Novas direções escrita por Aurora Vermelha


Capítulo 2
Saudade do passado e medo do futuro


Notas iniciais do capítulo

Olá galera! Me desculpem pelo horário que estou postando, mas só consegui tempo agora. Espero que curtam esse capítulo.



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Assim que cheguei no quarto troquei de roupa para a festa. Não sabia muito bem o que vestir, então peguei um vestido preto e coloquei uma jaqueta jeans caso fizesse frio lá fora. Joguei todas as minhas roupas em cima da cama fazendo uma bagunça enorme. Coloquei dois brincos de argola pequena e soltei o cabelo. Estava simples, porém bem mais bonita do que estava no jantar.

Bianca entrou no quarto e bateu palmas para o meu visual. Minhas bochechas coraram e eu agradeci um pouco sem graça.

—Vai ter um mega trabalho para arrumar essas roupas depois –Sorriu enquanto tirava umas roupas minhas de cima do meu travesseiro para que ela pudesse sentar. –Mas então, qual a sua meta da noite? –Perguntou ansiosa.

—Meta? –Fiz cara de confusa.

—É! Vai me dizer que não achou aqueles meninos uns gatos? Para ser sincera são os mais bonitinhos daqui, os outros são no máximo arrumadinhos –Disse rindo para mim.

—Ah, não são todos comprometidos?

—Bom, eu sou tão nova aqui quanto você, mas a Yasmin me explicou algumas coisas. O Bruno e ela estão ficando sério, então nem pense em tentar algo com ele, ok?

Fiz que sim com a cabeça e ela continuou a falar:

—O Hugo é solteiro, mas nunca tentou investir em ninguém da escola. A última vez que ele se apaixonou ele quebrou a cara muito feio. É um menino bem difícil de ter algo, mas se quiser tentar... Ninguém resiste àqueles olhos dele –Riu

—Por que você não investe?

—Eu tô de olho no Lucas –Soltou um sorriso malicioso e tampou o rosto com o travesseiro –Vai me dizer que ele não é lindo?

—Ah, ele é charmoso sim –Respondi lembrando de sua fisionomia e também lembrando do clima que ficou entre ele e Mariana na mesa de jantar.

—Bom, deixa eu me arrumar aqui e separar as coisas as Yasmin –Voltou a manter o foco na festa enquanto mantinha o mesmo olhar de apaixonada que mostrou quando disse o nome do Lucas.

—Tem certeza de que vai mexer nas coisas dela?

—Ela me pediu, fica tranquila que com ela eu já aprendi a lidar.

Saí do quarto com o meu convite na ponta do pé e fui em direção ao corredor da biblioteca. Para ir até a biblioteca eu tinha que passar pelo corredor de vidro, que tinha um inspetor sentado em uma cadeira quase pegando no sono. Pensei em dar meia volta, mas quando me virei, me deparei com uma pessoa que não deveria estar ali.

—Ai Jesus! –Quase gritei ao ver a imagem de um menino no corredor das garotas.

—Cala a boca –Colocou o dedo na boca e olhou em volta –Desculpa, não posso ser pego aqui.

—Tira o dedo da minha boca –Me debati e ele deu um passo pra trás.

—Não sabia que você era tão esquentadinha assim.

Finalmente vi seu rosto com clareza e percebi que estava falando com ninguém mais, ninguém menos que o Hugo.

—Você me assustou –Disse cochichando. –O que faz aqui?

—Fui entregar os últimos convites. Umas meninas não foram aparecer no jantar –Respondeu mais aliviado –Já está indo para a festa?

—Sim, não quero me atrasar.

—As coisas ainda não estão prontas, mas se quiser, pode esperar com a galera no lounge. Eu te levo lá –Sorriu para mim e segurou a minha mão indicando que me levaria para o espaço.

Sem contestar apenas sorri e o segui. Andamos pelos corredores que levariam ao salão lounge e Hugo sempre estava cumprimentando todos os que passavam na sua frente, inclusive os inspetores. Só assim me dei conta de que ainda não era a hora de dormir e que os alunos poderiam sim andar pelos corredores.

Depois de tanto andar pelos corredores, chegamos no salão. A maioria dos alunos do terceiro ano estava lá jogando sinuca ou carteado. Tinham algumas redes na varanda que já estavam ocupadas por dois casais aproveitando a vista para o jardim principal. Dois meninos estavam tocando violão e cantando músicas nacionais para deixar o lugar com uma energia agradável. Aquilo seria melhor do que qualquer festa.

Hugo entrou e todos o cumprimentaram. Logo em seguida me apresentou e alguns alunos se levantaram para falar comigo, outros, deram apenas um “oi” de longe, o que foi o caso do menino do violão. Me sentei na rodinha e me serviram um pouco de refrigerante. Conforme o tempo foi passando, o número de alunos lá foi aumentando, e só então eu percebi que não tinha nenhum aluno do segundo ano lá, apenas os do terceiro.

—Então quer dizer que você fez o seu primeiro ano em outra cidade? –Indagou uma morena que tinha um black power maravilhoso após voltar para o assunto que havia se iniciado quando eu cheguei.

—Sim, mas é pertinho de aonde eu moro –Respirei fundo e me corrigi –Quer dizer, morava.

—Ah, que isso, nós ainda moramos em nossas casas, gostamos de dizer que aqui é apenas um hotel que tem a estadia temporária –Comentou uma menina que estava jogando sinuca.

Após uma longa conversa sobre as escolas antigas, Lucas e Mariana entraram no salão de mãos dadas e Mariana com um leve sorrisinho no rosto que não conseguia esconder. Assim que ela percebeu que todos olhamos para o mais novo casal do internato, ela soltou sua mão e foi em direção ao pessoal da sinuca.

—Estou de outra –Disse se referindo a próxima partida.

Lucas riu da atitude dela e se sentou do lado de Hugo na rodinha que eu estava.

—Finalmente ficaram, ein –Hugo zoou e o pessoal da roda riu.

—Ela não queria que ninguém soubesse –Disse dando os ombros –Diz ela que quando ninguém sabe dura mais, mas agora ficou bem na cara que estamos juntos né.

—Sempre soube que vocês ficariam juntos –Deu um aperto de mão no amigo e se virou para o pessoal –Vocês nem desconfiavam, né?

Começou um burburinho de comentários sobre o novo casal. Apenas consegui concentrar meus pensamentos em Bianca, que minutos atrás havia confessado que estava afim do Lucas. Resolvi manter esse segredo para mim e ficar feliz pelo casal.

Os casais saíram da varanda e eu resolvi ir para lá para pegar um pouco de ar fresco. Fiquei observando e pensando em como a minha avó estaria naquele exato momento, se ela estava pensando em mim, ou até mesmo nos meus pais. Lembrei dos meus amigos do colégio antigo, do meu namorado que eu havia deixado para trás. Infelizmente lembrei de tudo.

Meu namoro com Thiago já estava entrando em crise quando ocorreu o acidente dos meus pais. Dias antes nós tínhamos tido uma discussão muito feia por um motivo incrivelmente ridículo. Ele não tinha me procurado nas férias de verão e toda vez que eu queria marcar de vê-lo ele tinha um compromisso. Decidi ir até a casa dele de surpresa para conversarmos, mas quando cheguei, ele estava agarrado com a sua melhor amiga (que sempre foi apaixonada por ele, inclusive, roubou um beijo dele na minha frente quando estávamos apenas com um mês de namoro) vendo filme. Resolvemos conversar e, depois de muitas lágrimas e muitos pedidos de desculpa, decidimos dar um tempo. Não iríamos jogar quase um ano de namoro fora, mas dar um tempo nele, foi quase a mesma coisa.

Na minha escola antiga eu tinha duas melhores amigas, mas assim que eu comecei a namorar com o Thiago, elas se afastaram de mim, pois diziam que eu deveria dar mais atenção para o meu namorado, o que chega a ser irônico, já que hoje em dia os amigos reclamam justamente do contrário. Nossa amizade não era mais a mesma, mas eu ainda as considerava bastante, e no dia da morte dos meus pais, elas foram as primeiras a ir até a minha casa me consolar. Larissa e Lana eram dois presentes que eu tinha ganhado do céu. Uma pena que não estavam mais comigo naquele momento.

—Posso me juntar aos seus pensamentos? –Uma voz grave ecoou pela varanda. Assim que me virei me deparei com Hugo, mais uma vez.

Ele estava incrivelmente bonito usando uma calça jeans rasgada e uma blusa vermelha colada. Seu cabelo estava bagunçado, mas não de um jeito largado, e sim, estiloso.

—Claro –Sorri para ele e o convidei para sentar na rede.

—Eu também venho aqui para refletir sobre a vida, sem contar que tem uma vista linda –Apontou para o jardim –O que está achando daqui até agora?

—Para ser sincera eu preferia estar em casa, mas já que não tenho escolha, estou fazendo o possível para gostar desse lugar.

—Todo mundo largou uma vida lá fora. É muito difícil ter que recomeçar aqui dentro. A minha sorte e de muitos que estão aqui nessa sala é que vamos sair ano que vem, mas você ainda tem mais um ano pela frente. Querendo ou não, vai ter que aprender a gostar desse lugar.

Eu não sabia que ele era tão sincero. Encarei seus olhos escolhendo palavras para contestar, mas não encontrei nenhum argumento válido, então apenas sorri e concordei com a cabeça.

—Alguma coisa já te aborreceu aqui? –Perguntou percebendo a minha expressão.

—A questão é que eu larguei a minha vida inteira e os meus problemas lá fora,

—E isso não é bom?

—O que?

—Deixar os problemas lá fora.

Parei para pensar e realmente foi um alívio deixar lá fora as discussões que eu tive com Thiago, minhas notas baixas na escola, minha preocupação com a melhor amiga dele dando em cima dele... Mas em compensação eu morria de saudade da minha avó e das minhas duas melhores amigas, que eu havia acabado de recuperar.

—Sim, mas eu também deixei meus amigos e minha família. –Meu coração apertou quando falei da minha família.

—Sei que você acabou de me conhecer e obviamente não vai desabafar comigo, mas se quiser conversar sobre isso...

—Não é uma boa hora –O cortei.

Eu simplesmente não estava com cabeça para conversar sobre aquilo e naquele momento toda a minha raiva do Thiago com a melhor amiga dele me subiu à cabeça. Toda a tristeza do último mês invadiu o meu corpo e sem conseguir segurar, ameacei a chorar. Meus olhos encheram de lágrimas.

—Entendo –Respondeu enquanto me olhava, e quando percebeu que eu ia chorar, me abraçou fortemente, como se me conhecesse há anos.

Senti em seu abraço um enorme conforte e fiquei lá, parada, sentindo seu coração bater e o meu acelerar. Naquele momento minhas lágrimas desceram e fiquei um tanto enfurecida por estar chorando dentro de um abraço de um quase desconhecido. Deixei minhas emoções de lado e me concentrei em seu abraço, que era muito caloroso e receptivo.

No fundo do salão dava para ouvir o pessoal gritando “Amassa Huguinho” “Finalmente vai sair da seca” “Nunca critiquei” entre outros termos. Revirei os olhos lembrando que eu tinha namorado e que aquele abraço não foi com segundas intenções. Era incrível como as pessoas colocavam maldade em tudo. Naquele exato momento me soltei e seu abraço e limpei as minhas lágrimas.

—Não liga para o que eles estão falando não, esse pessoal não tem senso –Disse tentando ajeitar as coisas.

—Não, tudo bem –Tentei dar um sorriso, mas não obtive muito sucesso.

—Você não está em clima de festa, não é? –Indagou já sabendo a resposta. Fiz que não com a cabeça e ele prosseguiu –Então vem, vou te levar para o seu quarto e você descansa um pouco. O dia amanhã vai ser cheio.

Segurei sua mão e saímos juntos da varanda. Os meninos e meninas começaram a zoar gritando que apoiavam o casal e que estavam felizes pela gente. Revirei os olhos e cerrei meu punho, e logo quando perceberam, acabaram com a farra.

—Galera, já deu né –Mariana interviu –Vocês ficam se metendo na vida dos outros, se eles estiverem juntos, bom para eles. Se não estiverem, vocês não têm nada com isso. Será que a ignorância de vocês não fez perceberem que a garota está com cara de choro? Ou que quando vocês tocaram nesse assunto ela revirou os olhos, mas não teve força de falar nada?

Um silêncio reinou no lugar por dois segundos e logo depois voltaram a conversar e uma das meninas soltou:

—Ah Mari, tá tomando as dores dela? Vamos falar de você e do Lucas então.

Todos voltaram a conversar e o foco da vez foi a relação dela e do Lucas. Sorri para Mariana com um tom de “obrigada” e ela sorriu de volta, entendendo o recado. Saí do salão em silêncio com o Hugo e entreguei para ele o livro azul com o convite.

—Não vou precisar disso, mas obrigada por me convidarem.

Sem palavras, ele apenas pegou o livro e continuou andando comigo. Seguimos pelos corredores, que dessa vez estavam menos movimentados e rapidamente chegamos ao meu quarto, e ele com muita cautela, passou pelo corredor com medo de ser pego.

—Bom, não posso demorar muito tempo aqui, mas espero que você fique bem –Sorriu para mim.

—Obrigada por me escutar e me trazer até aqui, e desculpa se fui grossa por não querer falar sobre isso.

—Eu entendo. Se mais para frente quiser conversar, já sabe onde me encontrar –Passou a mão pela minha bochecha limpando uma lágrima que havia escorrido no meio do caminho. –Não queremos que ninguém se sinta sozinho aqui.

Sorri como forma de despedida e entrei no meu quarto fechando a porta rapidamente. Meu coração estava extremamente acelerado e as lágrimas que eu tentei guardar durante o caminho finalmente desceram. Joguei todas as roupas que estavam em cima da minha cama no chão e me deitei pensando na noite que tive e na festa que eu iria perder. Era melhor para mim. Segundos depois a minha porta se abriu e Mariana entrou e a trancou.

—Não fala nada –Disse se ajoelhando do meu lado –Fica aí deitada. Senti que você precisava de alguém do seu lado, e como o Hugo não pode entrar, resolvi ficar aqui contigo.

Sorri para ela e senti que não estava sozinha naquele internato. Eu tinha Mariana, Priscila e Hugo. Três quase desconhecidos que em menos de 24 horas já tinham me ajudado com os meus conflitos. Sorri ao pensar neles e fechei meus olhos com um bom pensamento em mente.


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