Filhos da Noite escrita por Rick Batista


Capítulo 11
Cães do Inferno


Notas iniciais do capítulo

Dois vampiros, um passeio e uma alcateia. Divirtam-se ^^



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Em um quarto totalmente escuro, o vampiro abriu os olhos para mais uma noite no novo mundo em que acordou, na Inglaterra atual, em uma pequena e isolada cidade chamada Bleak Hill. Uma taça de sangue humano o ajudou a começar a noite, enquanto Teresa se encarregou dos mínimos detalhes que cercavam seu patrão. Principalmente, dos que envolviam o fato dele ser um vampiro. Pratos de refeições que nunca seriam comidos, um suposto trabalho intenso no escritório particular, falsas saídas diurnas por negócios... Adam sempre levantaria suspeitas. Cabia a ela impedir que elas se tornassem algo além de boatos e piadas.

As noites, antes cheias de vida e descobertas, passaram a se arrastar após a despedida entre o vampiro e sua amada. Era algo realmente trágico, pensava ele, que, após retornar para estar com ela, em tão poucos dias, já estivessem separados novamente.

O jovem caminhou pelo vasto jardim que mandou restaurar na parte de trás da imensa propriedade. Árvores, flores e pequenos animais, uma combinação de elementos que buscava trazer vida para um lugar tão fúnebre como aquele. A ideia das flores foi de sua Alice, e ele mandou replantarem de todos os tipos que ela escolheu na época. E, enquanto admirava aquele oceano de vida, o morto-vivo se perguntou: "Será que ao vislumbrá-lo, algo em você se lembrará, Claire?".

E, vestindo apenas uma calça larga e de pés no chão, se moveu furtivamente pelas trevas da noite. Uma pequena oportunidade de testar seus instintos de caçador. Após algum tempo à espreita, ouviu os sons de algo pequeno se movendo entre o mato. Com alguns movimentos rápidos, conseguiu encurralar o pobre esquilo de coração acelerado, buscando desesperadamente uma rota de fuga e que, ao se ver acuado, mostrou os dentes para seu predador.

Que criatura ingênua era aquela, lutando contra uma força a qual não podia resistir, Adam refletiu. "Somos iguais", pensou ele. "Lutando contra nosso destino e sem qualquer chance de sucesso."

— Mas que caçador habilidoso! — Jeanne Hilton brincou.

Ao olhar para a visitante, o vampiro soltou a presa das mãos por reflexo, a qual acabou fugindo. E, então, sorriu pela ironia de tudo aquilo.

Jeanne estava na entrada do jardim, de calça social justa, salto e blusa decotada. Seus cabelos castanhos num coque, as mãos na cintura e um sorriso na face.

— Vejo que já se sente em casa, ninguém anunciou sua chegada — reclamou, Adam, surpreso por vê-la ali, e caminhou em direção à vampira.

— Considere isso uma pequena lição, já que me deu livre acesso a sua casa sem ter sequer um segurança nela — disse ela, preguiçosamente relaxada no banco de madeira, enquanto o vampiro limpava as mãos em uma toalha pendurada sobre ele. — Se eu quisesse traí-lo, como o professorzinho fez com a madre, era só entrar aqui com meus amigos que você estaria morto agora.

— Essa seria uma possibilidade, não nego — disse Adam, sentando-se ao lado dela. — A outra é que todos vocês virassem adubo para meu jardim. De péssima qualidade, por sinal.

Teresa surgiu pela porta que levava ao jardim, a poucos metros deles. Sua expressão, sutilmente traindo descontentamento por ver a vampira ali dentro.

— Desculpe não ter anunciado a moça, patrão. Quando a empregada me avisou, a visitante já não estava mais onde foi deixada.

Jeanne piscou para ela.

— Mendes, nos traga sangue, por favor — Adam pediu, com sua expressão tranquilizando a mulher. — Caçar sempre me deixa com sede, mesmo quando não passa de brincadeira.

A funcionária se retirou, enquanto a vampira ria.

— Você gosta mesmo de sustentar o estereótipo, né? Já não basta morar numa mansão que mais parece um castelo, ainda precisa de uma governanta andando de um lado para o outro? É a imagem dos velhos filmes de terror encarnada! Eu contrataria gente jovem e bonita. Acho que o que te falta é um bom marqueteiro, Drácula Junior.

Adam olhou para o alto, vendo a lua brilhando num céu sem nuvens.

— O que faz aqui, senhorita Hilton? — perguntou.

— Já vi que alguém dormiu de calças hoje. Não posso fazer nem mesmo uma visitinha ao meu novo melhor amigo? — E, diante da seriedade do vampiro, acabou por ser direta. — Meus amigos querem muito conhecê-lo, "Turner". Não vai mesmo comigo até Manchester?

— Lamento desapontá-la, mas por hora prefiro manter minha relação com a sociedade moderna de vampiros resumida a senhorita. Nem eu piso lá, nem eles aqui. Como eu lhe disse, não causarei problemas a vocês se não causarem a mim primeiro.

Jeanne bufou, parecendo contrariada. Depois, respirou fundo e prosseguiu:

— Ainda vou te fazer mudar de ideia, mas ok. Só tem outra coisa me deixando preocupada: o que fizeram com o corpo e carro da madre?

— Cuidei do corpo dela pessoalmente, não se preocupe com isso. Quanto ao carro, ficou com o professor, assim como os demais pertences.

— Pra mim isso é sinônimo de problemas, isso sim! — reclamou a vampira. — Fomos vistos com ela em um lugar público na noite que ela sumiu. Se investigarem, a polícia não deixará isso passar despercebido. Isso sem falar nos dois irmãos em quem você deu sumiço antes... Também cuidou bem do corpo deles? E se os tiras fizerem uma varredura nesse lugar? Não sei como eram as coisas no seu tempo, Adanzinho, mas hoje em dia, a polícia tem muitos recursos a sua disposição para desvendar um caso.

— Não se preocupe com corpos. Embora no caso da madre eu me sentisse tentado a lhe dar um sepultamento digno, tenho consciência dos riscos que isso envolveria. Além disso, a polícia já bateu em minha porta antes, com suas muitas perguntas sobre os irmãos Freemans e convite para depor. Nada que meu poder não pudesse remediar. Ainda acha que chegarão até nós?

— Até mim é difícil, sou desconhecida aqui, e tenho meus contatos... que você se nega a conhecer. Mas o senhor e seu amiguinho intelectual fazem parte da vizinhança, cuidado para que ele não fale demais. E o mais importante: não confie naquele homem — E, após dizer aquilo, se ergueu, espreguiçando–se.

— Presumo que devo confiar na senhorita, então?

Ela riu, tirou os saltos e começou a pisar sobre a grama.

— Nunca disse isso.

Adam sorriu também, balançando a cabeça em negativa antes de perguntar:

— E sobre a Ordem do Dragão? Pelo que entendi do que a senhorita e o professor falaram, atuam com outro nome atualmente, não é verdade?

— A Irmandade Rubra — respondeu ela. — Sua história bate com o modo de agir deles, então dou noventa e nove porcento de certeza de serem os mesmos. E quer saber a melhor parte?

— Adoraria — respondeu ele, com o dedo da vampira cutucando seu nariz.

— Tenho uma humana infiltrada lá. Meus olhos e ouvidos, que podem ser seus também... se merecer.

Mendes retornou com duas taças de sangue em uma bandeja.

— Obrigado, Teresa — disse ele, bebendo dela.

— Dispenso, obrigada — rejeitou Jeanne, olhando para a bandeja com desprezo e fazendo um gesto de recusa. — Vai mesmo ficar servindo essa porcaria vegana para seu supremo mestregovernanta do mal?

— Não sou governanta nem mordomo, mocinha. Mas se for para representar o papel, prefiro me ver como uma versão feminina do Alfred dos quadrinhos do Batman — respondeu ela, sorridente. — Aliados e inimigos vem e vão, mas ele está sempre lá.

— Prefiro te ver como o "Tropeço", da família Adams, isso sim. — E gargalhou, enquanto Teresa revirava os olhos.

Essas coisas só faziam Adam perceber como referências a cultura pop eram sempre incompreensíveis para ele.

Os vampiros caminharam juntos pelo jardim escuro, nenhuma luz além da lua. As grandes cercas de ferro mantendo o lugar isolado do mundo.

— E a loirinha, continua com ela?

— Decidi me afastar, será mais seguro para ela assim — ele se escorou em uma árvore, braços cruzados. — Ela está magoada, agora. Mas talvez seja melhor desse jeito.

Jeanne se escorou ao lado dele, pousando a mão em seu ombro e dizendo:

— Mas que homem honrado, protegendo a namoradinha humana — passou o dedo em seu pescoço e sussurrou em seu ouvido. — Você deve estar se sentindo tão carente agora. Se me pedir, posso passar a noite aqui com você, garanto que vai se sentir muito melhor.

Ela deslizou a mão pelo peito do vampiro, seus lábios já quase nos dele.

— Não estou interessado, mas agradeço a boa intenção — respondeu ele, desviando o rosto.

Adam pôde ver a frustração naqueles olhos, sem saber o quanto daquilo era interesse real, e o quanto era uma forma de ganhar poder sobre ele.

— Então continue com seus joguinhos de romance adolescente! — alfinetou a vampira, se afastando. — Só lembre que a vida dos humanos é tão curta que você logo vai se arrepender de desperdiçar seu tempo com isso... Quando a juventude dela passar.

— Creio que é hora de a senhorita ir embora — encerrou ele, apontando para a saída.

— Prometo fazer como os vampiros clássicos, e nunca mais entrar aqui sem ser convidada. Já que é pra manter nossa relação puramente profissional, considere essa nossa despedida, até ser necessário um novo contato.

***

Pouco depois, Jeanne Hilton dirigiu seu carro pela estrada que levava a cidade, com Adam Turner ao seu lado. Ele usava um conjunto social de tons escuros, olhando para a densa mata cortada pela estrada.

— Acho que entendi o porquê de se oferecer pra vir comigo até a entrada da cidade — disse ela, sem tirar os olhos da frente. — Você quer dar umazinha comigo no mato, pra que nem sua mordomo fique sabendo, certo?

Ele ignorou a brincadeira, depois respondeu:

— Sabe por que escolhi essa cidadezinha no meio do nada, senhorita Hilton?

— Não sei, impostos baixos, talvez?

— Escolhi aqui, por ser território dos lobos.

— Faz sentido. Como você não pode ser detectado como um vampiro, não existia melhor lugar para se esconder de outros da nossa espécie. Da tal Ordem do Dragão que nos pediu para rastrear.

Ele apenas balançou a cabeça, afirmativamente.

— Por isso não é seguro para a senhorita ficar zanzando por aqui. E o pior é que há várias noites ouço uivos sinistros vindos da floresta — falou as palavras com os olhos fixos no matagal que os cercava de ambos os lados.

Ela olhou pelos retrovisores, parecendo não notar nada de anormal.

— Lobos, é? — perguntou a vampira, tamborilando com os dedos no volante. — E o meu herói me protegerá desses monstros terríveis?

— Não brincaria se fosse a senhorita. — Ele a encarou com um sorriso no rosto. — Ouvi vários uivos diferentes, não sei se sairia viva se uma alcateia atacasse.

Ela deu uma risada, antes de responder:

— O cara mais fodão da vizinhança está do meu lado, acho que posso ficar tranqui...

A frase foi bruscamente interrompida por um impacto atingindo o lado da motorista, forte o suficiente para fazer o veículo mudar de direção, sair da estrada e por fim, capotar!

O casal se esforçou para resistir aos impactos sucessivos do carro rolando ladeira abaixo, com vidros se quebrando, a lataria amassando, numa queda que não pareceu ter fim. A estrada era cheia de curvas perigosas e, enquanto sentia a dor do seu corpo se chocando vez após vez, Adam concluiu que mesmo para alguém como eles, o tal "cinto de segurança" teria feito alguma diferença. Quando tudo terminou, o carro parou de rodas para cima.

Após alguns momentos se recuperando da sensação de vertigem e confusão, Adam arrombou a porta do seu lado e começou a puxar sua companheira para fora. Ele tinha alguns cortes e hematomas superficiais, coisa que o poder do seu corpo morto logo curaria. Ela por outro lado, tinha grossos cacos de vidro encravados nos braços e costas, além de vários cortes e hematomas menores.

Enquanto a motorista era retirada daquele veículo de ponta a cabeça, Adam ouvia sons de movimentos rápidos à sua volta. Sentia olhos sobre si. Jeanne gemeu de dor e, se escorando no que restou do carro, começou a arrancar os cacos que penetraram seu ombro. A cerca de seis metros deles, Adam notou que um grande lobisomem os observava. Viu outro menor, rodeando o carro. Ainda ouviu sons de algo se movendo rápido pelo mato acima, mas por estar abaixado, o carro limitou seu campo de visão. Ele se colocou em posição defensiva, deixando a mulher atrás de si, que se arrastou para dentro do carro destruído em busca de algo. E, enquanto o vampiro analisava a situação desfavorável, o primeiro movimento aconteceu.

Da lateral esquerda surgiu um lobisomem com piercings no longo focinho, avançando com garras afiadas em direção ao rosto do vampiro! Adam desviou, com velocidade e graça chutando a criatura para longe do carro. Conforme abriu a guarda para executar o chute, atraiu os ataques de outros dois, que miraram sua perna e pescoço. Eram menores, castanho e cinza, com suas presas pontiagudas vindas de lados opostos.

Adam bloqueou ambos, os pegou pelo pescoço e prendeu contra o chão. Com sua força inumana, via o fôlego aos poucos deixar os lobos, que ganiam sob suas mãos firmes. Então notou que a criatura cinza era, na verdade, uma fêmea. Adam a arremessou contra o lobo de piercing, chutando o outro para longe. Então se ergueu, e sacodindo a poeira das roupas, disse:

— Não gosto de lutar com mulheres. Nem mesmo lobas.

Adam notou Jeanne agachada dentro do carro cheio de cacos de vidro, com o antebraço preso entre os dentes de outro lobo. Isso até a vampira acertar uma tira desse mesmo vidro na besta, que a largou, ganindo.

— Essa é a hora em que você mostra o que herdou do papai, certo? — perguntou ela ao vampiro.

Próximo a eles, um lobisomem muito impressionante. De pelo negro como a noite, músculos proeminentes e grossas garras, ele se ergueu em seus dois metros e meio, exibindo um sorriso cheio de presas. Vampiro e lobisomem se encararam, até que o silêncio foi cortado pela voz gutural do monstro:

— Parece que o playboy não é fraco, não — zombou. — Vamos ver se vale mesmo a recompensa!

O vampiro levantou uma sobrancelha.

— "Recompensa"?

— Pode parando com isso, senhor Macho-Alfa — ordenou a vampira, já fora do carro. — Eu sei que seu bando dá passagem livre para vampiros que possam pagar por isso. Pois eu posso pagar e, como deve saber, ele pode pagar mais que qualquer outro nessa cidadezinha.

Adam encarou a vampira, aborrecido por ela não ter lhe revelado aquilo. Enquanto o monstro coçou seu focinho com a garra, antes de responder:

— Nada feito, gostosa. A cabeça desse aí vale ouro, e não sou eu quem vai desapontar o Padre.

Adam não teve como disfarçar a mudança de expressão ao ouvir falar em "padre", mas antes que pudesse falar, sua atenção foi tomada pelo som de algo pesado avançando em direção a eles, ladeira abaixo. Brutal como uma locomotiva desgovernada, um grande e gordo lobo se chocou contra o carro! Jeanne levou as mãos à cabeça enquanto o vampiro usava de toda sua força para deter o impacto. Músculos doendo, quase de joelhos, Adam se pôs entre o carro e a vampira, impedindo o pior ao preço de ficar vulnerável.

— Pelo jeito, estou te devendo de novo — disse ela.

Então, a dor! Adam foi retalhado nas costas pelas garras do lobo de piercings, ao mesmo tempo em que teve sua perna mordida violentamente pela loba que arremessou antes. Eles recuaram, a loba cinzenta com carne de morto-vivo entre os dentes. O carro foi empurrado para o lado pelo vampiro, caindo sobre o grande lobisomem que por duas vezes naquela noite se chocou contra o veículo da vampira. Seus pelos eram escuros e grossos, e presas inferiores se revelavam mesmo de boca fechada.

Adam levou a mão a perna destroçada, de onde sangue escorreu farto. Seu corpo tremia pela violência do impacto, e suas costas ardiam pelas feridas recentes. Ao seu lado, Jeanne, ainda abaixada, de arma em punho, jogou no chão um celular destruído pelo acidente. Nada de pedir ajuda, percebeu Adam.

Em volta deles, seis vultos sinistros, uma matilha inteira rodeando seus alvos. Dois em forma de lobos comuns, o castanho e a preta. E os outros quatro em forma de licantropos completos.

— Tirei só um pedacinho dele, chefe — disse a fera cinzenta, cuspindo uma grossa tira de carne. — Acho que nem dá problema, né?

O líder encarou o casal de vampiros ameaçadoramente.

— Sem neura, gata, eles são sanguessugas! — afirmou, com as garras expostas. — Os malditos também regeneram.

Naquele instante, um enxame de morcegos surgiu sobre os lobos, confundindo, cegando e criando a brecha que os vampiros precisavam. Adam percebeu que esse era um dos truques da Jeanne, uma simples ilusão, e em um piscar de olhos derrubou dois dos inimigos menores, atrapalhados pelas falsas criaturas da noite. O vampiro se moveu muito rápido, a puxando pela mão, revelando assim as diferentes formas de utilizar o poder do sangue.

O casal entrou no matagal, tentando colocar o máximo de distância entre si e a matilha. O bando uivou em uníssono, e Adam pôde sentir a vampira arrepiada e tensa.

— O celular quebrou — Jeanne sussurrou —, não dá pra contar com ninguém.

Adam não respondeu, apenas se focou em colocar toda a energia em correr rumo ao casarão, rápido como um guepardo, saltando sobre os obstáculos como se não fossem nada.

— Eu sabia sobre os lobos dessa cidade, mas não pensei que dispensariam grana fácil — continuou ela, mais sendo puxada que contribuindo com a fuga. — Os desgraçados podem nos farejar! Fugir de malditos lobos no meio do mato não vai dar certo.

— Fique quieta! Eles já tem o cheiro para nos encontrar, não precisam da ajuda do som.

— Não seja bruto! Lembre-se que sou mulher: tagarelo quando fico nervosa.

O vampiro conseguiu ganhar tempo, e podia continuar naquele ritmo até chegar ao seu destino. Não parecia provável que uma daquelas bestas pudesse alcançá-lo, e uma vez na casa, teria o domínio do terreno a seu favor. Mas para sua surpresa...

Adam foi parado a força, só com tempo de jogar a vampira para a frente! Seu braço livre foi pego em cheio pelo líder do bando, as grandes presas se encravando fundo na carne do morto-vivo. Em instantes, ele sabia que perderia o braço.

— Largue-me e fuja, agora! — ordenou o vampiro ao lobisomem, olhos nos olhos, com sua vontade buscando superar a força mental da vítima.

A criatura afrouxou a mordida, com um olhar confuso. Então abriu e fechou os olhos, novamente dono de si, e sua selvageria e força de vontade venceram o poder do vampiro.

Algo semelhante a um riso escapou do lobo, mas que logo foi substituído por um ganido, quando o mesmo foi acertado por tiros em seu tronco. A dor o fez largar Adam, com fumaça saindo dos dois buracos de bala de onde jorrava sangue.

— Cachorro mau! — zombou Hilton, apontando a arma.

— Prata... — resmungou ele, com ódio no olhar. — Me lembre de fazer uma pulseira com essa prata derretida, depois que eu arrancar tuas tripas fora.

Com um braço estraçalhado, assim como costas e perna dilaceradas, o vampiro encarou sua parceira, observando o restante da matilha chegar aos poucos. Eles rodearam o casal, usando os números a seu favor.

— Então foi o Padre quem enviou vocês — afirmou Adam, regenerando completamente o braço antes destruído.

Seus olhos eram cor de sangue, e suas presas expostas pareciam desejar o sangue daqueles monstros ligados à lua. O grande lobo andou lenta e preguiçosamente na direção do vampiro, cuspindo o sangue que tirou dele em sua própria roupa.

— Por quê? Vai oferecer mais grana pra gente mudar de lado? — perguntou, debochado.

Adam o olhou com desprezo, ajudando a vampira a se pôr de pé.

— De modo algum — respondeu. — Considero lamentável que os lobos dessa geração se vendam dessa forma, servindo como capachos de vampiros. No meu tempo, quando dezenas de alcateias protegiam e dominavam essa região, lobisomens tinham honra.

O licantropo com piercing rosnou enraivecido, sendo detido pela mão do mais robusto deles, que olhou para o líder aguardando a ordem.

— Além disso, queria saber a quem enviar seus corpos quando tudo acabar — completou Adam, preparado.

— É, agora estamos mesmo fudidos! — concluiu Jeanne, beijando a ponta da arma e usando seu poder para regenerar o braço.

O líder sorriu, e os lobos atacaram. Jeanne desviou do ataque conjunto dos lobos comuns, quando se viu pega pelo grande e gordo lobo que surgira atrás dela.

— Hora do jantar! — disse ele, sua baba escorria enquanto cravava os dentes no ombro da vampira.

Logo o lobisomem abriu os braços e caiu para trás, pondo as mãos sobre a boca, após um tiro certeiro e desesperado da vampira gritando de dor. Ela caiu de joelhos, e logo a loba que parecia grávida arrancou a arma de suas mãos, e o jovem lobo prendeu sua outra mão entre os dentes.

Adam assistiu a essas coisas sem poder ajudar, resistindo a uma sequência de ataques do lobisomem de focinho longo e marrom. Seus movimentos de esgrimista desviando e bloqueando os ataques com garras letais, ao mesmo tempo em que atingia seus potentes murros na face da criatura. A loba cinza aproveitou para atacar o vampiro por um ponto cego... Que ela logo descobriu não ser tão cego assim. Ela gritou ao ser agarrada novamente pela mão de Adam, que encravou as presas no pescoço da criatura peluda.

E após sugar do sangue lupino, ele a lançou ao chão, gemendo de dor. O potente sangue escorrendo do queixo de um vampiro furioso. E foi com grande surpresa que ele testemunhou aquela criatura revertendo a forma de uma jovem já conhecida: a forma de Evelyn.

Nua, caída e ferida, ela olhou em seus olhos, sorrindo em desafio.

— Sentiu saudades, gatinho? — provocou, arrastando-se para trás. — Quer mandar alguma mensagem de despedida pra Claire?

— Fuja... Agora! — Os olhos vermelhos do vampiro esmagavam completamente o desejo de sangue da garota, que com olhos arregalados, fugiu a toda velocidade dali.

Então um uivo se fez ouvir, tão alto quanto assustador.

— Boris, comigo. Os outros foquem na vadia — ordenou o grande e terrível lobisomem. — O casalzinho já deu trabalho demais.

— A senhorita Evelyn já tive o desprazer de conhecer, e quanto ao meu adversário? — questionou Adam.

— Meu nome é Malcom, vampiro. — confessou ele, abrindo a bocarra assustadora. — E é minha vez de me divertir.

Não foi difícil notar a diferença entre o líder e seus seguidores. A força dele era descomunal, jogando facilmente Adam contra o chão, e deixando uma enorme ferida onde as garras desenharam sua passagem. O vampiro se esforçou para desviar dos golpes seguintes, cada um com força para rasgar seu tronco em fiapos.

— Devo admitir que o senhor é um lobisomem de elite — reconheceu o vampiro, após desviar de outro golpe fatal.

Malcom atacava incansavelmente, hora com as garras, hora com as presas. Seus golpes eram rápidos e fortes como poucas vezes o vampiro vira antes. Adam devolvia cada golpe com outro, seus punhos atingiam a face do monstro, quebrando dentes e arrancando o seu sangue. Infelizmente para o vampiro, a capacidade de absorção e regeneração da besta era miraculosa, de modo que seus golpes não pareceram diminuir quase nada o ritmo dos ataques do inimigo.

E, enquanto atacava e desviava dos golpes do lobo, tinha que se preocupar com o outro, repetidamente tentando prendê-lo em seu "abraço de urso". E não apenas isso, tinha que se preocupar com a vampira, que parecia a cada instante mais próxima da morte.

Jeanne com muito custo conseguiu se soltar das presas do lobo de pelo longo, visivelmente entregue a fúria animalesca, mas quase perdendo o braço no processo. Ela caiu ao lado dele, começando a parecer assustada. Seus pés a protegiam das mordidas da loba prenha, que atacava sem se expor.

— Adam! — gritou ela, realmente desesperada.

Quanto ao vampiro, estava pressionado pelo lobo Malcom, numa sucessão de ataques brutais contra um vampiro já gravemente ferido. Adam se apoiou em uma perna e cuspiu sangue, enquanto via Malcom sorridente e ofegante, Jeff e Boris se regenerando, e os outros dois cercando sua parceira.

Quando começava a se questionar se poderia realmente manter a vampira viva enquanto lutava, e novamente lamentando a falta de sua velha espada, o vampiro viu o inesperado acontecer. Som de sirenes de polícia se aproximando pela estrada.

Os lobos olharam para seu líder que, com cara de contrariado, disse:

— Puta merda, vamos ter que deixar nosso joguinho pra outra noite, vampiro — E encarando a vampira, sorriu. — Deu sorte, vadia. Você não tá no contrato, pode ser que continue "viva".

A sirene ficou mais alta, Jeff e Boris fazendo menção de atacar assim mesmo, até Malcom rosnar para eles, mais que o suficiente para que mudassem de ideia.

— Diga a Ordem que eu estou aguardando por eles, não lacaios — cuspiu Adam, olhos vermelhos para o líder.

Malcom apenas sorriu em resposta, logo sumindo na noite. Como um pesadelo noturno cessando ao despertar do amanhecer. Quando a sirene ficou próxima o suficiente e as luzes de faróis começaram a iluminar a área, Adam se sentou ao lado da vampira. Os dois estavam exaustos e feridos.

— Você ficou quieta, enfim — suspirou ele, tentando não pensar em toda a dor e raiva que estava sentindo.

— Tem horas que a gente tem só que curtir o momento — respondeu ela, segurando seu rosto e beijando seus lábios.

O vampiro foi pego de surpresa, ficando sem reação por um momento.

— Isso é por salvar minha pós-vida, Tepezinho — ela disse, se escorando nele.

A polícia chegou encontrando um casal gravemente ferido, com roupas esfarrapadas e sujas de sangue, não muito distantes de um carro capotado. Mas estranhamente, eles sorriam. 


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Notas finais do capítulo

Então pessoal, sei que meus leitores ainda são poucos, mas agradeço a cada um que dedica seu tempo a ler cada capítulo novo dessa história.

Um grande abraço, e até o próximo capítulo.



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