Filhos da Noite escrita por Rick Batista


Capítulo 8
Santos e Demônios - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Hora de Paul Davis voltar a ativa. Divirtam-se com um jantar bastante animado.



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O lugar era aconchegante, com boa mobília, empregados bem vestidos e uma banda de jazz tocando ao fundo. Das quinze mesas, treze estavam ocupadas, e felizmente a mulher estava justamente sentada ao lado de uma mesa vazia. Foi lá que Paul se sentou, pedindo para o garçom lhe trazer Uísque. Ao redor dos dois viam-se famílias e principalmente casais, Paul deduziu que o lugar estava cheio por conta das promoções de inauguração, e pela proximidade do aniversário da cidade, o que sempre trazia turistas.

A mulher tinha algo em torno de 1,80m, com ombros largos e porte atlético. Seus cabelos e olhos eram muito negros, e sua pele muito branca. Ela não tirou o sobretudo, mesmo molhado, e aos poucos ele percebeu que mesmo fingindo distração com o jornal local e o vinho, os olhos dela se fixaram em uma pessoa. Sentada à quatro mesas de distância, uma bela mulher de cabelos e olhos castanhos, vestido vermelho e joias falava ao celular, sozinha em uma mesa sutilmente mais bem posicionada que as outras. Ele se perguntava se ela seria uma vampira, e enquanto bebia, resolveu que era hora de agir.

— Posso me sentar? — perguntou, já sentando ao lado da caçadora. — É triste beber sozinho numa noite como essa, não acha?

Ela pareceu surpresa, e logo desconfiada. Era uma mulher grande e forte, não do tipo acostumada a ser assediada.

— Não pode não. E acho que será melhor para nós dois que volte para sua mesa — respondeu ela, com um olhar ameaçador que faria outros homens obedecerem sem pestanejar.

— Qual é? Nós dois aqui solitários, será que não podemos ao menos dividir uma garrafa aproveitando uma boa companhia? — Paul exibiu seu melhor sorriso conquistador, e percebeu que ela ficou sem jeito e levemente ruborizada.

Não parecia ser boa em lidar com homens, principalmente a serem gentis com ela, concluiu. Em um instante, a mulher de cabelos negros segurou e virou seu pulso, apertando-o enquanto pareceu procurar por algo. Nada encontrando, o soltou, sem jeito.

— Perdão, não foi minha intenção machucá-lo. — E ficou calada em seguida, olhando em volta.

Paul sabia bem o que ela queria. Procurava a tatuagem no pulso, a marca daqueles que serviam voluntariamente aos vampiros em troca da promessa de se tornarem um deles. Ao mesmo tempo, seus vários e grossos anéis de prata queimariam a pele de qualquer morto-vivo, eliminando duas dúvidas de uma única vez.

— Você é meio bruta, hein — brincou ele. — Agora que me machucou, será obrigada a jantar comigo. Garçom!

Ela pareceu sem saber o que fazer enquanto Paul fazia um pedido para si e estendia o cardápio para ela, prometendo pagar o que quisesse comer.

— Por que está fazendo isso? — questionou, desnorteada.

— E é preciso algum grande motivo para dividir um jantar com alguém?

Com essas palavras ele acabou finalmente quebrando o gelo, e arrancando um sutil sorriso daquela mulher.

— Se o senhor... digo — ela pigarreou, sem jeito —, sou uma madre da Igreja da Inglaterra, acho importante que saiba, antes de me pagar algo. — E desviou o olhar dele.

Paul tocou suavemente o pulso tenso da mulher, e afetou um sorriso compreensivo.

— Uma pena, realmente. Mas veja bem, sou judeu e mestre em Antropologia, acho que podemos ao menos ter uma boa conversa. — E estendeu a mão em cumprimento. — Paul Davis, e qual sua graça?

— Me chamo Pietra Ferdinari, e fico grata, senhor Davis.

Ela escolheu enfim o prato, sempre mantendo alguma vigilância sobre seu alvo. Eles começaram uma breve discussão sobre história da religião, as ações da Igreja Cristã e a ascensão do cristianismo no Ocidente, casa vez mais distante de suas origens judaicas. Ambos percebendo que o outro dominava bem o assunto, ainda que sob um viés diferente.

— Acredito que por baixo dessa camada institucionalizada, seja do judaísmo, seja do cristianismo, exista espaço para verdadeiros milagres, para segredos aguardando por serem revelados — afirmou o professor.

— Não lhe tiro a razão, professor Davis. A Inglaterra, como quase toda Europa, cada vez mais se deixa cegar pelo ceticismo, fechando os olhos para Deus e seus mistérios. Ateísmo e relativismo andando de mãos dadas, transformando nosso povo em ovelhas cegas e surdas ao alerta de seu pastor, presas fáceis para os lobos que as rodeiam.

Paul fingiu só então notar a reportagem de capa do jornal que a madre tinha na mesa, mais uma sobre Adam e sua vinda à Bleak Hill.

— Vejam só, então o maldito já até ganha capas de jornal.

— O que sabe sobre esse tal Adam Turner, senhor Davis? — perguntou ela, comendo seu frango sem muito pudor.

— Recentemente estive com ele. É um sujeito que esbanja dinheiro, jovem, mas excêntrico e super formal, com aquele jeito de falar engraçado. Parece um boêmio, só dando as caras de noite e sempre cercado de gente que parece idolatrá-lo.

Ele pôde ver a chama do interesse queimando nos olhos dela.

— É como se... — e parou, fingindo sentir vergonha. —... esqueça, é bobagem minha.

— Continue, por favor — disse ela.

— Tudo bem, eu quero dizer que as pessoas que o rodeiam parecem fazer tudo por ele, como se estivessem dominadas, entende? Sei que isso deve ser paranoia da minha parte, e que é mais fácil que seja o efeito do dinheiro e seu poder de sedução.

— O dinheiro é poderoso nesse mundo, sim, mas o mal tem seus muitos truques para além dele. E quanto aos boatos sobre ele e os irmãos desaparecidos?

— Até onde sei, a polícia não indiciou o sujeito. Pode ser só uma grande coincidência mesmo, ou a polícia simplesmente não pode tocar no cara, seja por ser rico, seja por outra coisa. Sabe, depois de vê-lo cara a cara e olhar em seus olhos, não duvido de mais nada. Há coisas que nos fazem pensar sobre o que realmente é verdade nesse mundo.

Pietra passou um tempo o analisando, até enfim dizer as palavras:

— Diga a verdade, senhor Davis: não sentou comigo por sentar. Houve outro motivo, e todo resto foi desculpa. — Por um momento Paul hesitou, mas decidiu seguir na dança.

— Tudo bem, é verdade — reconheceu, sorrindo sem jeito. — Vi que lia sobre ele com interesse, notei o broche de cruz em seu sobretudo, e não resisti em puxar assunto. A verdade é que desde que estive com aquele homem me sinto estranho, fraco e confuso sobre o que aconteceu. Sequer confio em minha memória, e não tenho coragem de dividir com nenhum conhecido as coisas que imagino, por medo de me acharem maluco.

— Fico feliz em ver que está começando a ser sincero comigo, e talvez consigo mesmo. O que viu, senhor Davis? O que assombra seus pensamentos?

Quando Paul começaria sua história, se viu diante do inesperado. O próprio Turner cruzou a entrada do restaurante, indo em direção ao alvo da madre, beijando sua mão e sentando-se.

— Parece que Deus tem um plano para essa noite, senhor Davis — disse Pietra, parecendo tão surpresa quanto ele.

Paul ficou incrivelmente admirado por sua sorte, poderia cuidar daquele homem mais cedo do que pensava. Aquela seria uma noite para ficar na história, pensou.

***

Dias antes.

Numa sala de aula vazia, o professor assistia ao vídeo que seu contato na polícia enviou. Nele, uma figura alta de sobretudo, botas pretas e cabelo negro arrombou a porta da casa de sua futura vítima. Paul dificilmente pensaria se tratar de uma mulher se os relatórios não dissessem isso, pois a imagem desfocada e o porte físico dela em nada ajudavam na dedução.

Eram 6h00 da manhã quando a mulher entrou e 6h05 quando saiu. Segundo o relatório policial, testemunhas alegaram ouvir intensa troca de tiros dentro da casa, e segundo as imagens do vídeo, pouco após a saída da assassina a residência pegou fogo. Naquela manhã, dois corpos foram encontrados carbonizados.

Ao menos seis outras vítimas foram confirmadas como dela: mais quatro em Manchester, duas em York. Pelos dados, a maioria dos alvos seguia o padrão esperado por Davis: indivíduos pouco sociáveis, de vida noturna e dos quais os vizinhos sabiam pouco. Ou seja: todos vampiros.

Paul também observou fotos do apartamento em que a suspeita se hospedou, no centro de Manchester. A polícia estourou o local, mas não antes dela pôr fogo em tudo. Entre textos bíblicos em latim, foram encontrados fragmentos de fotos das vítimas, para além de um pedaço de mapa do Reino Unido. O mapa continha marcações que coincidiam com as localizações das últimas vítimas, e outras desconhecidas.

A polícia a considerava uma serial killer fanática religiosa, mas Paul sabia a verdade. Ela era uma caçadora, e uma das boas. Era seu alvo... assim como sua arma.

***

— Parece distraído, senhor Davis, está bem? — perguntou ela.

Paul fingiu só então voltar a si, mordendo um grande pedaço de peixe, que empurrou para baixo com vinho.

— Não entendo o que quer dizer — disse ele, atuando —, contei a verdade sobre o que aconteceu naquela noite, sobre meus sonhos, as lembranças confusas, os dias posteriores... Por que motivo me pergunta sobre "vampiros"?

— A pergunta foi simples e direta, senhor Davis. Peço que responda de igual modo — devolveu Pietra. — O que sabe sobre vampiros?

— Oras, são coisas de filmes e livros. No geral, mortos que bebem nosso sangue. Sedutores, poderosos, tem uns que viram morcego, outros hipnotizam, tem filme em que até brilham. — E riu, debochado.

— Há sempre alguma verdade em meio à ficção, mas o fato é que são todos demônios. E são reais.

— Está me dizendo que vampiros existem mesmo, e são... Demônios? — perguntou o professor, mal disfarçando um olhar de desprezo. — Está falando sério, Pietra? Acredita mesmo nisso?

— Deseja mesmo saber, senhor Davis? — Ela limpou a boca, apoiando as mãos na mesa. — Foi verdadeiro comigo, e eu serei verdadeira com o senhor, mesmo sabendo que duvidará das minhas palavras. Um vampiro é um demônio em corpo humano, uma besta maligna que só existe para matar e se proliferar sobre a Terra. Quando um pecador tem seu sangue sugado até a morte por um deles, um demônio pode se apossar do seu corpo, surgindo outro vampiro no lugar. Não existe nada de humano ou bom neles, são o puro mal encarnado, os emissários do Diabo!

***

Na mesa mais próxima da banda, ao som de clássicos do jazz e alheios aquela conversa, Adam e Jeanne dividiam o melhor vinho da casa.

— Agora me diz, como faz isso? — perguntou a vampira, a chama da curiosidade queimando em seus olhos. — Como pode um vampiro estar diante de mim, e eu não senti-lo?

— Cada predador com seus truques. Você tem os seus, e eu os meus — respondeu ele, em seu terno preto e rabo de cavalo.

Um poder antigo e extremamente útil, Adam sabia, a capacidade de esconder sua essência sombria dos outros seres das trevas. Mas não se dormia por trezentos anos sem consequências, e certos poderes demoravam a retornar ao morto-vivo. Poderes como esse.

— Um truque e tanto, sou obrigada a admitir. — E brindaram. — Você é um cara interessante, Adam. Um homem de bom gosto, só que um tantinho chamativo demais.

— Acha mesmo? — perguntou ele, rindo.

— Gastou uma fortuna para restaurar e morar em um casarão que todos dizem ser mal-assombrado, só anda com motorista particular, sumiu com dois irmãos logo na noite em que chegou... Preciso continuar?

— Não recebi o manual atualizado de etiqueta para vampiros, lamento profundamente.

— Não seja malcriado comigo, meu querido. Você é livre para viver como quiser, mas a partir do momento em que chama atenção desnecessária para si mesmo... chama atenção para todos nós.

A banda começou um solo de gaita. Jeanne bebeu lentamente, então apoiou as mãos sobre as pernas cruzadas, perguntando:

— O que está rolando entre você e a loirinha da festa? Claire, não é? Ela é muito bonita, tão intensa e cheia de vida. — A vampira passeou com os dedos pelos próprios lábios. — Será que você a dividiria comigo? Seria um... símbolo da nossa amizade.

Adam a encarou com olhar assassino, se aproximando. Seus olhos vermelhos como sangue, e suas presas afiadas como lanças.

— Ela é minha, se alguém mais tentar encostar nela... Morre.

A vampira começou a rir incontrolavelmente, deixando Adam desconcertado.

— Ai, ai, não precisa ficar tão nervoso, é brincadeira! — Voltando a rir. — Quase deu pra sentir essa sua presença assassina de novo. Como naquela noite em que você se fez notar, tão intenso, foi... excitante. Só por ela deu pra saber que você é muito antigo, só queria saber o quanto.

— Aconselho que se lembre disso, da próxima vez que pensar em me provocar.

A vampira se inclinou também, até ficarem com os rostos muito próximos, até quase encostarem os lábios. Então, sussurrou:

— Estamos sendo observados, queridinho. Você me faria um grande favor não chamando tanta atenção.

Ele voltou a sentar-se e beber, contrariado e esperando explicações.

— Me escute e seja sutil — sussurrou ela. — Quatro mesas atrás de nós tem uma mulher enorme de sobretudo que não tira os olhos de mim, desde que chegou.

Adam a procurou disfarçadamente, percebendo que a mulher realmente os observava. E a vampira prosseguiu:

— Eu até podia pensar que é uma sapatão que me achou atraente, mas o perfil me diz outra coisa: caçadora de vampiros. Um homem se juntou a ela depois, ele é diferente. Ou não tem interesse em nós ou é um ator melhor.

Adam olhou novamente para a mesa, dessa vez percebendo o homem. E então sorriu.

— Essa será uma noite mais divertida do que imaginei — disse ele, irônico.

***

Paul ainda estava digerindo as últimas palavras da mulher, de modo que não percebeu a aproximação até ouvir a voz:

— Professor? — Voz de Adam Turner, arrancando Paul de seus devaneios.

Ele olhou para o vampiro, surpreso. Só então se deu conta da postura da caçadora, de quem estava a ponto de fazer uma bobagem, e instantaneamente voltou ao seu papel.

— Senhor Turner, não esperava vê-lo de novo tão cedo — disse ele, em seguida olhando para a madre. — Pietra, esse é Adam, Adam, essa é Pietra.

Ela fez um aceno com a cabeça, o rosto sério, estendendo a mão firme para que o vampiro apertasse. Em uma sutil demonstração de agilidade, força e graça, o homem virou e beijou a mão da mulher, desviando dessa forma dos anéis de prata e afastando os lábios antes que ela pudesse tocá-lo.

— Me sinto honrado em conhecê-la.

Olhando aquele encontro inusitado, de caçadora e monstro, Paul conseguiu sentir a tensão pairando no ar. Adam, um vampiro lendário com no mínimo trezentos anos. Pietra, uma caçadora com uma intensidade e obstinação como ele nunca viu.

A arma dela embaixo da mesa apontava para o vampiro, que se sentou ao lado dos dois, as mãos sobre o queixo.

— Eu queria mesmo encontrá-lo, mestre Davis. O que acha de marcarmos uma hora para ir a minha casa ainda essa semana?

Paul analisou a situação, o vampiro que lhe convidava, a provável vampira tão perto, e a caçadora, o encarando. Então respondeu:

— Pode ser uma boa ideia, mas nada nos impede de conversarmos agora mesmo. — E se levantou, juntando a mesa ao lado com a sua. — Peça para sua amiga se juntar a nós, vamos nos divertir um pouco.

Pietra olhou para ele, o encarando com ar de surpresa. Quanto ao vampiro, apenas riu daquela cena inesperada, em seguida fazendo um gesto para a vampira: um convite para "o circo". Ela ficou sem ação por alguns instantes, depois desfilou em direção a eles, garrafa de vinho em mãos. Por fim, parou diante do grupo, encarando friamente a caçadora.

— Mestre Davis insiste para que nos juntemos a ele e sua amiga — disse Adam, sorridente.

— Me chamo Pietra, e é um prazer conhecê-la, senhora... ? — perguntou a madre, mão estendida devidamente ignorada pela vampira.

— Jeanne Hilton — respondeu ela, olhar altivo. — Dispenso essas formalidades, queridinha.

— Mas eu insisto — disse a caçadora, segurando com força a mão dela, seus três anéis de prata queimando a pele da mulher.

A vampira soltou um leve gemido de dor, e se afastou, escondendo a queimadura. Paul apenas observou o trio incomum, formado por uma caçadora nada sutil, uma vampira misteriosa e um outro que parecia querer ver o circo pegar fogo, assim como ele.

— Quem é esse mesmo? — Jeanne perguntou para Adam sobre o professor, enquanto se sentava. A mão dentro da bolsa empunhando uma arma escondida, como Paul logo notou.

— Mestre Davis é Antropólogo, para além de um cavalheiro bastante interessante — respondeu o vampiro.

— Sou só um professor, alguém que busca a verdade e deseja ver o sol do conhecimento nascendo sobre todos — disse ele, estendendo uma porção de seu peixe para Adam. — Aliás, devia comer um pouco, homem. Parece que só sabe beber, nunca o vejo comer nada! Mas caso o peixe não seja do seu agrado, podemos pedir algo mais ao seu gosto: quem sabe uma carne mal passada... pingando sangue.

As duas mulheres se encaravam, a cada provocação do professor, mais perto de abraçar a violência. Adam e Paul igualmente se olhavam, mas diferente delas, sorriam, se divertindo com tudo aquilo.

— Pare de brincar, mestre Davis. Ao invés disso, por que não nos apresenta melhor sua acompanhante?

— Não é necessário, querido — começou a vampira, ácida. — Pela cara quadrada, porte de brutamonte e modos de gorila, com certeza é segurança de algum Pub.

— O que é isso senhorita Hilton? Isso lá é modo de se dirigir a uma madre? — perguntou, Paul.

O casal de vampiros não conseguiu esconder a surpresa na face. Já a madre, fez uma expressão de censura para o professor, que apenas manteve o sorriso maldoso.

— Uma madre, é verdade? — Adam inquiriu.

— Sou madre ordenada pela santa Igreja Anglicana. Minha missão de vida é proteger os filhos de Deus e trazer a luz da salvação a esse mundo... Dissipando as trevas que reinam nele!

— Sou católico, mas dedico todo o respeito aos outros ramos cristãos — afirmou o vampiro, ignorando o olhar de desprezo que a caçadora lhe dedicou.

— Madre e feia desse jeito, aposto que ainda é virgem — alfinetou Jeanne.

Pietra ficou ruborizada, Adam levando a mão a face.

— Quer dizer, isso se algum padre pedófilo ou freira sapatão não tiver comido você. Fala pra mim, como é ser fudida por um velho de vestido?

Pietra perdeu o controle, desferindo um murro em direção a face da vampira! O golpe foi rápido e forte o suficiente para lançar a bela mulher ao chão, mas surpreendentemente, foi detido pela mão de um vampiro com velocidade superior. Adam com certeza teve a palma da mão queimada ao segurar o punho da madre.

— Terei que pedir que se recomponha, não queremos constranger os presentes, não é verdade? — o vampiro disse, apertando o punho da mulher, que logo recolheu a mão.

Jeanne sorriu maldosamente, provocando ainda mais a madre. Apesar do estardalhaço, poucas pessoas notaram a confusão, e nenhuma pareceu entender o que de fato se passou ali.

— Melhor guardar essa língua afiada, garota, quase fez uma mulher santa quebrar seus votos... junto com sua cara — zombou Davis, terminando a refeição.

Jeanne fez uma expressão de desagrado, logo sussurrando algo para seu acompanhante vampiro. Ele olhou para a mão queimada, para a caçadora, para Paul, e por fim disse em alto e bom som:

— Que seja, vamos a minha casa então. Posso ligar para o meu motorista nos buscar, o que acha?

— Eu acho... que não — disse ela, visivelmente contrariada pela forma que ele respondeu. — Vamos no meu carro.

Jeanne seguiu em direção à saída, sem olhar para trás. Adam por outro lado, parou para falar com o incomum casal, enquanto acertava a conta com o garçom.

— Até outra noite, professor. — Então se virando para Pietra. — Reze por mim, madre.

Paul aproveitou para acertar a conta também.

— O que foi tudo isso, senhor Davis? — inquiriu a caçadora. — Por que os trouxe para nossa mesa? Dois malditos vampiros que teimou em provocar a cada momento. Como crê que isso terminará para o senhor?

— Sinceramente? Não faço ideia! — respondeu ele, fingindo nervosismo. — Fiquei fora de mim quando o maldito veio até nós, e sem perceber me agarrei a você, uma mulher de fé, como minha proteção contra ele. Não fazia ideia de que a mulher também era isso... Lamento profundamente ter te envolvido nisso, Pietra.

Ela levou a mão a cabeça, parecendo nervosa. E após respirar profundamente, disse:

— Não importa. Eu lhe disse que Deus tinha um plano para essa noite, não disse? — perguntou ela, colocando a mão no ombro dele. — Pois lhe prometo que o demônio nunca mais o importunará de novo.

A mulher saiu do restaurante, ignorando a chuva e entrando em sua picape verde. Quando parou para ajeitar o espelho, viu que Paul batia na porta ao lado, que ela então abriu.

— O que pensa que está fazendo, senhor Davis!? — questionou, surpresa.

— Se você vai atrás deles, eu vou também! — afirmou, sério. — Eles vão ao casarão, eu conheço cada detalhe do caminho, você precisa de mim.

Ela viu ao longe o farol do carro se afastando na chuva.

— E o que pensa que vai acontecer agora? Isso não é como um filme daqueles que o senhor assistiu: eles são perigosos, poderosos, e matam por prazer. Eu tenho Deus ao meu lado, e fui preparada para isso. Mas o senhor, que viveu a vida como um cético, tem alguma consciência de onde está se metendo?

Ele desviou o olhar, fitando o nada por um tempo.

— Não é só por mim, Pietra. Aqueles garotos mortos... eles eram meus alunos. Claire, uma jovem que está envolvida com ele, também é. Meus alunos, minha responsabilidade! — Pausa dramática, olhar triste em direção à mulher. — Se isso tudo é verdade, se você estiver certa sobre ele, sobre eles... Quanto tempo até que ela morra!?

Uma lágrima escorreu pelo rosto do homem, que prosseguiu:

— Que se dane se eles são vampiros, demônios, ou sei lá o que! Não posso deixar uma garota inocente morrer e não fazer nada. Mesmo que... mesmo que...

Mãos trêmulas no carro, tom de voz transmitindo tristeza. —... Que eu perca minha vida por isso. 

Ela colocou timidamente a mão sobre o ombro dele, um olhar confortador.

— Deus escolhe as coisas fracas do mundo, para envergonhar as fortes, senhor Davis. — Então o deixou entrar, ligando em seguida o carro. — Já pegou em uma arma, Paul?

— Fiz curso de tiro, sei o básico — respondeu, com seu melhor sorriso.

E assim, dois caçadores seguiram no rastro de dois vampiros. 


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Notas finais do capítulo

E após um jantar cheio de mentiras e provocações, preparem-se para um próximo capítulo com muito sangue.



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