Eu estava correndo em meio a uma floresta lutando contra o frio que parecia atravessar a minha blusa fina e cortar a minha pele. Eu não me preocupava em estar ofegante, em fazer barulho, eu só queria sair dali o mais rápido possível, antes que ele viesse atras de mim de novo. Eu corri e corri, meus pulmões e minha garganta já estavam doendo. Eu quis chorar, rezei para que alguém me encontrasse no meio daquele mato e me livrasse do frio, das noites escuras, da dor e das constantes ameaças que eu sofria.

Pude ouvir que ele estava atrás de mim, estava se aproximando. Tentei correr mais rápido, mas minhas pernas não iriam se mover.

— Volte aqui, sua cadela - Ele gritou e eu percebi que ele estava mais próximo do que eu imaginava.

De repente ele me alcançou e me puxou pelos cabelos, eu caí com força no chão e gritei de dor e desespero.

— Por favor - Eu chorei e implorei - Me desculpe. Por favor, me deixe ir embora, eu não conto nada para ninguém, por favor...

Eu continuei chorando, mas ele me puxava pelos cabelos e pelo pulso de volta para a cabana no meio do nada. Eu gritei e ele me bateu. 

Acordei com um susto enorme, estava suando frio e meu coração estava disparado. Malditas lembranças. Elas vinham como um sonho. Havia um bom tempo que eu não sonhava com essas noites terríveis.

Tentei me acalmar e fui tomar um copo da água. Olhei pela janela da cozinha e pude ver que o sol estava nascendo. Decidi sair para uma caminhada no central park. Eu sempre gostei de me exercitar e depois do sequestro eu comecei a fazer mais exercícios. Parte de mim achava que era para eu estar preparada caso algo acontecesse comigo de novo, dessa maneira eu estaria pronta para correr se precisasse. Mas outra parte de mim acreditava que fazer exercícios ajudavam o meu corpo a liberar endorfina e assim eu me sentiria melhor. De qualquer maneira, eu gostava. Me dava tempo para pensar e para me distrair.

Coloquei uma roupa, me alonguei e saí. Fui caminhando até o central park e quando cheguei comecei a correr enquanto ouvia músicas animadas do meu ipod. Era perfeito. O lugar era lindo, haviam outras pessoas correndo ali, sorriam quando passavam por mim, como se fosse um bom dia. Eu olhava as árvores, os esquilos, e os prédios que ainda eram visíveis por cima das árvores. A música estava alta em meus ouvidos e eu pude me distrair por uma hora. Depois de correr por quase todo o parque eu parei um pouco para tomar fôlego, coloquei minhas mãos nos joelhos e respirei fundo algumas vezes. Assim que decidi que já tinha fôlego o suficiente me preparei para entrar no pique, mas tropecei e dei de cara com o peitoral de alguém.

— Woah - Ouvi o som abafado pela música.

Tirei os fones de ouvido e olhei para a pessoa.

— Cameron - Meu coração bateu forte quando eu disse seu nome - Bom dia.

Bom dia? Serio mesmo, Chloe?

— Bom dia - Ele riu - Parece que já acordou com pique.

— E você também - Apontei para ele.

Ele estava usando roupas de esporte, então deduzi que estava correndo também.

— É bom - Disse ele. Então ficamos parados em silêncio por um minuto, o que me deixou um pouco desconfortável - Hey, eu conheço um café por aqui por perto e estava pensando em ir lá. Quer ir comigo?

Ir com ele? Eu demorei um pouco para responder, como se estivesse analisando a situação. Mas é claro que eu queria.

— Pode ser - Eu disse - Só preciso passar em casa para pegar a minha carteira.

— Sem problemas.

Fomos correndo até a minha casa e chegamos mais rápido do que eu imaginei. Subimos a escada do meu prédio e pude ouvir Ally xingando da porta. Cameron e eu nos entreolhamos e fomos mais rápido para ver o que estava acontecendo. Quando vi, quis xingar também.

— O que você esta fazendo aqui, Jared? - Eu fui confrontá-lo - O que você quer?

Meu ex namorado me olhou com esperança.

— Achei que você quisesse sair pra tomar um café comigo mais tarde.

— É, mais tarde. E não com você. 

— Com aquele ali? - Jared se aproximou de Cameron e estendeu a mão - Eu sou Jared,  o namorado dela.

— Ex - me meti na conversa - Ex namorado que não devia estar aqui, por sinal. Sinta-se a vontade para sair do nosso prédio.

— Tanto faz - Disse ele - Mas eu ainda te encontro, certo?

Eu apenas revirei os olhos como resposta e logo ele estava saindo.

Peguei minha carteira e puxei Cameron comigo para esse lugar que iriamos tomar café. Era um café simples, tipo starbucks, mas parecia mais legal. Pegamos nossos pedidos e fomos comer.

—Qual é a do Jared? - Cameron foi o primeiro a puxar assunto. 

—Ninguém sabe de verdade

Tomei um longo gole do meu café e junto com ele um pouco de coragem. Contei a história para Cameron, sobre a traição e sobre ele querer estar presente na minha vida. Só não falei do sequestro, imaginei que essa parte ele já sabia e eu não queria falar sobre o assunto.

— Eu achei que ele tivesse desistido - concluí - Mas parece que ele resolveu voltar.

— O que deve ser um saco.

Eu não pude evitar uma pequena risada que escapou pelos meus lábios. Jared realmente era um saco.

Cameron olhou para mim por um segundo e eu senti meu rosto ficando quente. Ordenei meu corpo para que não deixasse meu rosto ficar vermelho, mas pelo jeito ele não quis me obedecer. Olhei para os lados tentando disfarçar e nessa hora Cameron olhou para o relógio.

— Eu tenho que ir - Ele disse.

Eu me arrumei para me levantar e ele também. Andamos até a porta do café e ficamos parados ali por um segundo.

— Eu posso pegar seu telefone? - Ele disse, finalmente - Quer dizer, você é nova aqui e eu não sei se Ally iria querer levar você para os lugares que tocam rock e...

Ele se embolou nas palavras e eu respondi antes que ele se embolasse ainda mais.

— Claro.

Ele me entregou o seu celular e eu anotei o meu número nele.

— Eu te ligo, então.

Nos despedimos e fomos cada um para um lado. Eu esperava que por pouco tempo.