Que seja um novo dia escrita por Name Ishikawa


Capítulo 7
O desejo e o Adeus


Notas iniciais do capítulo

Tenha uma boa leitura!



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“Eu só queria voltar a ser o que era antes. Pouco a pouco fui fazendo parte de vocês e fui tendo uma vida comum e aborrecida. Como foi possível que um guerreiro frio como eu formasse uma família? Eu achei que não tinha nada demais. Meu coração foi ficando mais calmo e até a Terra me pareceu um belo lugar para se viver. Por isso, tive que pedir a Babidi que fizesse voltar a maldade em meu coração”

— Vegeta, durante a batalha com Goku - Saga Majin Boo

***

Com certeza olhar Vegeta dormindo era algo raro para Bulma. Como muitas outras vezes, havia ficado até tarde no laboratório para terminar um dos seus muitos projetos. Passava das três da manhã e ela sentia-se cansada, mas com o dever cumprido.

Tomou um demorado banho quente para relaxar, enquanto puxava na memória as muitas lembranças de sua vida. Vegeta era o que mais a intrigava. Olhou-o pela fresta do Box do banheiro, que ficava de frente para a enorme cama de casal. A imagem do homem em sua cama, dormindo serenamente, mas com o semblante endurecido que sempre o caracterizava, parecia uma cena de filme pausada. Estava com parte do corpo coberto pelo pesado edredom de algodão. Os braços fortes estavam a mostra, assim como parte do sarado abdômen. Não emitia qualquer barulho, dando uma leve sensação de que poderia acordar a qualquer momento. Bulma sempre achava que isso era resultado dos treinamentos. Estar sempre alerta devia ser umas das premissas de quem era fadado a ser guerreiro pelo resto da vida.

Imaginou como seria se Vegeta fosse um terráqueo comum, se trabalhasse, se resolvesse tomar a Corporação Cápsula para presidência. Fez uma careta. Imaginou imediatamente centenas de pessoas sendo chamadas de vermes e sendo lançadas janela abaixo pelo guerreiro. Definitivamente Vegeta não nascera para aquilo. Fora destinado a ser um orgulhoso príncipe saiyajin.

Saiu de debaixo do chuveiro, ainda envolvida na neblina formada da água quente da ducha, e sentou-se diante da penteadeira. Passou a mão de leve sobre o espelho para retirar o embaço e penteou levemente os cabelos, reparando seu próprio rosto. O tempo estava passando para ela, de fato. Não que isso alterasse sua beleza, mas o tempo infelizmente lhe deixava marcas. Determinou que mudaria novamente o corte de cabelo e faria uma consulta em alguma clínica estética no dia seguinte. Olhou novamente para Vegeta. Lembrou que o guerreiro demorava a envelhecer. Sua raça lhe dava o prazer de demorar a envelhecer, como Vegeta mesmo ressaltava, para que a vida útil proporcionasse mais tempo de batalhas. Os cabelos não cresciam, não mudavam, não apresentava fios brancos. A pele era tão lisa e conservada, mesmo com o sofrer dos golpes das batalhas, que provocava inveja a qualquer humano comum. Não se preocupar com o tempo era uma dádiva para os saiyajins. Suspirou. Olhou-se mais uma vez. Achou-se bonita. Era Bulma Briefs, cientista, inteligente, mãe de um belo filho e, agora, esposa de um príncipe saiyajin.

Levantou-se com determinação seguindo para o closet e encarando-se pelo espelho enorme que tinha só para ela. Deu uma volta e olhou-se de cima a baixo. Arrumou o cabelo imaginando o novo corte que faria pela manhã e sorriu.

Vestiu uma camisola branca, com detalhes rendados em todo o comprimento, borrifou uma pequena quantidade de perfume no pescoço e foi até a cama. Deitou-se devagar, virada para Vegeta, que por sua vez estava de costas para ela. Puxou um pouco do edredom e cobriu-se por inteiro, fitando as costas do marido. Obviamente Vegeta não dormia. Estava acordado, esperando por ela. Ele mesmo não sabia explicar, mas enquanto ela não se deitava ao seu lado, não tinha sono. Era recorrente desde que passou, sem nem mesmo perceber, a dormir ao lado dela. Nunca se manifestava quando ela se deitava. Podia apenas ter a certeza de que ela estava ali, e isso bastava e o confortava.

Ela mantinha a esperança de que aquele momento se perpetuasse e que nada afligisse aquela relação que, com o tempo, fortificava-se. Ele era o mesmo turrão e orgulhoso, mas cada vez mais demonstrava, ao menos com Bulma e Trunks, que algo ali importava, e que, até então parecia ser o que ele passava a entender ser família.

***

Festas, amigos e família. Essa era a vida de Bulma e a vida proporcionada ao príncipe dos saiyajins.

Vegeta não havia notado, mas os anos passaram-se para ele e sua vida havia tomado um rumo inesperado. Já havia aceitado grande parte daquilo e esforçava-se para aceitar algumas outras coisas. Nos momentos de desentendimento com Bulma, ou quando Trunks lhe enchia a paciência, pensava em largar tudo e fugir para longe. Fazia isso algumas vezes, mas no final das contas sempre voltava.

Quando não esperava mais emoção em sua vida, foi lhe dada a dádiva de lutar novamente, justo com Goku, logo num Torneio. Gohan, com a mania de virar super herói, havia se metido em encrenca com Videl e, como consequência, participaria do torneio. Isso desdobrou-se na volta de Goku para a Terra por um dia. O momento trazia de volta um Vegeta esperançoso, sedento pela vontade de voltar aos velhos tempos de luta.

Naquele exato momento Vegeta sentiu que sua vida poderia ter a virada que tanto almejava. Se teria a oportunidade de lutar com Goku, aproveitaria ao extremo. E não era só o prazer de enfrentá-lo. Se Vegeta o derrotasse, sentir-se-ia finalmente vingado por todas as vezes que Goku lhe salvara a vida, por todas as vezes que o superou e estava um passo à sua frente.

Era o auge para Vegeta. Era seu esperado momento chegando.

A turma se reunira novamente para se enfrentar em lutas amistosas e, como sempre, fazer uma festa depois. Tudo parecia normal.

Parecia.

Os planos de Babidi eram maléficos e isso envolvia saiyajins. O vilão tinha seus planos e anseios e tentava de todas as formas obter o que queria. Após ser descoberto pelos guerreiros, tentou tomá-los a seu favor. Faria todas as tentativas possíveis para que seu plano desse certo e, enfim, parecia ter encontrado o que queria. Daburah logo notou que Vegeta, ao demonstrar sua impaciência e intolerância com Gohan, seria o segundo plano perfeito, o resultado ideal e esperado de um guerreiro daquele nível.

Vegeta estava tão irritado com Gohan que queria agir sozinho, acabar com aquela palhaçada e poder, enfim, ter sua luta. Babidi preparou-se e aproveitou a distração dos guerreiros para apanhar Vegeta e sua mente, seu corpo, seus pensamentos.

Pego de surpresa, Vegeta nem imaginava que poderia proporcionar a si um novo rumo para seguir. Sentiu os pés, as mãos e a cabeça esquentarem e doerem de tal forma que pensou não poder suportar por nem mais um minuto. Jogou-se no chão já sem poder sobre si, tentando livrar-se daquilo que o invadia atrás de suas fraquezas.

Babidi era cruel. Vasculhou a mente do guerreiro e finalmente atacou-a.

— Vegeta, guerreiro príncipe saiyajin. Posso ver sua alma! Suas vontades lhe transbordam o espírito, vejo o que quer e o que precisa. Posso lhe dar isso e o que mais quiser.

— Então é assim que age. O que quer de mim?

— Quero que renda-se a mim, e em troca lhe dou o poder e a coragem que precisa para retomar sua antiga vida. Não é isso que quer e que não consegue fazer?

— Não sabe nada de mim, maldito!

— Leio sua alma, Vegeta, e estou pronto para atendê-lo. Já sabe o que quero. Entregue-me sua alma. Está insatisfeito, vejo isso. Não acha que um guerreiro como você está no lugar errado?

— Cale-se, não sabe de nada!

— Ah, sim, eu sei. Se você pudesse fazer o que quer fazer sozinho, eu não teria tanta facilidade em estar lhe dominando. Você deseja ser dominado, Vegeta. Quer ajuda para voltar a ser o que era, já que não consegue sozinho. Trato é trato comigo, Vegeta. Darei o que precisa para enfrentar seu rival. Liberarei seus poderes ocultos, seus limites! Poderá matar Goku e voltar a ser o mais forte.

— Idiota, você não sabe o que quero...

A mente a queimar, doer, arder. Não havia tempo para pensar, raciocinar, medir as coisas. Só havia um desejo profundo no coração do príncipe. Babidi sabia qual era e atiçou-o.

A dúvida não consumia o guerreiro, não naquele momento. No fulgor da emoção, aceitou.

— Me dê... Me dê logo o tal poder!

— Mas saiba de uma coisa, Vegeta: Lhe darei o poder eterno, e me dará eternamente sua alma.

— Não me importo, acabe logo com isso!! Quero ter minha luta!! Se pode me dar o que promete, não me importo com o resto. Quero ser como eu era!

A conversa mental entre os dois não podia ser ouvida por Goku, Gohan e Kaioshin, que pediam a ele que tivesse forças para não se deixar possuir. Vegeta gritava de dor, mas seu objetivo maior era tão mais forte que ele resistiu bem àquela dominação.

Vegeta havia encontrado a forma que precisava para voltar a ser o que era, na hora em que já não tinha poder sobre a própria mente. Estava extasiado com a possibilidade de vingar-se de Goku. Estava envolvido demais para se lembrar das outras coisas que pareciam ser importantes. O vazio de sua mente era o momento perfeito para Babidi e finalmente a dominação foi feita.

Um “M” agora ilustrava a testa de Vegeta, indicando que um novo ser estava sob os comandos de Babidi.

Vegeta sentia-se forte. Sentia-se bem, finalmente sentia-se bem. As amarras da vida cotidiana e pacata haviam sido soltas. A escravidão da vida humana o deixara. Seu olhar penetrante e frio era assustador. Era ele, sim, agora ele era quem queria ter sido antes.

Antes mesmo que pudessem realmente entender o que se passara a Vegeta, os guerreiros foram teletransportados de volta para a arena do Torneio de Artes Marciais. Todos estranharam aquilo. Vegeta estava transformado e mantinha o olhar frio, agora fixo em Goku.

— Vegeta... – Goku esboçava assustado ao olhar para Vegeta. Temia por aquilo estar acontecendo e por terem voltado a arena.

Vegeta estendeu a mão em direção a Goku e o atacou sem aviso prévio. Lançou uma bola de energia no saiyajin, que mal teve tempo de defender-se devidamente, podendo apenas desviar o ataque. O ataque de Vegeta havia atingido a plateia, matando centenas de pessoas.

De longe, mas ainda na plateia, Bulma, Kame, Chichi e Yamcha viam tudo. Não entenderam nada e assustaram-se com aquele jeito de Vegeta. Este ria-se com o ataque.

O coração de Bulma gelou. Sentiu um tremor no corpo inteiro e queria não acreditar no que via. Vegeta acabara de matar parte da plateia com um ataque dirigido a Goku, e estava sorrindo, estava feliz.

Os olhos ficaram embaçados, sentiu que cairia no chão de tanto desgosto. Como poderia seu esposo ter cedido ao mau... Não era ele, queria se convencer, mas no momento não podia mais julgar quem aquele homem era.

— Não... – Balbuciou com a feição abalada, agora começando a entender o que podia ter acontecido. – Não acredito... Isso não é verdade, eu tenho que estar enganada... Vegeta... – E caiu, sendo aparada por Chichi.

Na arena, as coisas seguiam um rumo imprevisto e sombrio.

— Vamos lutar, Kakaroto, você e eu. Ou quer continuar vendo mais montanhas de cadáveres? – Sorriu com ironia e maldade.

— Vegeta, se deixou controlar por Babidi? – Goku perguntava, já sabendo a resposta. Queria, por algum motivo, ouvir isso de Vegeta.

— Se eu não me deixasse controlar, você nunca lutaria comigo. Não me importo bom Majin Boo, só quero minha luta com você. Vai me pagar por tudo!

— Senhor Vegeta, fez isso apenas por uma luta sem importância? – Kaioshin meteu-se a comentar.

— Sem importância? Este verme maldito ousou me superar. Essa luta significa muito pra mim. Eu sou o príncipe dos saiyjins, mas este idiota teve de me superar, teve de salvar minha vida! Nunca perdoarei isso, nunca! – Bufava ele nervoso, nitidamente alterado pelo desejo já insano pela tal luta. O velho Vegeta mostrava seus anseios antes sumprimidos.

— Não aceite a luta, Goku! – Kaioshin implorava, temendo o pior.

— Aceitarei a luta. – Goku sentenciou, sabendo que era a única forma de conter Vegeta.

Todos mudaram de cena. A arena estava vazia e puderam começar a luta longe do que Vegeta pudesse destruir em seu atual estado.

Babidi, sem titubear, tratou de controlar Vegeta e instruí-lo, mandando que matasse Kaioshin.

Ele só não esperava que o saiyajin se rebelasse contra ele. Indo contra o que Babidi esperava, Vegeta deixou claro seus planos:

— Não me interessam os outros. Sou um príncipe saiyajin e meu orgulho é grande. Só quero lutar com Kakaroto e não obedecerei as ordens que me der.

Vegeta havia deixado claro que não estava totalmente dominado.

 

 8 - O adeus

 

Sentia a fúria e o poder emanarem de seu corpo, e sentia-se extasiado ao poder realizar o desejo que lhe torturava a alma há anos. Para ele não importava se aquela luta fortalecia Majin Boo, ou se o ataque contra a plateia havia matado Bulma e Trunks. Estava tomado por algo maior que ele, algo tão cruel quanto ele um dia foi, e não havia resquício de bondade ou de misericórdia, ou de um Vegeta humanizado devido aos anos de Terra.

Para piorar, as lembranças que tinha de Goku intervindo em batalhas e até o ajudando lhe vinham na memória como socos na cara, expondo-lhe a uma humilhação infindável. Ah, como isso o ofendia seu orgulho.

Cada golpe em Goku despertava sua fúria e lhe saciava o ego. Rosnava como um animal feroz a espreitar a caça para começar a devorá-la.

Goku, surpreso com a força e raiva de Vegeta, demorava a revidar, ainda desacreditando daquilo tudo. Tentava se convencer que Vegeta havia aumentado o nível de força pelos muitos treinamentos, e não por outra via.

— Surpreso, Kakaroto?

— Não posso estar, Vegeta. Sei que treinou todo esse tempo. Está em pé de igualdade comigo. – Disse ingenuamente.

— Nossa diferença de poderes sempre será igual, Kakaroto, percebi isso em sua última luta. Suas habilidades são fáceis de se detectar. Admito que fiquei abalado ao ver sua força de guerreiro de classe inferior a ultrapassar a minha, um príncipe frio e calculista. Por isso, eu pedi essa luta em segredo a Babidi.

— Pediu a BABIDI? – Supreendeu-se. – Ah, agora eu entendo... Por isso se deixou controlar pela magia dele...- O tom agora era de desapontamento.

— Soube pelos outros lutadores em como tinham ficado fortes no torneio. Aquele comportamento estranho me chamou a atenção. Pensei muito nisso.  Então, imaginei que se me deixasse controlar pelo sujeito que os controlava, poderia te desafiar e nossa diferença de poderes desapareceria. E foi como eu esperava, mas foi um método muito idiota.

— Ve... Vegeta... Como pôde? Sabemos que é orgulhoso, mas se deixar controlar para ficar mais forte?

— Eu... eu... eu ... Só queria voltar a ser o que eu era antes! – Gritou ele, explodindo seu KI.

A alma de Vegeta ardia. No fundo, ele sentia que o que queria não fazia mais sentido, mas o seu orgulho ferido lhe corroía a alma e tentava o convencer do contrário. Era uma espécie de vingança pessoal, e que muitas vezes não tinha mais a ver com Goku, ou com sua vida na Terra, mas o que sua descendência lhe implicava e seu sangue afirmava. Havia algo que queria provar, mas não sabia mais a quem provar, se a si mesmo, ou para sua raça extinta.

— Eu só queria voltar a ser o saiyajin cruel e sem piedade a quem nada importava e queria ter uma luta perfeita! Mas então... – Ele suspirou, digerindo o que vinha à sua mente.

Vegeta parecia brigar consigo mesmo e suas reais intenções naquela luta, e naquele momento que antes julgava colossal, mas que, aos poucos, deixava de fazer um pouco de sentido.

Continuou:

— Tudo estava mudando, Kakaroto... Comecei a me sentir repugnante comigo mesmo, sabe por quê? Porque eu, EU, o príncipe dos saiyajins, fui fazendo parte de vocês... pouco a pouco fui tendo uma vida comum e aborrecida... Como foi possível que um guerreiro frio como eu formasse uma família? – Riu-se, quase que de si mesmo.

Gotas de suor frio rolavam pela testa e molhavam o símbolo de escravo de Babidi.

— Eu achei que não tinha nada demais. Meu coração foi ficando mais calmo e até a Terra me pareceu um belo lugar para se viver.

— Não consegue se ouvir, Vegeta? Por que não vive então com tudo que já te foi dado?

— Você não entende, nunca vai entender, porque é um deles, seu imbecil!

— Parece que você é que não entende...

— Foi por isso que tive que pedir a Babidi que fizesse voltar a maldade em meu coração, Kakaroto, e graças a isso, agora eu me sinto muito, muito bem.

— Você tem certeza disso, Vegeta? Está mesmo se sentindo bem, ou ainda está tentando se convencer disso com tudo o que disse pra mim?

Aquelas palavras acertaram o fundo do coração do príncipe saiyajin, como facas atiradas em seu peito. As palavras de Goku eram uma reflexão do próprio Vegeta, e ele sabia disso. Goku parecia a parte sóbria de sua alma, um pouco do que lhe restava, mas que era parte que ele odiava, a que não sabia conviver e aceitar. Era difícil, e Vegeta não queria ouvir aquilo, não queria mudar sua decisão, ainda que incerta. Assim, voltou a atacar Goku com ainda mais fúria por lhe provocar tais sensações.

A explosão de energia apenas cooperava com o surgimento de Majin Boo, que já despertava num campo do outro lado da batalha. Seu KI inimigo começava a ser sentido pelos guerreiros, levando a interrupção da luta entre Goku e Vegeta. Ambos passaram a sentir o KI do monstro, mas apresentava-se tão pequeno que sua ameaça parecia iminente apenas para o Kaioshin, que acompanhava tudo ainda desacreditado.

Continuou a atacar Goku, que mesmo em batalha e a argumentar e tentar convencer Vegeta a desistir dos seus planos, se preocupava com o que Babidi e Majin Boo poderiam causar a Terra.

Certo de que Vegeta ainda não perdera a alma por completo, ele insistia.

— Isso não é hora de lutar, Vegeta! Nós despertamos esse monstro!

— Isso não me interessa, não tem nada a ver com nossa luta...

— Vegeta, ele vai matar todo mundo! Também a Bulma e seu filho Trunks!

As palavras de Goku mais uma vez tentavam atingir o ponto fraco do saiyajin.

— CALA A BOCA!! Não me interessa o que acontece a eles! Não vendi minha alma a Babidi para me lembrar da minha generosidade na Terra! Já não quero saber de nada, não me interessam os outros!

— É mentira! – Goku insistia. Havia, de alguma forma, plantado a dúvida no príncipe , e sabia que aquela era a única forma de chamar a atenção dele. – Está mentindo.

Vegeta sentiu-se invadido, como se Goku tivesse a certeza que em seu coração ainda havia sim um lugar para as duas pessoas que ele ainda queria bem.

Goku aproveitou-se com destreza da curta brecha de desatenção conseguida e acertou-lhe um soco em cheio na face, derrubando-o, vendo que finalmente abalara o príncipe sayajin.

Parou e o encarou.

— Está errado, Vegeta. Anda não perdeu a sua alma completamente.

Vegeta levantou-se. Cuspiu um bocado de sangue no chão. Percebeu que Goku não lhe dava a atenção que devia para a luta. Pensou rápido e tomou a decisão que nunca tomaria em sã consciência. Se Goku não queria lutar, seria punido como Vegeta julgava ser merecido. Seria sua vingança momentânea por mais uma vez Goku o humilhar, dessa vez envolvendo sua família terráquea.

Faria a vontade de Goku, mas do seu jeito:

— Deixaremos a luta para depois. Parece que este monstro te interessa tanto que não consegue se concentrar na luta. Me dê uma semente dos deuses, para recuperar a energia desta luta.

Goku sorriu esperançoso, inocentemente convencido da momentânea sobriedade do opositor, não percebendo a real intenção de Vegeta. Acreditou em cada palavra do guerreiro e virou-se para alcançar as sementes em seu bolso.

De forma fria e articulada, Vegeta se aproximou. Mais uma vez o semblante transformou-se em seu lado obscuro. O olhar congelou-se, o corpo se preparou para golpe.

Uma coronhada pelas costas. Um golpe baixo, impossibilitando a defesa de Goku, que caiu imediatamente, perdendo sua transformação, perdendo os sentidos.

Vegeta aproximou-se, comeu a semente, recuperou-se. Colocaria em prática o segundo plano.

— EU despertei Majin Boo, então EU mesmo vou eliminá-lo. Depois voltarei para terminar nossa luta, se ainda estiver vivo, é claro...

***

Momentos depois, na batalha contra Majin Boo:

A explosão destruiu a nave de Babidi. Vegeta finalmente viu Majin Boo, o qual precisamente julgou de “palhaço gordo”, achando aquela situação toda uma babaquice  da qual poderia rapidamente se livrar com êxito e voltar a lutar com Goku.

Babidi deu ordens para que Majin Boo acabasse com Vegeta. Era chegada a hora de mais uma batalha.

Encarou Majin Boo, mas agora passava a ver nele a imagem de Goku. Mais lembranças. Aquela era a hora de vingar-se. Goku não estaria lá para salvá-lo e ele poderia eliminar Majin Boo e sair com os créditos da luta. Sem Goku, sem Gohan, sem ninguém para interferir, como achava que devia ser, com todo seu orgulho em alta. Ele se encarregaria de resolver tudo. Tudo... Tudo?

Um sentimento.

Remorso.

O que fizera?

Um lapso o atingiu em meio a tudo aquilo. Podia lembrar de como abandonara Goku naquela luta. Um misto de dúvidas tomou-o sem que ele mesmo pudesse entender. Era o seu EU, não aquele dominado, mas aquele outro, sutilmente e minimamente emoldurado pelos últimos anos na Terra.

A mente parecia pregar-lhe uma peça. Quem era aquele Vegeta que ele passava a sentir, mesmo tão dominado?

“Kakaroto, continue dormindo. E quando acordar tudo isso terá acabado... Acho que será melhor que eu não esteja aqui...”

 

Aquele Vegeta demonstrava que de fato não estava dominado. Seu coração voltava a ser aquele de antes da possessão. Os sentimentos confundiam-se, mas uma pequena certeza invulnerável, superior a todo o caos em que se metera por um motivo que agora era confuso, ou que parecia deixar de ser. Não era apenas um troco para Goku e uma massagem ao seu ego. Era maior. Era melhor. Tinha um motivo a mais, uma vontade a mais.

Dessa vez, estava disposto a dar tudo de si, mas não para si.

A batalha logo começou. Vegeta não viu que Trunks, Goten, Picollo e Kuririn o viam em ação. A luta lhe era favorável por certo momento, mas ainda não conhecia as habilidades de Majin Boo. O golpe certeiro derrubou monstro, merecendo a vibração da plateia escondida.

Mas a massa gorda e rosa recuperou-se e revidou sem piedade. Uma grande explosão, e surgia um Vegeta ferido gravemente no braço.

Agora acreditava no poder do monstro e sabia que não podia vencê-lo. Procurava maneiras de destruí-lo, sem sucesso. Provocava-o, irritado com aquela forma de ataque imbecil da bola de sebo rosa, como o classificava.

Nova chuva de energia era atirada contra Vegeta e uma massa rosa o cercara, envolvendo-o e prendendo-o firmemente, impedindo qualquer movimento.

Estava preso, entregue as artimanhas do mostro.

De longe o pequeno Trunks não se conformava. Era seu pai, seu herói ali a apanhar. Em sua ingenuidade e preocupação com o pai, agiu sem demora. Voou até o local da luta, seguido pelo fiel amigo Goten.

O pequeno atacou com uma voadora bem medida, direto na massa cor de rosa, que voou longe.

Acudiu o pai, que estava muito ferido. Goten correu em seu auxílio.

— Ele já morreu? – Disse inocentemente Goten.

— Não diz besteira! O meu pai não pode morrer só com esses ataques...

— É verdade, mas ele não pode voltar a lutar com esse mostro assim desse jeito.

— Limpa bem esses ouvidos para escutar o que vou dizer, Goten! Minha mãe me contou uma vez que meu pai é um guerreiro muito orgulhoso porque é príncipe dos saiyajins... O meu pai é um guerreiro muito importante. O príncipe dos saiyajins não pode perder para esse demônio.

Vegeta ouvira cada palavra do filho. Sentia-se quebrado por todo o corpo, mas Trunks dera-lhe toda motivação para levantar-se e aplicar suas ultimas forças ao combate.

Lembrara do momento em que certa vez ouviu Bulma a contar sua historia ao filho, enaltecendo Vegeta e esculpindo um herói para o filho, alguém que o menino admirasse.

 “Bulma... sempre Bulma...”

Mexeu-se, rapidamente sendo ajudado pelo filho, que o olhava feliz, com um sorriso bobo. Viu o filho menor de Goku também.

Algumas coisas voltaram a fazer sentido naquele exato momento. Alí estava o motivo, a razão de tudo. Era uma parte dele projetada a sua frente, um filho, seu sangue de guerreiro. Estava ali do seu lado a motivar-lhe, mesmo sem saber, com coisas que precisava ouvir. Aquele menino era seu filho.

Culpou-se por estar ali com ele. E se estivesse morto, como Goku dissera? E Bulma? Como estaria? O que pensaria dele ao ver tudo o que tinha causado?

Um filme, mil imagens e figuras em sua mente: Bulma, Trunks, Goku...

Mas ele, naquele momento, escolhera por se redimir. A decisão foi rápida e sem chance de reversão.

— Trunks, cuide de sua mãe...

A face agora revelava um Vegeta brando. O semblante tranquilo, que pareceu contrastar e reverter tudo o que acontecera até aquele momento.

— Vão para um lugar longe daqui... Eu vou me encarregar pessoalmente de eliminar Majin Boo.

— O que? Isso não, não quero! Nós também vamos lutar! Juntos conseguiremos! – Trunks dizia numa esperança cativante.

Vegeta estava feliz em ouvir o filho, em ver em quem ele estava se tornando. Sorria por dentro.

Já não estava sob domínio de Babidi, ou de qualquer outra razão que não fosse sua família.

— Trunks... Apesar de ser meu filho, não tive a delicadeza de te abraçar nem quando você era um bebê... – Lamentou-se.

As próprias palavras lhe pesaram. Realmente nunca o havia feito. Condenou-se por isso. Olhou o filho nos olhos. A face estava suja de sangue, as roupas rasgadas da batalha, a alma renovada pelo seu arrependimento.

Havia se dado conta do que lhe era importante, mas agora era tarde demais. A decisão estava tomada.

— Deixe-me abraçá-lo, meu filho...

Soou não como um pedido, mas como uma última súplica em remissão a tudo.

Estendeu-lhe o braço, aproximando-se. Trunks ficou totalmente sem reação. Realmente o pai nunca havia agido daquele jeito.

— O que foi pai? Por que está agindo assim?

Um abraço demorado, que transparecia seu amor e consideração pelo filho.

— Cuide-se bem, filho...

Estendeu a mão, acertando leve e contidamente uma coronhada na cabeça do filho, apenas para  desacordá-lo. Julgou que o filho não precisava ver e nem estar perto quando Vegeta fizesse o que tinha que fazer para finalizar a luta com o monstro.

Fez o mesmo com Goten, que mais uma vez queria ir em socorro do amigo. Um soco de leve no estômago e o menino caiu desacordado. O filho de Goku era mesmo um amigo fiel, e Vegeta nunca esqueceria que este era mais um feito de Goku.

— Leve-os daqui, Picollo. – Pediu ao guerreiro que veio em seu auxílio, após presenciar tudo.

— Por favor, cuide dele...

— Vegeta, você vai morrer? - Picollo imaginava o que aconteceria a seguir. Tão impressionado com a atitude de Vegeta, parecia querer parabenizá-lo pelo que estava fazendo. Sabia o quanto ele era orgulhoso, e pela primeira vez fazia algo pelos outros. A partir dalí, Vegeta tornou-se para ele um ser digno do seu respeito.

— Só me diga uma coisa... Se eu morrer, vou poder ver KAKAROTO no outro mundo?

— Não adianta dizer mentiras só para te consolar, então vou dizer a verdade... Isso será impossível... Você matou muita gente, sem compaixão. Seu corpo será eliminado, e sua alma será levada para onde Goku não estará...Sua alma esquecerá todas as lembranças...

Que duro golpe em seu coração saber aquilo. Arrependido, mas não perdoado. Tudo o que fora seu, não seria mais. Como se nunca tivesse existido. O fim, o nada, para sempre.

Considerava justo agora. Pelo que fizera, era justo.

— Hum, entendo... é uma pena. – Ele viu Majin Boo se aproximar. Agora temia, queria Trunks bem. - Isso era tudo, vá depressa... – Ordenou a Picollo.

Havia ficado só. Ele e Majin Boo. A hora era chegada, morreria, e levaria Majin Boo consigo, esse era o plano, e que imaginaria que seria bem sucedido. Era essa sua parcela na remissão por tudo o que fizera. Acreditava num perdão pelo que faria.

— Adeus Bulma... Adeus Trunks... E também Kakaroto...

 Uma última explosão. Um último sentimento. Acabava ali seu KI.

Fim

 

 


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Notas finais do capítulo

Por algum motivo editei a historia como concluida no capitulo 7, por isso adicionei o 8 e ultimo capitulo aqui. A todos que acompanharam, meu agradecimento especial.



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