Dei uma última olhada para o quarto que cresci. As paredes ainda estavam pintadas de rosa e minha cama estava no lugar. Tudo parecia normal a não ser pelos posters e livros que eu tirei dali para me mudar, eles estavam todos no meu novo aparamento.

Resolvi me mudar de Ilinois e ir para Nova York quase um ano depois do acidente. Eu fui encontrada por um rapaz chamado Cameron no meio de uma estrada que ia para a grande cidade. Não me lembro muito daquele dia, assim como não me lembro de quase nada do tempo em que fiquei em cativeiro. Me contaram que eu havia sumido por três meses e apareci de repente. O homem que me sequestrou estava preso em Connecticut , bem longe de mim, longe de onde eu estava indo me mudar. Não me lembro muito, mas fiz terapia por um bom tempo, fiquei alguns meses internada em um hospital psiquiátrico, saí da minha medicação. Eu me sentia melhor, me sentia mais forte e independente. Não podia ficar mais na casa que cresci, já era hora de seguir em frente.

Lógico, meu pai não gostou muito da ideia, mas como eu estaria indo morar com Ally, minha amiga de infância que sempre foi considerada como parte da família, ele acabou concordando e eu pude finalmente tomar o rumo da minha vida, afinal eu não poderia ficar com medo da vida para sempre.

— Tudo pronto? - Meu pai gritou da porta de entrada e logo depois ouvi um carro buzinando freneticamente.

Não pude deixar de sorrir. Sabia que Ally estava impaciente, talvez até mais ansiosa do que eu para a esperada mudança. Planejávamos morar juntas e íamos fazer isso assim que saíssemos da faculdade. Mas então eu sumi e quando eu voltei eu não estava bem e tive que me recuperar. Sempre planejávamos morar em Chicago, mas ela acabou indo para Nova York e eu decidi ir com ela quando me recuperei. Já estava com vinte e três anos, era hora de me mudar e eu estava pronta. Sempre gostei de cidade grande, não teria como não gostar de Nova York.

Peguei minha bolsa e desci para encontrar meu pai e Ally. Minha amiga já estava com o cabelo bagunçado e com seus óculos de sol, meu pai estava de pijama e sorria para mim com carinho.

— Você vai ficar bem, não vai? - Ele sussurrou.

Olhei para a minha amiga e nesse momento eu soube que estaria tudo bem.

— Vou ficar bem, pai.

Ele me deu um beijo na testa.

— Tá bom, agora vai lá - Ele disse e eu sabia que estava tentando conter as lágrimas - Se precisar eu estarei aqui. Basta um telefonema e eu te busco na hora.

— Está tudo bem - Quis rir.

Me despedi e entrei no carro da minha amiga. Ela ligou o carro e fomos em direção à minha nova vida.

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— E esse é o seu quarto - Ally terminou seu tour no novo apartamento.

Eu teria o meu quarto e ela teria o dela. A maior parte das minhas coisas estavam empacotadas, menos a cama que já estava no lugar, arrumada com almofadas fofas e uma manta preta. Ela havia arrumado esse pequeno pedaço para mim como presente de mudança.

O apartamento era legal, dois quartos, um banheiro, uma cozinha e uma sala de estar. Tudo isso graças às economias que fizemos trabalhando durante toda a faculdade. Como sempre planejamos nos mudar para a cidade nós acabamos guardando quase todos os nossos salários para parar um aluguel em um apartamento decente na cidade grande. 

Ela me deixou sozinha um instante para que eu pudesse arrumar as minhas coisas e foi isso o que eu fiz. Coloquei meus posters dos Beatles, Amy Whinehouse e Marilyn Monroe na parede. Meus grandes ídolos que me protegeriam nessa jornada, gostava de pensar assim. Coloquei meus CDs e livros em uma prateleira acima da cama e fui aproveitar a vista que tinha da pequena sacada do meu quarto. Então eu ouvi um pequeno grito da sala.

Saí correndo na direção do grito com o coração batendo forte, um pânico que poderia ter evitado, pois Ally estava rindo enquanto abraçava um moço alto que mal havia conseguido entrar pela porta.

— Chloe, você tem que conhecer essa pessoa - Ela se desfez do abraço e me puxou para conhecer o estranho.

Ele era alto, tinha cabelo castanho e olhos negros. Era um rapaz atraente. 

— Eu sou Sean - Disse ele estendendo a mão - Precisava conhecer você já que Ally não parou de falar sobre você nos últimos meses.

— Eu espero que não tenha criado muitas expectativas - Sorri e cumprimentei-o com um aperto de mão.

Fiquei feliz por não ter que abraçar o estranho. Nunca gostei de muito contato físico.

— Vim também para convidar vocês para o show da minha banda no sábado a noite - Sean sorriu.

Ally bateu palminhas de agitação e felicidade.

— Você vai adorar a banda dele, Chloe - Disse minha amiga - Eles tocam todas aquelas coisas malucas que você gosta de ouvir.

Essa era a parte engraçada de Ally. Enquanto eu gostava do rock clássico, indie e algumas bandas aleatórias que o spotify me mandava, minha melhor amiga faria uma loucura para ver as estrelas pop do momento, como na vez em que cogitou mostrar os peitos para o segurança da Ariana Grande para conseguir um ingresso. Ainda bem que nunca rolou.

— Então vamos estar lá - Informei, com um sorriso.

Eu havia acabado de chegar na cidade, precisava conhecer o que havia de bom por ali, sair me faria bem, já que eu passei os últimos meses no meu quarto. Eu precisava relaxar um pouco, me permitir ficar sem medo. Até porque, o que poderia acontecer?