50 Tons - Sem Saída escrita por Mary Kate


Capítulo 14
Um mundo que se desfaz.


Notas iniciais do capítulo

Olá minhas lindonas ! Dessa vez venho mais cedo para presenteá-las com fortes emoções! Preparem os lencinhos e ótima leitura ;*



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POV – Christian

Esses dias têm sido incríveis, nunca pensei que poderia me conectar com alguém como tem acontecido com Anastácia. Nós temos a cada dia conhecido mais um ao outro e sempre sou surpreendido pela sua doçura, inocência e pureza. Ela é alegre, meiga e contagiante. É impressionante como todos os dias só sinto o crescente desejo de poder cuidar dela e estar a todos os momentos com ela. Às vezes acho que estou ficando louco ou estúpido, já que nossas famílias são inimigas e me casei puramente com o intuito de reaver a empresa de meu pai. Mas no final das contas fui surpreendido por sentimentos que nunca tinha tido e por uma mulher totalmente diferente do que imaginei que Anastácia fosse. Antes queria a fazer sofrer para que seu avô sofresse, mas hoje tudo o que eu quero é vê-la feliz, ainda mais porque já tenho a empresa então minha vingança contra Astolfo foi feita, que era realmente o único alvo que merecia ser atingido por mim. Por falar em empresa a mesma só tem me dado dor de cabeça, pelo que percebi o avô de minha esposa descuidou totalmente dos negócios nos últimos anos de forma que a empresa está envolta em problemas fiscais, tributários e muitas dividas. Tenho me ocupado muito desfazendo toda merda que Astolfo fez com a própria multinacional. Estou na minha filial da Grey-Éllenis em NY sentado a minha mesa avaliando mais algumas perdas da minha nova aquisição depois de uma reunião extremamente maçante com investidores alemães, quando o telefone de minha mesa toca com Andréa me avisando que Welch chegou para nosso encontro. O mesmo adentra minha sala com seu impecável terno cinza e sua lustrosa cabeça raspada, um olhar enigmático e sua feição de poucos amigos de sempre. É engraçado como ele pode parecer carrancudo, mas além de um excelente funcionário o tenho como bom amigo, pois confio em sua competência e lealdade completamente. Welch foi da CIA durante mais de vinte anos, teve uma carreira brilhante, no entanto foi obrigado a se aposentar muito antes da data por ter se vingado de um bandido em um caso que envolveu sua família. Porém devido a sua competência e contatos trabalha como uma espécie de agente particular ou espião infiltrado. O que para mim que sou do mundo dos negócios é essencial, o tipo de trabalho investigativo que ele faz já me preveniu muitas vezes de cair em enrascadas. Levanto-me e dou a volta na mesa, estendendo a mão para meu velho amigo.

— Bom dia Welch, como vai? – Pergunto.

— Olá Christian, bem obrigada. E você? – Aperta minha mão e nos encaminhamos para nossos lugares para nos sentarmos.

— Bem, imagino que tenha novidades já que resolveu vir até mim pessoalmente. – Estou curioso, mas falo com tranquilidade.

— Sim, na verdade o dossiê sobre a vida de Anastácia está pronto. Tudo o que tem para saber sobre ela está nesta pasta. Leia com calma, pois pelo que me contou que sabe da vida da mesma irá se surpreender e muito. – Percebo que Welch fala com cautela, parece até mesmo surpreso. Logo ele que já viu de tudo nessa vida, confesso que lá no fundo sinto uma angustia sufocar um pouco meu coração. Mas não tenho tempo a perder e pego a pasta das mãos de Welch para abrir e ler o conteúdo de uma vez. Abro o envelope pardo e dentro a pasta amarela está cheia de papéis, logo na primeira página a foto da identidade de Anastácia com todos os seus dados pessoais, ela está linda como sempre, mas posso ver em seus olhos um vazio muito grande na foto de seu RG, como se seu olhar fosse de vidro, perdido. Um nó imediatamente para em minha garganta, então viro a página e a próxima é um relatório sobre sua vida desde a infância. Leio tudo atentamente, passo as páginas vendo seus dados da faculdade, de seus empregos e até mesmo algumas fotos de satélites que posso vê-la um pouco de longe entrando em uma loja de materiais de construção pela manhã, depois uma com um uniforme que me parece com roupas dos anos cinquenta ou sessenta entrando em um restaurante chamado Bacon’s pela tarde. A penúltima mostra Ana saindo da faculdade tarde da noite e na outra ela está sentada em uma praça com um homem alto de costas chegando próximo a ela. Percebo que em todas as fotos ela está cabisbaixa e mesmo de longe parece cansada.

Fico completamente chocado com tudo que li então Anastácia nunca teve uma vida abastada ou cheia de regalias como eu pensava, ela nem ao menos teve uma vida confortável ou apoio aos seus estudos. Esteve desde a adolescência sozinha, trabalhando e lutando para conquistar seus sonhos. Aquele miserável do Astolfo nunca a reconheceu, nunca a deu carinho ou suporte. Sua mãe se tornou uma alcoólatra a negligenciando na infância e a abandonando na adolescência ao conhecer o tal Bob que a levou para viajar pelo mundo em busca da melhora de seu vicio pelo álcool. Me sinto um monstro, a obriguei a se casar comigo, a tratei com rispidez e ignorância no inicio, fiz da sua primeira vez uma cena de vingança, a humilhei tantas vezes. Se eu soubesse... Agora entendo porque de seu comportamento tão estranho quando nos conhecemos, aquele velho que nem pode ser chamado de avô obrigou Anastácia a se casar comigo devido a terrível condição financeira que ela estava passando. A mesma foi atrás dele em busca de socorro e o ordinário a sentenciou a um casamento forçado para que ela pudesse ter o dinheiro que precisava para mandar para o padrasto doente e a mãe fragilizada. Por isso Ana era tão submissa a ele e distante quando os dois estavam no mesmo ambiente, por isso achei que a relação deles parecia sem nenhum sentimento. Agora que já sei por este relatório que aquele diabo está morrendo entendo seus planos. Ele queria me entregar a empresa que está quase falida e ainda judiar um pouco mais da neta que nunca gostou. Velho maldito! Como pode tratar assim alguém do próprio sangue e ainda pior, alguém como Anastácia tão pura e frágil. Respiro fundo, passo as mãos em meu rosto e em meus cabelos os segurando com força, levanto-me e vou em direção à parede de vidro de meu escritório, meus olhos estão ardendo percebo que pela primeira vez desde minha infância tenho vontade de chorar. Anastácia já sofreu tanto em sua vida e a causei ainda mais sofrimento. Inalo o ar vagarosamente e volto a minha mesa, leio o restante do relatório onde explica que Ana depositou toda sua primeira mesada depois de nosso casamento para a conta de seu padrasto que estava hospitalizado na Indonésia, vejo que o mesmo está com uma grave doença imunológica o que o fez ficar internado meses e agora já está de volta aos Estados Unidos em um hotel em Seattle juntamente com a mãe de Anastácia. Inclusive até então não tinha tido coragem de perguntar a Ana sobre sua mãe, sempre quis saber, mas imaginava que fosse um assunto delicado para mesma já que o pai dela morreu naquele acidente de barco, pensava que sua mãe também já tivesse falecido algum tempo depois do acidente pela falta de informação sobre a vida delas em qualquer fonte de domínio público.

— Isso é tudo Welch? – Pergunto somente por perguntar.

— Sim. Sinto muito pelas suas descobertas, agora se não tiver nenhuma nova encomenda vou deixa-lo sozinho. – Vejo compadecimento na expressão de Welch, talvez seja porque Ana tem a mesma idade que sua irmã teria agora, já que a mesma foi assassinada o que o fez matar o assassino e mudou sua vida profissional.

— Por enquanto é só, qualquer coisa entro em contato. Obrigado amigo. – Digo um pouco sem forças, o mesmo se levanta, acena com a cabeça para mim e sai da sala, me deixando sozinho com essa tempestade de pensamentos em minha cabeça. Passa-se algum tempo e recebo uma ligação de casa, Patrícia me avisa que Anastácia teve uma crise nervosa em meio a uma ligação e claro dou todas as coordenadas a Andréa e Ross do que fazerem o restante do dia e vou correndo para casa. No carro penso que o melhor é conversar com Anastácia e dizer a ela que já sei de tudo, que a deixarei livre para ficar na América e estudar, ter a vida normal que nunca pôde. Não a obrigarei mais a estar nesse casamento e ela poderá ser feliz, longe de mim e sem qualquer preocupação. Não sei porque sinto muita dor ao pensar nisso, meu coração se aperta e uma tristeza gigante me invade. Será possível que eu realmente estou me apaixonando por ela, será que é amor o que sentimos quando estamos juntos?! Não, não é possível! Eu não saberia amar uma mulher que não minha mãe ou Mia, nunca alguma esteve nem perto disso, não sou capaz de tais sentimentos. Mas então por que dói tanto pensar em ficar longe dela?! Infelizmente isso não importa, quando chegar ao Escala conversarei com ela com tranquilidade e libertarei Ana para que ela seja feliz.

...***...

Chego em casa com cautela mas ao mesmo tempo pronto para nossa fatídica conversa. Porém depois dela me contar a situação terrível que passou, o modo como ela fica abalada, não tenho coragem de contar a Anastácia mais nada, ela está extremamente frágil pelas más recordações e eu jamais a abandonaria assim, estou com tanto mais tanto ódio desse José que seria capaz de mata-lo com minhas próprias mãos. Agora tudo se encaixa, no relatório citava a proximidade de Ana com esse homem e o fato que dois dias depois de minha esposa ter vendido a casa que possuía o então amigo foi hospitalizado e a mesma as pressas trancou a faculdade e foi para a Grécia. Agora sei a informação que faltava e meu peito dói de pensar o sofrimento que ela passou, o terror que sofreu, o medo e ainda a agressão. Nunca vou esquecer que ele bateu nela e quase a violentou. Fico tão aliviado de saber que ele não a tocou, essa é a maior violência que uma mulher pode sofrer. Fico extremamente aliviado em saber que ela conseguiu fugir e se salvar, mas o ódio e a vontade de fazer esse homem se arrepender do dia em que nasceu não passam nenhum um pouco dentro de mim. Percebo então que nesse momento tenho que cuidar dela e quando for o momento certo direi tudo o que sei e a deixarei livre, sei que não poderemos nos divorciar já que não tivemos filhos conforme o contrato preestabeleceu, mas Ana poderá seguir a vida dela onde quiser, estudar e sem se preocupar com as contas pois a sustentarei.

Pensando em filhos, nunca senti tanta vontade de tê-los como agora, seria tão bom ver a barriga de Anastácia crescendo com um fruto nosso penso com minha testa encostada em sua barriga ajoelhado a seus pés no banheiro, agora percebo que sinto vontade de ter uma família com ela, de acordar todos os dias em seu redor. A trato com todo carinho que ela merece, quero que ela se sinta cuidada e que de alguma forma veja que na verdade eu que estou rendido aos seus encantos, ela me viciou e estou aqui querendo sentir nossos corpos ligados na química fantástica que temos. Ao sairmos para Times Quare me encanto com toda sua felicidade, fico imensamente feliz ao vê-la novamente sorrindo e empolgada como sempre. Às vezes tenho que verificar situações da empresa no celular, já que não me faltam dores de cabeça para resolver, ela se preocupa mas não quero que ela se abale com mais nada. Minha esposa então esquece sua echarpe dentro do restaurante e quando a mesma se afasta recebo uma ligação. Atendo feliz ao perceber que é Mia e vou mais a frente da calçada já que a chamada está um pouco ruim. Conversamos pouco tempo, a minha irmãzinha está com a mesma empolgação de sempre, doida para nos ver já que ela e Ana têm uma ligação incrivelmente forte para quem se conhece há tão pouco tempo. Também manifesta um pouco de ciúmes por nunca mais termos feito nenhum programa de irmãos juntos então declaro meu amor por ela para que se acalme. Nesse momento ouço uma pequena confusão atrás de mim, me despeço de minha irmã rapidamente ao ver Ana em maus lençóis com um senhor japonês. A mesma está distante e triste, depois de explica-la o mal entendido prosseguimos com a nossa programação.

...***...

Fico muito feliz em ver Damon, nossa amizade começou na equipe de remo da faculdade e desde então nunca nos afastamos. Ele gosta de Anastácia de cara posso perceber, mas também quem não se encanta com esse anjo em forma de gente?! Porém como sempre algo tem que acontecer para quebrar a perfeição, vejo Leila se aproximar no seu estilo de sempre e agora depois de meses sem vê-la o que não é o caso, já que sempre ficamos meses sem nos ver, percebo que ela é uma mulher totalmente desinteressante. Faz aquele típico tipo predador, caça dotes e perua. Não sei se é porque estou totalmente encantado por Ana, mas não sei o que me fez ter relações sexuais tantas vezes com Leila. Acho que foi pela facilidade de que sempre que vinha a NY ela não me dizia não, era uma submissa perfeita no playroon, aliás somente nele mesmo. Fora do quarto de jogos Leila sempre foi intrometida e grudenta, por isso nunca tínhamos nada fora dele, me mantive sempre o mais distante possível emocionalmente. Claro que ela é uma mulher bonita qualquer um vê, mas é previsível demais. Antes de conhecer Anastácia já fazia alguns poucos meses que não vinha a esta cidade, então depois de me casar com ela não falei mais com Leila, nunca mais atendi suas ligações ou respondi suas mensagens. A única coisa que me intriga é o fato da mesma nunca ter mencionado estar noiva em suas incansáveis mensagens, no entanto não tenho como ter certeza já que as ultimas nem li. Estranho é Damon não ter me contado nada das ultimas vezes que nos falamos, será que estava tímido pelo fato dela sempre ter sido gerente desde a abertura do restaurante?! Eu não tenho nada a ver com isso, ele é rico e não por isso é obrigado a se envolver somente com mulheres ricas. Depois de nosso jantar delicioso e de conversa leve, vou acompanhar Ana para que a mesma conheça a cozinha, mas recebo uma ligação de Ross e tenho que atender, após o fim da ligação desço as escadas e resolvo ir ao toalete antes de encontrar com Damon e minha esposa na cozinha. Ao sair do banheiro caminho pelo corredor tranquilamente até ver Leila aparecer de repente.

— Christian nós precisamos conversar! – A mesma já parece exaltada e vem rapidamente em minha direção.

— Leila já chega, acho que você já entendeu que se não atendo suas ligações nem respondo suas mensagens tudo o que já tivemos, que por sinal nunca foi nada sério e sim eventual, acabou! – Sou bem taxativo, não tenho paciência para certas coisas e ela está me irritando profundamente.

— Não, não. Pare com isso! Nós nos amamos, você me quer e eu te quero! – Fala gesticulando para todos os lados, parece desesperada e começa a fazer uma cena ridícula, forçando um choro claramente falso.

— Pare com isso agora Leila, você está noiva! Tenha ao menos um pouco de decência! Damon é meu amigo. – Falo colocando minha mão como uma barreira para que ela não se aproxime de mim.

— Você não vê?! Ludibriei, seduzi e fiz com que Damon me pedisse em casamento para te fazer ciúmes quando soube que você tinha se casado, queria que você sentisse que poderia me perder. Não acredito nesse seu casamento de fachada! Você nunca quis se casar antes nem ao menos namorada queria... Meu noivado ainda é do conhecimento de poucos, porque só para você a noticia era realmente importante e eu queria que Damon te contasse pessoalmente, queria ver sua expressão! Mas você nem ligou, não demonstrou nada. Pare de ser frio assim comigo Christian! Pare de jogar comigo assim! – A mulher a minha frente se altera completamente, a vejo então pegar uma lâmina pequena e fina que estava escondida em seu sutiã, imediatamente fico em alerta. Tenho treinos de lutas variadas há anos, se eu vir que a mesma oferece perigo a imobilizarei. – Christian, eu quero você! E se você não me quiser vou me matar agora aqui na sua frente! – Fala agitada posicionando a lâmina em seu pulso, tenho que agir com inteligência e cautela, não sinto nada por ela mas tenho respeito pelo ser humano que é e que me relacionei tantas vezes.

— Calma Leila, abaixe essa lâmina. O que você quer que eu faça para você se acalmar? – Pergunto com as mãos levantadas em direção a ela.

— Me dê um beijo, agora. – Diz com os olhos vidrados.

— Tudo bem, mas antes deixe o objeto sobre aquela bancada de mármore ali. – Ela me encara pensativa então me imponho como o Dom que sou. – Isso é uma ordem Leila, deixe a lâmina em cima da bancada e venha até mim. – A mesma ainda pensa por alguns poucos segundos e então rapidamente larga a navalha onde mandei e se joga em minha direção já me beijando de surpresa, se agarra ao meu corpo me abraçando, suas mãos seguram meu rosto e sua boca se mexe avidamente sobre a minha, seria cômico se não fosse trágico. Nem ao menos tive tempo de me mover para afasta-la já que tudo foi tão rápido, pois a mesma se sobressalta e se vira rapidamente ao ouvirmos a voz de Damon grita-la. Olho para onde ele se encontra e para minha infelicidade junto ao meu amigo está Anastácia totalmente paralisada com os olhos vidrados em mim.

POV – Anastácia

Meus olhos se arregalam, minha mão vai a minha boca aberta. Leila vem correndo até Damon dizendo que pode explicar.

— Não há explicações para isso! – O mesmo diz irado.

— É que eu e Christian estamos envolvidos há alguns anos, foi difícil vê-lo depois de alguns meses...ah nós estamos apaixonados, não pudemos evitar! – A galinha depenada fala rapidamente. Christian anda apressado até mim e dispara.

— É mentira Ana, nós não temos nada! Absolutamente nada! Você tem que confiar em mim! – Diz me olhando nos olhos. Sinto uma agitação tomar conta do meu corpo e me mexo de um lado para o outro enquanto uma discussão acalorada entre Leila e Damon acontece próxima a nós.

— Mas e o que eu acabei de ver Christian?! Vocês estavam se beijando e pior ainda hoje você passou o dia distante e estranho muitas vezes, eu não sei o que está havendo. – Sinto meu coração acelerado, não sei se confio nele ou no que vi.

— Anastácia... – O lindo grego de olhos de tempestade me encara com suplica. – Por favor busque a razão, você sabe que jamais mentiria para você. Você sabe que o que temos é real! – Fala se aproximando de mim, segura meus braços, nos olhamos nos olhos e sinto que posso confiar nele mesmo sendo difícil. Ao perceber nossa aproximação tranquila Leila se mete entre nós nos afastando e gritando.

— Diga a ela a verdade Christian, que você se declarou para mim ao telefone hoje! – Suas palavras gritadas me atingem como um soco, não tenho como acreditar em mais nada do que ele me diz, sinto uma dor tão grande em meu peito, perco o ar e devagar abaixo minha cabeça colocando a mão em minha testa, a confusão mental que sinto é tão grande que creio estar em um pesadelo. Constato que só pode ter sido com ela que ele falou hoje após nosso lanche. Ando para trás me apoiando em uma parede. Rapidamente ouço a voz de Damon próxima a meu rosto e sua mão segurar meu braço em forma de apoio.

— Calma Ana, respira. Não vamos nos deixar atingir por esses traidores. – Levanto a cabeça olhando para ele e já sinto que somente o que me consome são a raiva e a indignação, sorrio para o mesmo alisando seu braço como agradecimento. O mesmo retribui me abraçando, nesse momento ouço Christian gritar.

— Damon larga minha mulher! – Não acredito que ele está tendo uma crise de ciúmes em meio a essa situação! Percebo que o loiro ao meu lado perde a paciência e parte para cima de Christian o dando um soco no rosto.

— Parem com isso. Chega! – Grito ao olhar para os dois que não sei se brigam ou se um está tentando segurar o outro. Logo vejo seguranças se aproximando corredor adentro e uma funcionária com uniforme da cozinha sair do banheiro com um celular na mão, já começo a me sentir de saco cheio de toda essa cena, estou morrendo de raiva, vergonha e confusão. Tenho que sair daqui, meu mundo acaba de desabar a minha frente e eu preciso ir embora daqui. Quando começo a me afastar rapidamente uma mão me segura. Viro-me e Leila me olha sorrindo escancaradamente.

— Está fugindo coelhinha medrosa? – Pergunta-me com audácia. Sinto meu sangue ferver, essa miserável está procurando por briga e ela não sabe do que eu sou capaz.

— Eu nunca fujo, muito menos de uma asquerosa como você! – Falo com raiva. Mas a piranha gargalha alto e me responde.

— Pois deveria fugir mesmo, afinal agora sabe que eu e seu marido temos um caso. Aliás um caso de anos, muito mais longo e importante que esse casamentosinho de vocês. Ele gosta de mim de verdade, você não significa nada para ele. É só uma deslumbrada, até bonitinha com essa carinha de idiota! – Fala com desdém e passa os dedos finos e gelados em meu rosto. Nesse momento meu estresse chega ao auge, sinto toda a adrenalina possível correr por minhas veias, meu corpo esquenta e em segundos os impulsos me fazem agir por só enxergar tudo vermelho a minha frente. Sou como um toro brabo na arena, estou sedenta por sangue e sangue de vadia! Sorrio meneando a cabeça para o lado e minha mão se fecha para dar um murro com toda minha força em seu rosto, Leila cai e eu me sento em cima de sua barriga dando um tapa em sua face, a mesma começa a chorar e gritar alto se debatendo. Seu lábio sangra e sua bochecha já está levemente inchada e vermelha, dou outro tapa em seu rosto. Minha raiva está além do que posso controlar então reparo que todos a nossa volta pararam e nos encaram. Inclusive dois seguranças vêm em nossa direção, possivelmente para me deter mas eu me levanto sozinha e começo a falar ao mesmo tempo em que exibo minha mão esquerda virando minha aliança com meu enorme e ofuscante diamante para ela ver.

— Você está se sentindo muito confiante não é?! Mas você não ganhou nada, absolutamente nada! Eu sou a ESPOSA, ta vendo esta aliança em minha mão? Ninguém tem como tirar ela daqui. Muito menos você! – Leila ainda deitada no chão me encara com um misto de ódio e pavor. Não quero mais ficar nesse lugar e muito menos observar a plateia ao meu redor então me viro indo rapidamente em direção à saída. Pego meu sobretudo com a moça da recepção que está atordoada pois todo restaurante já está ciente da confusão, mas mesmo assim é rápida. Chego ao lado de fora do Le Petit e respiro fundo olhando o céu escuro de NY coloco as mãos na cabeça, minha respiração está acelerada. Há tanta adrenalina correndo por meu corpo que seria capaz de ganhar uma maratona, não sei o que fazer agora ou para onde ir. Sinto-me perdida, nervosa, triste e com uma raiva mortal. Sorrio um pouco por ter pelo menos dado uma surra naquela desclassificada, falei até mesmo que ninguém pode desfazer meu casamento, foi para esfregar na cara daquela nojenta é claro. Mas não deixa de ser verdade, ninguém pode separar eu e Christian. Pelo menos não no papel já que para nos divorciarmos precisamos ter filhos o que eu sei que nunca será possível. Começo a caminhar um pouco pela calçada, tento acalmar minha respiração e assim sigo alguns minutos até perceber que um lindo Jaguar conhecido começar a me acompanhar lado a lado devagar. Resolvo parar, encaro o carro com as mãos na cintura, o veiculo para e a janela traseira se abre.

— Venha Anastácia, entre no carro. – Christian me diz autoritário.

— Você não manda em mim e não vou a lugar nenhum com você! – Digo bem alto e volto a andar agora mais rápido. Logo percebo Christian correndo atrás de mim, pelo visto deu uma de 007 e pulou do carro em movimento. Puxa-me pelo braço me fazendo parar. – Me larga! – Grito com ele tentando me libertar.

— Eu não vou te largar, você é minha esposa e vai comigo para casa agora! – Diz também exaltado, vejo seu lábio machucado pelo soco que levou. Está vermelho, levemente inchado e um pouco sujo de sangue. Mas não sinto pena, afinal ele estava me traindo e ao amigo dele também.

— Agora eu sou sua esposa?! Na hora ou nas horas de me trair aposto que isso não teve a menor importância! – Digo com raiva.

— Anastácia eu não te trai! Não importa o que você pensa que viu, vamos para casa para conversar com calma. – Diz abaixando o tom de voz aos poucos. Mas já tomei minha decisão e sei muito bem o que farei.

— Eu vou para o Escala sim. Mas por favor, não dirija nenhuma palavra a mim ou me toque até chegarmos lá. – O encaro tão seriamente que Christian solta o meu braço. Entramos no carro já parado ao nosso lado na calçada e seguimos com uma tensão tão grande que uma faca cortaria o ar que paira dentro do carro. Ao chegar à sala já no apartamento eu começo o meu comunicado. – Estou indo embora Christian e não ouse vir atrás de mim. – Depois de falar em alto e bom som sem encara-lo sigo para o quarto onde no closet começo a arrumar as peças de roupa mais simples que possuo no momento em uma bolsa de couro marrom de viagem.

— Para onde você vai Anastácia? – Ouço Christian perguntar sério atrás de mim.

— Não te interessa. Esse casamento estava fadado ao fracasso desde o começo mesmo, eu nunca deveria ter confiado em você! – Digo pegando uma blusa de moletom de um dos armários e voltando para me agachar frente à mala novamente.

— Eu não fiz o que você está pensando. E acho que merecia ao menos um voto de confiança seu! – Fala num tom amargurado. Viro-me para encara-lo pela primeira vez já sentindo um nó em minha garganta.

— Por que eu deveria confiar em você? Eu nunca pude confiar em ninguém mesmo! E muito menos deveria acreditar nos responsáveis pela tragédia da minha família. – Sinto um peso e uma dor muito grande ao dizer essas palavras, acho que estava fugindo delas desde que decidi me render a proposta de Christian da tentativa de um casamento verdadeiro. O mesmo me encara com olhos arregalados, parece surpreso.

— O que?! – Pergunta incrédulo.

— Isso mesmo, seu pai foi responsável pela morte do meu pai! Mas eu achei que você poderia ser diferente, já que não foi sua culpa. Preferi acreditar que esse circo poderia ser real, que algo de bom poderia existir em minha vida finalmente! – Minha voz está totalmente embargada, seguro com força o moletom o apertando. Christian agitado passa as mãos nos cabelos e franze os olhos me encarando.

— Você está ficando maluca?! Meu pai nunca faria isso, ele nunca mataria alguém. Até porque ele gostava muito do seu pai! – Cospe as palavras com raiva.

— Eu não quero ouvir mais nada! É claro que você vai defender aquele monstro! E é por isso que nunca poderia dar certo. Eu vou embora agora e nunca mais vamos nos ver! Tem que haver um jeito desse maldito divorcio poder ser realizado! – Digo sentindo meus olhos arderem, me viro para colocar o moletom na mala.

— É engraçado como você acusa, julga e condena alguém sem provas ou ter certeza de nada. Eu poderia ter feito o mesmo com você, ou melhor eu posso fazer isso agora que sei toda a verdade sobre você! – Suas palavras são como laminas que me atingem uma por uma, sinto que meu coração pode sair pela boca a qualquer momento. Viro-me o encarando, ele me fuzila com os olhos. – Você mentiu para mim todo esse tempo, escondeu tudo sobre a sua vida e ainda se acha no direito de me agredir assim, de não confiar em mim ou dizer tantos absurdos. – Percebo sofrimento na forma como ele fala comigo, seus olhos estão vermelhos, sinto-me terrível como nunca em minha vida. Respiro fundo.

— Eu não queria... – É só o que consigo dizer antes de minhas lágrimas desabarem, um soluço escapa de minha boca e passo as mãos rapidamente em meu rosto. – Eu não podia dizer nada, eu precisava do dinheiro... – Mais um soluço. – Eu sinto muito. – Cubro minha boca com uma mão e choro um pouco baixinho. Vejo Christian querer se aproximar mas dou alguns passos para longe dele. Então algo vem a minha mente, será que ele sempre soube?! Estava me enganando mais ainda todo esse tempo?! – Há quanto tempo você sabe? – Pergunto séria em meio ainda a algumas lagrimas.

— Que diferença isso faz agora?! – Seu semblante e sua voz estão totalmente conturbados.

— Toda, ao menos mereço saber se tudo foi mentira. – Digo sem forças.

— Eu é que preciso saber até quando você iria esconder a sua vida toda de mim! – Fala com um pouco de fúria dessa vez, suas mãos gesticulam e se aproxima rapidamente de mim. Suas mãos estão segurando meus braços com força, seus dedos apertam minha carne. Olhamos-nos olhos.

— Eu não tinha coragem, eu não sabia nem por onde começar. Eu não queria ver sua expressão quando eu dissesse que não posso te dar filhos. – Falo vagarosamente, lagrimas rolam por minha face e um soluço encerra minha frase. Os olhos de Christian parecem que vão saltar para fora das orbitas. Me larga devagar e passa as mãos no rosto indo para longe de mim. De repente se vira e me encara com os pulsos cerrados.

— Então é isso não é?! Seu maldito avô armou tudo. Por isso a exigência do contrato era somente essa. – Faz uma pequena pausa inalando o ar e prossegue com visível dor e cansaço. – Eu sinto muito Anastácia, você está livre. – Ao dizer essas palavras sai do closet, de forma que sinto um enorme vazio me consumir por dentro. Fico confusa com a expressão dele, com suas palavras foi como se ele não soubesse desse detalhe. Sinto meu coração dilacerado, choro com tanta intensidade que caio de joelhos. Minhas mãos seguram minha face e tenho certeza de que nunca senti dor igual. Tenho vontade de gritar e quebrar tudo, bato as mãos no chão em busca de tentar aplacar essa dor de alguma forma, porém no fundo eu sei que não vai ser fácil assim. E eu tenho que ser forte mais uma vez, respiro várias vezes lentamente, seco minhas lágrimas e pego uma bolsa colocando minha carteira e meu celular. Pego a mala do chão e vou rumo à porta de saída. Olho para trás e sinto como se uma agulha enorme entrasse em meu peito lentamente, nunca pensei que seria tão difícil deixar essa vida com Christian para trás, justo porque antes era o que eu mais queria quando entrei nesse casamento. Desço o elevador pensando nos últimos dias, nessas semanas de casados como tudo mudou tão rápido. Pego um táxi em frente ao Escala pedindo para ser levada ao aeroporto e é como se tivesse deixando parte de mim também para trás, aqui nesse dia o mundo mais feliz que já vivi se desfaz.


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Notas finais do capítulo

Gente confesso que chorei um pouquinho escrevendo esse cap...
Enfim espero muitos comentários !!! Por falar nisso estou amando os coments, tanta gente já se tornando frequente. Me deixa feliz demaaaais !
Logo mais tem cap novo chegando! Uma linda semana para tds !
Beijinhuuss ;*



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