Filhos da Noite escrita por Rick Batista


Capítulo 21
Missa dos Mortos


Notas iniciais do capítulo

Um pouco de cada um.



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O vampiro adentrou o salão antigo onde guardava suas maiores riquezas materiais. Desde o mês em que retornou dos mortos que não voltava aquele lugar e, embora uma considerável parte delas foram leiloadas por Teresa para levantar o dinheiro necessário para bancar seu recomeço, e outras tantas foram espalhadas pelos cômodos da mansão, continuava impressionante a visão das relíquias que o cômodo guardava.

Ele sentia o olhar preocupado dela sobre si, quando parou diante de uma velha arca fechada, seu objetivo ao voltar ali. E destrancando calmamente a fechadura que prendia a tampa, o vampiro foi iluminado pelo brilho prateado do objeto que lá residia.

A humana — mulher de cabelos escuros em penteado afro —, por mais que tentasse, não conseguia esconder o quanto estava preocupada com ele. Era compreensível após ver o sempre calmo imortal perder completamente o controle, poucas horas atrás. Tudo por conta de uma ligação. Tudo por conta de seus inimigos. Tudo por conta de Claire Winnicott.

Quanto a ele, não conseguiu esconder seus olhos vermelhos e assassinos dela, quando a encarou estendendo a mão, aguardando o que havia pedido. Mendes tremeu por um instante, piscando antes de voltar a si. Estendeu a ele um par de luvas que Adam calçou, antes de finalmente retirar o objeto de lá: Uma espada.

Lâmina de prata, maior e mais pesada do que um homem poderia manejar com uma só mão. Não que para um vampiro como ele aquilo fizesse diferença. Faziam trezentos anos desde que Adam a empunhara pela última vez. A única coisa que herdou do pai, para além do seu sangue e maldição.

Ele movimentava a espada com graça e habilidade, acostumando-se novamente ao seu peso, assim como seu brilho prateado e perigoso para os da sua espécie. Então Teresa, que parecia estar se segurando, resolve enfim colocar para fora o que lhe afligia:

— Senhor Tepes, eu sei que é muito bom com a espada, capaz de matar uma centena de homens, como as histórias da fundação da cidade deixam claro. Mas em um mundo como esse, com armas de fogo mais rápidas e eficientes que as do seu tempo... isso parece um erro enorme! Tem mesmo certeza absoluta de que não vai usar as armas que o professor lhe deu?

Adam embainhou a espada, carregando-a em uma das mãos. Fechou os olhos por alguns instantes, como se buscando calma de algum lugar dentro de si. Quando os abriu, seus olhos eram novamente negros, era novamente mais humano que monstro.

— Há pessoas à minha espera, minha boa amiga. Não há tempo para testar coisas novas.

Adam subiu com ela até seu quarto, parando na sacada. A urgência da situação lhe pedia que corresse, afinal, tempo demais já fora perdido desde que o vampiro ouviu a voz da amada através do moderno aparelho telefônico pela última vez. Acompanhada de uma outra inconfundível voz, pertencente a Thomas Winnicott: seu pequeno cunhado. Alguém que deveria estar morto há séculos. Alguém que agora era um vampiro. De qualquer modo, caminhar ao lado dela calmamente por aqueles muitos corredores e degraus tinha seu significado.

— Teresa Mendes — disse Adam, segurando uma das mãos da mulher. — Você me serviu fielmente até aqui, mais do que como uma empregada ou aliada, mas como uma amiga. Assim como Willian Connor o fez séculos atrás. Caso eu não retorne, não hesite em recomeçar a vida em outro lugar. Tudo será seu, assim como deixei em meu testamento recentemente.

Mendes pareceu não saber o que dizer, mas seus olhos marejados diziam o bastante. Ela abraçou o vampiro, em um gesto de medo e gratidão. Após se afastarem, em um movimento rápido e gracioso o vampiro saltou sobre o apoio da sacada, nada mais entre ele e uma queda mortal. Sentindo o vento em seus cabelos negros, usando a casaca com que retornou ao mundo, ele absorvia a atmosfera daquela pequena cidade. Sua natureza persistentemente enraizada, suas luzes... A beleza realçada pela possibilidade da perda de tudo: da mulher que amava, da vida que tinha construído.

Adam estava de olhos fechados e braços abertos, concentrado em algo que Teresa não poderia compreender, sentindo coisas que uma mortal com seu coração bombeando sangue e vida não poderia sentir. Quando os abriu, eram novamente de um vermelho intenso, e com presas expostas, despediu-se.

— Chegou o momento, Teresa. Reze por ela, e por mim.

E como um suicida o vampiro lançou-se do alto da sacada, braços e olhos abertos, numa queda mortal sob a luz da lua. Adam podia sentir um poder que há muito não sentia. Seu poder. Aquele que possuía quando lutou por sua casa, aquele que recebeu do pai e aperfeiçoou por seu próprio esforço.

Seu corpo caiu em direção ao fim, quando pouco antes de atingir o solo, se desfez, assumindo a forma sombria e sobrenatural de um enxame de morcegos. O som de muitas asas se fez ouvir sobre a cidade, os olhos arregalados de uma mulher comum contemplando o filho do Drácula com seu poder total novamente.

***

O garoto passou pelas faixas de isolamento da polícia, para conseguir entrar na casa. A porta estava apenas encostada — não que ele não pudesse entrar caso estivesse trancada, mas assim chamava menos atenção. Ele vestia apenas os trapos do que foi uma calça de hospital, com pés sujos de terra avançando devagar pela casa escura. Se escorando, com suas mãos manchadas de sangue seco.

Andy acendeu apenas poucas luzes, receoso de chamar a atenção de vizinhos fofoqueiros, enquanto olhava para o primeiro lar que encontrou em anos. Agora vazio. O cheiro de sangue estava por toda parte: dele mesmo, da Evelyn, do Jeff... o pensamento de que esses últimos dois estavam mortos o ajudou a se acalmar enquanto contemplava a bagunça. O garoto tomou uma ducha, a água lavando todo o sangue presente em sua pele, unhas e dentes.

"Se... esconde", as últimas palavras da Mandy para ele, o medo nos olhos dela indo e voltando em sua mente, como última lembrança da garçonete loba. Ele socou a parede com força e repetidamente. A dor auto infligida servindo como penitência por ter falhado com ela. Não, ele não falhou. Não podia falhar!

Já lavado, vestindo roupas limpas e com o dinheiro que guardou dos seus roubos na cidade, Andy partiu para o barzinho de beira de estrada onde esperava encontrar um meio de transporte até seu destino.

— Escutem ai, tô precisando chegar em York, e agora! Quem tá a fim de uma grana pra me deixar lá? — O garoto perguntou, parado próximo ao balcão e encarando os fregueses.

Dentre os quatro, dois eram um casal de meia idade que apenas sorriu gentilmente e voltou a comer. O terceiro era um garoto da escola que fingiu ignorá-lo, e o último, um caminhoneiro de boné e barba por fazer que o encarou com interesse, deixando por um momento a cerveja e as fritas.

— Escuta, rapaz, quanto você tem pra bancar essa corrida maluca? — perguntou.

O garoto andou até o homem, tirou o bolo de dinheiro do bolso de forma desleixada e bateu com ele na mesa, dizendo:

— Acho que isso fecha, certo, coroa?

O homem sorriu, concordando. Os olhos brilhando pela quantia.

***

Um vulto cortou o céu noturno, rápido e incansável, rumo a uma igreja histórica abandonada. Dezenas de asas batendo em sincronia, dezenas de olhos focados em levar o vampiro ao seu destino, ao destino que foi informado pelo professor Davis. Casas, árvores e pessoas passavam como um borrão, apenas a sensação do vento, o sentido de urgência e a sede de sangue guiavam a forma sobrenatural dele.

Era um grande terreno que separava a velha igreja das outras propriedades. Chapas de ferro feitas para isolar os transeuntes das obras, acabavam servindo realmente para isolar o gado de seus predadores. Haviam carros e motos estacionados pela área, além de barracões, postos de vigilância feitos de madeira, e material de construção por toda parte. Adam voltou a sua forma natural ao pousar diante das portas da igreja. Sob olhares atentos, ele se ergueu, espada embainhada em uma mão, e ar majestoso. Cinco jovens armados com pistolas e semiautomáticas o encaravam assustados, a presença do vampiro os paralisando de medo.

— Fala ae, senhor Turner. Bem que me avisaram que um certo sanguessuga faria uma visitinha em algum momento. Os homens tão te esperando lá embaixo. — A voz era de um homem vestindo jaqueta e calça de couro, músculos e tatuagens a mostra, assim como um sorriso desafiador enquanto mantinha as mãos no cabo de duas pistolas de grosso calibre.

Embora a forma fosse diferente, Adam reconheceu o timbre da voz e o jeito, como pertencentes ao líder da matilha de licantropos que quase mataram Jeanne Hilton e ele, pouco tempo atrás. Sem resposta alguma o vampiro atravessou as portas da igreja, encontrando um cenário no mínimo revoltante. O interior da velha catedral exalava morte. Palavras em latim e romeno escritas em sangue. Antigos quadros e imagens de Vlad Tepes tomando o lugar dos santos habituais, cada um deles com um corpo humano preso em postura de reverência, e drenado em sacrífico.

Adam podia sentir a presença de vampiros poderosos vinda lá de baixo, e atrás do altar, viu a tampa levantada de um alçapão guardando o caminho aonde o aguardavam. Ele desceu as velhas escadas, cheias de teias e rachaduras, além de mal iluminadas. Elas terminaram em um amplo salão subterrâneo, dividido por meia dúzia de colunas gastas, com móveis antigos, tapeçarias, cortinas e um lustre. No extremo oposto da escadaria, um túmulo antigo feito de prata, com correntes por toda parte e o símbolo de um dragão vermelho esculpido nele. Um túmulo que Adam reconheceu de pronto.

Não restavam dúvidas: a Ordem do Dragão havia encontrado o túmulo do Drácula.

E diante do túmulo, um homem sentado em um banquinho de ferro. Um vampiro. Tratava–se de um indivíduo alto, de porte elegante, pele negra, olhos castanhos e cavanhaque bem aparado. Vestia um terno verde musgo, com colete, luvas e sapatos de cor marrom. Olhos fixos no vampiro que acabara de chegar.

Ele assobiou, e em resposta um grupo de vinte jovens de diferentes estilos saiu dos locais em que estavam posicionados. Idades variando de quinze à quase trinta anos, moças e rapazes, armados com punhais, bastões, pistolas, semiautomáticas e correntes. Eles olhavam para Adam com excitação, alguns visivelmente sob efeito de drogas. Um grupo diminuía a distância entre si e o vampiro, outros destravam as armas e as apontam em direção a ele.

Adam sacou a espada, o brilho da prata reluzindo na semiescuridão, enquanto perguntava.

— Isso é mesmo necessário?

— Desculpe, mas preciso saber se realmente precisamos negociar com você — disse o vampiro, olhos fixos nele. — Caso contrário, é mais fácil subjugá-lo.

E ao assobiar novamente, o inferno teve início.

***

O casal de jovens estava na sala de vigilância, monitorando as câmeras do portão de entrada de cargas e em outros dois pontos estratégicos da área. Os dois usavam maquiagem forte e dividiam uma garrafa de vinho barato.

— Nossa... eu tô muito arrepiada, Nick! — afirmou a garota de cabelo violeta, roupas pretas e pistola na cintura — Eles vão mesmo fazer isso, cara! Me dá tesão só de imaginar!

O rapaz de preto, lentes brancas e batom escuro como o dela a puxou para o colo, enquanto beijava seu pescoço, derramando vinho sobre ele, como se simulasse o ato de um vampiro sugando o sangue da vítima.

— Tesão, gata, é? — perguntou — Tá pensando que o Drácula vai querer fuder com uma vagabunda de quinta como você? Sério?

Ela deu um tapa nele, apenas pra beijá-lo lascivamente em seguida.

— Cala a boca seu cuzão! Pois eu garanto que convenço qualquer um a me transformar em vampira, depois de uma bela de uma chu...

A fala foi interrompida por uma lâmina prateada que atravessou seu pescoço, banhando o rapaz logo abaixo de sangue quente, segundos antes de outra lâmina perfurar sua testa. Dois movimentos rápidos, e ninguém mais para vigiar coisa alguma.

Paul moveu os braços, de modo a limpar as lâminas do sangue. Então olhou para o telhado do armazém onde Roger estava, ciente do que o ex-policial estaria pensando e sentindo:

— São escória, detetive. Roubam por eles, matam por eles, sequestram por eles. — O Golem falava através do comunicador na máscara — Tudo para se tornarem vampiros também. Só estou matando serial killers em potencial.

— ...vim preparado para matar monstros, Paul, não adolescentes. Mesmo quando criminosos. — voz do Roger.

— Eles são monstros, detetive, apenas ainda em forma larval. Estou tão somente limpando York das ervas daninhas.

Paul foi totalmente preparado dessa vez, por baixo do sobretudo com capuz. Uma couraça de material altamente resistente a tiros, principalmente nas áreas vitais, máscara de metal com aquela face inexpressiva e dizeres hebraicos. Lâminas curtas de prata (saqueadas da Inquisidora Pietra) e armas de fogo, balas de prata e silenciadores. Roger não teria condições físicas para uma missão de infiltração como aquela, por isso ele usava um rifle de mira telescópica, cuidando da retaguarda do mascarado.

Embora não fosse nenhum atirador de elite, o homem foi capaz de manter o Golem ciente das ameaças discerníveis em seu campo de visão ampliado. Além de eliminar uma delas, após três tiros falhos, exatamente na hora em que o alvo avisaria os outros. Já eram cinco corpos deixados para trás sem que qualquer tiro ou aviso fosse disparado, porém o objetivo do Golem era entrar na igreja, e mesmo seus ataques sendo rápidos e eficientes, seria questão de pouco tempo até ser descoberto.

Ele estava ciente da chegada do Adam em forma de enxame, e sua entrada sem qualquer derramamento de sangue, o que serviu de gatilho para infiltrar-se logo em seguida, se aproveitando da distração generalizada. Pareceu ao professor que alguém lá em cima gostava mesmo dele, pois antes mesmo que ligasse para indicar o endereço ao vampiro, o próprio foi quem ligou em busca da informação. Adam não admitiu, mas Paul tinha uma forte intuição sobre a razão de tanto desespero:

"Claire..."

— Alvo nove metros a sua esquerda, grande e peludo, parece estar farejando algo — Roger avisou.

Quem estava em seu encalço era Borges, o lobisomem de corpo grande e largo, barriga protuberante e presas inferiores que saltavam da boca. Estava na área de material de construção, com montes de areia, pedras, e vergalhões. Entre os dois, um trator enferrujado. O Golem desceu de cima do trator com as lâminas em punho, Borges reagindo no último instante, rápido o suficiente para evitar que elas atravessassem seu crânio.

No tempo que o monstro levou para compreender o que aconteceu e contra-atacar, o mascarado desferiu um golpe cruzado, cortando superficialmente a garganta do lobo.

Borges tinha o sangue na garganta vazando, a prata de que a lâmina era feita tornando o golpe mais letal do que normalmente seria para um licantropo daquele porte. Ele desferiu uma série de golpes violentos com suas grossas patas, um deles jogando Paul contra um dos montes de pedra, que caíram sobre ele. O monstro levou uma das mãos ao pescoço, incapaz de dar o aviso.

O grande lobo grunhia enquanto tentava alcançar os pés do mascarado caído, que se moveu com agilidade, bloqueando o avanço dele com os pés, desviando de mordidas e em seguida rolando para atingir com um giro os tornozelos do lobo, que caiu de joelhos em meio a dor... mas agarrando o pulso dele no processo. A força do licantropo era enorme, fazendo Paul deixar cair a lâmina da mão que foi pega, a outra lâmina detida pelo braço do Borges, que embora gravemente ferido, acabou prendendo-a e não deixando espaço para o assassino recuperá-la.

Paul estava numa situação difícil, enxergando a carne do monstro aos poucos se fechando, a baba se misturando ao sangue escorrendo de uma boca cheia de dentes que ficava cada vez mais perto de seu pescoço encouraçado...

O movimento seguinte foi uma cabeçada, descendo como um pedaço de pedra sobre a nuca da criatura. Paul repetiu o ataque, emendando com uma joelhada na altura do pescoço, reabrindo a ferida e tirando o fôlego da criatura que se viu obrigada a soltá-lo. O Golem saltou então sobre as costas do monstro, e antes que ele tivesse tempo de pegá-lo, enrolou um fio prateado na arcada dentária superior do monstro, usando toda sua força e peso nas costas da fera, forçando seus ossos e carne afim de destroçá-los! A prata fazia a carne não apenas queimar, mas ser rasgada enquanto exalava uma pútrida fumaça. 

E após algum tempo resistindo, o crânio do monstro foi enfim partido. Seu corpo pesado caindo sobre a areia, logo revertendo a forma humana. Deixando o cadáver de um homem grande, gordo e nu, sem a metade de cima da mandíbula e o pescoço rasgado.

— Eu não consegui acertá-lo em movimento. E... realmente fiquei preocupado, Paul — voz do Roger.

— O Golem é um símbolo, detetive — afirmou ele, recuperando o fôlego e com o caminho livre até a parte lateral da igreja. — Símbolos não podem morrer.

***

Os tiros acertaram o vazio quando o vampiro se moveu com velocidade sobrenatural, pegando impulso pelas paredes até chegar nos primeiros adversários. Sua espada decepou a mão de um rapaz de cabelos pintados de branco, enquanto sua mão livre esmagou o nariz de um segundo inimigo, arremessando-o contra a parede. Os gritos de desespero e agonia do rapaz de joelhos quase eram capazes de abafar o som dos ossos do segundo sendo quebrados pelo impacto que o levou a inconsciência.

No momento seguinte, cinco jovens com armas corpo-a-corpo avançaram contra ele, alucinados. Duas garotas portando bastões de baseball reforçado com placas e espinhos de metal, e três homens, um com correntes e outros dois desarmados, mais com porte e postura de lutadores.

Os primeiros ataques vieram das garotas de bastão, as duas de cabelos negros, parecendo irmãs pelas semelhanças que o vampiro conseguiu notar por baixo da maquiagem. Foram golpes desajeitados e previsíveis, que ele deixou para desviar apenas no último instante, sabendo que as garotas perderiam o equilíbrio e passariam direto por ele, uma delas caindo no chão devido a força do próprio golpe. Em seguida a dupla de lutadores, um mais alto de cabelo pintado de azul e outro mais musculoso e sorridente, se posicionavam tentando flanqueá-lo, buscando alguma vantagem. O primeiro apostou em um chute giratório na altura do rosto de Adam ao mesmo tempo em que o segundo tentou derrubá-lo. Na outra ponta o garoto da corrente prendeu seu braço da espada, neutralizando um possível contra-ataque.

Adam bloqueou o chute com a mão contrária, segurando a perna do adversário, resistindo a investida daquele que tentou derrubá-lo. O vampiro usou o corpo daquele que tentou chutá-lo como arma contra o adversário abaixado, a perna dele como cabo, e o corpo como uma marreta. Enquanto isso, o garoto da corrente usava toda sua força para tentar desarmá-lo, percebendo em seguida que o próprio vampiro é quem o estava puxando. Antes que pudesse largar a corrente, seu peito foi trespassado pela lâmina prateada, que Adam retirou para então encravá-la nos corpos sobrepostos dos dois lutadores caídos.

Assim que a espada foi arrancada das últimas vítimas, uma saraivada de tiros obrigou o vampiro a usar o corpo de um deles como escudo, enquanto chegava até uma das colunas. Foram cinco vítimas até aquele momento, e embora as garotas de bastão estivessem se arrastando para longe, cheias de medo, outros daqueles jovens estúpidos pareciam cada vez mais animados, como se o sangue que ele derramasse os deixasse ainda mais excitados. Entre os olhares de medo, raiva e excitação, um em especial lhe chamou a atenção. Vinha de uma garota ruiva, com saia preta, botas longas, luvas e maquiagem, com uma pistola na mão. Ela não fez nenhuma menção de atacar, apenas seguindo o vampiro com olhar de admiração, parecendo fascinada pela figura dele.

Mais tiros, dois ou três deles atravessando a coluna e penetrando sua pele, levando Adam a focar-se novamente na batalha. Ele aproveitou o padrão de intervalo que percebeu entre os tiros e recarga de armas para avançar contra os atiradores. Alguns tentaram correr, mas o vampiro foi mais rápido. Sua espada descrevendo arcos precisos, retalhando a carne de sete atiradores, mãos, orelhas e pernas decepadas. Os quatro rapazes recebendo golpes fatais enquanto que as três atiradoras foram feridas, mas não mortas. O velho código de honra do imortal se revelando mesmo ali.

Ao lado deles, apenas a ruiva restou sem tentar fugir ou reagir, olhando com verdadeira adoração enquanto o vampiro limpava o sangue da lâmina nas roupas de um dos cadáveres. Som de tiro, sua admiradora atirando na cabeça de um dos jovens que apontava uma semiautomática contra Adam.

— Você é o ser mais perfeito que eu já vi — confessou ela, olhando para ele. — Sou totalmente sua.

Adam olhou para os jovens restantes, entre aqueles que ainda não fugiram, e exclamou:

— Quem quiser viver, que vá!

Aqueles em condições de sair começaram a correr o máximo que podiam. E então o vampiro que apenas observava até ali, levantou-se.

— Suas habilidades são realmente notáveis... — sacando uma espada posicionada ao lado do túmulo — Mas não estou impressionado.

Adam sentiu a presença dele, ameaçadora e poderosa. Um vampiro muito antigo, sem dúvida.

— Faz séculos desde a última vez em que enfrentei alguém capaz de me fazer lutar com toda minha capacidade. — Olhos nos olhos — Não me decepcione, Adam Tepes.

***

O caminhoneiro dirigiu rápido, uma exigência do Andy. O garoto fez questão de pesquisar o endereço antes de ir, e após chegarem a uma área mais deserta, avistou o lugar que arrancou da Evelyn.

— Tá ai rapaz — resmungou o sujeito, bafo de cerveja e parando o caminhão de carga. — A rua é essa, nem quero saber para que alguém quer vir pra um lugar desses a essa hora.

Andy olhou para os muros, pensativo. Refletindo sobre os inimigos que devia encontrar lá dentro: lobisomens, vampiros, quem sabe até humanos comuns. Olhou para o lugar, para as ruas, para o volante e para o caminhoneiro.

— Qual é, rapazinho, desce lo... — O garoto bateu com a cabeça do sujeito contra o volante, o deixando inconsciente. Depois abriu a porta ao lado do motorista e o colocou no chão, assumindo seu lugar.

— Espero que a grana cubra isso também. — Andy acelerou, olhando para o portão do terreno da igreja. — E que você tenha um bom seguro.

O portão foi arrombado por um caminhão que se chocou violentamente contra ele, e Andy Valentine, estava enfim diante da igreja.


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Notas finais do capítulo

Não esqueça de comentar o que achou do capítulo.
Caso não tenha ficado muito claro ainda, a história está caminhando para sua conclusão. Espero que curta.



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