Mia P.O.V

— Pode parar de encarar ela, está me incomodando. – Lia me repreendeu carinhosamente. – Qual o problema afinal? –perguntou.

— Emily está estranha. – respondo sem deixar de encará-la do outro do refeitório enquanto servia seu almoço.

— Como assim Mia? – Lia perguntou seguindo meu olhar.

— Não sei bem. Está mais reservada, sinto como se não estivesse me contando algo. – respondi.

— Não seria porque você esconde um segredo dela e está paranóica por isso?! Eu sempre fico assim quando faço uma nova amiga e não posso contar tudo sobre mim e minha família a ela. – Lia retrucou. Pensei um pouco sobre o que ela havia acabado de dizer e sabia que tinha razão.

— Pode ser. – digo vagamente.

Emily se aproxima da mesa e encerramos o assunto.

Emily P.O.V

Decidi ir embora mais cedo do colégio, era óbvio que havia assuntos na nova vida de Mia que não me incluíam. Toda vez que me aproximava dela quando estava com seus novos amigos, percebia a súbita mudança de assunto que acontecia e isso estava me aborrecendo.

Estava quase alcançando o portão principal quando senti um toque quente em meu braço, instintivamente puxei meu braço de forma brusca e me virei para mandar para o inferno quem quer que fosse.

— Calma! Calma! Estou em missão de paz! – Sebastian desculpou-se de sua forma sarcástica costumeira, com os braços levantados em forma de rendição.

— Não gosto que me toquem. – digo a fim de dar uma explicação, não que devesse algo do tipo a ele. Antes que ele tenha tempo de responder, me viro e continuo a caminhar.

Podia sentir sua presença, era obvio que estava me seguindo. Virei-me e o encarei irritada. Ele exibia um sorriso zombeteiro, parecia estar realmente testando minha paciência.

— O que você quer? – perguntei, cruzando meus braços diante do peito. Ele me encarou pensativo por um momento.

— Nada. Só estou apreciando a Emily com raiva. – ele respondeu sorrindo novamente.

— Como sabe que estou com raiva? – Pergunto irônica. Se até ele tivesse notado, Mia também o teria feito e isso era ótimo queria mesmo que ela se sentisse culpada por estar sendo uma melhor amiga horrível.

— Não é muito difícil notar. – ele disse e com seu dedo indicador tocou minha testa enrugada.

Bufei e voltei a caminhar, agora lado a lado com Sebastian, ambos em silencio.

Desde o episódio em que observamos o cometa juntos, eu e ele mantínhamos uma aproximação que não sabia direito como classificar. Obviamente não éramos amigos, pelo menos não do tipo íntimos, mas também não o odiava, pelo menos não todo o tempo.

— Vai me contar em que está pensando? – ele perguntou e seu tom de voz esquisito me fez encará-lo. Sebastian parecia realmente incomodado, não entende o porquê disso.

— Porque te interessa? – retruco em um tom mais ameno.

— Vamos! Você sempre me deixa intrigado, nunca sei em que esta pensando ou o que vai fazer a seguir. – ele diz aborrecido, fazendo biquinho.

Neste momento ele parece um garotinho chateado, tão infantil. Reviro os olhos e rio da situação.

— Não tem nada haver com você Sebastian, não se preocupe. – digo, esperando que isso seja o suficiente para fazê-lo desistir.

— Não me respondeu. – ele insiste.

Não sei como explicar o que se passava em minha mente, eu estava me sentindo deixada de lado por Mia, mas no fundo sabia que ela não tinha obrigação de ficar grudada em mim 24 horas. Esse estúpido vazio deixado por minha mãe fazia com que eu me sentisse de fora. Não conseguia me aproximar muito de ninguém, ou melhor, não queria fazer isso. Remoendo todos esses pensamentos revelo o menos confuso para ele.

— Estou com problemas em me adaptar, colégio novo, pessoas novas... – digo olhando para o chão há nossa frente.

— Não sei por que, esta aqui há quase dois meses e tem mais amigos do que eu. – ele diz. Rimos juntos deste fato, ele realmente tinha pouquíssimos amigos ali, mas essa não parecia ser sua prioridade.

— Porque você quer. – retruco.

— Eu sou mal, não te contaram minha fama? – ele pergunta insolente, com um sorriso malicioso, sinto seu olhar me avaliando.

Sabia muito bem da fama, as meninas comentavam sobre ele toda vez que o viam. Sempre metido em brigas, magoando todas as garotas com que ficava nunca se apegava. E claro, eu também havia descoberto sobre como parecia interessado em minha prima nos últimos meses, mesmo ela estando comprometida com Adam.

— Não acredito em tudo que ouço por ai. – respondo.

Quando nos aproximamos de minha casa, viro-me para despedir-me dele e sou surpreendida com sua súbita aproximação. Encaramos-nos por um momento breve e ele diz:

— Pois deveria. –Ele da uma piscadela e vai embora.

Observo-o se afastando, não sabia qual era a dele, mas eu estava curiosa para descobrir, esse pensamento me fez sorrir.

Eu sempre gostava do que era mais difícil, sempre...

Adam P.O.V

— Aconteceu alguma coisa? – pergunto a ela.

Mia esteve muito quieta o dia todo, no jantar com minha família ela havia dito poucas palavras, era obvio que algo a perturbava e isso me deixava incomodado.

— Por que pergunta? – ela questionou.

— Você esta muito quieta hoje. – respondo, com os olhos na estrada.

— Nada demais, só cansada. – ela disse pensativa.

Mantivemos-nos em silêncio até chegarmos a sua casa. Desci e abri educadamente a porta do carro para que ela descesse.

— Tem certeza? – insisto.

— Sei lá, ta um clima estranho entre mim e a Emy. – ela responde pensativa, olhando para casa em busca da amiga.

— Porque não pergunta diretamente pra ela? – pergunto, segurando sua mão enquanto caminhamos para a porta principal.

— Acho que já sei a resposta. Não posso dar o que ela quer. – Mia se lamenta.

— E o que seria? – retruco.

— A verdade. – ela responde e me encara.

Demorei um pouco para entender, mas sabia que era eu que estava estragando a amizade das duas.

— Você acha que ela esta desconfiada? – pergunto.

— Ela sabe que não estamos contando tudo, eu não sei esconder as coisas muito bem dela, é muito perceptiva. – Mia responde.

Paramos juntos da entrada, sob a luz da varanda encaro seu belíssimo rosto, noto as olheiras, o vinco em sua testa, essa Mia preocupada estava ofuscando a Mia descontraída que eu tanto venerava.

— Se você confia nela, não vejo porque não contar. – digo confiante.

Mia faz uma expressão confusa, mas assim que compreende seu rosto se ilumina, ela me abraça.

— Sério? – ela pergunta o rosto afundado em meu peito.

— Se for para que você fique bem... – digo, envolvendo sua cintura com meus braços.

— Mas ela não vai acreditar, vai me achar louca. – ela afasta seu rosto um pouco para me encarar.

— Eu posso provar se quiser. – retruco com um sorriso malicioso. Ela me da um safanão e rimos juntos.

Provar não seria difícil, mas a reação de Emily poderia ser bizarra, desde desmaiar, vomitar ou talvez se afastar de tudo que seja relacionado ao meu mundo. Mas esse pensamento, de que talvez Mia perdesse sua amiga para sempre, eu guardei apenas para mim.

Sebastian P.O.V

Eu não poderia estar mais abismado com a presença de Adam ali, bem na minha casa, nunca ninguém vinha ali, ainda mais pela fama de meu pai.

— Desculpe a hora, podemos conversar? – ele perguntou sério. Era obvio que estar ali o deixava incomodado, afinal era o “território inimigo”, a rixa entre nossos pais já durava anos.

— Algum problema com a Mia? – pergunto alarmado. Vejo um vinco enorme se formar em sua testa.

— Não, ela esta bem. – ele respondeu irritado. Meu interesse em sua namorada o afetava muito ainda, mal sabia ele como as coisas haviam mudado para mim.

— Então entre, vamos conversar lá dentro, se tiver coragem claro. – digo irônico, dando espaço para que ele entre em minha casa.

Seguimos em direção ao meu quarto, era estranho ter alguém ali, ainda mais Adam, ele parecia deslocado, sentou-se na cadeira próxima ao meu computador e ficou reparando em meu quarto, eu sentei-me na cama e o encarei.

— Quarto legal. – elogiou apontando meus pôsteres na parede.

— O único lugar por aqui que tem minha cara. – respondo sincero. – Então, o que te traz aqui? – pergunto, estava realmente curioso por sua inesperada visita.

— Bom, a Mia sente que esta perdendo Emily e está muito preocupada com isso. – Adam diz. Ao ouvir o nome de Emily ele ganha totalmente minha atenção.

— Perdendo? Como assim? – pergunto sem entender aonde ele quer chegar.

— Ela está escondendo nosso segredo da melhor amiga. Emily é esperta o suficiente para perceber, Mia acha que isso pode estar atrapalhando sua adaptação por aqui, ela teme que ela vá embora. – Adam responde.

Ele não me parece preocupado, pelo menos não com Emily, ele está pensando somente em Mia e em como ela irá se sentir culpada se algo do tipo acontecer.

— E o que eu tenho haver com isso? – pergunto irritado com seu egoísmo.

— Bom, eu já vi vocês juntos, quero dizer, você e a Emily... – olho-o indignado – foi por acaso, eu juro, mas a questão é que ela parece sentir se a vontade com você. – ele diz.

— E? – questiono.

— Acho melhor que seja você a contar para ela. – Adam diz de uma vez.

Típico de o bom moço empurrar a pior parte para mim, se tivesse me pedido há algumas semanas atrás eu o faria sem titubear, mas me sentia estranhamente ansioso ao pensar na reação de Emily a me ver em minha forma natural.

— Acha mesmo que será melhor que eu faça isto? Não terei tanto “tato” quanto você. – digo meia verdade, tentando disfarçar meu incomodo com aquela situação.

— Sim. Eu vejo as coisas Sebastian, mesmo você pensando em mim como um idiota. – ele respondeu serio. Que coisas ele vê afinal? Estava confuso.

— Só aceito sob uma condição. – digo barganhando. 

— Já imaginava isto. – ele retruca.

— Mia deve me pedir. – digo sério.

Adam faz uma cara assustadora, parece estar prestes a ter um ataque. Seguro minha expressão séria, quando na verdade quero rir dele.

— Por que ela? – ele questiona, controlando o tom de sua voz.

— Por que é o que eu quero. – respondo.

Adam levanta-se e caminha em direção a janela, solta um profundo suspiro e se vira para mim.

— Vou falar com ela, não garanto nada. – ele disse já se encaminhando para a porta.

— Adam? – chamo-o antes que o perca de vista. Ele para junto ao batente, mas não se vira para me encarar. – Ela deve vir sozinha. – ordeno, ele suspira novamente e vai embora sem nada me responder.

Queria ser eu a contar para Emily, esconder isto dela também a afastava de mim. Mas tinha que aproveitar a situação, descobrir o que realmente sentia por Mia se era apenas atração, vontade de ter o que é difícil, uma competição com Adam ou algo real.

Agora bastava esperar.