Obsessão escrita por Lucy Devens


Capítulo 11
Notícia




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Cheguei na frente da entrada do Zoológico do Central Park um minuto antes das nove da manhã e para a para a minha surpresa Jared já estava lá, sentado com dois cafés na mão. Ele veio sorrido até a mim, mas eu apenas me sentei em um dos bancos que estavam ali e ele se sentou ao meu lado.

— Trouxe café - Disse ele - Um descafeinado com leite de coco e essência de abóbora.

Aceitei. Peguei meu café e dei um gole. Droga, ele me conhecia bem. Aquilo era perfeito. Adorava aquelas baboseiras de outono, amava leite de coco e eu precisava de um descafeinado, pois desde o início da terapia eu evitava qualquer coisa que pudesse acelerar meu coração.

— Obrigada - Eu disse entre um gole outro - Está perfeito - Sorri, para ser um pouco amigável.

Tudo bem, eu tinha meus motivos para ter raiva dele para sempre, mas não podia negar que desde que me encontraram ele havia sido muito prestativo e me ajudado muito. Talvez tenha sido a culpa e, se fosse, pelo menos ele estava fazendo algo em vez de tentar virar o jogo e fazer com que eu me sentisse pior do que poderia me sentir.

— O que você tem para me dizer? - Olhei para ele.

Ele respirou fundo.

— Isso não vai ser fácil - Disse ele - É sobre Oliver Tunt.

Ele respirou fundo como se quisesse procurar palavras, o que me deixou ainda mais ansiosa. Tomei mais um gole do meu café, como se o calor pudesse me trazer algum tipo de conforto, mas era besteira. Mesmo sabendo que o café era descafeinado meu coração começou a acelerar só de ouvir o nome do meu sequestrador.

— Chloe - Ele disse e pegou minha mão livre - Eu estava fazendo algumas pesquisas. Você sabe que eu quero estar por dentro do seu caso e...

— Pelo amor de Deus, Jared - Não me aguentei - Desembuche de uma vez.

— Pelo que me parece, ele vai ter uma saída temporária da prisão durante o dia de ação de graças.

Meu coração começou a bater ainda mais rápido, sentia minha boca ficando seca.

— Como assim? - Foi tudo o que eu consegui dizer.

— Ele vai trabalhar em uma cozinha comunitária para ganhar pontos com o juiz e quem sabe sair mais cedo da prisão.

Aquilo era demais para mim. Sentia minhas mãos tremendo, o calor se espalhava pelo meu corpo, meus casacos estavam me sufocando. Eu me levantei de repente e acabei derrubando todo o meu café no chão. Lágrimas começavam a sair dos meus olhos, meu coração estava ainda mais acelerado, minha boca estava seca, sentia uma bola se formando em minha garganta, eu não conseguia respirar.

— Chloe - Jared dizia ao fundo.

Eu dei alguns passos em direção à grade que estava à minha frente e me apoiei nela. Comecei a tirar meus casacos na esperança de que eu pudesse respirar melhor, mas aquilo não estava ajudando.

— Eu não consigo respirar - Sussurrei e escorreguei pela grade até ficar sentada no chão com as costas apoiadas nela.

Meu corpo todo tremia, eu tentava desesperadamente puxar ar, mas não tinha sucesso, meu coração disparou. Algumas pessoas que estavam passando começaram a olhar para mim. Eu queria pedir que chamassem uma ambulância, qualquer coisa.

Jared se ajoelhou na minha frente, pegou minha mão e colocou no seu peito.

— Chloe - Ele me chamava e dizia coisas que eu não entendia.

— Eu vou morrer - Eu disse entre as lufadas de ar, sentia minha visão ficar turva - Eu vou morrer.

— Preste atenção em mim - Ele apertou minha mão contra seu peito- Imite a minha respiração. Você não vai morrer.

Tentei imitá-lo, mas ele respirava fundo e aquilo parecia impossível. Ele olhava no fundo dos meus olhos e eu olhava para ele do mesmo jeito, vendo que ele estava calmo e tentando me convencer de que estava tudo bem. Aos poucos eu conseguia respirar melhor. Demorei alguns minutos até que conseguisse respirar fundo pelo menos uma vez.

Havia um grupo de pessoas à nossa volta me observando, mas eu tentei não ligar para isso. Apenas me concentrei na respiração de Jared e na minha. Aos poucos fui conseguindo respirar melhor até que meu coração não estivesse tão acelerado. Sentia minha boca seca e minhas mãos tremendo, mas estava melhor do que antes, como se aqueles fossem sintomas causados pelo excesso de adrenalina que começou a diminuir no meu corpo.

— Está tudo bem - Ele dizia e eu conseguia compreendê-lo com mais clareza- Nada vai te machucar.

Aproveitei que estava sentada e fiquei li mais um pouco até que eu me sentisse melhor.

— Estou bem - Disse para as pessoas que me olhavam.

— Quer que eu chame uma ambulância, moça? - Disse uma mulher que passeava com o cachorro.

— Não precisa - Eu fiz o máximo de esforço para sorrir, mesmo que algumas lágrimas ainda estivessem molhando meu rosto - Obrigada.

Tentei não olhar para as pessoas. De repente me lembrei da festa de halloween com Cameron, onde todas as pessoas olhavam para mim. Era a mesma sensação, a curiosidade das pessoas e seus olhos buscando respostas que eu não queria dar.

— Ela vai ficar bem - Jared assegurou para as pessoas que ainda estavam ali.

Fiz que sim com a cabeça e esperei até que todos seguissem com suas vidas. Essa era a vantagem de uma cidade grande como Nova York, pelo menos as pessoas tinham vidas ocupadas o suficientes para não me lotarem de perguntas.

Jared me estendeu a mão e me ajudou a ficar de pé. Eu me arrumei de novo, colocando os meus casacos. Minhas mãos ainda tremiam um pouco.

— Quer um calmante? - Perguntou ele - Eu tenho um diazepam aqui.

Olhei confusa para ele.

— Por que tem diazepam com você?

Ele respirou fundo.

— Eu guardei desse último ano. Lembro que era a única coisa que te deixava mais calma quando...

Ele não terminou a frase. Eu sabia o que vinha em seguida. Era quando eu havia voltado e meu pai estava cogitando me internar, pois eu passava noites sem dormir e durante o dia qualquer barulho alto me causava grande pânico. Jared foi responsável por ficar com a minha medicação para que eu não causasse nenhum acidente a mim mesma, depois de uma overdose acidental. Eu queria apagar todas aquelas memórias. Queria seguir em frente e esquecer todo o trauma. Queria esquecer que eu tive que acordar em um hospital com uma sonda em no meu nariz sem ao menos ter ideia do motivo de estar ali.

— Vou tomar um - Eu disse.

Ele pegou o potinho laranja que tinha o meu nome no rótulo e me deu um comprimido. Eu o engoli a seco.

— O que vai acontecer com Oliver Tunt? - Perguntei logo em seguida.

— Ele vai trabalhar em uma cozinha comunitária na quinta feira de ação de graças e parece que na sexta feira ele vai poder visitar a família.

Eu não pude deixar de soltar um sorriso sarcástico.

Família. Como um homem daqueles poderia ter uma família? Como uma mãe olharia para um filho como Oliver e ficaria em paz sabendo de tudo o que ele fez? Eu confesso que havia fantasiado ir até a prisão e cuspir verdades na cara dele, mas eu não tinha coragem, além disso todos me alertaram que era uma má ideia.

— Ele não vai muito além de Connecticut, certo? - Perguntei.

— Acho que não - Ele respondeu - Ele vai estar com uma tornozeleira eletrônica sendo monitorado pela polícia, então eu acho que vai ficar tudo bem - Jared parou na minha frente e colocou as mãos sobre os meus ombros - Eu imaginei que você fosse descobrir mais cedo ou mais tarde pelas notícias, então eu resolvi te avisar - Ele olhava no fundo dos meus olhos e eu não desviava, pensei que o remédio deve ter começado a fazer efeito, pois eu já me sentia mais leve - Eu não vou deixar que nada aconteça com você.

Apesar de tudo, aquilo era reconfortante. Eu podia não confiar mais em Jared para um relacionamento e poderia ficar lambendo essa ferida para sempre, mas eu sabia que para algumas coisas eu podia contar com ele. Meu pai confiava nele e até Ally, que o achava desprezível, era grata pela ajuda que ele soube me dar e ela não conseguia dar conta.

— Obrigada, Jared - Eu disse com a voz baixa.

— Você está bem? Quer que eu te leve para casa?

Fiz que sim com a cabeça. Haviam alguns meses que eu não tomava uma medicação forte e sentir o efeito dela fez com que eu ficasse mole. Fomos andando até a minha casa. Ele me acompanhou todo o caminho, inclusive até o meu quarto. Ally estava trabalhando, então não haveria drama.

Jared me ajudou a tirar os casacos grandes e os sapatos, depois me ajudou a ficar na cama e me cobriu.

— Quer que eu fique? - Ele olhava para mim com um carinho que eu desejei que não existisse.

— Não precisa, Jared. Eu estou bem, de verdade.

— Tudo bem, então - Ele se levantou - Qualquer coisa, é só me ligar.

Eu sorri e agradeci. Assim que ele fechou a porta do meu quarto eu peguei no sono. Mesmo medicada, os sonhos não me davam tempo para descansar.


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Notas finais do capítulo

Notas? Ideias? Duvidas? Adoraria saber se estão gostando da história :)



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