Que seja um novo dia escrita por Name Ishikawa


Capítulo 6
Tempo




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Uma semana antes da briga...

Saiu pela janela ainda nervoso. Sentiu seu sangue ferver em resposta àquela discussão, imaginando porque deixava com que Bulma agisse daquela forma com ele. Era autoritária, mandona e tão orgulhosa quanto ele, mas isso era facilmente contornado pelo carinho que ela oferecia a quem estimava, diga-se quanto ao trato com a família de Goku, seus amigos, com ele mesmo. Que terráquea teria tal paciência com ele? Ou, qual teria coragem de enfrentá-lo e desafiá-lo como Bulma o fazia? Certamente ninguém mais.

Sentiu estar destinado a isso. Primeiro Goku. Agora, Bulma.

Não sabia explicar muito bem o motivo, mas desde aquele dia em que ela o convidou a morar com ele e os nameks na Corporação Cápsula, aquilo havia mexido com ele. Ela sabia do histórico dele. Sabia que ele era um desconhecido, que queria matar Goku, que era um saiyajin de mente duvidosa. Talvez ele a tivesse enganado com a história de ressuscitar Goku. Ela o olhou de um jeito peculiar, analítico, curioso. Até o elogiou pela ideia de querer ressuscitar Goku, o deixando sem graça. Não conhecia os motivos de Vegeta, mas já o admirou a partir dalí. Teve a ousadia de chamá-lo de “rapazinho”. Teve a ousadia de convidá-lo a hospede.

Vegeta lembrava-se bem da condição que lhe dera no convite:

“- Mas eu não vou permitir que se apaixone por mim, mesmo que me ache muito atraente” – sorria ela imperiosa, as mãos na cintura, dona da ocasião.

 Vegeta só pôde pensar o quanto Bulma era metida, num jeito próprio dela. Como ela ousava dizer que o saiyajin poderia se apaixonar por ela? Só por ela ser divertida? Ser inteligente? Ser corajosa? Ser bonita? Definitivamente Vegeta achava que nunca compartilharia dessa ideia absurda.

Os poucos 130 dias foram mais do que suficientes para ele notá-la.  Enquanto a casa lotada de namekuseis parecia deixar tudo uma bagunça, oportunidade não faltou para que os dois estivessem tempos demais juntos. Vegeta cismava em treinar de alguma forma e ía para as montanhas, mas isso não era frequente. Treinava no jardim da mansão e sempre atacava um dos robôs empregados, sobrando para Bulma o dever de consertá-los.

— Se continuar quebrando os robôs do meu pai vai ter que arranjar outro lugar para ficar! Não consegue ser tranquilo como os namekuseis?— Ela resmungava ao guerreiro, que cruzava os braços e lhe dava as costas.

— Insolente! Fale direito comigo! Se esqueceu de quem eu sou?

— Como é que é?— Ela se irritava, mas o guerreiro nunca a ouvia até o final, deixando-a falar sozinha.

Os mesmos 130 dias foram suficientes para que ela notasse que aquele saiyajin orgulhoso tinha motivos para agir como agia, para ser quem era. Imaginava que a vida dele não devia ter sido fácil. Se ele era mesmo um príncipe, com certeza lhe era exigido muito. Isso era parte dele, de como foi educado.

Aquela uma semana fora de casa serviu de reflexão para o saiyajin. Passou o primeiro dia pensando, para além das montanhas Paozu, em um canto que julgou ser adequado ao momento que precisava. No silêncio da floresta, pôde contemplar o que tanto agradava aos terráqueos: O som da água da cachoeira que cantava, como num coro, a descida das águas de encontro a um novo rio; O soprar dos ventos que derrubavam as folhas já velhas dos galhos das árvores, dando lugar às novas;  O som do trovão, anunciando a chuva que lavaria as ruas, aguaria as matas, seria alimento para sementes.

Assimilou tudo aquilo à sua própria vida. Era a hora de ser um novo alguém?

Os olhos contemplavam os céus. O corpo sentia o frescor da grama verde, acomodando o físico fortemente esculpido pelos treinos e lutas. A claridade da lua apenas lhe permitia tão somente contemplá-la junto ao céu estrelado. Pensou que, talvez, uma daquelas estrelas com certeza seria o planeta dele, o povo dele.

— Freeza, maldito! – Resmungou, acompanhando a raiva refletida nos punhos fechados, que queriam apenas socar algo ou alguém.

Levantou-se de súbito, voando até o alto dos céus. Olhou a região deserta. Mirou os braços para uma das montanhas e desferiu golpes de energia contra ela. Depois voou até o meio do oceano e fez o mesmo. Estava com raiva, precisava treinar. Seus tiros de energia formavam ondas gigantes, o mar se agitava. Viu ao norte uma tempestade e foi até o meio dela. Entre trovões e raios, nuvens e tornados, ele desferia seus poderes no intuito de despejar toda a raiva que sentia.

— Maldito Freeza!!! Aaaaahhhrrrggg!! – Seu rosto transparecia a raiva, a face vermelha, as sobrancelhas unidas num amedrontador Vegeta que queria uma vingança que não pôde contemplar pelas próprias mãos.

Gritava seus ataques e até parecia ser correspondido pelos trovões, que seguiam em piscadas brilhantes cortando entre as nuvens. Desviava destes como se fossem inimigos a sua caça. Os contornava e os atacava com um prazer que lhe satisfazia a alma guerreira, tão exaustivamente treinada desde o seu nascimento. Ria satisfeito. Rosnava, rangia os dentes.

Alguns minutos depois parou de súbito. Como se voltasse a si, percebeu sua roupa de treinamento rasgada, os ferimentos leves, o suor. Olhou para as próprias mãos, levando-as ao rosto. Questionava-se quem era ele naquele mundo? O que era aquele mundo nele? De repente não sentia mais prazer em ser quem era? Um sujeito que, além de orgulhoso, tinha seu sangue frio para as mais exigentes situações. Mas lá estava ele, no meio do nada, lutando contra ninguém.

Voou de volta para a montanha onde estava e pousou devagar, deixando-se cair no chão lentamente. Sentiu-se cansado, derrotado por si mesmo.

— Bulma... – Suspirou antes de adormecer novamente.

***

Chegou na mansão já era tardezinha. Pelos ares pode ver a tranquila mansão a seu dispor. Imaginava o que Bulma faria, o que diria ao vê-lo. E Trunks? Ainda assim, Bulma era o que mais lhe preocupava. Como ela reagiria?

Sentiu o KI do filho vindo de dentro da sala de gravidade e mudou o percurso para lá. Pousou e logo foi até a porta, onde ouviu também a voz de Bulma. Parou. Não pode deixar de ouvir que ele mesmo era o assunto, que Bulma contava sua história ao filho. Ouvir o pequeno Trunks vibrar com tudo o deixava comovido, do seu jeito.

Respirou e tomou coragem para revelar-se, abrindo a porta rapidamente. Bulma e Trunks assustaram-se e viraram-se para a porta surpresos.

— Você voltou! Mamãe me contou tudo! Quero ser um príncipe saiyajin também! Me treina? – o menino saltitava em frente ao pai.

Vegeta o olhou sem jeito, apenas dando um sorrisinho de lado. Trunks agarrou-lhe a perna direita e apertou num forte abraço, soltando rapidamente. Vegeta tocou os cabelos do menino de leve.

— Trunks, nos dê uns minutos. – E indicou que o filho saísse da sala. Trunks obedeceu e Vegeta fechou a porta. Bulma, ainda sentada, permaneceu sem reação.

Sentou-se ao lado dela. Ela, ainda estática, não sabia como agir, o que falar. Ele a encarava, o rosto estava brando, ainda que com o olhar carrancudo.

— Ouviu tudo?

— Sim, e quero que ouça o que tenho a lhe dizer.

Bulma sentia-se péssima, culpada, decepcionada com ela mesma por ter afastado Vegeta dela por causa de mais uma briga, causada por mais uma incompreensão dela pelo jeito dele. Entreabriu os lábios, assoprando devagar. As palavras pareciam gritar em seu peito, deixando agora a respiração mais agitada, mas não saíram como ela esperava que saíssem e mostrassem seus sentimentos. Numa resposta involuntária, os olhos juntaram um amontoado de lágrimas, que caíram descontroladamente pelo rosto, inundando suas bochechas, seguindo e contornando seu pescoço. O silêncio parecia matá-la.

Vegeta aproximou-se dela, como que entendendo perfeitamente o que ela sentia e queria dizer, mas que não conseguia. Segurou levemente o queixo delicado dela com o dedo polegar, usando o indicador para limpar a lágrima que desviava para o lado do rosto. Sua outra mão lhe acariciou levemente o outro lado da face, afastando a outra linha de lágrima que insistia em cair dos marejados olhos azuis dela, que sem mais conseguir se controlar, soltou o primeiro gemido, que deu sequência ao choro agora ressoante, que traduzia tudo o que ela sentia por ele, pelo que sentia naquele momento. Vegeta correspondeu aquilo com um abraço forte, puxando-a para si, acomodando-a em seu colo.

A natureza saiyajin o impedia de retribuir aquele choro com palavras. Ele simplesmente não sabia fazer aquilo com palavras. Uma das mãos acariciava o rosto dela, agora parte mergulhado no peito dele pelo abraço. A outra mão lhe acariciava os cabelos azuis, que tinham o cumprimento até os ombros. Encostou levemente sua cabeça na dela e alí permaneceram por um bom tempo. Quando ela finalmente se acalmou, tomou coragem de fitá-lo novamente. Os olhares trocados pareciam se compreender. Os olhos negros dele refletiam a imagem dela, e da boca finalmente lhe saíram as palavras.

— Tudo se foi, Bulma.  – Ele a afastou um pouco, o olhar não se prendia a um foco - Eu... Eu pensei que poderia fazer tudo sozinho, mas... Não é mais como antes... Todos estes dias eu... Não consegui...

— O que aconteceu? – Ela temeu. Estranhou o jeito dele.

— A minha vida inteira fui ensinado a ser impiedoso, a escravizar outros seres, a destruir coisas e vidas. Está em meu sangue saiyajin a vontade pela batalha, a sede de vencer e ser melhor. Tentei fazer diferente estes dias... Mas aí, tudo não faz mais sentido. Freeza não existe mais. Minha raça está quase extinta. Eu me pergunto como serão as coisas...

— Vegeta...

— Como será agora? – Ele finalmente a encarou. O semblante dele era brando.

Bulma tinha em sua frente a figura de Vegeta que nunca imaginava contemplar. Finalmente abrira-se com ela.  A pergunta dele não era necessariamente em busca de uma resposta, mas uma conclusão na qual ele mesmo havia chegado sobre si.

Ajoelhou-se em frente a ele, acariciando-lhe a face.

— As coisas podem ser melhores se você se der uma chance. Me deixe te ajudar... – Ela inclinou-se para beijá-lo de leve nos lábios. Vegeta correspondeu. Gostava de sentir a sensação de beijá-la. Era um calmante natural, assim como um estopim para prosseguir no que aquilo sempre acabava. Mas o momento era outro, e ele se decidia internamente por aceitar a mudança de vida que o remoeu por uma semana longe de casa.

Afastou-a, segurando-a pelos pulsos.

— Pode não ser do jeito que espera... – Ele sussurrou.

— E como pode saber o que espero?

Foi o pequeno Trunks, com pequenas batidas na porta e uma vozinha doce, que fez lembrar o outro sentido de estarem e permanecerem juntos:

— Mamãe, o papai também vai com a gente no parque?

Depois daquela tarde no parque, estavam a caminhar tranquilamente pela avenida principal, que acabava na entrada da rua para a mansão:  Vegeta, Bulma e Trunks.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela leitura! O próximo capítulo será o penúltimo.



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