The Queen's Path escrita por Diamond


Capítulo 11
Capítulo XI - 14 de Abril de 1871




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Verificando cada recanto do cômodo, Jacques fez uma última vistoria em seu quarto antes de ter certeza que tudo havia sido devidamente guardado em sua mala. Era um tanto quanto prepotente de sua parte chamar seus utensílios de trabalho, dois livros de Botânica, um diário e suas poucas e surradas mudas de roupa de “tudo”, mas ele tinha um zelo incomum com as suas coisas. Não gostaria de deixar nada para trás.

— Precisa de mais alguma coisa? — Elliot questionou, parando junto a porta, aguardando por seu pai.

— Não, acredito que esteja tudo lá fora. — o jardineiro comentou enquanto esfregava as mãos uma na outra de modo pensativo, antes de tornar o rosto para o filho. — Você deveria vir comigo.

— Eu sei, você já disse isso uma centena de vezes, mas é complicado. — o rapaz respondeu de modo cansado. Já haviam repetido aquele mesmo diálogo tantas vezes nos últimos dias que não lhe restava mais ânimo para responder as mesmas coisas.

— Maria e Marco estão voltando também. E vão levar a velha Martha com eles. Tem certeza de que deseja ficar aqui sozinho? — Jacques perguntou, aproximando-se do mais novo, tendo de levantar o rosto para encará-lo. O rapaz havia crescido de maneira impressionante, superando o pai em muitos centímetros. As pessoas costumavam dizer que ele adubava o filho ao invés de alimentá-lo.

— Não é como se eu quisesse ficar aqui sozinho. Mas deixar a Delia sozinha com as crianças, não sei se é uma boa idéia… — Elliot comentou enquanto coçava a nuca, incerto de suas próprias palavras.

— Por que não fala com a princesa? Estou certo de que ela receberá Delia no castelo com muito prazer.

— Eu sei disso, mas duvido muito que Delia deixe aquela casa. — o jovem respondeu enquanto balançava negativamente a cabeça. Jacques achou melhor não insistir naquele assunto. Ele sabia que a preocupação com a camponesa ruiva era genuína, mas que naquela situação tudo não passava de uma desculpa qualquer para não retornar ao castelo e, consequentemente, à vila do empregados. Algumas perdas eram mais difíceis de lidar do que outras.

Sem mais argumentos, o jardineiro seguiu para fora da casa, sendo prontamente acompanhado pelo mais novo. A morada era bem pequena, tanto quanto a que eles utilizaram durante os anos em que serviram a Família Miglidori. Estavam acostumados ao espaço diminuto. Ainda assim, era aconchegante. Do lado de fora, três cavalos estavam soltos, degustando de um gramado próximo a casa. Elliot deu um longo assobio e dois deles se aproximaram em um trote rápido, parando somente quando estavam de frente para seu tratador.

— E você, Pandora? Passam-se os anos e você continua teimosa como sempre, não é mesmo? — ele proferiu enquanto acariciava os dois cavalos, ainda que seus olhos estivessem sobre a égua que não moveu um músculo sequer para atender ao seu chamado. Em resposta aquele questionamento, ela soltou ar pelas narinas de modo impaciente e virou o rosto, continuando a degustar daquele pedaço de grama fresca.

Já conformado com o comportamento da égua (afinal, estavam juntos há mais de dez anos), ele guiou os outros dois até os fundos da pequena casa, onde os prendeu aos arreios de uma carroça de madeira. Dentro dela, duas malas grandes guardavam os preciosos pertences de seu pai. Passados os preparativos iniciais, eles seguiram em viagem até o Castelo de Odarin.

O caminho era longo, mas ambos permaneceram em silêncio. Elliot era por natureza uma pessoa falante, mas costumava respeitar os momentos de introspecção de seu pai. Jacques tinha o hábito de passar longos momentos em silêncio, com o olhar vago e a mente viajando longinquamente. O rapaz acreditava que nessas ocasiões a mente de seu envelhecido pai ia para alguma época no passado, embora ele não soubesse precisar qual e porquê. Também jamais fez questão de perguntar, afinal, todos tinham pensamentos com os quais não gostariam de compartilhar com ninguém.

Aproximadamente no  meio do caminho, ele esboçou um sorriso entristecido, achando aquela situação um tanto nostálgica quanto melancólica. Refazer aquele caminho sobre uma pequena e frágil carroça de madeira lembrava-lhe da primeira vez que percorreu aquela estrada de terra. Por via de consequência, a imagem de Katherine desabrochou em sua mente e aqueceu seu coração por alguns instantes. Não havia como ser diferente. Ele jamais se esqueceria do dia em que se conheceram e como ela o cativou em questão de segundos com suas maneiras graciosas e a risada infantil, que ainda soava de modo nítido em seus ouvidos...

 

A Catedral do reino de Odarin impressionava a todos não só pela exuberância interna e austeridade da parte externa. Em seu entorno, um jardim enfeitava o ambiente, conferindo-lhe um ar menos fúnebre e triste. As flores costumavam crescer de modo tímido, dada a falta de cuidados específicos, o que ensejou na contratação de uma pessoa para cuidar daquela parte específica da igreja.

Recém saído de casa, Jacques não se encontrava em condições de escolher quais trabalhos iria executar caso quisesse sobreviver longe do seio familiar. Era realmente uma sorte poder cuidar de um jardim daquele tamanho, muito maior do que as pequenas mudas as quais se dedicava quando ainda morava com os pais. Ele se dedicava ao serviço diariamente e não tardou até os fiéis repararem no colorido que havia invadido o local desde a sua chegada.

Em uma data qualquer, uma jovem moça de cabelos negros como a noite aproximou-se e passou a observá-lo em silêncio. Ele nada disse na ocasião, limitou-se a continuar trabalhando. A situação se repetiu por vários dias a fio, até a jovem deixou de contemplá-lo, para finalmente dirigir-lhe algumas palavras.

— Você é novo por aqui, não é mesmo? — a moça questionou, parando de pé ao lado do jardineiro. — E para ter uma habilidade dessa com as plantas, aposto como veio de Greenwall, não estou certa?

— Sim, eu nasci no interior de Greenwall, como sabe? — ele perguntou de modo surpreso. Tratava-se de um reino vasto, porém não muito amigável em relação às nações vizinhas, de modo que imigrantes advindos dos vastos campos esverdeados não era algo comum de se ver.

— Eu sei de muitas coisas. — ela respondeu, exibindo um sorriso convencido. — Diga-me, o que o trouxe de tão longe?

O jardineiro limitou-se a exibir um sorriso amarelo, sem saber ao certo o que responder. Ele não gostava de se recordar daquele assunto e até então ninguém o havia abordado na intenção de saber sobre seu passado. Vindo o questionamento de uma moça jovem e desconhecida, seu desconcerto tornou-se ainda mais evidente.

— Na verdade, esqueça, pouco importa o motivo que o trouxe até aqui. Eu apenas fiquei impressionada com este jardim e com as mudanças que você conseguiu empregar nele em tão pouco tempo. — ela disse em meio a um sorriso. Tentava demonstrar simpatia ao rapaz em sua frente, mas suas palavras saiam de modo sensual, ainda que involuntariamente.

— É mais mérito das flores do que meu, devo dizer. — ele comentou, ainda bastante tímido com aquela abordagem. Pelas vestes e jóias que trazia consigo, era notório que tratava-se de uma senhora muito rica. Inclusive, lhe parecia estranho que uma moça de ar tão jovial trouxesse em sua mão uma pesada aliança de ouro incrustada de pequenos diamantes. Deveria ser membro de uma família muito importante.

— Bobagem, esse jardim era uma tristeza só antes de você chegar. — a jovem comentou, sentando-se na beirada de um dos canteiros em que o jardineiro trabalhava. Em seguida, ela inclinou o corpo para trás e a cabeça pendeu sobre o ombro direito, fazendo com que os fios negros e ondulados escorressem como um véu. — Eu gostaria de ter um jardim assim na minha casa. É um lugar bastante melancólico e isso não me agrada.

De modo involuntário, os olhos do jardineiro fixaram-se inicialmente sobre os lábios carnudos da moça, mas logo seu olhar recaiu sobre o colo, cujo vestido deixava à mostra. Ao perceber onde seus pensamentos o levaram, ele desviou o rosto, bastante envergonhado com a situação. Katherine sorriu ao conseguir o que queria, mas ainda não era o suficiente.

— Não sabe o que eu faria para ter um jardineiro como você em minha casa… Acredite, posso lhe pagar o triplo que recebe aqui.

— Não se trata de dinheiro. — ele respondeu ainda sem olhar para ela. Tinha certeza de que estava bastante vermelho naquele momento. — É uma questão de amar aquilo que fazemos.

— Se tem algo que eu posso lhe garantir é que não lhe faltará amor neste novo emprego. — a jovem respondeu em meio a uma risada infantil. — Pedirei que venham buscá-lo. Estarei esperando por você em minha casa.

Dito isto, ela se ergueu do canteiro, correndo de volta para a rua movimentada. Jacques a acompanhou com o olhar. Até mesmo seu modo de correr era gracioso e intimamente ele sentiu um impulso de correr atrás dela, ainda que não soubesse explicar a razão daquele ímpeto. Antes de se misturar à multidão, ela tornou o rosto portando um sorriso sedutor.

— O meu nome é Katherine. Procure-me quando chegar. Estarei te esperando.

Foi tudo que ela disse antes de desaparecer entre os transeuntes.

 

O som ruidoso dos antigos portões do castelo se abrindo para recebê-los fez com que Jacques despertasse de seu sonho acordado. Os cavalos avançaram com pressa para dentro da propriedade real, e seu coração até então aquecido pela memória de sua amada se tornou frio novamente. Ele estava alegre de retornar, mas já não havia a mesma excitação de anos atrás. Katherine não estava mais esperando-o.

Mais adiante, Sarah e Evangeline debatiam algo com Anthony enquanto este último apontava para os portões de entrada. A pequena carroça parou bem próximo a eles e a princesa veio ao seu encontro de imediato.

— Que bom que chegou, temos muito trabalho a fazer aqui! — Sarah anunciou enquanto recebia seu antigo jardineiro. Inclinando-se levemente para o lado, ela sorriu largamente ao ver que Elliot também estava lá.

— É… estou vendo. — Jacques comentou enquanto observava o estado de abandono de seu antigo jardim. Plantas que erguiam-se aos céus junto das paredes de pedra, grama alta, árvores bastante necessitadas de uma poda. A princesa não mentiu quando disse que havia muito a ser feito, ele sequer imaginava de onde deveria começar.

— Acha que consegue dar conta? A coroação vai ocorrer dentro de pouco mais de um mês. — a jovem questionou, bastante temerosa quanto à resposta. O jardim sempre fora sua parte favorita do castelo e ela gostaria que no dia da coroação as pessoas pudessem visualizar o porquê daquilo.

Seria um desafio. Ele não tinha dúvidas de que conseguiria recuperar o jardim, mas fazê-lo em um espaço de tempo tão apertado não era tão simples, uma vez que não dependia exclusivamente de sua força de vontade. No entanto, ao perceber o olhar de expectativa que a princesa lhe dirigia, ele sabia que não poderia negar a tarefa. Mais que qualquer outra pessoa no mundo, Sarah merecia ter seu jardim de volta.

— Tudo é possível naquele que crê. — ele respondeu de modo bem humorado, direcionando-lhe um sorriso carinhoso.

Sarah retribuiu o gesto com empolgação, deixando o jardineiro de lado por alguns instantes, caminhando em direção aos cavalos que aguardavam o próximo comando pacientemente. Desde criança ela se sentia hipnotizada por aqueles animais e com o passar dos anos, aquele fascínio apenas aumentava. Em seus sonhos mais loucos, ela montava em um cavalo e seguia com ele mundo afora, sem rumo, livre para fazer aquilo que bem entendesse. Bobagem pura.

— Você é o cavalo mais lindinho que eu vi desde que voltei à Odarin. — ela comentou enquanto acariciava o pescoço do cavalo negro repleto de manchas brancas. — Como você se chama?

— Petruchio. — Elliot respondeu de imediato, descendo da pequena carroça e aproximando-se da princesa. — Filho mais velho de Pandora. Ainda se lembra dela?

— E como eu poderia esquecer? — Sarah respondeu, absolutamente encantada com aquela informação. Em poucos minutos, o próprio cavalo tocava-lhe o rosto com o focinho, como se tentasse retribuir a carícia. — Que graça, até mesmo o Petruchio é mais simpático do que você.

— Ele é um enxerido, isso sim. — o rapaz respondeu, enquanto cruzava o braços. — Eu não tinha ideia de como o castelo estava deteriorado. Vai dar muito trabalho reconstruir tudo isso.

— Eu sei disso, mas não posso desistir sem nem ao menos tentar. Estou fazendo o melhor que posso, mas confesso que às vezes parece muito mais difícil que o esperado. — ela confessou em um tom de voz baixo.

Atrás deles, Jacques se aproximou de Anthony, para discutir qual seria o melhor local para começar a trabalhar. Evangeline não dirigiu ao jardineiro mais do que um olhar enviesado. Havia muitas coisas que ela gostaria de falar, mas desacatar as ordens da princesa não estava na sua agenda do dia. Era difícil para ela ter que receber ordens daquela que sempre estivera sob os seus cuidados, mas tinha que admitir que aquela era uma nova realidade à qual deveria se acostumar.

Ela percebeu o momento em que Sarah se aproximou para conversar com Elliot. Seus olhos se estreitaram de imediato e ela teve um ímpeto de se aproximar e puxá-la para longe. Quase o fez, até recordar de que não tinha mais poderes para agir daquela forma. Engolindo seus receios e suas vontades, ela permaneceu em silêncio, restando-lhe apenas agradecer o fato de Allen estar a quilômetros de distância daquela cena. “É mais parecida com a mãe do que eu gostaria de admitir”, pensou Evangeline, antes de virar as costas, adentrando no antigo castelo.

Depois de alguns minutos conversando, Sarah atentou para as malas que estavam dentro da carroça. Era muito pouca coisa, considerando que tratava-se de duas pessoas.

— Deixaram para trazer o restante depois? — ela questionou enquanto apontava para as malas, de modo curioso.

— Na verdade, é só isso mesmo. — Elliot apontou, levemente desconcertado. Desde o reencontro no pátio do armazém, eles se encontraram algumas poucas vezes pela cidade, mas em nenhuma delas tiveram muita liberdade para conversar, uma vez que Sarah estava sempre acompanhada, fosse por Evangeline ou pelos filhos de um Barão qualquer, dono da casa onde ela estava hospedada. — Jacques não gosta de acumular nada.

— E onde estão as suas coisas? — Sarah inquiriu, sem entender bem o que aquelas palavras significavam. — Não me diga que você não pretende voltar?

Apenas o pensamento foi o suficiente para esvair toda a empolgação que Sarah havia acumulado naquele momento. Não fazia sentido tentar reconstituir as coisas do modo em que elas se encontravam antes de sua partida se seu melhor (e único) amigo de infância não estivesse lá para partilhar consigo aquele momento. Ela pensava em algo para argumentar contra aquilo, mas de repente sua mente tornou-se turva e confusa e ela já não conseguia encadear nenhuma frase coerente.

Enquanto tentava protestar contra aquilo, palavras sem nexo escapavam de modo baixo e por um momento ela cobriu o rosto com as mãos, tamanha era sua revolta. “Como ele ousa?”, era tudo que ela conseguia pensar, sentindo-se impotente e pequena como há muito tempo não se sentia. Seu coração desacelerou um pouco quando ela sentiu suas mãos grandes e pesadas repousarem sobre seus ombros. Afastando as mãos, ela percebeu que o Elliot a encarava com a expressão preocupada, provavelmente alheio do motivo que ensejou aquela reação.

— Não posso acreditar que depois de todo o meu esforço você não vai voltar. — ela sussurrou, restando apenas um fio de voz dada a sua agonia e estado de nervos naquele momento. — Não é justo.

Sem conseguir exprimir suas razões em palavras, não restava ao rapaz outra escolha senão mostrar à Sarah a materialização de seu impedimento. Ele dirigiu-se até os arreios dos cavalos, soltando os dois com rapidez. Montou no cavalo mais jovem, deixando Petruchio para Sarah, uma vez que era menor e mais dócil que Pipo. Com um gesto, ele indicou que Sarah deveria seguí-lo e ela prontamente o fez, sem sequer olhar para trás e verificar onde estava sua governanta. Para sua surpresa, ela havia se acostumado com a liberdade que a autoridade lhe conferia muito rapidamente.

Sem conceder a Sarah a oportunidade de comandá-lo, Petruchio seguia Pipo de modo instintivo em um trote ágil e ritmado. Os dois jovens permaneceram em silêncio durante todo o trajeto e por vezes a princesa tornava o rosto para encarar seu antigo amigo. Sua expressão era dura, fechada, como nunca antes ela havia presenciado. O que quer que fosse aquilo que Elliot desejava lhe mostrar, ela sabia que não se tratava de uma brincadeira ou algo superficial.

Com o auxílio dos cavalos, não tardou até chegarem ao antigo vilarejo dos serventes. Sarah se espantou de imediato com a vista. Nunca havia ido até o local, pois jamais teve tempo suficiente ou mesmo permissão para ir até lá. Mesmo que ela desconsiderasse a deterioração em decorrência do tempo de abandono, o local era infinitamente mais humilde do que a princesa esperava. As casas eram minúsculas se comparado a qualquer imóvel que ela tenha estado em sua vida. Cada morada contava com apenas uma janela e parecia tudo tão frágil que uma ventania parecia ser capaz de arrancá-las do chão.

A visão era tão pobre que ela não conseguia imaginar como as pessoas tinham coragem de morar ali. Seu primeiro pensamento era que não só o castelo precisava de uma revitalização, mas também a vila dos serventes. No entanto, não era aquilo que Elliot tencionava mostrá-la.

Cruzando a pequena vila, eles chegaram a uma árvore de tronco retorcido, que diziam ter sido a primeira a surgir naquele terreno vasto. Ao seu lado, um pequeno monumento de pedra havia sido colocado e, bem a frente deste, uma ferradura já bastante enferrujada.

Elliot desceu de Pipo ainda em silêncio e Sarah acompanhou seus movimentos, agora mais confusa do que nunca. O rapaz aproximou-se do pequeno tablado de pedra e com os dedos limpou a poeira e teias de aranha que se acumulavam ali. Olhando mais de perto, o monumento tomou forma e as palavras saltaram aos olhos da princesa.

Eric Earnshaw.

† 05 de Janeiro de 1867.

De imediato, ela tornou os olhos para Elliot, mas estava com o rosto virado para o outro lado, provavelmente no intuito de esconder alguma lágrima teimosa. Aquilo não podia estar certo. Sarah bem sabia como o antigo tratador de cavalos era velho, mas jamais cogitou a ideia de não reencontrá-lo mais.

— Como isso aconteceu? — ela perguntou em um sussurro, sentindo um imenso pesar em seu coração. Sarah ainda se recordava das últimas palavras irritadas que o velho Earnshaw havia dirigido para ela, no dia da fuga.

— Todos tiveram que deixar o castelo quando não houve qualquer notícia acerca do retorno de vocês. Foram todos embora, mas Earnshaw sempre foi teimoso como uma mula. Disse que não ia abandonar a casa que ele levou tantos anos para conquistar e muito menos abandonaria os cavalos.

— Ele ficou aqui sozinho?! — ela exclamou estupefata com a informação, principalmente após se recordar do estado das pequenas casas.

— Jacques e eu fomos os últimos a ir embora, ainda insistindo para que ele nos acompanhasse, mas não teve jeito. Continuou aqui trabalhando como se nada tivesse acontecido. Em um inverno mais rigoroso, acabou contraindo febre tifóide e faleceu em poucos dias. Não tinha dinheiro para os medicamentos. Eu sei que ele já era velho, mas gostaria que as coisas tivessem acontecido de um modo diferente.

A última frase saiu levemente arrastada e ele continuava de costas para Sarah. O rapaz sempre teve verdadeiro fascínio pelo velho tratador de cavalos, apesar das palavras ríspidas e o mau humor. Sarah compreendia muito bem o sentimento. Ela sentia algo similar por Evangeline e apesar de divergirem na maior parte do tempo, a princesa não imaginava sua vida sem a governanta.

A jovem percebeu quando o rapaz enterrou o rosto nas duas mãos. Sem saber o que poderia fazer para aliviar a dor de seu amigo, ela aproximou-se de modo silencioso e o abraçou pelas costas. Apoiando a bochecha no meio das costas  largas, ela esperava que seus sentimentos pudessem ir onde nenhuma palavra de pesar poderia chegar. Apesar da surpresa com a reação da moça, Elliot nada disse. Ele não gostaria que escutassem sua voz embargada.


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Notas finais do capítulo

Deixando apenas uma nota de esclarecimento, este capítulo ficou um pouco menor do que os outros por conta de uma crise de tendinite que atacou com força total essa semana. Mãozinha enfaixada, já medicada, ainda assim não podia deixar de honrar esse compromisso com meus leitores mais que maravilhosos.

Espero que tenham gostado do capítulo de hoje, nos vemos nos comentários ;)