Contos de Aurora escrita por Wi Fi


Capítulo 4
Conto Quatro: Dot


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos leitores! Peço desculpas pela demora para postar, mas é que eu sempre posto um capítulo se já tenho o seguinte pronto, e dessa vez eu demorei para escrever porque estava me mudando de país.
Agora estou bem firmada em terras portuguesas e espero voltar para meu ritmo normal de escrita :D Aqui está, a continuação para nossa aventura do capítulo anterior.



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— Dot? – repetiu Alma, cruzando os braços e encarando ele – É assim que está se chamando agora?

— É um apelido que me deram – Dot deu de ombros – Alma, você se apressou, por que entrou na pousada?

— Por que eu estava tendo visões suas! Elas ficaram mais fortes quando eu vim para cá então achei que você estaria aqui, e era esse seu plano.

— Eu disse que não iria querer me ajudar se soubesse onde eu estava. Ia te contar o que estava acontecendo para que você pudesse chamar alguém mais habilitado para me resgatar.

— Então porque me trouxe até a casa?

— Porque você tinha que ter certeza que eu estava aqui! Por isso deixei as visões mais fortes, mas não, você se apressou e começou a bloquear elas quando chegou aqui em cima!

Eu não estava bloqueando as visões!

O rosto de Dot ficou mais pálido do que já era. Ele gaguejou para falar.

— E-eu devia saber. I-idiota, idiota, eu sou um idiota, eu devia ter imaginado...Argh, Dot, seu burro!

Ele ficou de pé novamente e chutou uma parede. Depois resmungou e se deitou, com a cabeça no colo de Alma.

Nanna estava chorando e Hugo a abraçou.

— Estamos presos. Eu desapontei o tio Narciso – ela balbuciou – E meus pais...ah não, meus pais! – ela foi tomada por soluços e Hugo a apertou mais forte.

— Nós vamos encontrar uma maneira de sair, não se preocupe, Nanna – ele disse, e então se virou para os irmãos – Isso é culpa de vocês. Vocês nos trouxeram para esse lugar.

— Por favor, essa não foi minha intenção – Dot respondeu, erguendo as mãos – Eu tinha um plano, mas não percebi um detalhe simples e estraguei tudo. Alma não teve nada a ver com isso, é tudo culpa minha.

— Hugo, brigar não vai adiantar nada – Nanna murmurou, ainda soluçando.

— Obrigado, garotinha – Dot disse, respirando fundo – Esse lugar todo, essa área é anti-magia. Eu sou um metamorfo, mas eu não consigo mudar desde que cheguei aqui. E por isso que as visões da Alma pararam quando ela se aproximou. Eu devia ter entendido isso, devia ter notado...

Ele resmungou novamente e virou-se de frente para a parede, dando as costas para tudo ao seu redor. Alma suspirou tristemente e colocou a mão no cabelo dele.

Dot...é estranho te chamar assim.

— Por favor, é o nome que eu quero usar.

— Tudo bem. Dot, o que é esse lugar? O que é a Celeste? Algum tipo de demônio?

— Não. Esse lugar é uma casa de vampiros, Celeste vive aqui com a família monstruosa dela. Mantém prisioneiros para se alimentar, aterrorizam a ilha.

— Sébastien é um vampiro – murmurou Nanna – O que Celeste vai fazer com ele?

— Nada, provavelmente. Vampiros se respeitam demais, nunca iriam tratar um outro como estão tratando a gente. Ela provavelmente vai enganá-lo, ou chantageá-lo usando vocês.

Hugo rosnou, irritado.

— Esse é o tipo de vampiro que me deixa irritado. Eles se acham superiores a todas as outras raças porque são a subdivisão humana mais antiga – ele resmungou – E já é difícil demais acabar com a ideia humana de que nós - lobisomens, vampiros, ninfas e afins – somos criaturas ruins, mas esse tipo de gente não coopera.

— O que quer dizer? – Nanna perguntou.

— Desde o início dos tempos, vampiros e humanos se odeiam porque os vampiros se alimentavam do gado que era dos humanos. E depois de algum tempo, os humanos começaram a desenvolver povoados maiores e expulsaram os vampiros para as florestas – onde nós, lobisomens, vivíamos. Por isso nasceu essa rixa entre vampiros e lobisomens – Hugo continuou explicando – Os humanos tomaram controle das terras e começaram a demonizar todas os seres meio-mágicos, menos os bruxos, é claro, porque os bruxos eram puxa-saco dos humanos. E nós continuamos a ser vistos como monstros, criaturas cruéis e sedentas por sangue, enquanto os humanos são os bonzinhos, porque é muito mais fácil acreditar nisso.

Ele finalmente parou de falar e gesticular, deixando os braços penderem ao lado de seu corpo. Nanna, que ainda estava abraçando ele, conseguia ouvir seu coração acelerado.

— Desculpem, eu sei que vocês são humanos. Eu não quero ofendê-los, porque sei que toda raça tem pessoas boas e ruins, mas o que os humanos ruins fazem é horrível demais para eu não me irritar. E sem falar no que aconteceu com os druidas...

— O que aconteceu com os druidas? – Nanna perguntou, agora não chorando mais.

— Eles quase foram exterminados – Dot explicou, com um certo amargor na voz – Eu não quero falar sobre isso. Temos que pensar em como escapar.

***

— O que está fazendo? – Sébastien perguntou, enquanto Celeste o puxava.

Ele não era muito forte, mas aquela mulher era praticamente um orc. Sua força era desproporcional ao seu corpo – mesmo para uma vampira. Sébastien sentira que Celeste era do seu povo assim que entrou na casa, ela era antiga e sobrenatural.

— Eu vou lhe dar uma chance de melhorar de vida – Celeste respondeu. Agora eles estavam subindo as escadas novamente – Vou te afastar destas criaturas miseráveis e você poderá ser aceito na nossa família.

— Já tenho uma família, muito obrigado.

— Duvido que ela seja tão digna quanto a nossa, os antigos Seraphine, que se recusaram a ceder à invasão humana em nossas ilhas.

Uma ideia surgiu na mente de Sébastien. Ele parou de resistir à força de Celeste e passou a acompanhá-la. Um colar de ouro escuro, com um pingente em formato de flor, balançava em seu peito. Sébastien não havia notado o objeto antes. Não parecia ser uma joia vampira.  

— Toda sua família vive aqui? – perguntou ele.

— Sim, é claro. Nós tivemos que nos unir depois que os humanos se revoltaram. Mas nós tivemos nossa vingança – agora, eles temem a nós.

Sébastien voltou a ficar em silêncio. Depois de chegar ao andar térreo novamente, ele foi levado para o corredor da esquerda. Um grande salão se abria naquela parte da pousada Rouge Dents – longas mesas com taças, candelabros e abajures, mas ninguém estava presente.

— Sente-se, monsieur— Celeste disse – Qual é mesmo seu nome? Sébastien?

— Sim, Sébastien Gideon – ele respondeu, escolhendo cuidadosamente qual sobrenome iria usar – Por quanto tempo sua família vive reclusa aqui, madame Seraphine?

— Oito séculos. Mas é falta de educação querer saber a idade de uma dama, jeune monsieur Gideon.

— Claro, perdão.

Bastien sentia seu corpo semi-morto se aquecer com a raiva que estava sentindo. Seus amigos estavam trancados e ele tinha que ter paciência e lidar com a horrível Celeste se quisesse salvá-los.

— Faz muito tempo que eu não vejo um lar como esses – Bastien continuou – Meus pais certamente gostariam de conhecer Tepes.

— Quem não gostaria? Aposto que é melhor que tudo que já viu antes. Somos tradicionalistas, vivemos como temos direito de viver: acima de todos – Celeste respondeu, sentando-se ao lado de Sébastien – Por isso escolhemos o lugar mais alto habitável da ilha. Agora, monsieur Gideon, devo insistir que seja colocado em um quarto até o jantar. Como deve imaginar, meus familiares ainda estão dormindo, mas farei questão de introduzi-lo à alta sociedade vampiresca nesta noite.

— E meus acompanhantes?

— Não se preocupe, seria falta de educação deixar as presas de um recém-chegado serem abatidas no mesmo dia. Negociaremos o destino delas após a sobremesa, o que me diz, monsieur Gideon?

Com enorme dificuldade e apertando os punhos, Sébastien respondeu:

D’accord.

***

— Por que não me contou antes? – Alma questionou, agora no lado oposto da pequena prisão, longe de seu irmão – Por que não me contou que estava preso com vampiros?

— Eu já disse, eles manipularam a mágica daqui – Dot respondeu, num resmungo – Tentei falar com nossa irmã, antes de recorrer a você, mas nós dois nunca tivemos uma conexão telepática forte. Tentei contar que os Seraphine tinham me capturado, mas toda vez que eu falava a palavra vampiro no sonho, bem...

Dot se virou de costas e tirou a jaqueta que usava, e depois levantou sua camiseta. As costas estavam cheias de queimaduras.

— Uau, isso é ruim – Hugo disse, com um assobio – Como eles conseguem controlar magia desse jeito? Vampiros não fazem isso.

— Algum feiticeiro os ajudou.

— Yltaris deveria ser alertada sobre isso – Alma disse, com um suspiro.

— Esse lugar não é completamente anti-magia – Nanna, disse, de repente. Ela havia ficado quieta por algumas horas, e agora se levantara do chão, como se algo tivesse lhe dado um choque – Se não houvesse magia nenhuma aqui, esses vampiros estariam mortos. Afinal, é a magia do corpo deles que os mantém jovens e imortais, não é?

— Não tinha pensado nisso – Dot concordou.

— Isso é porque não existe magia que impeça corpos de seres mágicos de se mudarem – Hugo explicou, cansado – É por isso que não existe “cura” para licantropia ou para vampirismo.

— Mas então como eles impediram o Dot de se transformar em animal e fugir? – Nanna perguntou.

— Isso é porque eu não sou um ser mágico. Minha habilidade de metamorfose não nasceu comigo, foi uma maldição – Dot explicou, encarando sua irmã – Assim como a vidência de Alma. Nossa outra irmã também tem uma habilidade incomum, nós três somos amaldiçoados.

— Espera – Nanna interrompeu, se virando para Hugo – Hoje é lua cheia. Você se transforma, não é mesmo?

O lobisomem assentiu, com os olhos arregalados e um sorriso se formando no rosto.

— Modéstia à parte, eu consigo derrubar essa porta de madeira – disse Hugo – E suas correntes, Dot, eu acho que posso dar um jeito nelas.

— Só temos que esperar anoitecer! – Alma exclamou – Podemos escapar e encontrar Sébastien, enquanto Hugo foge para o lado de fora e nos leva de volta ao porto, para o Bela Dona!

— Como diabos eu vou explicar isso para o meu tio... – suspirou Nanna – Ele vai ficar furioso comigo, vou ter que voltar para casa.

— Uma preocupação de cada vez, Nanna – Hugo disse – Vamos torcer para não sermos o jantar.

— Eles não vão beber o nosso sangue hoje – Dot respondeu – Houveram outros prisioneiros antes de vocês. Eles foram levados de volta para o andar de cima e nunca mais voltaram.

— Por que você ainda está aqui? – Alma perguntou. Dot deu um sorriso amargo.

— Porque eu sou um prisioneiro político.

— O que foi que você fez? – Nanna disse, curiosa.

— Eu conheci uma princesa, é claro. Mas essa é uma história para depois. Não fiz nada de errado, eu juro.

***

Sébastien passara o dia todo num quarto totalmente escuro, fingindo dormir. Madame Seraphine havia lhe dado um lugar para passar o dia, até que o jantar chegasse. Ele estava tentando dormir, mas pensamentos terríveis estavam devorando sua consciência.

Seu plano era arriscado. Bastien conhecia o orgulho e o ego dos vampiros mais esnobes, e brincar com isso era perigoso demais, mas era sua única chance de tirar os amigos de lá. Ele tinha que fingir ser uma pessoa completamente diferente.

O rapaz fechou os olhos e tentou pensar em alguma coisa boa. Narciso estaria procurando por eles, é claro, e sua trilha de pedras deveria ter sido útil para alguma coisa. Ele não desistiria de Nanna, é óbvio, e uma conversa rápida com os habitantes logo revelaria que uma família assombrosa de vampiros parasitava a ilha.

Bastien pensou em sua irmã, Berenice. Ela estaria orgulhosa dele. Berenice sempre foi mais uma mãe do que uma irmã, e se não fosse por ela, Sébastien nunca sairia para fora de casa, devido a sua timidez. Hugo era descaradamente apaixonado por ela.

Sébastien não via problema nisso, eles seriam bonitinhos juntos, mas Hugo era incrivelmente orgulhoso e burro para perceber que o jeito mais fácil de fazê-la notá-lo era realmente conversando com ela.

Berenice ficaria chocada se soubesse dessa aventura, e ainda mais chocada se descobrisse que seu irmãozinho foi quem salvou a todos. Ela ficaria muito orgulhosa.

Bastien pensou também na família de Hugo. O senhor e a senhora Raye já eram idosos e Hugo era o oitavo filho, o primeiro menino depois de sete meninas. Tinha ainda outra irmã, oito anos mais nova, chamada Melanie. Ela precisava de Hugo de volta para brincar com ela, e Hugo precisava dela também.

Alma pelo menos estava com seu irmão ali. Sébastien não conseguiu vê-lo mas se a garota havia se empenhado em chegar até ali para salvá-lo, ele não deveria ser uma pessoa tão ruim.

Pensando em seus amigos, Sébastien conseguiu se distrair da realidade até que Celeste Seraphine abriu a porta de seu quarto, deixando uma quantidade irritante de luz entrar. Ele não estava acostumado com os hábitos dos vampiros clássicos de dormir o dia todo e sair apenas na noite, e se sentia um pouco sonolento.

— Venha, mon coeur— disse Celeste, com o sorriso que antes era materno mas agora se tornava ameaçador  - Vamos jantar.

Sem dizer uma palavra, os dois desceram as escadas, mas agora a pousada Rouge Dents estava viva— vampiros caminhavam pelos corredores, conversando casualmente, bebendo de taças misteriosas.

Tentando parecer tão frio quanto uma estátua, Sébastien empinou o nariz e ergueu o queixo, não se dando ao trabalho de olhar e sorrir para os outros vampiros ao seu redor. Não era o tipo de pessoa com quem ele queria ter qualquer contato.

Chegando no grande salão que já havia visitado durante a tarde, Sébastien recebeu um cálice de aparência valiosa, com sangue dentro. Os olhos de Celeste o pressionaram e o rapaz bebeu o líquido.

Era bom demais, e isso só deixou assustado. Bastien tentou não pensar na origem daquele alimento. Ele se esforçava ao máximo para beber apenas sangue animal, e não mais que uma vez a cada duas semanas, mas em alguns momentos seus instintos sanguinários eram despertados e só paravam após conseguir sangue humano.

Era como ficar bêbado. Sébastien começou a sentir sua cabeça girando ao acabar o primeiro cálice, mas a lembrança de seus amigos presos o despertou. Ele acompanhou Celeste para uma das mesas, onde ele foi recebido com apertos de mão e acenos de cabeça por homens e mulheres que aparentavam ter a idade de seus pais.

— Este é Sébastien Gideon – Celeste anunciou – Nosso recém-chegado na ilha. Monsieur Gideon, estes são meus filhos e sobrinhos. Por favor, seja bem-vindo, e não se acanhe.

Bastien se sentou sem dizer uma palavra, e discretamente ignorava a bebida vermelha que era sempre colocada em seu cálice, trazida por criados – aparentemente, vampiros também, mas pobres. Vampiros como ele.

Monsieur Gideon, se permite perguntar – disse uma mulher com um sorriso obtuso, assim como o de Celeste – Quantas décadas o senhor já acumulou?

— Oh, eu quase perdi a conta depois dos dois dígitos – brincou Sébastien, tentando imitar o ar elegante que Berenice tinha ao falar com gente superior a eles – Eu tenho três séculos, acreditem se quiserem.

— O senhor é uma criança ainda! – riu um homem gordo, com longos bigodes – E o que faz em Tepes?

— Estou viajando pelos mares. Visitarei meus parentes em Pozbin e ficarei lá por alguns meses. Estou infiltrado em meio a um navio de cargas humano.

— E por que faz isso? Não poderia viajar com seus colegas?

— Oras, há buffet melhor que um barco cheio de humanos saudáveis, trabalhando e velejando? – Sébastien respondeu – Os três que chegaram aqui comigo são minhas presas. Os acompanharei até as ilhas Graal e então...bem, eles não verão nada além das ilhas Graal. São meus mantimentos para a viagem.

Uma troca de olhares ocorreu entre Celeste e seus parentes. Sébastien temeu ter se contradito em sua história fictícia, mas o motivo era outro, como ele havia planejado. Um homem mais jovem disse:

Monsieur, o senhor entrou em nosso território sem anúncio ou aviso prévio. Causou certa surpresa e confusão entre nós, no mínimo deveria nos deixar com um de seus companheiros.

— Ainda mais quando há um lobo entre eles – resmungou Celeste, parando de sorrir por um instante e mexendo com o colar de ouro em seu pescoço – Seríamos muito gratos se nos deixasse tal cortesia.

— Pois bem, sinto muito, mas a viagem para mim é longa e eu tenho fome – Sébastien respondeu, de braços cruzados – Quero que eles continuem intactos só para mim. Entendem isso?

Monsieur Gideon, isso não pode acontecer. É fora de nossas leis morais e...

— Acho que já falamos demais sobre mim. Me fizeram quatro perguntas– Bastien interrompeu – É minha vez de ser curioso, ou então, sem negociação. Quem é aquele rapaz que está acorrentado na sela, o irmão de minha presa?

Os vampiros pareceram surpresos com a ousadia dele e ficaram em silêncio por alguns segundos antes de Celeste responder.

— Um prisioneiro nosso. Não podemos comê-lo, pois estamos pagos para mantê-lo encarcerado aqui.

— Quem está pagando?

— O rei Adil, de Yaehiora. Ele se encrencou com o rei e agora está aqui, esperando que guardas venham buscá-lo.

Sébastien ficou em silêncio, pensando em suas próximas palavras. Era improvável que o irmão de Alma fosse libertado, e pelo que parecia, ele tinha motivos para estar aprisionado. Talvez não seria sábio levá-lo para o navio, mas como diria isso para Alma?

Não, Alma tinha se arriscado para chega ali, eles todos tinham. Sébastien faria o que deixaria sua amiga feliz, e não o que era mais seguro. Mas o rapaz estava acorrentado, preso à parede, Bastien não acreditava ser forte o suficiente para quebrar suas algemas. Talvez se ele conseguisse fugir primeiro e avisar Narciso, as chances de salvar os quatro que estavam presos fosse maior.

Percebendo a tensão que havia surgido com o seu silêncio, Bastien sorriu e deu uma risada seca, e resolveu colocar em prática a parte mais vital de seu plano.

— Bom, eu acho que já os incomodei demais. Vou lhes dizer a verdade. Meu nome é Sébastien Gideon, sou filho do Lorde Thomas Gideon, herdeiro direto do grande vampiro Aliester Gideon, creio que os senhores certamente o conhecem...

Suspiros de surpresa escaparam de alguns dos presentes à mesa. Uma mulher cobriu a boca com as mãos e um homem se levantou e fez uma reverência, murmurando coisas em uma língua antiga. Celeste também se levantou, e começou a arrumar o vestido.

Monsieur, lhe peço perdão por ser tão cética, mas poderia provar o que diz? – ela disse.

— Mas é claro que posso!

Sébastien então vasculhou o bolso interno de seu casaco e de lá tirou um grande anel de ouro falso, mas muito convincente, com um brasão no centro. Celeste analisou o anel cuidadosamente e então se curvou, corando.

— Mil perdões, Vossa Graça. Não fazíamos ideia de que receberíamos um convidado tão ilustre em nossa humilde casa, nem que ele estaria disfarçado como um simples vampiro como nós...

— Não há com que se preocupar – Bastien disse, erguendo uma mão – Eu vim aqui a pedido de meu pai, para fiscalizar as famílias mais afastadas, para garantir que nossas crenças ainda são respeitadas, e devo dizer que os Seraphine estão muito mais do que aprovados em meus critérios. Os senhores não se demonstraram descorteses, e seguiram todas nossas complicadas regras de hierarquia e de bons modos. Serão recompensados por meu nobre pai, não tenham dúvida disso.

Um pequeno grupinho cercou Sébastien, enquanto pediam perdão por qualquer inconveniência e beijavam sua mão. O vampiro deixou que o admirassem por algum tempo. Haviam acreditado nele, graças aos deuses. Pelo menos ele estava a salvo.

— Muito bem, muito bem, devem estar impacientes já. Sinto muito pelo susto – ele continuou a falar, agindo como já vira pessoas poderosas agindo muitas vezes antes – Se me permitem, eu gostaria de descer para as selas, para escolher qual de minhas presas deixarei aqui, como forma de agradecê-los.

— Eu o acompanharei até lá, por favor, Vossa Graça – Celeste ofereceu, tocando o tronco do garoto de leve – É uma honra servi-lo.

Ele não podia recusar, ou então pareceria suspeito. Celeste e Sébastien entrelaçaram braços e seguiram para as escadas.

***

Hugo caminhava impacientemente pela sala. Não conseguiam ver o dia do lado de fora, pois nenhuma janela existia naquele andar.

— Já é de noite. Eu consigo sentir – disse o lobisomem, esfregando as mãos uma na outra – A adrenalina está circulando no meu corpo, a transformação não deve demorar.

Nanna, Alma e Dot se agruparam no canto da sela, se afastando como podiam do rapaz.

— Ainda tenho racionalidade quando me transformo, mas posso ficar confuso – ele continuou – Então não entrem bruscamente em meu caminho, nem gritem comigo, pois posso reagir mal. Sébastien saberá me acalmar.

— Você saberá identificá-lo? – perguntou Nanna, com um pouco de medo na voz.

— Só existem duas pessoas que conseguem me controlar quando eu me transformo. Uma delas é minha irmãzinha, Melanie, e a outra é Bastien. Eu confio nele.

— E as minhas correntes? – Dot perguntou, levantando um dos pés.

— Bem, isso vai ser complicado – Hugo admitiu – Mas prometo tentar não comer seu pé.

— Mas que divertido.

Hugo subitamente caiu de joelhos no chão e gritou. Nanna apertou a mão de Alma, assustada. As duas garotas se abraçaram, e Dot apenas observava, com os olhos arregalados, enquanto Hugo se transformava.

Ele ficou de quatro no chão, arfando. Suas mãos foram a primeira coisa a mudar, se transformando em patas com garras afiadas. Hugo rasgou sua camisa e pelos grossos e pretos surgiram por todo seu corpo, da mesma cor que seus cabelos antes eram.

O resto das roupas de Hugo também se rasgaram, e um rabo peludo surgiu. Suas costas assumiram outro formato, estalando com um som desagradável, e a parte que parecia ser mais dolorosa se iniciou. A cabeça de Hugo se modificou, com os ossos da mandíbula se alongando e os olhos diminuíram. Suas orelhas subiram para o topo da cabeça e enfim, Hugo havia se transformado em um lobo gigante.

— Hugo, consegue nos ouvir? – Alma perguntou, em voz baixa, tremendo de medo e grudada em Nanna – Acene a cabeça se sim.

O lobo olhou ao redor e farejou o ar, antes de balançar a cabeça para cima e para baixo. A sela se tornou claramente pequena demais para os quatro. Hugo avançou na direção de Dot, que deu um pulo de susto e gritou. O lobo rosnou um pouco e o rapaz pareceu se acalmar. Se distanciou da parede, esticando as correntes de metal que o prendiam. Com uma série mordidas e puxões, Hugo conseguiu quebrar as correntes, mas não as argolas de metal que estavam nos pés de Dot. Pelo menos agora ele podia correr.

— É! Finalmente! – exclamou Dot, alegre, puxando a barra da calça para analisar seus tornozelos – Obrigado, cara. Não faz ideia de como elas eram incômodas.

Ele colocou uma mão na cabeça do lobo e passou seus dedos entre os pelos, numa tentativa falha de carinho ou gesto de agradecimento. Hugo colocou a língua para fora, arfando, e então se virou para a porta.

O lobisomem pegou impulso, se encolhendo até a parede do cômodo, e trombando com toda a força na porta de madeira. Após três vezes fazendo isso, estavam livres.

O andar subterrâneo continuava escuro. Alma e Nanna tatearam as paredes para se guiar, mas Hugo encontrou as escadas mais rapidamente do que eles e subiu os degraus como uma ventania, uivando e rosnando.

— Isso não me parece bom – Alma murmurou, seguindo-o rapidamente.

— Já viu algum lobisomem na vida? – Dot perguntou, se virando para Nanna.

— N-não – respondeu ela, um pouco nervosa – Mas ele não é um lobisomem. É o Hugo. E eu confio nele.

A menina seguiu subindo as escadas e Dot, resmungando e suspirando, foi depois.

***

Celeste colocara um pé na escada que levava ao subterrâneo quando foi atropelada por uma criatura que mais parecia um pedaço de escuridão. A vampira gritou e isso foi o suficiente para Sébastien se esquivar a tempo. Demorou alguns segundos para perceber que a coisa feita de sombras era seu melhor amigo.

— Hugo! – ele exclamou, correndo para a frente do lobo e abrindo os braços, para fazê-lo parar – Sou eu! Eu estou aqui! Onde estão os outros?

O lobisomem lambeu o rosto do vampiro com animação e abandou o rabo. Então, virou o pescoço e indicou as escadarias, de onde Alma, Nanna e Dot surgiam, fazendo caretas enquanto os olhos se ajustavam à luz forte.

— Temos que correr – Alma disse – Os outros vão perceber que Celeste sumiu.

— Ela está morta? – perguntou Dot, talvez mais feliz do que o adequado, observando o corpo caído nos degraus.

— Não, ela está respirando. Desmaiou – Nanna respondeu, correndo para abraçar Bastien – Vamos logo! Meu tio deve estar esperando!

— Um segundo, por favor... – Dot disse, com um sorriso.

Ele cuspiu em Celeste e pisou em sua barriga, deixando uma marca de lama no formato do solo de sua bota. Depois, se ajoelhou e cuidadosamente tirou o colar de ouro do pescoço dela.

— Minha pequena vingança – explicou, dando de ombros e rindo. Depois, voltou-se para Celeste – Isso pertence a Fayza Zaman. Ela é minha amiga.

Vozes vindas do salão fizeram o grupo de alarmar. Nanna abriu a porta da frente com cuidado, e eles saíram correndo colina abaixo, sem olhar para trás.

***

Hugo carregava Nanna e Sébastien em suas costas. Depois de se afastarem da pousada Rouge Dents, Dot recuperou suas habilidades mágicas. Ele se transformou em um cavalo e levou sua irmã, assim chegaram mais rapidamente ao vilarejo humano.

A noite estava fria, mas parara de chover. As nuvens haviam sumido por algum tempo e a lua cheia refletia sua figura pálida no oceano ao lado dos fugitivos. Os dois rapazes-animais se camuflavam com a noite, vultos disparando na estrada.

O Bela Dona estava bem visível no porto, solitário e iluminado. As casas, por outro lado, estavam todas apagadas, e ninguém se aventurava nas ruas. Dot se transformou de volta em humano quando chegaram ao vilarejo, mas Hugo não.

— Minha trilha de pedras ainda está aqui – Sébastien disse, olhando para o chão – Ninguém a seguiu, eu espero, ou então teriam ido parar na pousada também...

Um calafrio de medo e ansiedade subiu pelas costas do vampiro. Teria sua ideia dado errado? Teria o Capitão Narciso seguido a trilha e também sido raptado pelos Seraphine?

Alma e Nanna foram até a taverna de onde tinham saído mais cedo naquele dia, mas ninguém abriu a porta. Não era possível ouvir som algum além das ondas quebrando, a alguns metros deles. Enquanto as duas meninas e Dot vasculhavam as ruelas, à procura de alguém da tripulação, Sébastien se ocupou de acalmar Hugo.

O lobo andava de um lado para o outro, ganindo e uivando para a lua e em direção a colina. Ele as vezes se curvava, como se preparasse para correr, mas então olhava para Bastien e choramingava.

— Hugo, me ouça – disse o vampiro, sentando no chão de pernas cruzadas – Estamos bem. Estamos a salvo. Você já conseguiu tirar todos nós da pousada. Eu tinha um plano também, mas aparentemente, você foi mais efetivo. Estou orgulhoso.

Hugo também se sentou, apoiado nas patas traseiras. Ele ganiu novamente e uivou mais uma vez, para o céu. O lobo era mais alto do que Sébastien sentado, e devagar, Hugo pareceu se acalmar. Sua respiração tomou um ritmo regular e ele lambeu o rosto do amigo.

Bastien tirou seu longo sobretudo e cobriu o lobo precariamente. Sem dor, em silêncio, de cabeça baixa, Hugo se transformou de volta em humano. Tendo rasgado suas roupas na pousada, ele se escondeu no sobretudo de Sébastien e suspirou.

— Isso é um saco.

O silêncio foi quebrado por gritos vindos de alguém correndo no cais, saindo do Bela Dona. Era um homem alto, usando chapéu.

— É o Capitão Egeu! – exclamou Sébastien, se levantando também. Ele agitou os braços e gritou: - Capitão! Estamos aqui! Nanna, Alma! Capitão Egeu está aqui!

As duas meninas voltaram correndo, arrastando Dot pelos braços.

— Hm, acho que estamos interrompendo alguma coisa – Dot disse, ao ver Hugo coberto apenas pelo casaco – Talvez devamos voltar depois.

— Não! Meu tio está ali! – Nanna falou, indo para o cais de encontro com o capitão.

Narciso deixou sua vela no chão e abriu os braços para abraçar a menina com a força de um urso.

— Minha pequenina, o que diabos vocês fizeram? – perguntou ele, sem fôlego e parecendo segurar as lágrimas – Estão todos bem?

— Estamos, estamos todos salvos, tio Ciço.

— Quem é esse? – o Capitão finalmente notou a presença de uma pessoa a mais no grupo de jovens. Dot deu um passo à frente.

— Me chamo Dot. Infelizmente devo dizer que sou a causa de toda a confusão. Alma é minha irmã e eu pedi para ela me resgatar, mas não quero atrapalhar mais. Posso partir sozinho daqui.

— Dot, não! – Alma protestou – Eu não vou te deixar sozinho de novo. Fico aqui com você, podemos falar com as nossas mães.

— Alma, para com isso. Eu não...sabe que não consigo ficar quieto, eu não quero te arrastar para a minha bagunça.

O rapaz cruzou os braços e encarou a irmã, que tinha um ar sério e desafiador nos olhos.

— Ei, temos espaço para mais um no navio. Yltaris me mandou navegar, e Yltaris sempre esteve disposta a ajudar qualquer um que precisasse – Narciso disse, se intrometendo na conversa - Eu tenho que seguir os princípios dela. Vamos todos para o navio e podem me explicar o que aconteceu. Mas antes de começarmos, eu queria saber por que Hugo está nu.

***

Nanna estava de volta a sua rede no Bela Dona, horas depois. Explicaram tudo para Narciso e agora os quatro adolescentes aventureiros seriam castigados por sua irresponsabilidade com a tarefa de limpar o convés todos os dias. Apesar disso, nem Narciso nem Tilda pareciam estar bravos – apenas ficaram preocupados, e reconheceram as razões de Alma para ter agido como agiu.

É claro que Narciso teria que contar o ocorrido em cartas para seus respectivos pais. Essa parte deixou Nanna apreensiva.

Seus pais iriam matá-la. Ou pior ainda, proibiriam ela de continuar a viagem e a forçariam a voltar para Ethea, como uma pária. Ela não queria nada disso, mas sabia que precisava ser feito. Poderia não ter saído do porão de Celeste Seraphine e eles nunca teriam sabido o que aconteceu com sua filha.

O pensamento trouxe lágrimas aos olhos de Nanna, mas ela se enroscou na rede para que ninguém visse. Havia decepcionado Dada e Papa, mas ela tinha que ter feito aquilo, não podia deixar Alma, alucinando e sozinha. Eles certamente entenderiam, assim como tio Narciso tinha entendido.

Subitamente, um leve baque ao lado de Nanna despertou a atenção da garota, e também acordou Alma. As duas se levantaram de suas redes e olharam para o lado. Dot estava sentado no chão, surgido de lugar nenhum.

— O que está fazendo aqui? É o dormitório das garotas, não pode entrar durante a noite – Alma sussurrou, ríspida.

Como entrou aqui? – Nanna perguntou, mais confusa do que brava.

— Virei uma mosca, é claro. É mais divertido do que parece.

— Você não pode ficar aqui, vá para o quarto dos garotos – Alma repetiu.

Dot encarou ela com uma sobrancelha erguida e a boca curvada num sorriso de ironia. O corpo de Dot começou a mudar, em pequenos tremores, como se ele fosse apenas um reflexo na água. Subitamente, ele era uma mulher, de cabelos curtos e repicados, como sua forma masculina.

— Ta dá! – Dot disse, abrindo os braços – Agora posso ficar aqui?

— Uau! – Nanna exclamou, de queixo caído – Isso é incrível.

— Não o encoraje, Nanna, ele só está se exibindo – Alma resmungou – O que quer, Dot?

— Só queria ver minha irmãzinha.

— Você teve um pesadelo, não foi?

— É. Você também.

— É.

Eles ficaram frente a frente, se encarando em silêncio. Nanna, em silêncio e cansada, bocejou um pouco.

— Acho que conseguem sair de fininho se quiserem conversar em particular. Mas não se preocupem comigo, não vou bisbilhotar.

— Boa ideia! – Dot exclamou.

Com um estalar de dedos, ele – ou ela, a essa altura, Nanna estava sonolenta demais para pensar sobre o assunto – se transformou em uma mosca, e Alma suspirou.

— Boa noite, Nanna. Volto já.

Caminhando na ponta dos pés para não fazer barulho, Alma cruzou o quarto e abriu a porta, com um zumbido a seguindo o tempo todo.

***

O convés estava ocupado por alguns poucos tripulantes que mal notaram sua chegada – muito menos da mosca Dot. Eles subiram até o cesto da gávea, o ponto mais alto do navio. O vento soprava os cabelos de Alma para trás e a deixava com frio. Dot se transformou de volta para sua forma masculina.

O espaço era quase apertado demais para que os dois coubessem confortavelmente. Dot se sentou na estrutura alta de madeira que circulava o piso do cesto, ficando de costas para uma queda de vários metros de altura.

— Por que você sempre fica se pendurando em lugares perigosos? – Alma perguntou, cruzando os braços.

Dot deu de ombros e olhou para o horizonte, para o oceano escuro ao seu redor, parecendo quase triste. Ele estava em seu estado masculino natural. O cabelo era um moicano malcuidado, os olhos verdes eram tão brilhantes quanto os de Alma, mas estavam cercados por algum resquício de maquiagem. Seus brincos de prata reluziam com a luz da lua. Dot era uma bagunça.

— Não tem medo de cair e morrer? – Alma continuou, pressionando-o.

— Você tem medo de morrer?

— Mas é claro. Você não?

— Para ser honesto, não parece ser tão ruim assim – Dot deu de ombros – Quer dizer, todo mundo morre um dia. E já estou acostumado demais com ideia da morte para ficar surpreso com ela.

Ele se inclinou um pouco e olhou para o convés. O coração de Alma se acelerou e ela puxou Dot pelo braço, de volta para dentro do cesto.

— Nossas mães sentem sua falta – Alma disse, tentando não soar severa demais – Você nos preocupou demais.

— Não era minha intenção. Eu só precisava ficar sozinho um pouco.

— Quatro anos, Dot. Quatro anos é tempo demais sozinho.

— Eu...perdi a noção do tempo. Eu sei me virar, Alma, sou um adulto. Já vi o mundo, até demais.

— Então volte para casa comigo.

Dot fechou os olhos e sorriu amargamente, deixando a cabeça abaixada.

— Faz muito tempo, Alma. Eu não sei mais o que é ter uma casa. Acha que elas iriam me aceitar de volta? Nossas mães?

— Óbvio que sim. Elas te amam, apesar de você parecer esquecer disso as vezes.

— Por que não se preocupam assim com a nossa irmã? – Dot perguntou, amargo – Ela também nunca dá notícias, até onde eu sei.

— Ela fala conosco, Dot. Mas do que você, de qualquer jeito. E é muito fácil achar ela. Quantas pessoas você conhece com os poderes dela?

Dot desceu de volta para o chão e batucou os dedos na madeira. Não conseguia olhar Alma nos olhos, então continuava com o rosto virado para o mar. Parte dele queria voltar para o aconchego da casa da família, em Auano, com a umidade e os sons dos animais durante a noite. A outra parte dele estava perdida demais em si mesmo para se sentir parte de algum lugar.

Mas Alma o queria de volta. Sua irmãzinha havia arriscado sua vida para resgatá-lo. Certamente isso significava alguma coisa. Dot fugiu de casa querendo conhecer o mundo e conhecer a si mesmo. Ele conheceu a si mesmo mais do que gostaria e viveu coisas que preferia não ter vivido. Não podia manipular o tempo, mas ele tinha um lugar seguro no pântano. Depois de algum tempo pensando, em silêncio, ele finalmente disse:

— Tudo bem. Eu voltarei para casa com você. Mas não posso garantir quanto tempo vou ficar.

— Já está bom para mim – Alma sorriu, e seu irmão fez o mesmo. Eles eram parecidos demais quando sorriam – Quer me contar por que você foi mandado para a prisão pelo rei de Yaehiora? Não sabia que conhecia as pessoas daquele deserto.

— Eu já disse que essa é uma história para outra hora. Eu ajudei a filha dele, a princesa Fayza, a escapar de uma torre e essa é a única ação que eu fiz que tenho certeza que foi para o bem. Faria tudo de novo se precisasse.

— Você e Fayza por acaso estão...juntos?

— Céus, não, ela me mataria se eu tentasse tocar nela. E ela não é meu tipo também. Não, Fayza tem alguém muito melhor do que eu. Ela está bem como está.

— Foi ela que te deu o nome de Dot? – perguntou Alma, um pouco mais delicadamente.

— Não. Foi...outra amiga minha. Uma druida. E eu não quero falar sobre os druidas, não hoje.

— Tudo bem – Alma suspirou. Ela segurou a mão de seu irmão e disse – Ei. É bom ter você de volta. E não me importo como você se chama, Enoch.

— Obrigado, irmãzinha.

Os dois se abraçaram afetuosamente, como não faziam há anos. Enoch, ou Dot, entendeu finalmente que sua casa não era um lugar físico. Não. Qualquer lugar onde sua irmã pudesse abraçá-lo era sua casa.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do Dot? Ele é um dos meus personagens preferidos. Não se preocupem, eu tenho um capítulo sobre a aventura dele com a princesa do deserto. Também tenho um capítulo para a misteriosa irmã dele e da Alma....
Para os shipers e curiosos de plantão: o próximo capítulo é sobre o Eli e o Orion, só que bem mais especificamente sobre o Eli. Vamos descobrir como eles se conheceram, e como nosso querido loirinho era na adolescência. Desculpa, eu amo esses dois e eu tenho várias histórias sobre eles planejadas, então se vocês gostarem eu posso realmente escrever como contos!



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