Parece que foi ontem, mas já passou um mês desde o dia em que discuti com a minha atual ex-melhor amiga. Desde então, não falo uma única palavra sequer com Sakura, nem mesmo consigo olhá-la direito. Nossas aulas haviam terminado dias depois e já estão próximas de retornar, e não consigo conceber a ideia de voltar a dividirmos o mesmo dormitório. Mesmo com nosso distanciamento às vezes me pego pensando nela, imaginando as reações dela sobre a série que estou assistindo ou sobre as novas músicas do Coldplay.

Eu sempre achei que nossa amizade era para sempre, que nada e nem ninguém conseguiria nos afastar, mas como fui tola. Tenho vontade de me socar sempre que lembro dela ou quando alguém cita o seu nome e logo em seguida diz “desculpa, Karin... foi sem querer”.

Não! Não foi sem querer. Percebo muito bem que todos de uma forma ou outra desejam que a gente se reaproxime, principalmente Sai e Nagato. Eles são os mais ferrenhos defensores dela e não perdem a mísera oportunidade de me lembrar dos pequenos pormenores que nos uniu, desde a primeira semana de aulas na Todai.

Hoje, é uma dessas datas em que a falta de tê-la por perto me pega de tal forma que arrebenta o meu ser em diferentes micropartículas: o dia da matrícula em mais um período na universidade. Estou sentada ao lado de um inquieto Shikamaru, que já está em seu oitavo cigarro.

O cheiro da nicotina no início do nosso relacionamento foi um grande problema, um maior do que a sonolência quase infinita dele. Porém, hoje é o aroma dela embaralhado com o perfume da loção pós-barba dele que me acalma. Olho para o lado e o vejo bocejando pela milionésima vez em meio a uma baforada, não consigo deixar de sorrir minimamente quando vejo seu rosto se comprimindo com o ato e sendo embaçado pela fumaça, que ele jura que direcionou para o lado contrário ao meu.

Eu não sei como passei a amá-lo, mas saber que ele nunca vai me abandonar traz um acalento magnifico para o coração tão despedaçado de outrora. Shikamaru mudou muito ao longo desses dias tempestuosos, antes ele estava mais aéreo do que nunca, tinha dias que eu o sentia atormentado, mas logo depois daquela escrota calourada ele voltou a ser quem sempre foi e muito mais atencioso. Ele sabia o que Sakura representava para mim e o que nossa briga ocasionou, acho que foi por isso que ele se tornou tão mais presente assim. Shikamaru sempre sabe quando não estou bem e tenta de tudo para me alegrar.

A sensação de perda que sentia antigamente, sempre que estávamos juntos foi totalmente dissipada nesse último mês. As desconfianças que eu havia criado, se foram junto com o fim das aulas. E agora estamos aqui, como se elas nunca tivessem existido.

— Conseguiu puxar quantas matérias? – o questionei, enquanto fechava meu notebook.

— Sete...

— Sete? Uau! Isso não é um pouco demais para você? – sério, como é que ele vai dá conta? Ele sempre puxa só quatro.

— Você sempre puxa sete ou mais.

— Shikamaru, mas é que...

— Relaxa! Não vou dormir nas aulas, já tenho o semestre inteiro planejado – dizer que pegou sete disciplinas. num só período, foi leve ao contrário disso.

— Cadê o meu namorado dorminhoco e que deixa tudo pra cima da hora e seja o que Kami-sama quiser?

— Teve umas aulas particulares com uma certa ruiva mandona que só ela.

Não contive a gargalhada ao ser beijada de surpresa e com a sentença proferida. Sério, não sei se um dia vou conseguir viver sem ele. Nunca imaginei que voltaria a amar nessa intensidade e ainda mais alguém tão diferente de mim novamente, mas Shikamaru é tudo o que preciso e sempre precisei na vida.

— Daqui uns dias as aulas voltam e...

— Não quero falar sobre isso, Shika – declarei antes que ele iniciasse.

— Eu sei, mas vocês vão ser obrigadas a se verem todos os dias e a fazerem os trabalhos juntas, todos os professores de vocês sabem que o grupo é sempre vocês três.

— Izumi também não está preocupada com isso – respondi levantando da cama.

— Está mentindo para si própria, Karin – me abraçando por trás e olhando nosso reflexo no espelho que toma de conta de metade do quarto dele.

— Por favor, Shikamaru, não quero falar sobre isso agora – virei selando nossos lábios.

— Uma hora vai ter que falar, mas por enquanto tudo bem, está com fome?

— Faminta...

O vi saindo do quarto e sabia que o destino era a cozinha. Uma coisa que se aprende nos primeiros dias convivendo com Shikamaru Nara é: ele ama cozinhar e quando vê que alguém está com algum problema ele vai lá e prepara um verdadeiro banquete para essa pessoa. E no momento a ágape dos deuses que ele vai preparar é totalmente nossa e de mais ninguém.

Ainda na escada escuto-o na cozinha, logo a esquerda, revirando panelas e abrindo a geladeira para iniciar o nosso jantar quando sinto meu celular vibrar, antes que eu pudesse dá play na nossa playlist predileta para cozinhar. É uma mensagem de texto chegando no aplicativo de mensagens, meu corpo inteiro treme e perco o fluxo contínuo de ar nos pulmões.

“Estou de volta à Tokyo, e precisamos conversar. Somos adultos agora e temos que arcar com as consequências do passado o quanto antes.”

O chão diante de mim parecia que me engolia a cada nova passada para o final daquela escada após ter lido aquelas frases pela notificação. Meu coração havia parado alguns segundos, depois que entrei no aplicativo e visualizei a foto do perfil e tive a certeza de quem havia enviado aquele texto. Isso não pode ser real. Ele não pode ter voltado, não agora. Não depois de tudo o que passei para esquecê-lo. Não depois do que fiz.

Durante todo o jantar meu foco foi direcionado inteiramente aquelas poucas palavras, que insistiam em girar e girar em minha mente em um loop infinito. Quando Shikamaru me encontrou estática ao pé da escada não consegui pronunciar nada, nenhuma sílaba foi proferida dos meus lábios. Eu só respondia “Hmmm”. E o silêncio voltava a reinar até ele tentar um novo diálogo, sempre sem sucesso.

No mundo da lua foi o meu estado de espírito durante essa parte da noite, mas não imaginei em nenhum momento que meu satélite natural iria se transformar em pó até o final dela. Da mesma forma, que não imaginei que um dia ele me procuraria ou que eu fosse confrontada pela minha ex-melhor amiga entrando em meu campo de visão totalmente atordoada ao lado do meu primo mais velho, que um dia foi seu namorado.

— Precisamos conversar com vocês dois.

Foi a única coisa que ouvi dela, assim que Shikamaru abriu a porta para eles entrarem e antes do meu mundo entrar em erupção total.

Caixa de mensagens do Spotted Todai

Mano, conheci uma menina até então foda! Mesmos gostos. Ficamos uma vez, trocamos ideia por uma semana e chamei ela pra sair. Daí cês acreditam que ela me bloqueou e não quis mais sair só porque eu sou leonino?

Galera, pelo amor de Deus! Isso está virando doença! Vai ter as engraçadas que vai achar bonito, mas desde quando um mês de nascimento defini caráter? Meu Deus, decepcionado!