Obsessão escrita por Lucy Devens


Capítulo 10
Para trás




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Junto com o Halloween vem a obsessão por abóboras, coisa que eu nunca entendi direito, mas gostava de aproveitar os cafés caros e as tortas com bastante chantilly. E junto com tanta comida, vinham também algumas tradições familiares. Naquele ano, decidi que iria ficar em Nova York e meu pai iria vir até a cidade comemorar o dia de ação de graças, que ainda estava um tanto longe, mas ele já seguia animado mesmo assim e eu estava animada também. Isso me inspirou para tentar algumas receitas de família na cozinha, quem sabe eu não teria sucesso esse ano com a famosa torta de maçã da minha tia avó.

Eu estava procurando dicas de receitas do laptop quando meu celular tocou. Eu olhei o indicador de chamada e ignorei, me perguntando quando Jared iria superar de fato o nosso término. Mas eu sabia que ele não iria largar o osso. Não podia negar que essa perseverança era um dos motivos pelos quais fizeram com que eu me apaixonasse por ele naquela época. Na terceira vez que ele me ligou eu atendi com impaciência.

— Será que cair infinitamente na caixa postal não te dá algum tipo de recado que eu não quero papo com você? - Falei de cara.

Um silêncio na linha por alguns segundos. Eu respirei fundo, um tanto arrependida de ter falado com ele daquele jeito.

— Eu juro que não ligaria se não fosse importante - Disse ele - E, sim, eu entendi o seu recado. Você tem me ignorado bastante, por sinal.

— O que você quer? - Eu já estava cansada disso.

— Chloe, eu tenho algumas notícias sobre o seu caso.

— Que notícias, Jared? - Perguntei, enfatizando meu cansaço.

— É sobre Oliver Tunt - Senti dedos gelados apertando meu coração. Oliver Tunt, o homem que me sequestrou. Demorei um tempo para receber e interpretar a notícia - É melhor nos encontrarmos, por favor.

— Tudo bem - Disse por fim - Depois de amanhã, no zoológico do Central Park.

Desliguei o telefone sem dar tchau. Não sabia quais seriam as notícias e nem sabia ao certo se eu deveria descobrir. Eu queria ir ate Jared naquele instante e exigir que ele me contasse tudo, mas se fosse algo sobre Oliver Tunt eu precisaria me preparar emocionalmente para qualquer que fosse o impacto.

Tamborilei os dedos sobre a mesa, olhando para o meu computador, tentada a pesquisar mais coisas sobre o meu caso. Minha psicóloga, a Dra. Aires, havia me recomendado evitar esse tipo de conteúdo para evitar possíveis gatilhos, mas eu podia sentir meus dedos formigando.

Resolvi usar essa vontade para outra coisa. Eu ainda tinha um assunto para resolver comigo mesma. Peguei o telefone e fiz uma ligação.

— Hey, Chloe - Cameron parecia animado do outro lado da linha.

— Vai fazer algo hoje a noite? - Fui direta, sendo tomada pela ansiedade.

— Hm... - Ele parecia estar pensando - Depende. O que você vai fazer hoje a noite?

Abaixei a tela do meu laptop.

— Pensei em passar na sua casa mais tarde - Ainda mais assertiva. Até parecia a Chloe do passado.

— Tudo bem, quer que eu te busque?

— Não precisa, eu te encontro lá - Respondi.

— Okay - Eu sabia que ele estava sorrindo do outro lado da linha e acabei sorrindo também - Às oito?

— Parece ótimo.

Desliguei o telefone e fui como um tornado até o quarto de Ally.

— Emergência - Eu disse abrindo a porta rapidamente.

Minha amiga levou um susto tão grande que quase caiu da cama.

— Deusa amada, Chloe! - Minha amiga gritou - Privacidade? E se eu estivesse fazendo alguma coisa sozinha aqui?

Fiz uma careta, tentando não imaginar aquilo.

— Eu tenho até as sete e meia para ficar perfeita.

— Você já é perfeita, meu bem - Ela sorriu e foi até o armário dela.

— Perfeita para o Cameron.

Minha amiga fechou o armário e olhou para mim com os olhos arregalados e um projeto de sorriso no rosto.

— Finalmente! - Ela veio até a mim e me puxou para o banheiro

 

 

 

 

Sete e quarenta e cinco. Depois algumas horas me arrumando, tomando banho, passando cremes e perfume, ajeitando o cabelo, escolhendo um conjunto de peças íntimas e uma roupa que me valorizasse bastante, segundo minha amiga, eu estava pronta. E toda aquela transformação fez com que eu me sentisse realmente pronta. A última vez que alguém tocou minha pele foi naquele maldito sequestro e a última vez que eu me embolava nos lençóis com alguem havia tanto tempo que eu mal conseguia me lembrar. Eu tinha alguns problemas em relação à isso, mas era hora de deixar isso tudo para trás.

Peguei meu telefone e abri o mapa. O google me dizia que eram só dez minutos andando até o apartamento de Cameron.

— Vou nessa - Anunciei - Amanhã te conto.

— Boa garota - Minha amiga disse, com brilho nos olhos.

Eu sabia que ela estava feliz por mim.

O frio da cidade era bom, o vento deixava meus cabelos gelados e a ponta do meu nariz também. Eu poderia ter optado por um táxi, mas não dessa vez. Era cedo ainda, haviam muitas pessoas na rua e eu estava em um lugar seguro, poxa vida. Não iria deixar o medo me vencer, a curiosidade me dominar, a ansiedade me romper. Cada passo dado era um sentimento de empoderamento. Até que eu cheguei na casa de Cameron dois minutos antes do combinado. Bati na porta e ele me atendeu prontamente.

— Que mulher pontual - Ele atendeu com um sorriso no rosto.

— Não se acostume com isso - Brinquei, com um fundo de verdade. Eu quase nunca era pontual. Na verdade eu estava quase sempre atrasada.

— Entre - Disse ele.

Eu entrei e tirei o casaco. Por baixo dele eu estava usando uma regata de seda fina, a renda do meu sutiã preto aparecia um pouco e eu esperava que ele pudesse notar e isso fosse ter algum tipo de impacto nele.

Cameron pegou meu casaco e pendurou-o perto da porta, logo me guiou dentro do apartamento. Era um apartamento menor do que o meu e de Ally, com uma sala, cozinha americana, o quarto e o banheiro. Era simples, mas a decoração era encantadora. Ele tinha uma estante cheia de livros, CDs e discos de vinil.

— Eu comprei um vinho- Disse ele - Ally me disse que você gosta de vinho tinto.

— Seco - Complementei e logo me arrependi por medo de parecer presunçosa.

— Então Ally estava certa.

Ele foi até a cozinha e trouxe a garrafa e duas taças, enquanto eu me sentava no sofá que ficava ao centro da sala. Me surpreendi. Ele não tinha cara de quem tinha taças de vinho em casa. Na verdade, ele tinha cara de quem bebia cerveja direto da garrafa, como eu já havia visto.

— Comprei essas taças hoje - Ele confessou e eu não pude deixar de sorrir - Não sei nada sobre vinhos, mas sei que não seria legal tomar em um copo de bar.

— Se eu não te conhecesse, diria que está tentando me impressionar.

— Está dando certo? - Ele se sentou ao meu lado, mas ficou de frente para mim e me olhou para mim com um ar de curiosidade e um tom engraçado.

Eu fiz que sim com a cabeça, contendo um riso. Ele nos serviu o vinho e eu logo tomei um gole.

— Eu só não tive tempo de cozinhar, então pensei que podíamos pedir alguma coisa.

— Não sei você, mas por enquanto eu não estou com muita fome - Confessei - Na verdade eu queria conversar com você.

Ele se ajeitou no sofá.

— Sobre o que quer conversar, Chloe?

Respirei fundo e pousei a taça sobre a mesa de centro.

— O dia que você acabou dormindo em casa... - Comecei e dei uma pausa, procurando as palavras certas, até eu perceber que não existiam palavras certas e que eu deveria apenas falar - Naquele dia eu tive um pesadelo sobre o meu sequestro. Sonhei com algo que aconteceu.

Ele ainda me olhava e acenava com a cabeça, como se esperasse que eu pudesse prosseguir, então eu o fiz.

— As vezes eu acordo confusa depois de um pesadelo desses, acordo sem saber onde eu estou, com medo de que eu possa estar lá, ou simplesmente acordo com essa sensação...

Respirei fundo, tentando relaxar.

— Eu percebi que você teve pesadelos - Ele disse. - Antes de eu pegar no sono, você parecia estar mal, então eu te abracei e você ficou mais tranquila. Foi assim que eu acabei dormindo lá, na verdade - Ele confessou e tomou mais um gole de vinho.

— Desculpe ter te agarrado naquela noite - Eu disse - Eu estava convencida de que só conseguiria me soltar de verdade se estivesse bebendo, mas na verdade não. Não era isso, eu precisava te mostrar algo.

Sem mais delongas eu tirei a minha blusa e fiquei de sutiã na frente dele. Ele claramente não esperava aquilo, mas eu já. Eu já tinha me preparado.

— Ele me machucou algumas vezes enquanto eu estava naquela cabana- Me aproximei dele e peguei a sua mão livre e passei pelos pontos do meu corpo que haviam sido machucados e tinham cicatrizes - Ele me queimou com cigarros e me arranhou. Eu não queria que você sentisse repulsa de mim.

Ele largou a taça dele e pegou na minha mão.

— E naquela manhã - Eu continuei, me esforçando ao máximo para não deixar a minha voz falhar -, eu havia sonhado com a primeira vez que ele me queimou e quando eu acordei eu estava assustada como no dia que você me tirou da estrada.

Um minuto de silêncio. Uma mão de Cameron ainda segurava a minha e eu a apertava com força, mas ele não parecia se importar. Os dedos da outra mão dele passaram de leve pelos meus seios, pelas minhas costelas e pela minha barriga, pegando todos os pontos visíveis de marcas.

— Eu jamais poderia sentir repulsa de você - Ele disse finalmente - Você é a pessoa mais forte que eu conheço, é a mulher mais linda que eu já vi.

Aproximei meu rosto dele e beijei-o de leve. Ele continuou me beijando e eu puxei-o para cima de mim, queria que ele me possuísse por completo.

— Não precisa esperar mais - Eu sussurrei entre beijos.

Ele sorriu, então me levantou e continuou me beijando, seus lábios desceram até o meu pescoço, até o colo do meu peito e fazendo o caminho de volta até os meus lábios. Com um só movimento ele me pegou no colo, minhas pernas se enlaçaram em volta de sua cintura e ele me carregou até o quarto, me beijando o tempo todo.

Era como se meu corpo estivesse quente e frio ao mesmo tempo, uma onda de sensações boas se espalhava por todo lugar, cada beijo que Cameron me dava, cada espaço que seus lábios tocavam me traziam uma sensação indescritível. Caímos na cama e pela primeira vez em muito tempo eu me senti livre.


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