Hearts Of Sapphire escrita por Emmy Alden


Capítulo 6
¨f i v e¨


Notas iniciais do capítulo

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Kallien tinha acabado de se vestir novamente enquanto a menina prendia o cabelo em um coque simples mas habilidoso.

O rapaz apenas passou uma das mãos no vidro embaçado da janela para notar que o céu já anoitecia do lado de fora.

Os jovens estavam dentro do minúsculo depósito recém reformado que Corinna e o pai apelidaram carinhosamente de Estúdio. Pai e filha passaram a usá-lo efetivamente para guardar alguns dos equipamentos de caça e achados interessantes; também possuíam tintas, telas e pincéis velhos. Possuíam até mesmo alguns instrumentos musicais quebrados que eles prometiam consertar um dia.

Um dia.

Há alguns meses, o Estúdio havia se tornado também o novo ponto de encontro entre a garota e Kallien. Compartilhando minutos roubados juntos, atendendo os prazeres físicos por algumas horas.

Nunca um olhar muito significativo, nunca um carinho que parecesse íntimo demais, nunca palavras que não poderiam retirar depois. Apenas sons primitivos e movimentos quase desesperados. Esse era o acordo tácito entre eles.

Pelo menos, Corinna achou que era. Torceu para que fosse.

A menina levantou o olhar apenas para encontrar o rapaz a observando.

De alguma forma, ambos sabiam que aquilo — o que quer que fosse que estivesse entre os dois— estava chegando ao fim. Embora tão rapidamente que o garoto sentia aquilo o sufocando de dentro para fora.

Corinna captou tudo aquilo no seu olhar. E em todos os olhares que ele lançou para ela naquela tarde.

Se alguém aparecesse e observasse aquela cena, acharia que os dois estavam imersos em algum jogo de encarar um ao outro.

Ela foi a primeira a desviar o olhar enquanto ele se aproximava de onde a menina estava.

Kallien pegou seu rosto entre as suas mãos e ergueu suavemente fazendo com que Corinna olhasse em seus olhos de novo. O rapaz se inclinou para que suas testas se encontrassem e a jovem se preparou.

—Eu não consigo.— ela conseguia ver cada detalhe de seus olhos cor de mel tão vivos que pareciam acesos e que poderiam iluminar todo aquele pequeno espaço onde estavam.

A garota se conteve para não imitar seu gesto e pôr as mãos em seu rosto quando perguntou:

—O que houve?

Tinha uma ideia do que seria, mas ela não tinha mais o que dizer.

E pareceu que ela escolhera a coisa errada porque o amigo se afastou com uma certa rispidez e andou de um lado para o outro como se perturbado.

—Eu não consigo, Corinna.— ele repetiu.—Eu...não quero acabar com isso.

O garoto gesticulou entre os dois.

Isso? Não estamos acabando com nada, Kall.Vamos continuar próximos. Ainda seremos amigos, afinal de contas.— ele ainda andava pelo espaço— Sabíamos que esse dia
chegaria mais cedo ou mais tarde.
Silêncio.

—Parece que isso não te afeta nem um pouco. — sua voz estava mais séria do que a menina jamais ouvira.
—E isso afeta você?— Corinna perguntou se arrependendo imediatamente das palavras assim que elas saíram de sua boca. No mesmo instante em que ele a olhou com incredulidade estampada no rosto.

Ela havia sido maldosa com ele. Era lógico que aquilo afetava a jovem, mas não da mesma maneira que acontecia com Kallien. Não o suficiente.

Corinna sabia que ele estava prestes a despejar todos os seus sentimentos sobre ela e, depois de tantos anos, não poderia deixar aquilo acontecer. No momento que aquelas
palavras saíssem de sua boca, eles entrariam numa situação pior do que a que já estavam.

— Você sabe que eu estou certa.—ela disse baixinho sem olhá-lo. O rapaz soltou o ar pelo nariz.
— Certa?— a garota poderia sentir o sangue dele esquentar.

A voz de Kallien ecoou no local e, no próximo instante, ele tinha percorrido o espaço que separava os dois.

E a beijou. Furiosamente.
Apesar de seus esforços para se afastar, Kallien era mais forte.

Tão rápido quanto ele avançara, ele se afastou. Foi quase como se os últimos segundos nunca tivessem acontecido.

— Isso é certo, Corinna. Isso é o que deveríamos fazer pelo resto de nossas vidas. No particular, em público, onde quiséssemos. E você quer dizer que todos esses anos foram banais? Que todos os olhares que você me lançou e eu te lancei foram apenas com objetivo carnal?

— Kallien, eu nunca...
— Eu...- a voz dele agora não passava de um sussurro.— Eu não chego nem perto de ser o suficiente para você?

— Kallien, você não precisa ser o suficiente para ninguém, muito menos para mim.— os olhos da menina ardiam — Você não imagina o quanto eu queria que déssemos certo juntos.

— Você nem ao menos tentou, Corinna.— a umidade nos olhos de Kallien quebrou algo dentro da jovem.— Você quer o amor, mas nunca se deu o trabalho de tentar me amar... Eu me casaria com você ainda que você não me amasse, se você ao menos me deixasse tentar. Eu te daria o mundo ou pelo menos tudo que estivesse ao meu alcance, ainda que você não me pedisse.

A menina precisava fazer com que ele entendesse.

— E é por isso que nunca daríamos certo! Eu nunca seria feliz sabendo que nunca poderia corresponder à altura. Logo, você perceberia que também não seria feliz com as migalhas que eu pudesse te dar. Eu não quero carregar um fardo desses, desculpe.

Kallien abriu e fechou a boca junto com os punhos e andou em direção à porta:
— Seu desejo de autossuficiência não vai te fazer nenhum bem. Nunca pensei que ouviria palavras tão egoístas saírem da sua boca.— o rapaz declarou , sua voz fazendo um esforço para se fazer audível.

— Nunca pensei que acabaríamos dessa forma, mas aqui estamos nós.— Corinna levou a mão até a parte de trás do pescoço e abriu o fecho do colar jogando-o no peito de Kallien.

A garota se sentiu instantaneamente vazia sem o objeto, como se uma parte essencial dela tivesse sido lançada com ele, mas se manteve firme.

— Seria ainda mais egoísta ficar com algo de um homem prometido.

Corinna pôde ver — na verdade, sentir— a mágoa que emanava dos olhos do rapaz antes que ele saísse e batesse a porta com força.

  ❖  

Inquietude.

Tudo no corpo de Corinna expressava inquietude.

Ela esperou alguns minutos depois que Kallien foi embora. Os segundos se alternavam em esperar —desejar— que ele voltasse e decidir se iria atrás do rapaz.

Nenhum dos dois aconteceu.

E quanto mais minutos se passavam desde o momento que ele batera a porta e partiu, mais inquieto o corpo de Corinna se tornava.

Começou com um estalar de dedos, então um roer de unhas, então andar de um lado a outro...

Algo estava errado, mas ela não sabia o quse fazer.

Era quase como se seu próprio corpo estivesse punindo-a pela briga com seu melhor amigo.

Pelos Céus, até respirar estava se tornando um martírio.

Corinna caminhou em direção ao casebre ofegante. Seu pai ainda não tinha voltado do centro e não teve ninguém que presenciasse o momento em que ela apenas pôs os pés dentro de casa e desabou —no sentido mais grosseiro da palavra— no sofá surrado e inflexível.

A garota não teve tempo de se preocupar com a dor enquanto suas pálpebras pesavam e selavam seus olhos por algumas horas.

Um grito agonizante. Um vento frio a envolvendo. Seu cheiro favorito no mundo inteiro. Uma descarga de uma sensação desconhecida passando por seu corpo. Íris decoradas com anéis coloridos. Verdes, azuis, dourados, pretos. Preto. Preto.

As pupilas da moça não estavam dilatadas, era apenas a junção do anel... Preto. Preto. Suas pupilas pareciam estar sempre um pouco mais dilatadas que o normal.

Sempre era como um rolo de filme passando em velocidade acelerada.

Então parou.

Posso começar?— a voz de Marjorie soou ansiosa.

Então seus dedos estavam de cada lado da cabeça da menina. Contudo, o enfoque não era nas lembranças vasculhadas pela deorum, era a sensação. Aquela força sobrenatural que invadia sua mente e seus sentidos arrancando informações sem cuidado. De maneira desleixada. Tão familiar e tão estrangeira.

Arrancando. Arrancando.

O olhar no rosto de Kallien quando o colar que ele lhe dera fora arrancado e jogado contra ele.

Arrancando. Arrancando. Queimando no coração de Corinna.

Não no coração.

Mais em cima.

Em cima.

EM CIMA.

 

O lençol estava ensopado e ainda assim conseguia se grudar à pele de Corinna.

Sua mão tateou o busto enquanto a menina respirava profundamente.

Um bilhete próximo ao seu pé continha a caligrafia do seu pai.

Dia difícil na Audição? Encontrei você dormindo tão pacificamente que não quis atrapalhar.

Vejo você amanhã, pequena.

Corinna quase riu. Aquele momento apagada não teve nada de pacífico.

O relógio velho na parede marcava duas horas da manhã.

A garota ainda soava frio e seus movimentos estava lentos quando ela subiu as escadas estreitas para o seu quarto. Ela não se deu o trabalho de acender as lamparinas do pequeno cômodo, apenas sentou-se na cama e analisou a escuridão em volta tentando organizar os pensamentos.

Algo raspou a extremidade da janela do local e atravessou para o interior.

Seus pés, infelizmente, foram mais rápidos que seu cérebro e a menina ainda amaldiçoava a tontura que lhe atingiu quando ela alcançou o embrulho que aterrissou no seu chão.

Corinna esticou-se para olhar na janela tentando achar o remetente, mas Kallien já estava a alguns metros longe do casebre. Apenas sua sombra era distinguível sob o capuz escuro que servia de camuflagem após o toque de recolher.

Ela abriu o embrulho sentando-se ao parapeito da janela.

O presente de Kallien brilhou intensamente ao encontrar a iluminação da lua e a menina sentiu um conforto peculiar por segurar novamente o objeto em suas mãos. O embalagem acompanhava um pequeno bilhete amassado.

Aceite o colar de volta. Não suportaria vê-lo em alguém que não fosse você.

Desculpe-me por hoje cedo, você estava certa, simplesmente pelo fato de nunca ter me prometido nada

que soubesse que não poderia me dar. Não deveria ter cobrado nada.

Confundi quem estava sendo o verdadeiro egoísta da história e não poderia dormir se ainda estivéssemos brigados.

Prometemos isso um ao outro.

—K.

A respiração aliviada de Corinna ecoou por todo o quarto. O peso que havia se instalado em seu peito, agora sumia aos poucos. Kallien era uma das pessoas com quem a moça mais se importava no mundo.

Tateando o fecho do colar na iluminação precária, ela caminhou até sua cama. O sono a reivindicando no momento em que o acessório se ajustou em seu pescoço.

Não houve sonhos daquela vez. 

 

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Notas finais do capítulo

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