Filhos da Noite escrita por Rick Batista


Capítulo 3
O Garoto Lobo


Notas iniciais do capítulo

Hora de conhecermos o segundo dos três protagonistas dessa história.



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Primeiro foi o cheiro.

Cheiro de medo, de algum modo ele soube. Logo, a visão. Homens correndo e tropeçando uns nos outros, fitando-o com olhos arregalados e horror estampado na face. Depois, o gosto. Gosto de sangue e carne. Carne de um homem se arrastando, com a perna dilacerada de onde sangue jorrou abundantemente. Em seguida, o som. De tiros e gritos, uma mistura de raiva e desespero traduzida em disparos e choro. Seus ouvidos vibraram e doeram ao som estridente deles.

Então, a dor! Balas atingindo seu corpo, seu sangue espirrando por todo lado. Ele caiu ao chão, grunhindo e banhado em sangue. E por fim: a raivaUma fúria crescendo dentro dele, um fogo capaz de consumir a tudo e a todos, incluindo ele mesmo. Um ódio que lhe tirou a sanidade e consciência, deixando apenas brutalidade no lugar. Não havia mais pensamento, apenas instinto. Ele era um predador, e nada mais que isso. Todos eram suas presas, e ele mataria um por um.

***

O barulho de batidas na porta o trouxe de volta a realidade. Lá estava ele, em um quarto apertado e mal conservado — seu lar pelas últimas noites. Seu nome era Andy, e aquele era o terceiro dia seguido em que acordou suado e assustado, o que não podia ser bom sinal. Sempre o mesmo sonho, tão real quanto uma lembrança... Só que não era. Não poderia ser.

Mais batidas, e agora mais altas. O garoto resmungou, vestindo uma calça e indo na direção da porta, pouco ligando para o cabelo bagunçado ou a cara de sono. Ao abri-la, se viu diante de um idoso magricela apoiado em uma bengala, usando boina e um camisão. O homem o olhou com desprezo, e então falou com seu característico bafo de cachimbo:

— Isso lá é hora de dormir? Quando tinha sua idade, as 11h00 eu já tinha trabalhado mais do que você em sua vida inteira.

Andy encarou o velho Fremman com ar de deboche. O sujeito era o dono das poucas hospedarias da cidade, um homem azedo e orgulhoso. O hóspede bocejou preguiçosamente, e só então respondeu:

— Perdi a hora, velho. Mas me responde só: o problema é de quem mesmo?

— Olha lá como fala comigo! — berrou ele, balançando a bengala ameaçadoramente. — Mas é muita ousadia em me faltar com o respeito, sabendo que o aluguel pela estadia que pagou venceu ontem. Tem até o meio-dia: ou paga, ou vai pra rua!

Andy nunca foi conhecido por sua paciência, e acordou com ainda menos.

— O recado foi dado, velhinho. Já posso voltar a dormir?

— Acho bom não tentar me enrolar, moleque. Não gosto de gente metida a esperta. — Fremman se afastou, o som da bengala marcando o ritmo do seu caminhar arrastado, rumo a escada que levava ao andar de baixo.

O garoto fechou a porta, respirando fundo. Aborrecido tanto pelo pesadelo, quanto pelo ultimato do velho. Principalmente por não ter como pagar pelos próximos dias. Olhou em volta, e viu a bagunça que o cercava como um reflexo da própria vida. Uma enorme lixeira, com dezesseis anos de merda acumulada. Quem limparia aquilo? Andy não fazia ideia, até aquele dia, nunca havia conseguido.

Depois que terminou de se vestir, pôs a mochila nas costas e saiu sem rumo certo. Ele adoraria dar adeus aquele lugar, mas que opção tinha? O jeito era arrumar o dinheiro e garantir mais alguns dias sob aquele teto fedorento. Um lugar velho como seu dono, e tão desagradável quanto.

Mudar de ares foi necessário, mesmo que doloroso para ele. Quando se tem o costume de quebrar a cara de cada sujeito mal encarado que cruza seu caminho, é só questão de tempo até bater no cara errado. E o tempo dele chegou. O jovem de olhos azuis e cabelos de um loiro escuro foi jurado de morte, se vendo obrigado a deixar tudo para trás. Amigos, colegas da academia, escola, sua mãe...

Sem destino certo ele pegou o trem, decidindo na sorte em qual estação desceria. Pois a sorte definiu Bleak Hill como parada final. Uma cidadezinha no meio do nada, cheia de histórias sem pé-nem-cabeça, e nem mesmo um ponto turístico que justificasse a visita. Foi com a cabeça cheia que ele vagou pelas ruas, fazendo uma parada quando a fome falou mais alto. Era um horário sem grande movimento no pub "Beer in Hill". Com dez mesas, duas atendentes, um cozinheiro e dois clientes, com o barman secando copos enquanto ouvia o noticiário da tv:

"— E as buscas pelos irmãos Leonard e Barry Fremman prosseguem sem novidades. Segundo informações, os dois universitários estão desaparecidos há mais de uma semana, mas só há dois dias seu avó, Harold Fremman, comunicou a polícia.

— Sempre foram de sair sem avisar — disse o homem na imagem gravada, ao repórter —, mas assim também já é demais. Não ligam, não atendem o celular, não estão pedindo meu dinheiro... alguma coisa ai tem!"

Sozinho em uma mesa, Andy tomou uma sopa aguada, enquanto quase sentiu pena do velho que reconheceu pela tv. Quase. O pouco dinheiro que lhe restava exigia economia, e a solução foi pagar a refeição mais barata do lugar.

"A polícia acredita que os jovens não chegaram a sair da cidade, mas admite não ter muitas pistas. Para piorar, sons de uivos muito próximos tem sido relatados por moradores nas últimas semanas, o que dá margem para hipóteses como a dos jovens terem sido vitimados por lobos. Não é atoa que as buscas avançam pela área verde. Vamos lembrar que nossa cidade sempre teve problemas com ataques desses animais, com um alto índice de mortalidade se comparada a outros condados."

Andy ficou um tempo digerindo aquelas palavras: "ataques de lobos", "jovens desaparecidos", "uivos próximos"... a lembrança do sonho surgindo repentinamente, o fazendo sentir um embrulho no estomago. Então se deu conta que uma das atendentes parou à sua frente. Cabelos presos e uniforme sujo, junto ao fato de estar fungando para alguma coisa, emprestavam um ar engraçado a adolescente, que sussurrou:

— Esse cheiro é de...

Antes que o garoto pudesse entender ou questionar alguma coisa, ela saiu em direção ao balcão. E ele desviou os olhos da garota para o noticiário:

"— As línguas mais afiadas repetem o nome do misterioso dono do casarão histórico, um milionário chamado Adam Turner. Isso, pois a chegada do sujeito não só coincide com o desaparecimento dos dois irmãos, como eles foram vistos pela última vez justamente em uma festa sediada... pasmem: na propriedade do tal Turner! Oficialmente a polícia não tem suspeitos, e os dois irmãos estão apenas desaparecidos, mas nada mais normal por aqui que a população fantasiar um envolvimento dessa curiosa figura com os desaparecimentos."

O som de pratos colocados sobre sua mesa chamaram a atenção do garoto. Uma grande porção de assado com batatas coradas, com um cheiro e aparência tentadores, servidos pela mesma garota que o encarou antes. Andy olhou na direção dela com cara de interrogação, ao que ela respondeu, com cara de peixe morto:

— O prato é cortesia do Jimmy, ali.

Escorado no balcão estava o barman, um homem na faixa dos trinta, cabelos e olhos castanhos como os da jovem, e barba por fazer.

— Essa é a nossa especialidade, não quero você saindo daqui com má impressão da nossa comida. Se fosse maior de idade, rolava uns copos da nossa cerveja tradicional, mas daí não quero problemas com a lei.

— Acredite tio, eu muito menos — respondeu o garoto, comendo com gosto, e feliz pela hospitalidade de cidadezinha do interior lhe garantir um almoço daqueles —, e valeu pelo comida.

Enquanto comia, percebeu que tanto a atendente quando o dono não desviavam os olhos dele, entre um cochicho e outro, até o tal Jimmy resolver falar:

— Tu é novo na cidade, não é mesmo? Se tiver procurando alguém é só dizer, que o Jimmy aqui conhece todo mundo. — E abriu os braços, enfatizando a frase.

— Tô procurando cuidar da minha vida. É o que geral devia fazer, também — respondeu ele, atrevido.

A garota soltou uma gargalhada ao ouvir aquilo, depois dando um soquinho no ombro do sujeito.

— Viu isso, Jimmy? Nem educação nem dinheiro o carinha tem.

— Um piadista, a cidade tá mesmo precisando de um show de stand up. Mas fica nervosinho não, garoto. Só puxei assunto por conta dessa tua cara de cachorro sem dono.

Ele riu daquela dupla estranha e inconveniente.

— Sei me virar, certo? — respondeu um Andy desconfiado, mastigando o mais rápido que podia.

Não houveram outras perguntas depois daquilo, e logo o garoto pôde deixar aquele pub para trás.

Se virar, esse foi seu lema a vida toda. Para alguém como ele, pobre e com sérios problemas para lidar com autoridades, roubar foi um caminho natural. Uma carteira aqui e ali, uma ou outra casa, mas nada que envolvesse machucar gente inocente. Mesmo um ladrão poderia ter seu senso moral, afinal. O que ele fazia não era certo, mas era bem menos errado do que poderia. Ao menos era nisso que ele queria acreditar.

O problema é que essa nova cidade era pequena e pacata, o tipo de lugar em que todo mundo conhecia todo mundo, e qualquer cara nova chamava atenção. E atenção era tudo de que um ladrão não precisava. E após passar o dia todo rodando, vendo todo tipo de casas, uma paróquia Anglicana e, por mais improvável que fosse, um casarão distante em cima de um monte, Andy começou a se conformar com sua condição de futuro sem-teto. Vendo a noite chegando, decidiu voltar para a pensão e, como prometeu ao velho, meter o pé de lá.

Próximo a hospedaria, viu o velho Fremman sentado em frente à entrada e bebendo chá, como se estivesse a sua espera. Andy não estava com cabeça para ouvir o velho, por isso decidiu resolver as coisas do seu próprio jeito. Pulando para se agarrar a uma janela, escalou a parede de madeira e entrou escondido no cubículo que chamavam de quarto. Lugar que mal tinha espaço para uma cama de solteiro torta e um guarda roupas caindo aos pedaços.

Sem perceber, se pegou fitando a lua, enorme e brilhante, reinando em um céu negro como seu futuro.

O garoto se deixou cair sobre a cama, pensando em descansar uns minutos, antes de colocar o pé na estrada. Mal fechou os olhos o sonho lhe veio a mente, seguido por uma sensação de mal estar. Andy decidiu agir. Enfiou sua meia dúzia de peças de roupa e itens pessoais dentro da bolsa de viagem. Então sentiu um calafrio lhe subindo a espinha, acompanhado de uma dor começando a espalhar-se por todo corpo. Levou a mão a testa, constatando que estava com febre.

— Merda! Isso lá é hora de ficar doente? — falou para si mesmo, incrédulo quanto a sua falta de sorte.

Sentou-se na cama, sentindo que a febre e a dor aumentavam de intensidade. Sua garganta estava seca e os olhos ardendo. Ele olhou para a janela, vendo a lua no céu... a observá-lo, enquanto se esforçava para resistir com dignidade a uma dor que só aumentava.  Andy rilhou os dentes e caiu de joelhos no chão, gemendo de dor.

O garoto sentiu um calor sufocante queimando o corpo todo, e uma raiva intensa: da dor, do velho que o expulsava, do sonho, da cidade e de si mesmo. Ele gritou, urrou de dor! E seu grito pareceu o prenúncio de sua tragédia, pois logo seu corpo começou a mudar de modo sobrenatural, com ossos e músculos se moldando numa nova e monstruosa forma. Pelos brancos cresciam por toda parte, como se fossem agulhas perfurando sua pele para forçar saída. Sua boca foi brutalmente rasgada ao se abrir para dar espaço a presas; garras grandes e afiadas surgindo de dedos muito maiores que o normal.

E enquanto a dor alcançava o seu ápice, ele ouviu o som de batidas na porta, com a voz conhecida vindo de trás dela.

— Pode abrindo essa porta, moleque! É um marginal. Que raio de bagunça e gritaria é essa?

Andy se viu sobre quatro patas, com músculos e tamanho dignos de um monstro de cinema! A dor começou a diminuir, dando lugar a uma vontade louca de correr e caçar. Seus novos sentidos ouvindo os berros do outro lado, o cheiro de tabaco sufocando e enraivecendo o monstro. O som do velho mexendo em maços de chaves deixou claro que logo aquela porta seria aberta. Um gesto desnecessário. A porta foi arrombada com facilidade por um bicho meio-homem, meio-lobo, que parou rosnando face-a–face com um velho trêmulo e de olhos arregalados caído diante de si.

— ... santo Deus. — murmurou ele, instantes antes de perder a consciência.

E desmaiar de medo pode ter sido justamente sua salvação, pois o garoto-lobo perdeu o interesse em dilacerá-lo após isso. O monstro correu pelo corredor, desceu a escada e atravessou a porta, iluminado pela luz da lua e escondido de olhos curiosos pela escuridão da noite.

Seu mundo foi logo invadido por cheiros de pessoas, de objetos, árvores e bichos. Ele correu, atravessando ruas desertas até chegar aos limites da cidade. E então uivou, alto e claro, externalizando a selvageria que trazia no peito.

Andy sentiu ser dono de um corpo muito forte e rápido, mais que qualquer humano devia ser. E por falar em humanos... conseguiu sentir o cheiro de alguns deles, mata à dentro. Ele se aproximou furtivamente da fonte dos odores, espreitando entre as árvores. Viu um casal de jovens, a única fonte de luz vinda dos celulares próximos aos dois. A garota encostada contra a árvore, com o rapaz entre suas coxas, os dois suando entre beijos intensos e mãos que passeavam sobre os corpos um do outro. Ele ouviu seus sons, o cheiro do suor e as palavras sem sentido que ele falou enquanto ela riu, sem nem sinal de perceberem-no.

O lobo se viu atraído pelo cheiro deles. Cheiro de gente. Um cheiro bom. "Qual seria o gosto deles?" Andy se perguntou, salivando ao se aproximar da carne que saciaria sua grande fome. Então, o horror! A percepção do pensamento, o medo daquilo que se tornou e a fuga como única opção.

Tudo virou um grande borrão quanto o garoto-monstro fugiu pela floresta, pensando em qualquer coisa que não fosse comer, evitando olhar para a lua brilhante no céu, que o convidava a abandonar toda humanidade e se juntar aos outros filhos da noite. Ele avançou sem destino, se cortando e machucando durante uma corrida insana, tentando achar forças para dominar a si mesmo.

Sua luta interna pareceu levar uma eternidade, até ser bruscamente interrompida. Andy mal teve tempo de sentir o cheiro da criatura, e um golpe forte como a batida de um carro o lançou contra o chão. A dor de cortes profundos no peito de onde jorrava sangue abundante trouxe o garoto de volta a consciência. Então contemplou um monstro tão assustador quanto ele se imaginou ser, de pé, logo à sua frente.

— Tu é novo nisso, não consegue controlar a raiva. — não era uma pergunta. A voz cavernosa era de alguma forma familiar, vinda de um monstro de pelos marrons e olhos negros.

O garoto foi tomado então pelo medo. Sentiu que seu agressor era muito forte, com garras afiadas que o feriram com gravidade. Por um momento ele se esqueceu do que se tornou, e se viu como um simples garoto diante de uma criatura saída de um pesadelo. O medo o fez hesitar, e essa hesitação encerrou a luta.

Um golpe, e depois outro. O garoto monstruoso se viu vítima de uma chuva de poderosos murros, capazes de fazê-lo chocar-se contra as árvores com violência sobre-humana. O sangue começou a embaçar sua visão, a dor e a fome o levando a inconsciência...

Andy acordou com o sol no rosto e uma sensação boa de quem dormiu tudo o que precisava, após muito tempo. E o melhor, sem pesadelos. Cama macia, lençol limpo, tudo muito bom, até perceber que não sabia onde estava. Ele se viu em um quarto grande, com um guarda roupas, mesinha, cama de casal e uma infinidade de outras coisas menores. Quadros na parede exibiam um casal de senhores que não reconheceu, assim como uma bebezinha no colo de um garoto com cara de travesso. De repente, barulho de porta abrindo e um sujeito familiar surgiu.

— Toma! — Jimmy falou, jogando um par de roupas limpas em cima do garoto deitado. — Veste isso, bate um rango e sobe a escada para o sótão. Temos que botar tudo em pratos limpos.

Andy levantou devagar, desorientado, no processo percebendo que estava nu sob o lençol. Ele logo se vestiu, sentindo dores onde recebeu os golpes do monstro. Teria sido um sonho, afinal?

Sem saber em que pensar ele saiu do quarto. A cozinha da casa era grande, com uma mesa de madeira no centro, ovos, enroladinho de salsicha, bacon e refrigerante por cima. Apoiada na mesa, uma garota já conhecida olhou para ele.

— A bela adormecida acordou, pensei que estivesse em coma — disse a menina do pub, de cabelos soltos na altura dos ombros, dessa vez vestindo um short e uma blusinha da Hello Kitty. — E ai, a surra que o Jimmy te deu ainda tá doendo muito?

Como ela saberia daquilo se fosse um sonho? Por inacreditável que fosse, parecia ter sido tudo verdade.

— Se mete não, ô Hello Kitty — resmungou ele —, onde tá o Master Chef?

Ela riu com a resposta e apontou com o pé para uma porta velha à esquerda. O garoto pegou uma porção grande de bacon e enfiou na boca, depois foi em direção a porta semiaberta que levou a um pequeno cômodo de onde se podia subir ao sótão. Lá em cima, o barman revirava um monte de caixas cheirando a mofo, fazendo ratos saírem de seus lares em frenesi, enquanto falava:

— Você é um Licantropo cara, ou lobisomem, se quiser chamar assim. Aposto que ninguém te disse isso ainda — disse observando o garoto — Eu sei disso pois também sou um, e minha irmãzinha Mandy, também. Simples assim.

Andy ficou paralisado com a notícia. Foi tudo tão rápido e inesperado que não teve tempo para digerir nada, mas agora que parava para pensar, fazia todo sentido. Era até bem óbvio! A transformação na lua cheia, o uivo, a aparência... era inacreditável. Ouvir de alguém que você era um bicho de histórias infantis mudava tudo. E ainda saber que um barman e a irmã garçonete dele também eram, tornava a coisa ainda mais estranha.

— Isso explica um bocado de coisas — disse ele, olhando para as próprias mãos.

— É cara, você tá cheirando a leite mesmo — Jimmy falou, movendo uma prateleira do lugar, seu rosto suando pelo lugar abafado combinado ao esforço — Tive que te meter a porrada ontem. E vou fazer de novo, até você aprender a controlar essa coisa que tem ai dentro, antes que mate algum vizinho ou seja morto.

— Então tem como controlar? — perguntou um Andy interessado na conversa.

— Negócio é o seguinte: toda lua cheia é mais difícil de se conter, e dominar o bicho leva tempo — Jimmy foi falando enquanto organizava a bagunça e abria espaço —, e é justo nesse tempo que você pode fazer uma merda sem tamanho!

Quando terminou, tirou um pano do bolso e enxugou a testa, encarando Andy com seriedade.

— Você pode sair daqui agora e mostrar que "sabe se virar", e aguentar as consequências, quando a merda que fizer explodir. — Alguns passos em direção ao Andy, olhar fixo. — Ou ficar aqui, seguindo minhas ordens até aprender a dominar seu monstro, pelo menos até o período de lua cheia acabar.

Jimmy apontou para o resultado da arrumação com um gesto: o sótão fedorento, cheio de teias e ratos, um colchão fino e manchado sobre o chão e mais uma diversidade de coisas inúteis, cercando um objeto em especial que chamou sua atenção.

— E ai, qual tua resposta, garoto?

Andy parou um momento para digerir tudo o que ouviu. Ele era um lobisomem, um monstro muito forte e capaz de devorar pessoas. Não foi um sonho, ele não era o único e aquilo não iria parar de acontecer. Olhou para o sótão, olhou para o Jimmy, e por último para a corrente grossa presa na parede com uma coleira de ferro na ponta. Respirou fundo e olhou nos olhos do sujeito, do seu igual tão diferente, dando a única resposta que podia:

— Negócio fechado, cara.


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Notas finais do capítulo

E no próximo capítulo, preparem-se para conhecerem o terceiro e último protagonista. E se estão com saudades do Adam, saibam que ele e a Claire estarão no capítulo também.