A Profecia dos Renegados escrita por SBFernanda


Capítulo 2
II. Fidelidade


Notas iniciais do capítulo

Se você chegou até aqui lendo: obrigada! ♥

Espero que goste!



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A Profecia dos Renegados

Escrito por Fernanda Barroso

 

II.

Fidelidade

 

[Salem — Estados Unidos da América]

 

Os passos secos ecoavam; primeiro em um som baixo, mas aumentando gradativamente conforme os donos entravam no lugar. Parecia mais um galpão abandonado, vazio.

Contrariando o que era esperado, no fundo do lugar surgiu uma figura. De longe Isaac pôde perceber se tratar de um homem muito mais alto do que ele e muito mais forte também. A mulher ao seu lado parecia já esperar por tal saudação, logo abrindo um sorriso.

Quando enfim pararam, estavam de frente para um homem de olhos mais claros do que os de Isaac, com rosto bem mais desenhado também, aparentando, inclusive, ser mais velho. Seu maxilar estava contraído enquanto encarava o homem que estava ao lado da mulher e possuía uma postura que denunciava o seu desconforto.

— Alexander, este é Isaac. — Apontou do homem maior para o recém-chegado. — Ele é extremamente habilidoso e apesar de ser inglês, acredito que nos ajudará muito, não é mesmo, Isaac?

Desconfortável e ainda sendo encarado, o homem apenas concordou com um aceno de cabeça.

— Irei deixar que se conheçam. Por favor, não briguem. — Sem esperar uma confirmação, ela se afastou, caminhando para uma porta que Isaac ainda não havia reparado.

— Renegado? — Foi a primeira coisa que ouviu do americano.

— Sim — respondeu. — Acredito que você também. Rachel disse que estava procurando por pessoas como nós.

— Rachel lhe contou todo o plano?

— Acredito que apenas o necessário. — O outro acenou confirmando ao ouvir aquilo. — Há quanto tempo está com ela?

— Um ano. O último que ela criou não deu muito certo, ele não sabia viver nas sombras.

— Ela comentou. ­— Sentindo-se desconfortável com o papo tão programado, Isaac procurou algum lugar para se sentar. Havia apenas uma caixa, a mesma que Alexander estivera sentado antes de eles chegarem.  Sentou-se mesmo assim. — Ela me disse também que você não confiaria em mim tão cedo por conta disso e por sua natureza fria. Pensei que fosse uma piada pelo o que nos tornamos, mas acho que consigo compreender que não...

Alexander não disse nada, apenas contraiu ainda mais o maxilar. Ele não queria companhia, por mais que Rachel insistisse em encontrar cada vez mais renegados. Mas agora que tinha mais alguém, especialmente depois do fracasso do último, ele não queria arriscar deixá-lo sozinho.

— Como vai a sua sede? — perguntou após vários minutos encarando o inglês.

— Acredito que sob controle. Assim que desembarcamos, nos alimentamos. Ainda é difícil controlar, mas esses meses de treinamento me ajudaram. O que me lembra que você será meu instrutor agora, certo?

— Rachel não fica muito tempo por aqui. Ela ainda está em busca de mais.

— Cara... — Isaac suspirou. — Eu não quero nada com ela, tudo bem? Você parece na defensiva e talvez seja por isso. Talvez não, mas caso seja, lembre-se disso. Tenho uma esposa e por mais que não possa estar com ela, não quero nada com Rachel.

— Nem eu. — Se possível, Alexander ficou ainda mais tenso. — Sinto como se eu devesse protegê-la a qualquer custo...

— Sei... Sinto o mesmo. Mas isso não é amor.

Isaac nunca confundiria aquele sentimento de lealdade com amor. Amor é o que ele sempre sentiria por Agnes e por sua filha. Não saiu de Londres até ter certeza de que a filha nascera bem. Não saíra de Londres até mandar uma carta para Agnes, explicando o que havia acontecido.

Não tinha dado a chance de ela o seguir, tampouco. Deixara a carta onde sabia que ela encontraria e saiu do país. O lado bom é que aprendera a controlar-se um pouco mais naqueles meses.

Desde que Rachel o escolheu, ela acompanhou sua transformação e progresso, explicando que em sua viagem, ouvira muitas histórias sobre um casal de bruxos renegados e se interessara imediatamente. Observou os dois e por ver Agnes grávida, desistiu dela.

Ela estava montando um grupo de vampiros para tomar o seu antigo coven. Vingança era a palavra que melhor descreveria as motivações dela para Isaac. Mesmo não vendo motivação forte no que ela lhe contava, ele não conseguia dizer não. E foi assim que foi parar em outro país.

— O que acha de me contar sobre o quão cercados estamos pelo inimigo? — Isaac achou melhor não se aprofundar naquele assunto, pois percebeu que Alexander tinha um grande desconforto sobre.

— Muito. Estamos perto das docas, pois era a área que Rachel liderava, e quando ela se tornou uma renegada, o lugar ficou assim... — Ele apontou para o local a volta. Abandonado era a palavra. — Ela saiu da cidade por um tempo, se tornou o que é hoje, treinou muito e voltou, decidida a se vingar de todos. — Aquilo não era novidade para Issac, a ruiva havia lhe contado também. — Todo o resto da cidade pertence a algum coven, mas quando se trata de nós, vampiros, eles se unem.

— Todos juntos por um bem maior — comentou sarcástico. ­— E como acontece o nosso treinamento?

— Vamos nos reunir aqui todos os dias. Vou lhe ensinar tudo o que sei. À noite, vamos nos alimentar, mas também será um treinamento, afinal, temos de evitar o inimigo.

— Estaremos em constante guerra.

Alexander não o respondeu, apenas deu um meio sorriso. Ele havia entendido, afinal.

Os dias se passaram, transformando-se em meses de treino intensivo para os dois vampiros. Rachel havia viajado após perceber que os dois haviam se entendido e não iriam tentar se matar sem a sua presença. Ela tinha recebido informação sobre mais um renegado e iria recrutá-lo.

Foi com o afastamento da líder que os dois começaram a se tornar mais amigos. A presença de Rachel era opressora, pois sentiam como se tivessem de ser leais apenas a ela, não podendo criar qualquer outro laço. Ela estando longe, essa pressão diminuiu. Segundo Alexander, com o tempo ficava mais fácil lidar com aquilo, mas ele sabia ser afetado de forma diferente.

Foi também nesse momento que os dois começaram a revelar um pouco mais sobre o passado. Alexander contou, finalmente, suas origens. Ele havia sido, não apenas o herdeiro de uma grande e conhecida empresa no estado de Washington, como também, o líder do coven de lá. Quando Isaac o questionou sobre o motivo de ter se tornado um renegado, ele recuou, mas apenas inicialmente.

Alexander havia sido traído, não apenas por seu coven, como também, pelos espíritos ancestrais. Havia sido um motim que garantiu que ele saísse sem qualquer poder e só não foi morto porque foi resgatado por algum desconhecido. Até então, o motivo desse motim lhe era desconhecido, mas o seu desejo de vingança era o que o fazia seguir Rachel tão fielmente.

Isaac começou a se perguntar se estava fazendo o certo. Ele não desejava se vingar de seu coven, mas sim ficar livre deles, para que pudesse estar junto de sua família em paz. Sabia, porém, que enquanto vivessem, isso nunca aconteceria. Apenas esperava que as duas estivessem bem nesse tempo que estava longe. E algo lhe dizia que sim.

Era final da tarde e o treino ainda estava acontecendo quando esses pensamentos voltaram a atormentar Isaac. Sem Rachel por perto, lhe chamando atenção e lhe lembrando de sua lealdade, aqueles momentos estavam frequentes. Tanto  que recebeu um golpe de Alexander.

O outro lhe chutou no peito e o corpo do inglês foi jogado com força contra a parede do local. Sentiu tudo às suas costas tremer, assim como sua cabeça. Tossiu com a falta de ar, respirando com certa dificuldade, enquanto o americano se aproximava.

— Está distraído de novo! Você tinha evoluído muito, Isaac, o que está havendo?

— Preciso voltar para Londres o quanto antes!

— O quê? — O que Alexander temia estava finalmente acontecendo. Ele iria traí-los, como o anterior havia feito. Ele não tinha a motivação necessária.

— Eu tenho esposa, tenho filha e elas podem estar correndo perigo lá porque estou aqui, fazendo vingança em um povo que nem é o meu!

— Podemos estender depois. Aqui, em Washington, em Londres...

— E quanto tempo isso vai durar? Rachel não ficará satisfeita com três renegados. Ela quer um exército. As bruxas nos criaram, elas podem nos destruir em um piscar de olhos.

— Sabe que não é assim. Não somos como seus cãezinhos, que elas controlam.

— Mas a magia delas é capaz de nos destruir, de alguma forma...

— Nunca foi provado. — Os dois sabiam que aquilo era verdade. Era um rumor... Um rumor que nenhum vampiro estava disposto a arriscar, nem mesmo os que já haviam pertencido a algum coven antes.

— Eu preciso ir antes de Rachel volte. Eu gostaria de ficar, Alexander, mas a cada minuto sinto que minha família pode estar em perigo.

— Nos dê um ano. Um ano para juntarmos um exército e para que os treinemos. A partir de hoje... Um ano.  Caso algo aconteça a sua família, eu o ajudo a vingar e... poderá me culpar eternamente por isso, me castigando como desejar.

— Por que precisa que eu fique?

— De alguma forma, sei que posso confiar em você, Isaac. E sei o quanto cresceu nesses poucos meses. Se queremos ter sucesso, precisamos de uma força como a sua.

O americano estendeu a mão para o outro, que ainda estava sentado no chão. Isaac pensou sobre aquilo. Se queria mesmo proteger sua família, talvez tivesse que ficar forte antes. Esperava que aqueles velhos feitiços ainda estivessem funcionando... Nunca se perdoaria caso algo desse errado. Mas entendeu a mão, apertando a de Alexander e se levantando em seguida.

— Acho que está na hora de me contar a sua história, Isaac.


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