Dez anos depois...

Emily P.O.V

Acordei naquela manhã, mas não abri meus olhos. Fiquei deitada sobre seu peito, escutando com atenção sua respiração, aproveitando o som da chuva que caia violentamente lá fora. Nunca iria me cansar dele, sabia desde o nosso primeiro beijo que seria desta forma. Abri meus olhos lentamente, o quarto estava parcialmente claro, mas não havia sol lá fora, estava nublado e chovendo bastante.

 Sebastian respirava de forma serena, ambos ainda estávamos nus, e eu aproveitei para admirar seu corpo belíssimo um pouco, deixei uma de minhas mãos passearem livremente sobre seu peitoral definido. Não sei exatamente quanto tempo fiquei assim, mas fui surpreendida quando ele nos rodopiou ficando com seu corpo sobre o meu.

Sua respiração batendo levemente sobre meu rosto, seu corpo quente que nos permitia em um dia frio como este, utilizarmos somente um fino lençol, tudo nele era perfeito para mim.

— Está querendo aprontar Emy? – perguntou malicioso.

— Não sei do que está falando. – retruquei me fingindo de inocente.

— Você gosta de brincar com fogo não é mesmo... – ele diz e sinto uma de suas mãos acariciando uma de minhas coxas.

Iniciamos um beijo ardente, e estávamos prestes a dar continuidade à brincadeira da noite anterior.

— Mãe? Pai? – uma voz tímida nos chamou do lado de fora.

Olhamos um para o outro e sorri ao ver sua cara de frustração. Desvencilhei-me de suas mãos, coloquei meu roupão e fui abrir a porta.

— Que foi querido? – me agachei olhando bem em seus olhinhos.

— Posso deitar com vocês um pouco? – ele perguntou timidamente.

— Já é hora de levantar carinha. – Sebastian disse passando por mim e erguendo o pequeno no colo.

— Café da manhã? – perguntei aos dois.

— Hoje nós preparamos. – Sebastian respondeu, dando-me um beijo.

Sorri ao ver os dois descendo juntos à escada em direção a cozinha, logo fui para o banheiro tomar um banho, era a única forma de despertar em um fim de semana chuvoso e convidativo para ficar na cama.

 Patrick tinha apenas quatro anos, mas sua semelhança com Sebastian era insuportável. Não pensei que eu poderia amar alguém mais do que meu marido, mas há quatro anos a experiência de ser mãe me mostrou que não há nada mais precioso que meu filho e nossa família.

Ainda me lembro do pedido de casamento.

Flash Back On

Era a semana do meu aniversário e tudo que eu queria era ficar em casa e passar um tempo tranqüilo com minha família e amigos. Mas Mia como sempre estava aprontando, via ela e Sebastian cochichando nos corredores, eu me sentia incomodada, mais por ciúmes de tudo o que ela havia representado para ele um dia, de que pelo fato de estarem omitindo algo de mim.

 No intervalo os dois não apareceram no almoço, somente Adam, que parecia ter sido escalado para me vigiar nos últimos dias estava ali.

— Você está bem? – Adam perguntou com um tom de voz preocupado.

Levantei meu olhar da comida e encarei seus olhos, ele parecia nervoso, era obvio que não tinha prática em esconder segredos.

— Pode-me dizer onde sua noiva e meu namorado estão? – perguntei não tentando demonstrar minha impaciência.

— Resolvendo algumas coisas do colégio... – Adam começou a mentir.

— Pode parar! – o repreendi, Adam me olhou constrangido, como se pedisse desculpas – Já é a terceira vez está semana! – digo indignada.

— Eu não sou uma companhia tão ruim assim não é Emy? – Adam perguntou, sufocando um sorriso, estava me provocando.

— Séria melhor se me contasse o que os dois andam aprontando para sábado! – entrei na brincadeira.

— Sábado? – Adam me perguntou desconcertado.

— Não se finja de bobo, meu aniversário. – digo novamente impaciente.

— Emy... – ele começou a tentar me enrolar.

— Nem comece a me enrolar, quero que me diga a verdade. – intimei-o.

— Olha tudo que posso dizer é que estão preparando uma surpresa, não é uma festa, então pode ficar tranqüila. – ele disse e me encarou. Sabia que não me diria mais nada, então resolvi não insistir.

— Ok. – conclui.

— Que tal nos vingar hoje à tarde? – ele me perguntou de repente.

— Como?

— Vamos sair, e ignorar os dois. – Adam disse animado.

— Não sei se é uma boa idéia, você não é a pessoa favorita de Sebastian... - comecei, mas ele me interrompeu.

— Está com medo de perder seu namoradinho? – perguntou. Aquele tom provocador, aquele comportamento não era nada típico de Adam, desconfiei.

— Por que está insistindo nisso? Você está agindo esquisito. – digo encarando-o.

— Sou péssimo em tentar te enganar, você é esperta. – Adam diz, soltando um suspiro cansado. – Mia quer que eu te deixe bem zangada com ela e Sebastian, para valorizar a surpresa entende?

— Sabia que tinha alguma coisa, porque não disse logo? – questionei vitoriosa por ter lhe arrancado uma verdade finalmente.

— Porque queria fazer a surpresa dar certo. – ele disse cabisbaixo. Fiquei com pena de Adam, ele não tinha habilidade para isso de enganar e no fundo eu admirava essa característica.

— Não se preocupe, eu vou fingir estar chateada, afinal falta apenas dois dias para meu aniversário. – digo, arrancando-lhe um sorriso de alivio.

— Obrigado!

— Com uma condição é claro. – olhei seu sorriso se desmanchar com prazer.

— Já imaginava o que vai ser? – ele perguntou derrotado.

— Quero deixar os dois amiguinhos – digo me referindo a Mia e Sebastian – com ciúmes. – digo e rio com seu olhar de horror.

— Por quê? – Adam perguntou obviamente incomodado com a proposta.

— Porque é exatamente o que ando sentindo com os dois grudados o tempo todo. E você também está ou estou errada? – pergunto.

— Eu sei que estão fazendo isso por você... – ele começou – mesmo assim, me incomodo um pouco. – ele confessou.

— Ótimo, então estamos combinados então? – digo vitoriosa, erguendo minha mão para ele.

— Somente esse dois dias e sem contato físico. – ele respondeu apertando minha mão.

— Obrigada!

Flash Back Off

Sorri com minhas lembranças, na época fui muito imatura, mas não posso culpar ninguém alem do próprio Sebastian por me fazer me comportar como uma mulher louca de ciúmes.

Obviamente meu plano não deu muito certo...

Flash Back On

Era sexta feira à noite e Sebastian apareceu de surpresa no fim do meu expediente, para me buscar. Enquanto me aproximava do carro, senti seu olhar gelado sobre mim. Ele abriu a porta do carona, sem nem me cumprimentar e ficou me esperando entrar. Olhei para ele intrigada, mas decidi entrar no jogo e tratá-lo da mesma forma, afinal eu tinha bem mais motivos para estar chateada.

Foi uma viagem silenciosa até minha casa, o silêncio desconfortável me incomodava. Sebastian parou a porta de casa e desligou o carro. Após alguns minutos de silêncio se virou para mim.

— O que você pretende com o Adam? – perguntou em um tom falsamente tranqüilo, mas podia sentir seu incomodo.

— Não sei o que quer dizer. – retruco em um tom ofendido.

— Não se faça de boba, vocês estão colados, ontem ele estava até jantando no seu trabalho. – ele me pressionou.

Tentei sufocar meu sorriso com aquela lembrança, Adam apareceu de surpresa e ficou super constrangido ao perceber o olhar de Sebastian sobre nos do estacionamento. Obviamente nos ignoramos sua presença ali e fui embora com Adam no fim da noite, fingindo não notar a presença do meu namorado.

— Somos amigos apenas, ele alias está me saindo melhor do que você e minha prima. – retruco com ferocidade.

— O que você quer dizer... – Sebastian começou, mas deixou sua voz morrer no meio do caminho, então começou a rir, minha boca se abriu de choque com sua reação, consegui me recuperar e sai do carro me sentindo indignada.

Ele rapidamente veio atrás de mim e segurou meu braço com força, obrigando-me a virar para encará-lo.

— O problema era ciúmes? – ele perguntou, tentando conter o sorriso.

— Não. – menti, mas ele continuou a olhar bem no fundo dos meus olhos. – Sim- admiti.

— Emy, eu não tenho olhos para mais ninguém e você sabe disto. – ele disse, como se isto fosse à constatação do obvio.

— Pode até ser, mas vamos combinar que você grudado no ex-amor da sua vida, mesmo que provavelmente tenha a ver com meu aniversário, não é motivo para que eu dê pulos de alegria. – retruquei, respirando fundo na tentativa de me acalmar.

 Ele me encarou pensativo, ao invés de me responder, me puxou pelo braço de volta para seu carro.

— O que pensa que está fazendo? – perguntei desnorteada.

— Vou te mostrar no que eu e sua prima estamos trabalhando. – ele respondeu.

Foi uma viagem silenciosa, Sebastian tamborilava os dedos de forma impaciente no volante, evitando me olhar. Mesmo no escuro aos poucos fui reconhecendo o caminho. Quando ele finalmente parou o carro, reconheci a cabana na qual eu e Sebastian demos nosso primeiro beijo.

— O que estamos fazendo aqui? – perguntei. Ele não me respondeu, ao invés disto desceu rapidamente do veículo e abriu a porta para que eu o acompanhasse. Ele segurou minha mão com firmeza e começou a me guiar no escuro em direção à porta principal.

— Era pra te fazer uma surpresa amanhã, mas como já é quase meia noite, vou te dar seu primeiro presente de aniversário. – ele diz, entregando-me as chaves.

Havia algo diferente em seu olhar, um brilho desconhecido, que fez minha expectativa sobre o haveria ali aumentar. Abri a porta com um pouco de dificuldade e tateei com uma de minhas mãos na parede em busca do interruptor. Quando finalmente o apertei, um espetáculo se abriu há minha frente.

Repleta de vasos com rosas vermelhas e brancas, a nossa cabana parecia cheia de vida. Eram tantas flores que não poderia contar, só imaginava o tamanho do trabalho que tiveram para preparar isto ali para mim. Bem no meio, onde havia uma mesa de jantar, no chão havia pétalas vermelhas que formavam um coração, bem no meio uma pequena caixinha. Meu coração pulsou em imaginar o que era, mas meu cérebro não quis acreditar, sem saber como, minhas pernas conseguiram caminhar até lá. Abaixei-me e segurei a caixinha em minhas mãos, quando abri lá estava uma aliança, com um pequeno diamante no meio, a pedra em formato de coração. As lágrimas que nem imaginava estarem ali, despencaram por meus olhos, me virei, mas Sebastian não estava mais ao lado do batente da porta. Ele agora estava ajoelhado bem á minha frente.

— O que... Como?... Você?... – eu tentei falar, mas parecia ter me esquecido como se formavam frases de tão desnorteada que estava.

— Emily, você é teimosa, birrenta e bem cabeça dura às vezes. – ele começou e estreitei meus olhos – Mas tudo isto só mostra o quanto somos parecidos. Você nunca poderia imaginar que eu fosse capaz disto tudo e sinceramente nem eu mesmo pensasse que fosse possível. Enfim, para mim está claro que você modificou não apenas meu comportamento, como meu interior e me sinto feliz ao seu lado. Não quero ficar nem mais um dia longe de você. Mesmo nos momentos em que você é um doce, ou nos momentos em que está zangada. Eu te amo Emily. Quer se casar comigo?

Flash Back Off

Aquele dia, aquele exato momento, nunca iria me esquecer. Terminei de colocar minhas roupas e desci as escadas seguindo as risadas.

Patrick se divertia com o grande lobo que corria ao seu encalço pelo quintal, ainda não havia sol, mas a chuva havia parado. Ao me ver ele veio em minha direção e eu estendi meus braços para segurá-lo.

— Olha mamãe, estamos brincando. – ele diz apontando para o lobo.

— Você não tem medo de lobos? – pergunto divertida, escutando um rosnado baixo de Sebastian demonstrando sua frustração com a pergunta.

— Não do papai.- ele diz confiante me fazendo sorrir.

— Eu também não. – retruco encarando-o.

Ali com os dois homens da minha vida, tenho certeza de que nunca mais terei nada há temer.