— Não se deixe levar pelas aparências, aqui temos um jogo muito semelhante ao xadrez visualmente, mas que segue regras muito próprias. — Allen comentou de modo vago e seu Secretário Real percebeu de imediato que se tratava de uma de suas longas divagações. Por alguma razão, o monarca gostava de falar por meio de enigmas e às vezes o jovem Avelar sentia-se inclinado a desvendá-los. — Este é um jogo do qual venho participando a muito tempo e tenho feito bons progressos desde então. Primeiro, eliminei a Rainha e logo em seguida assumi o controle das duas fiéis Torres que a sustentavam. Demorou algum tempo até conseguir derrubar o Rei, mas ultrapassado esse obstáculo, sigo em direção ao embate final: o Bispo. Diga-me, Edgar, você saberia dizer o que bispos fazem?

— Uma porção de coisas em prol da Igreja, mas acredito que esteja falando de algum ato específico. — o primogênito do Duque Avelar comentou, ao passo que intimamente não se agradava do rumo que aquela conversa havia tomado. Ele escutou a narrativa figurativa e de pronto pôde depreender o relato oculto naquelas palavras. Tratava-se de uma confissão.

— Acredite quando digo que eles não fazem tantas coisas assim. Apesar disso, uma dessas atribuições é de grande relevância para mim. Compreende agora? — Edgar meneou a cabeça negativamente em resposta. — Eles celebram casamentos.

Uma risada vitoriosa acompanhou aquela última frase e se o Secretário tivesse um espelho em mãos, ele poderia vislumbrar sua própria palidez e expressão de espanto. “Isso só pode ser um pesadelo”, ele pensou enquanto observava o rei realizar tranquilamente o trajeto entre o centro do gabinete até sua mesa de trabalho, na qual jogou-se de modo ruidoso sobre sua cadeira. Allen o encarava com um misto de felicidade e excitação, denotando o óbvio sentimento de divertimento que praticamente transbordava pelo sorriso convencido do monarca.

— Você está divertindo-se com isso, não é mesmo? — o jovem Avelar questionou, com  uma expressão fechada no rosto. — Será  que não tem nenhuma compaixão pelos sentimentos de Sarah?

— Ora, Edgar, não me venha com seus romantismos a essa altura! Hora de sair da terra da fantasia e retornar para o mundo real! — Allen ralhou enquanto desenhava sua melhor face de desprezo. — Muito em breve seremos capazes de duplicar a fortuna que temos e estou sendo generoso com essa projeção, pois a realidade pode nos trazer muito mais. Tudo patrocinado pela minha amada irmãzinha.

— Diga qualquer coisa, menos que a ama.

— Mas é claro que eu amo. O suficiente para perdoar todas as imprudências que ela comete diariamente. Tenho sido mais do que benevolente com ela nesses últimos meses, você deveria reconhecer isso. — o monarca comentou sem qualquer constrangimento. Nada passava despercebido de seus olhos ferinos e já estava mais do que na hora de acabar com o conto de fadas vivido por Sarah, antes que algum desastre ocorresse. Ele haveria de pensar depois em um modo de lidar com o tratador de cavalos, para que não viesse a lhe causar problemas novamente. — Vamos, anime-se, muito em breve você fará oficialmente parte de nossa família. Redija uma carta para Gilbert, certamente ele ficará feliz em saber que a proposta dele foi prontamente aceita.

— Por favor, diga-me que esta é uma piada de muito mau gosto. — Allen o encarou com seriedade. Não se tratava de uma piada. — Pode me dizer por que, entre todas as pessoas possíveis, você escolheu Gilbert para casar-se com Sarah?

— Acesso ilimitado aos portos de Hallbridge.

— Qualquer nobre de médio escalão em diante poderia ter garantido o mesmo! — o Secretário teve que controlar-se naquele momento para não desferir um soco sobre a mesa.

— Tenho um apreço especial pela Família Avelar. — o monarca respondeu em meio a um sorriso cínico. — Fizeram muito por mim e não pude imaginar uma forma melhor de retribuir.

— Você não pode fazer isso com ela. Simplesmente não pode! — Edgar estava mais apavorado do que gostaria de admitir. Se havia alguém capaz de destruir o espírito de Sarah, este alguém era seu irmão mais novo. Nesse aspecto, ele assemelhava-se bastante ao rei de Odarin.

— Sinto muito, meu caro amigo, mas não há nada que possa fazer para mudar esta situação. Minha decisão já foi tomada e a proposta é boa demais para ser recusada.

— Engano seu, ainda há algo que eu posso fazer. — Edgar respondeu de modo pesado, após alguns instantes de silêncio. Allen tornou seu rosto para o jovem Avelar, encarando-o com curiosidade. As coisas começavam a ficar interessantes. — Se faz tanta questão de que seja alguém da Família Avelar, então permita que Sarah se case comigo.

— Com você? — o monarca praticamente cuspiu em meio a uma risada incrédula. O espetáculo estava bom demais para ser verdade, era como ver um sonho contracenado diante de seus olhos. — Achei que não tivesse nenhum interesse em matrimônios. Não depois de ser abandonado daquela forma por sua noiva. Mas pensando bem, já se passaram tantos anos, não é mesmo? Você certamente nem se lembra mais dela.

Edgar o encarava com uma fúria contida. Ele não sabia precisar se sentia mais raiva da emboscada que ele havia preparado para Sarah ou pelo modo pretensioso como falava de seu passado. Allen sabia exatamente quais palavras proferir quando queria atingir alguém. Sua fala era sempre direcionada as fragilidades mais íntimas de cada indivíduo e com isso ele sempre conquistava uma considerável vantagem sobre qualquer negociação que pretendia ingressar.

— Bom, confesso que você me pegou desprevenido, eu não estava esperando por essa mudança de planos. Ainda assim, eu não vejo nenhum prejuízo nessa substituição. Sendo assim, tem a minha bênção para casar-se com a princesa Sarah. — o monarca respondeu alguns segundos de reflexão, sorrindo largamente com a prospecção de seu futuro próspero. Já seu companheiro tinha uma expressão abatida e cansada, como se estivesse travando uma batalha. — Anime-se Edgar. Em pouco tempo, você será nomeado Duque de Odarin. Por que não busca uma garrafa de champanhe para que possamos comemorar esse momento tão especial?

Com o rosto ainda denotando uma raiva quase incontrolável, o jovem Avelar caminhou silenciosamente em direção a porta, fazendo questão de fechá-la com força ao abandonar o cômodo. No entanto, diferentemente do que Allen esperava, ele não se dirigia a adega, mas sim ao seu quarto, o único lugar onde poderia descarregar suas frustrações sem ser incomodado.

As passadas largas rapidamente o levaram até o espaçoso cômodo reservado para ele. A decoração era simples, ainda que elegante. No intuito de livrar-se de toda aquela tensão, ele acabou por esmurrar as paredes com violência, atingindo até mesmo os móveis que surgiam em seu campo de visão. Ao chegar próximo a beirada da cama, onde se jogou com força. Sua cabeça latejava e Edgar sentia-se impotente e frustrado diante daquela situação toda. Ele não era uma pessoa chegada a auto sacrifícios, mas aquela estava longe de ser uma situação típica. A má fama de Gilbert como amante já era mais do que conhecida em Hallbridge e diante da urgência do momento, ele não soube pensar em uma solução melhor do que aquela.

Sarah tinha um espírito único ao qual ele admirava e invejava ao mesmo tempo. Ela se assemelhava a ele alguns anos atrás. E todo aquele esforço servia única e exclusivamente para preservar aquela alma tão viva. Ele não suportaria ver outra pessoa afundar em infelicidade como ele.

Eu sei que jamais poderei fazê-la feliz, mas essa é a única forma que eu tenho de protegê-la. Dentre todas as pessoas que conheço, ela é a única que não merece sofrer assim”, ele pensou enquanto limpava as teimosas lágrimas que se acumulavam no canto de seus olhos. Por alguma razão, um sentimento estranho parecia aflorar em seu peito. Por alguma razão, aquele ato tinha gosto de traição.



Os ponteiros do relógio parecia disputar uma corrida naquela manhã e mesmo que já estivessem próximos do meio dia, Sarah não se incomodou com a hora e decidiu sair de casa mesmo assim. Apesar de ter levantado muito cedo e contado com a ajuda de Evangeline, ela acabou demorando mais que o esperado para organizar todas as coisas que pretendia doar e penhorar. Dois serventes já haviam levado todos os embrulhos até sua carruagem e naquele momento a princesa caminhava ao lado de sua governanta em direção pátio.

Quando estavam prestes a descer as escadas que levavam até o  Hall Principal, a jovem acabou por cruzar com seu irmão mais velho no meio do corredor. O encontro inesperado fez com que Evangeline prendesse a respiração por um instante, dado o susto do momento. As dimensões extraordinárias do castelo possibilitavam que a governanta passasse muitos dias sem vê-lo, mas também acabava por ocasionar aqueles encontros inesperados que lhe roubavam o ar por alguns instantes.

— Dê-me licença, por gentileza, eu tenho um compromisso neste momento. — Sarah mencionou de modo frio. A conversa que tivera com seu irmão dias atrás ainda estava bem viva em sua mente.

— Seu compromisso terá de esperar, tenho um assunto importante para tratar com você. — Allen respondeu com a mesma seriedade com qual fora recebido. Ele não se incomodava de modo algum com aquele tipo de tratamento, era um jogo em que os dois poderiam participar, ainda que o resultado final fosse óbvio. Ela era passional demais para aquilo.

Soltando um suspiro cansado, não havia muito que a princesa pudesse fazer senão ouví-lo. O monarca passou a caminhar em direção ao seu gabinete e foi prontamente seguido pela jovem. Evangeline tinha suas dúvidas se deveria seguí-los ou não, mas o rei logo tornou o rosto em sua direção, fazendo um gesto com a cabeça para que ela os acompanhasse. Resignada, ela pôs-se a caminhar na mesma direção que eles.

— Eu sei que tivemos nossos desentendimentos recentemente, mas gostaria que você deixasse isso de lado por um momento. — Allen iniciou sua fala tão logo adentrou no Gabinete Real. Sarah não se sentia nenhum pouco à vontade naquele ambiente e o mesmo poderia ser dito de sua governanta, que permanecia estática junto a porta. — Há algumas semanas você veio até mim arguir que eu não estava cuidando devidamente de nosso povo.

— E você foi categórico em dizer que essa não era a sua prioridade. — ela respondeu com desgosto enquanto cruzava os braços, não parecendo nenhum pouco receptiva com o que quer que ele tivesse para lhe dizer.

— Pois bem, suas palavras não passaram despercebidas e eu estive pensando bastante nesse assunto nos últimos dias. — aquela fala introdutória não foi suficiente para melhorar o humor da jovem, mas foi capaz de ao menos capturar sua atenção. — É bem verdade que estamos no meio de uma crise econômica e que na atual conjuntura é impossível manter todos os cidadãos em seus respectivos ofícios. Mas depois de muito refletir, acabei chegando a uma conclusão que pode ser benéfica para todos.

— Mesmo? — os de Sarah brilharam com aquela possibilidade e por um instante ela se esqueceu de toda a mágoa que ela havia guardado durante aqueles dias.

— Mesmo, mas eu vou precisar da sua ajuda para concretizar o que tenho em mente. — ele mencionou de modo misterioso e um discreto sorriso de canto não passou despercebido aos olhos atentos de Evangeline, fazendo-a se sentir frustrada por não poder fazer nada diante de uma emboscada tão óbvia.

— Eu farei tudo que quiser se isso significar ajudar o nosso povo! — ela respondeu de modo eufórico, totalmente alheia as reais intenções de seu irmão. Pelo modo como ele falava, parecia que seus argumentos tinham finalmente o atingido.

— Há muita mercadoria sendo produzida aqui, no entanto depois que Greenwall cortou relações comerciais conosco, a produção ficou sem escoamento. Uma solução mais do que viável para resolver este problema seria o livre acesso aos portos de Hallbridge. Mas os fidalgos não fariam essa concessão a troco de nada e você sabe que temos uma dívida de gratidão com a Família Avelar, não é mesmo? — em resposta Sarah meneou a cabeça positivamente, sem compreender onde ele pretendia chegar. — É por essa razão que você deverá, o mais breve possível, casar-se com Edgar.

Por um instante que parece infinito, a princesa não conseguiu raciocinar com clareza. Ela acompanhou com perfeição a linha de raciocínio de seu irmão até o momento em que ele mencionou a abertura dos portos. No entanto, o que se seguiu dali em diante parecia um emaranhado de palavras confusas e desconexas que não faziam o menor sentido. Aos poucos ela tentava internalizar aquilo que lhe fora dito, mas simultaneamente algo dentro de si recusava-se a aceitar aquela proposta. “Eu, me casando com o Edgar? Não, isso não pode estar certo”, ela pensou sem nem ao menos perceber como suas mãos estavam trêmulas.

— Qual a necessidade disto? — ela questionou com apenas um fio de voz. Ela já podia sentir as lágrimas brotando em seus olhos enquanto a imagem de Elliot lhe vinha a mente. — Por que está fazendo isso comigo?

— Não pense que isso é uma tentativa de lhe punir, pois estará enganada. — ele comentou de modo tenro e pacífico, fazendo com que Evangeline revirar os olhos, tamanha a falsidade presente naquele momento. Se lhe fosse permitido, ela tomaria Sarah nos braços r a levaria para longe dali. — Estou fazendo isso pelo nosso povo e tenho certeza de que você reconhece isso. Acesso ilimitado ao portos de Hallbridge fará com que a economia se aqueça, além de gerar muitos empregos. Não era isso que você queria?

Enquanto proferia palavras de conforto, Allen aproximou-se de Sarah o suficiente para passar os braços sobre seus ombros, envolvendo-a em um abraço fraternal. A jovem encontrava-se incapacitada de retribuir o ato, pois toda sua energia parecia empenhada tão somente em permanecer respirando enquanto lágrimas silenciosas rolavam soltas por seu rosto. Ela se encontrava em estado de choque.

Sua mente tentava ponderar de modo racional os pontos positivos e negativos daquela união, mas seu esforços se tornavam inúteis sempre que qualquer memória feita ao lado do tratador de cavalos despontava em sua mente. Aquilo não era justo. E ela sentia a necessidade de sair dali o quanto antes. De modo quase involuntário, as mãos ergueram-se na exata altura do torso de seu irmão, empurrando-o para longe enquanto distanciava-se daquele cômodo como uma criança foge de um pesadelo. O monarca não pareceu nenhum pouco afetado pela represália e pela primeira vez desde o início daquela conversa passou a prestar atenção no olhar reprovador de Evangeline.

— Você é um monstro. — ela mencionou com asco, praticamente cuspindo a frase entre os dentes.

— Não seja dramática, eu fui até muito generoso em minha escolha. — Allen respondeu de modo convencido, observando a governanta balançar a cabeça negativamente enquanto deixava-o sozinho com seus planos egoístas e maléficos.



O Sol já estava perto de se pôr, mas a passagem das horas não parecia sequer amenizar a tristeza da princesa de Odarin. Sentada na calçada de um estabelecimento fechado, ela perdeu as contas de quanto tempo permaneceu encarando a tímida movimentação do centro comercial, chegando ao ponto de ter fortes dores de cabeça ocasionadas pelo choro prolongado.

Seu coração e os sentimentos que nutria por seu amigo de infância pareciam ir na contramão dos plano friamente racional de Allen. Ela tinha um dever com seu povo e intimamente havia a consciência de que a abertura dos portos traria diversos benefícios àqueles que mais necessitavam de auxílio. Ainda assim, imaginar-se casando com uma pessoa a quem ela não amava parecia algo inconcebível. Afora isto, ela se sentia mal de ter arrastado Edgar para aquela realidade. “Nós dois… não, nós três não merecemos passar por nada disso. Ainda assim, essas pessoas contam comigo para ajudá-los”, ela pensou de modo melancólico enquanto olhava alguns pedintes caminharem diante de si.

Repentinamente, uma sombra projetou-se sobre ela e a princesa levou alguns instantes para focalizar a vista. Sarah teve vontade de desviar o rosto daquele par de olhos esverdeados e piedosos, mas sua mente estava tão confusa que sequer foi capaz de enviar aquele comando para seu corpo. Ao invés disso, a única reação que conseguiu esboçar foi o surgimento de mais lágrimas, desta vez acompanhadas por um choro desesperado. Erguendo-se repentinamente, a jovem praticamente atirou-se nos braços do rapaz à sua frente, procurando por um pouco de consolo para aquele terrível pesadelo.

— Por céus, o que houve com você? — Elliot questionou com a voz transbordando em preocupações. — Por que está chorando dessa maneira? O que aconteceu?

— Me prometa! — ela gritou de modo desesperado, ainda que sua voz estivesse abafada pelas vestes do homem que a segurava firmemente. — Me prometa que jamais irá me abandonar, não importa o que aconteça!

O tratador sentiu-se ainda mais confuso e atordoado com aquela inquisição. Ele não suportava vê-la sequer triste e visualizar a cena em que ela chorava copiosamente era de partir seu coração ao meio. Sem fazer qualquer juízo de valor sobre as palavras que estava prestes a proferir ele respondeu em meio a um sussurro:

— Eu prometo.


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