A Herdeira Stark - Livro I escrita por Jojs


Capítulo 5
Orfã em degradê




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Phil olhara cada página do diário, mesmo que não tenha lido a maioria, seus olhos estavam estáticos quando constatou a realidade, sobre quem era o culpado. Sua garganta seca, seu corpo trêmulo, tudo se recusava a acreditar na verdade, tudo era muito irreal para ele. Ele colocou o diário sobre a escrivaninha e dormiu assim, entre pesadelos e verdades sobre Sam, essas das quais não poderia contar a qualquer um, algumas que ele nem mesmo tinha desvendado ou tido coragem de ler, que o chamassem de covarde ou qualquer coisa do tipo, mas Phil preferia assim, preferia a certa ignorância a verdade que colocasse ele e Lila em perigo.

Mas não querer saber, não significava ficar sem ter os pesadelos que o assombrava, os gritos de Samantha eram tão reais que ele acordou uma centena de vezes, dormia mal, não sabia muito bem como se encaixar naquela situação, olhava para Lila a todo o tempo, queria certificar-se de que ela, sua menininha, estava bem. O berço parecia um local seguro visto da posição em que ele estava, deitado na cama, mas ao sentar-se ele via o quão exposta ela estava e o medo de que – assim como Sam – eles fossem atacados, fazia o seu coração palpitar, qualquer sombra o assustava.

Na manhã seguinte Phil ainda estava tenso, olhava para o diário sob a cabeceira, pensava em Sam e em Lila que acordara feliz, aquela era a única alegria de seus dias, era a forma com que ele se mantinha de pé, mesmo que tudo parecesse vir ao chão. Ele tomou o pequeno caderno em mãos, o diário escrito com afinco por Samantha, ele sentia suas mãos tremerem e não tinha coragem de continuar a leitura que ele já havia começado, haviam tantas pontas soltas que ele, como um único homem detento de toda a informação, não sabia bem como proceder, muito menos a que ponto estavam em perigo. Ele dignou-se apenas a abrir o diário na última página, onde haviam dizeres direcionados a ele.

“Caro Phil, desculpe por ter te medido nisso, por ter feito as coisas tomarem esse rumo e por colocar você e Lila em tudo isso, mas você é a única pessoa que eu poderia confiar para cuidar do meu pequeno – e imensamente amado – ‘efeito colateral’. Se você leu tudo que está aqui, sabe o quão em perigo está, tanto você quanto ela, ...”

— É, todos nós estamos em perigo Sam. — Phil murmurou para si parando a leitura. — Você veio como furação e mudou a minha vida, nossa vida e agora, deuses ... Como eu vou cuidar da Lila? — Phil olhou de relance para o diário, havia mais.

“ ... mas infelizmente aconteceu. O que você tem em mãos é poderosíssimo, são todas as provas da verdade, todas as provas de que quem matou Howard e Maria ainda está lá fora e pode estar atrás de mim, de nós. Eu quero que você pegue todas as suas coisas, pegue minha filha e vá embora, suma no mapa, é para o bem de vocês dois, não deixe rastros, não deixe pistas, não deixe nada, vá para o lugar onde ele não vai encontrar vocês e ensine a ela a se proteger, não a faça uma menininha doce, não a faça uma princesa protegida por um castelo, a faça uma guerreira, ...”

— Como a mãe. — Phil balançou a cabeça de forma negativa, aquilo era a constatação do óbvio, Sam estava morta. — Pelo visto somos só nós dois. — Phil olhou para uma Lila que escutava curiosa sua leitura em voz alta.

“ ... alguém como a Peggy seria uma boa. Desculpe por não estar mais aí, mas saiba que eu sempre vou amar vocês, não importa onde esteja. Não confie em todos na SHIELD, há traidores até nas mais puras dinastias, nessa organização não é diferente, com amor ... Sam.”

Phil seguiu a única coisa que Sam pediu, ele juntou todas as coisas, cada uma delas, roupas, brinquedos de Lila, livros, tudo que pudesse ser ligado a eles de alguma forma, colocou tudo em caixas ou mochilas que possuía em casa, mudou-se de imediato, sabia que não estaria seguro ali em Nova York, sabia que não seguir as ordens de Sam implicava em colocar o seu pescoço e o da bebê em risco, ele não poderia de forma alguma permitir que isso, sua missão até que Lila fosse grande o suficiente era de mantê-la segura, cumprir a promessa feita a Sam no nascimento da criança.

Enquanto ele enchia o carro com as caixas e coisas do tipo, Lila brincava no apartamento da senhora que vivia ao lado de Phil desde que ele se mudara pra aquele prédio antigo. O homem colocava cada caixa no carro com cuidado, haviam livros, roupas, seu carro não era tão grande quanto precisava ser, mas lhe servia de forma suficiente. Phil tinha deixado alguns móveis para trás, mas não iria precisar deles para onde iria, a velha senhora do lado poderia ficar com todos eles e fazer o que bem entendia, desde enfeitar seu apartamento, até vender a conseguir uma grana extra, era a forma que Phil encontrara para dar um último obrigado a ela.

— Obrigado por olhar a Lila uma última vez. — Phil sorria ao entrar no apartamento da senhora e vê-la fazendo cóssegas em Lila. — Já está na hora de irmos, a estrada até Dallas será longa.

— Texas ... Tenho boas lembranças de lá. — A senhora se levantava entregando a menininha a Phil. — O prazer foi meu de poder cuidar da garotinha, sentirei saudades de ambos por aqui.

— Mandaremos cartões no natal. — Phil sorriu buscando a chave do carro em seus bolsos. — Texas é um bom lugar para recomeçar.

— Sim. — A senhorinha pegava um livro em uma estante cheia deles em seu apartamento. — Mas creio que Samantha tinha outros planos para você e a filha de Tony Stark.

— Como? — Phil olhou para Lila e depois para a mulher.

— Não faça muitas perguntas. — A mulher deu a Phil um livro sobre Alice no País das Maravilhas, o favorito de Sam. — Ela deixou isso aqui no aniversário da Lila, já me dei a liberdade de ligar para o número que está aí dentro e contata-lo como Sam pediu, ele está esperando por vocês no galpão de aviões da força aérea americana, o nome dele é Jason, é um velho amigo de Sam, creio que você o conhece.

— É, eu conheço. — Phil revirou os olhos. — Mas para onde Jason vai nos levar?

— Washington, Sr. Coulson. — Ela sorriu. — Mas vá, vá, não vai querer perder o discurso do Presidente Clinton essa noite, irá?

Phil desceu com Lila para o carro, havia um endereço anotado na capa do livro, mas o que mais chamou a atenção do homem foi que havia uma chave grudada em uma das páginas interiores, deveria ser do apartamento, talvez. Phil sabia onde o galpão ficava, o que o deixava com um pé atrás era o fato de que era Jason, o ex-namorado agressivo de Sam, que iria ajuda-los, por mais que Jason fosse bom com Lila e com Phil, ele nunca, NUNCA, iria confiar totalmente nele, ainda mais sabendo do passado que ele, Samantha e o homem possuíam em comum, um olho roxo de Sam nunca lhe saíra da cabeça, ainda mais as mentiras dela tentando acobertar Jason.

Quando Phil o viu seus olhos automaticamente reviraram, não gostava dele, era fato. Desceu do carro com Lila em seus braços, Jason não tirava os olhos da menininha de pele pálida e cabelos castanhos, seus olhos não interessavam-se por Phil, mas sim pela criança, qualquer um que a vida logo dizia que aprecia-se com Sam, mas na verdade ela era muito mais Tony, coisa que Phil realmente preferia que não fosse verdade, mas a menina era a cara do pai. Jason apontou para o relógio e Phil não falou nada, apenas repetiu o ato de revirar os seus olhos de forma impaciente.

— Eu não acredito que a Sam confiou em você ainda. — Phil falou entre os dentes.

— E eu não acredito que seja você a criar essa menina. — Jason apontou para Lila. — Ela ficaria muito melhor comigo.

— Sam com toda certeza não iria querer que a filha dela virasse uma selvagem. — Phil falou com certo sarcasmo. — Podemos ir? Eu tenho coisas para fazer em Washington.

— Saiba que eu estou fazendo isso pela Sam e pela criança, não você. — Jason apontou a chave do avião para Phil. — Te deixaria morrer de sede, mas beberia a última água do deserto, vamos entrando no avião.

Phil viu o enorme avião eu caberia seu carro, ele acomodou a pequena Lila no banco em que estava e estacionou dentro do mesmo, seria uma viagem breve até Washington, na qual Phil e Lila fizeram dentro do carro, ele queria o menor contato possível com Jason, o homem não exprimia nenhum convite a Phil, nada de bom, ele entendia que as opções de ajuda de Sam não era muitas, visto que ela escolheu a senhorinha no apartamento do lado e o ex-namorado com problemas de agressividade, a situação também não ajudava muito, Phil compreendia.

Quando chegaram a Washington, já no meio da tarde, Phil desceu o carro do avião e só deu um aceno de cabeça para Jason que o observava de longe como agradecimento, ele não merecia muito mais do que isso, na verdade na cabeça do agente o homem merecia uma morte muito lenta e dolorosa, mas quem era Phil para julgar alguém não é? A vida de agente o obrigou a muitas coisas, algumas das quais ele não se orgulha nenhum pouco, mas a sua missão atual talvez fosse a que mais lhe dava dores de cabeça e noites mal dormidas.

Ele dirigiu pela cidade que ele conhecia um pouco, parou duas vezes para pedir informações, mas no fim das contas ele conseguiu chegar no lugar que precisava, seu coração até mesmo palpitou com as coisas que estavam ocorrendo, morar em Washington estava nos planos de Phil, mas não naquele momento, não naquelas circunstâncias, mas era a velha história de que não escolhemos nosso destino. Ele pegou Lila no colo e a chave que estava no livro de Sam, pelo menos naquele prédio ele morava apenas no segundo andar, menos mal.

Ao destrancar a porta ele viu um apartamento que com toda certeza pertenceu a outra senhora de idade, pois as fotos de seus filhos ainda estavam em alguns porta retratos pela casa, Phil temia que ela tivesse morrido sentada em algum lugar ali, aliás ... Ele vira uma mulher sentada na poltrona, se ela não o olhasse tão ferozmente e até se mexesse, Phil teria certeza de que ela estava morta também, demorou um segundo para ele perceber que também havia um homem alto e negro ao lado dela que o encarava, ele tinha um olho escondido por um tapão.

— Peggy, sempre me surpreendendo. — Phil segurou firme Lila em seu colo. — O que você faz aqui?

— Eu venho a pedido da Sam. — Ela se levantou. — Eu lamento não poder ajudar mais, mas ela chegou até mim quando eu já não estava mais ligada as minhas funções de diretora mor da SHIELD.

— Você ajudou no que pode. — Os olhos de Phil não saiam do homem perto de Peggy. — Esse é ...?

— Nicholas Fury. — Peggy respondeu sem tirar o olhar de Phil. — Seu novo chefe, deve assumir um lugar na diretoria da SHIELD em breve, não o meu infelizmente. Ele vai te ajudar quando precisar.

— O que inclui levar a criança ao próprio pai no momento certo. — Nick respondeu e Phil o encarou. — Desculpe Agente Coulson, mas por mais que a tutela dessa criança seja sua agora, ela possui um parente de sangue vivo e ele precisa saber da verdade sobre a existência dela.

— Peggy... — Phil implorou pela complacência de Peggy Carter. — Se você sabe o que eu sei que você sabe ... Tem a ciência de que eu sou a pessoa mais apropriada para protege-la agora e o Anthony ...

— Chega Agente Coulson! — A voz de Peggy foi firme e voraz. — Ela não vai demorar para completar 2 anos, antes do natal de 1997 eu quero que essa criança esteja nos braços de Anthony Stark.

— Ele vai mata-la, Peggy, pelos deuses! — Os olhos de Phil se enchiam de água. — Ele vai encontra-los e vai matar os dois, é isso que você quer? Quer que tudo que sobrou da Sam seja apagado dessa forma?

Nick Fury só observava a cena, não tinha conversado tanto com a mulher para saber a história completa, Peggy por outro lado tinha detalhes completos de tudo que estava acontecendo, quando deu a liberdade para que Sam fosse para aquela missão tudo que ela pensou era que estaria fazendo justiça a morte de seus amigos, mas agora estava tento que lidar com um efeito colateral, mesmo que fosse uma criança, Lila era um erro de cálculo, Samantha não deveria ter engravidado, nem sumido por um bom tempo, agora eles tinha que lidar com a situação como podiam.

— Você só está se sentindo assim pois a Sam se foi, Phil. — Peggy se aproximou de Coulson e tocou seu braço. — Lila é uma parte dela que ficou, mas não é a Sam, ela não vai voltar, você precisa entender isso, precisa sentir essa dor e não alimentar essa esperança doentia, a Lila precisa do pai dela.

— Ela precisa de mim. — Phil falou entre os dentes. — A Sam ... Ela ...

— Sim, ela é a sua irmã de coração, a pessoa que te ajudou quando você mais precisava, eu sei Phil, acredite em mim, eu sei. — Peggy o olhava nos olhos. — E também sei que você sabia desde o início que iria ter que acontecer, Anthony saberá a verdade sobre a criança.

— Não! — Phil olhou assustado para Peggy. — Tony não pode saber a verdade sobre Howard e Maria, ele faria alguma loucura, nós sabemos que ele faria e a verdade viria a tona, Peggy, aí sim eles estariam em perigo.

— O Agente Coulson tem razão. — Nick saiu do silêncio para chamar a atenção de ambos. — É melhor que ele permaneça na ignorância nesse ponto. Senhora nós precisamos ir.

— Tudo bem, Nick. — Peggy molhou os lábios com a própria língua e depois pegou alguns papeis dentro de sua bolsa. — Aqui estão alguns documentos, pode leva-la com você, estará segura em seu escritório aqui em Washington.

Peggy e Nick foram embora e deixaram Phil a sós, ele colocou Lila para dormir e foi buscando as caixas uma a uma, organizando suas coisas e as de Lila no lugar, o apartamento era maior que o seu, a geladeira já estava abastecida e ele teria uma nova vida em Washington agora, ele e sua pequena Lizandra, sentia-se tão estranho por ter dias numerados ao lado dela agora, era como um cronômetro em contagem regressiva. Após levar a última caixa ele viu o diário de Sam, o escondeu entre os livros da estante em uma capa falsa de um livro de culinária japonesa, ao sentar-se no sofá ele pegou os papéis que Peggy tinha dado a ele dentro de um envelope, eram documentos de Lila.

— Lizandra Andrea Coulson. — Phil sorriu de lado, nunca daria um nome como Andrea para sua filha. — Pai, Philip Coulson e mãe, Viviane Grigori in memorian. Ela ta de brincadeira não é? — Phil revirou os olhos novamente.

Viviane fora uma ex namorada de Phil no passado, ela tinha a quase um ano, ele lembrava, havia ido com Lila no velório da mulher em Nova York, a sua ex-sogra ainda o chamava de Little Phil, apertava suas bochechas e dizia como Viviane o amava, elogiou os olhos de Lila, disse que se apreciam com os de Viviane, bobagem ao ver de Phil, eram os olhos de Samantha, esses que já estavam escurecendo e não eram mais o verde vivo que Phil viu no nascimento de Lila. A morte de Viviane nunca foi algo que interessou Phil, ele nem mesmo sabia como tinha acontecido, doença, fatalidade, ele não ligava, mas pelo menos ela fizera um último favor a ele – depois de claro o infernizar com seu ciúmes durante todo o tempo que namoraram – ajudar a mante a identidade de Lila, e a própria bebê, a salvo.


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