Knock on My Door and Kiss Me While You're At It escrita por KenmaGoesBlep


Capítulo 1
knock knock ;; capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!!! Bem-vindos à minha primeira fanfic postada, que não é minha primeira fanfic EVER, mas isso não importa de fato KLHGADSLKHGALKDHSKLGDS
Faz mtmtmtmtmt tempo que eu não escrevo uma nota de capítulo, acho que desde setembro do ano passado, pra ser sincera. Ai ai... o bloqueio criativo... Enfim! Mesmo bloqueada, eu consegui terminar essa fanfic bem à tempo do aniversário da rina, que é exatamente hoje! Não deu tempo de postar exatamente à meia-noite, tho, porque eu sou uma nitpicking motherfucker que não consegue parar de revisar :'''''')
A história, em geral, tem um tom leve, mas com alguns tópicos sensíveis abordados, por isso coloquei que tem um pouquinho de angst, mas não é o foco da oneshot. Ela é pra deixar feliz e contente, ou, pelo menos, tentei que fosse assim!!!! Caso queira, aqui está a playlist que ouvi durante todo o processo de escrita dessa fanfic: https://www.youtube.com/playlist?list=PLiSXdnMRsq3HI8sRrDkcr89sqv2tgQfck . Quem sabe, isso não dê outro gosto à ela.
Eu espero que gostem e, se vocês gostaram, compartilhem com os amiguinhos que shippam kagehina!!! ou, sl, deixa um comentário!!! do what you want, pal! E, se vocês conhecerem a rina, vão no twitter dela dar parabéns pra ela, também!!!!!!!!!!!!!
Quem quiser falar comigo, pode me mandar mensagem privada ou entrar em contato pelo twitter, que é @kenmagoesblep.



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 Shouyou sempre soube que não tinha interesse nas meninas, ao menos, não da mesma forma que os outros garotos. Ele ainda conseguia admirar a beleza delas e se sentir nervoso ao falar com alguma, mas não sabia o que era querer chamar a atenção delas, querer tocá-las, beijá-las, ou desejar se envolver romanticamente. Talvez porque, sendo bem honesto, romance o repelia — parecia muito complicado e emocionalmente estressante, além de que, estando no clube de vôlei e participando de torneios (como pretendia fazer), provavelmente nem teria tempo para se dedicar à outra pessoa. Mas, em algum momento, acabou percebendo que estava olhando para as pessoas erradas aquele tempo todo.

“O Kageyama fica bonito de uniforme”

Foi durante uma partida amistosa com outro colégio que começou a pensar no assunto. Aquilo passou por sua mente quando olhou para o dito colega de time, que estava para receber a bola e levantá-la, muito provavelmente para que Shouyou cortasse, pelo olhar que ele lhe lançara. Então, começou sua corrida em direção à rede, jogando os braços para trás, e pulou, mas, antes que de fato cortasse a bola, o real significado de seu pensamento pesou nele. Espera… o quê?! A confusão mental o fez parar totalmente de se mover no meio do salto, batendo na rede e caindo para trás, enquanto a bola voava para fora da quadra, para a surpresa de ambos os times e a fúria do levantador, que deu passos pesados em sua direção, olhando-o intensamente.

— Hinata, o que ‘cê ‘tá fazendo, seu idiota?! — Kageyama perguntou com óbvia irritação, puxando-o pelo braço e praticamente colocando-o em pé.

— Foi mal! — sua voz saiu um pouco mais aguda por causa do desespero, sentindo seu rosto flamejando de constrangimento, sem conseguir olhar o colega nos olhos enquanto voltava a equilibrar-se em seus pés. — Eu estava… Eu não… — tentou, mas não conseguiu dar uma explicação. A verdade jamais poderia ser dita, e era um péssimo mentiroso.

— Bate na bola da próxima vez. — Foi a última coisa que Kageyama disse antes de voltar à sua posição.

Nada mais foi dito sobre seu erro e conseguiu marcar vários pontos para compensar aquele que perdeu, mas Shouyou ainda se sentia estranho. O pensamento ficou em sua mente durante toda a partida, voltando toda vez que olhava para o colega, e foi com ele para sua casa.

Daquele dia em diante, não se sentiu mais da mesma forma perto do Kageyama, além de vê-lo de uma forma levemente diferente. Ele ainda o considerava um amigo, um bom colega de time, e alguém que admirava (embora jamais fosse admitir essa última parte), mas agora estava prestando mais atenção a outros aspectos dele além de suas habilidades no vôlei.

Percebeu que os olhos dele eram azuis, além de serem sua parte do corpo mais expressiva, fazendo-se entender melhor assim do que com palavras; que seu cabelo estava sempre arrumado e tinha um cheiro bom e refrescante que podia sentir sempre que cochichava algo em seu ouvido; que, apesar de serem difíceis de ver, ele conseguia sorrir sem ser medonho, e vê-lo sorrir o contagiava; que suas mãos não tinham calos e seus dedos eram longos, bons para lidar com a bola... e a lista apenas prosseguia. Ele era estupidamente, frustrantemente bonito. Mas é normal, não? Reparar na beleza dos outros garotos. Já olhara para outros e pensara em coisas parecidas.

A parte que deixava o menor realmente incomodado era o que sentia logo depois de reparar em ditas coisas: vontade de tocá-lo, que sempre vinha do nada. Queria saber qual seria a sensação de correr seus dedos pelo cabelo dele, colocar seu dedo na pequena covinha que aparecia em seu rosto quando sorria, descobrir qual seria a sensação de segurar a mão dele. E, mesmo quando não eram esses desejos estranhos, seus pensamentos giravam ao redor dele (quando não estava pensando em vôlei, é claro). O que ele estaria fazendo? Qual era sua cor favorita? Sua comida favorita? Ou a sua blusa favorita? O que ele gostava de fazer quando estava em casa? Sabia tão pouco dele, apesar dos meses de convivência e do tanto que já conversaram… Tudo aquilo fazia seu coração bater forte no peito e algo borbulhar dentro dele. De onde vinham aquelas vontades, aquelas perguntas? O que estava acontecendo consigo?

Só soube dizer o que o afligia um dia, quando estavam almoçando e admirava Kageyama enquanto ele comia, e, enquanto observava o formato da sua boca, pensou sobre qual seria a sensação de beijá-lo.

“Ah. Eu gosto dele.”

O esclarecimento lhe trouxe, inicialmente, alívio e um pequeno sorriso ao seu rosto, todas as suas perguntas sendo respondidas. Agora tudo fazia sentido! As vontades e pensamentos esquisitos, a admiração e observação, o jeito que seu coração se acelerava quando trocavam olhares… Era por isso. Ele não estava ficando doido, ou com algum problema cardíaco, ele só estava apaixonado.

Uau, apaixonado. Aquela era uma palavra que não pensava ou usava todos os dias.

De todas as pessoas por quem poderia se apaixonar, tinha de ser Kageyama Tobio. Rival jurado, rude, denso, estúpido, assustador, com péssimas habilidades de comunicação. Uma pessoa assim conseguiu forçar a porta figurativa do seu coração e entrar, fazendo-o se sentir ‘gwaaaah!’ por dentro quando olhava para ele ou simplesmente estava por perto, seu coração bater tão forte que parecia que ia explodir e encher seu estômago de borboletas. Aquilo era tão estúpido.  

— Por que 'cê 'tá me encarando? — Kageyama olhou-o apertando os olhos, enrugando o nariz, como se estivesse comprando briga.

— P-Porque!!! — seu rosto ficou num tom de vermelho vivo em um segundo quando foi pego encarando, mexendo as mãos nervosamente enquanto tentava pensar numa justificativa — Você está com comida na sua cara há um tempão! Não percebeu?!

— Ah. — sua expressão se suavizou depois disso, pondo-se a limpar toda a área ao redor da boca com a barra da manga do uniforme. Ainda bem que ele acreditou na justificativa, porque, se tivesse de articular mais, provavelmente diria algo que não deveria e aumentaria o buraco embaixo dele.

O almoço prosseguiu tranquilamente depois daquele breve diálogo, tendo trocado palavras apenas para insultar um ao outro por qualquer motivo ou para falar de vôlei e coisas da aula, até que o intervalo terminou e cada um foi para sua sala. Entretanto, a satisfação que teve em descobrir o que estava sentindo foi lentamente sendo trocada por insegurança, até que, durante o treino depois das aulas, ela chegasse a um ápice, trazendo várias dúvidas — muito sérias, inclusive.

Shouyou não via problemas em gostar de alguém, era uma emoção nova e positiva, mas estava gostando de outro garoto, de um colega de time. Aquilo era normal? Não era errado? Podia ter aqueles sentimentos? Ele normalmente não sentia aquele tipo de coisa, mas de repente fora tomado por um nervosismo e um medo incomuns, e não sabia o que fazer a respeito. Como obteria respostas para aquelas perguntas? Não sabia se poderia fazê-las em voz alta, nem para as pessoas que mais confiava, pois não sabia qual seria a reação delas. Será que o julgariam muito? Será que sentiriam desgosto?

E o Kageyama? Como reagiria se soubesse?

Este pensamento o aterrorizara, quase tanto quanto a memória da vez que acertara-lhe um saque na cabeça. A rejeição dele, com certeza, doeria mais do que a de qualquer outra pessoa, além de que colocaria várias outras coisas em jogo. E o que aconteceria com a amizade deles?! E a relação deles como colegas de time?!?! Tudo que tivera de se esforçar para construir com ele poderia ruir, assim como quase aconteceu da vez que brigaram sério pela primeira vez. Aquilo não podia acontecer.

Daquele dia em diante, tentou ser mais cuidadoso quando estava por perto do colega, a fim de evitar que o outro percebesse o que estava acontecendo. Não que fosse muito difícil — às vezes, a densidade de Kageyama era uma bênção —, mas era, na falta de palavras melhores, uma bosta. Tinha de impedir-se de encarar por muito tempo, ou ao menos parar de encarar quando ele olhava em sua direção; conter os suspiros e barulhos que tinha vontade de fazer; resistir à vontade de ficar mais perto quando estavam sentados juntos, entre outras coisas, o que era incrivelmente difícil, considerando que segurar qualquer coisa dentro de si fazia parecer que ia explodir. Não poder fazer o que o consumia por dentro o deixava constantemente nervoso. E mesmo fazendo esse esforço, estava com a impressão de que ainda estava sendo óbvio, pois parecia que seus colegas sabiam, de alguma forma. Sempre que eles dois estavam juntos, podia ver Yachi observando-os atentamente, Tsukishima rindo ao fundo e Yamaguchi olhando-os com um sorriso de compreensão, o que já o constrangia o suficiente. Ainda bem que nenhum deles veio dizer-lhe algo a respeito, ou provavelmente teria implodido de vergonha e frustração.

Honestamente, por muito tempo, nem pensara em se confessar, já que não enxergava outra possibilidade além da rejeição. Kageyama gosta mais da bola de vôlei do que de pessoas, pensava. A ideia apenas cruzara sua mente quando ouvira por acidente a conversa de um grupo de meninas de seu ano, e ainda bem que ouviu, pois uma das garotas queria declarar-se ao seu amigo no final daquela semana. Ela o achava bonito e misterioso, seu ar intimidador fazia seu coração palpitar, e não conseguia mais ficar com seus sentimentos só para ela. Tinha planos de colocar uma carta em seu armário pedindo que eles se encontrassem.

Shouyou se afastou um pouco antes que acabasse dizendo alguma coisa sobre o assunto para aquele grupo de pessoas que nem conhecia, pois sua vontade imediata foi de dizer “eu vou me confessar primeiro!” bem alto, apontando para o rosto dela, como se estivesse desafiando-a para uma corrida. Era o sentimento de competição que o dominava naquele momento, fervendo seu sangue, não o ciúme ou a raiva — embora sentisse isso também. Talvez ele tivesse as mesmas chances daquela menina bonita e, se ele chegasse depois, podia perdê-la.

Era segunda-feira quando ouviu essa conversa, então tinha até sexta-feira para tentar e já começou a criar coragem ao chegar em casa, indo ao banheiro ficar diante do espelho e praticar o que iria falar, não querendo perder tempo; Na terça-feira, percebeu que não tinha treinado o suficiente, pois as palavras ficaram presas na garganta e as suas mãos tremiam como se estivesse com frio; a quarta-feira passou e não conseguiu tempo sozinho com Kageyama para poder dizer-lhe, seus colegas de time estando por perto o tempo todo, mesmo no almoço; e então chegou a quinta-feira, trazendo consigo o mais puro desespero, que, àquele ponto, provavelmente já quase não cabia em seu corpo.

Ele não tinha escolha. Seria naquele dia ou nunca!

— Kageyama. — Já era de noite e ainda não tinha se confessado, pois resolveu que era melhor falar “depois da aula”, que virou “depois do treino” e, por fim, estavam ali, caminhando em silêncio desde o portão do colégio até o cruzamento da rua onde divergiam de caminho; ele era mais covarde do que pensara inicialmente, até sua voz vacilando e saindo mais baixa quando o chamou.

— Hm? — Ele pareceu não notar a diferença em seu tom, apenas tirando o olhar do horizonte e pondo-o em seu rosto, esperando que continuasse.

— Eu só queria dizer… — apertou forte os guidões de sua bicicleta enquanto olhava para baixo, tentando fugir da expressão questionativa no rosto dele, do seu intenso olhar, sentindo o coração martelar contra seu peito e o corpo tremendo com o nervosismo; por fim, respirou fundo, voltou a encará-lo e disse: — Que eu gosto de você. Gosto gosto de você. Não que nem amigo… Quero dizer! Como amigo também! Mas além disso! Eu gosto de você como alguém com quem eu andaria de mãos dadas na rua, e sairia depois da aula, e dividiria meu almoço, e — ah, estava falando coisas estranhas… Não se deixou falar mais nada depois disso, não queria se constranger mais.

Kageyama inicialmente o encarou com uma expressão confusa, como que sem entender as palavras ou o que elas significavam, piscando lentamente várias vezes até que ele começou a absorver a informação, estatelando os olhos. E então ele foi ficando num tom vermelho vivo desde as bochechas até as orelhas, tão constrangido quanto o mais baixo, os ombros se erguendo enquanto tensionava o corpo, seus lábios tremendo, a testa franzida e as sobrancelhas quase juntando no meio. Ficou em completo silêncio enquanto reagia àquilo, deixando Shouyou apenas com o som da própria respiração e a sensação de que alguém estava dando vários nós em seu estômago. Estava pronto para sair correndo, dependendo de qual fosse a atitude dele em seguida.

— droga,euqueriaterditoprimeiro… — Não sabia nem se podia considerar aquilo uma resposta, pois, apesar de definitivamente soar como se ele tivesse dito alguma coisa, não conseguia distinguir palavras — eugostodevocêtambém…

— … Ein? — Inconscientemente aproximou-se, tentando ouvir melhor.

— Eu… Eu gosto de… Você… Também… — Ele repetiu, desta vez mais devagar, o que pareceu muito difícil de fazer, uma vez que o rosto dele ficou ainda mais vermelho do que já estava (o que não sabia como era possível).

Shouyou demorou a entender o que o outro estava dizendo de fato, de tão pouco que esperava aquela resposta. E, tendo finalmente compreendido, seu rosto se contorceu, como que tendo um espasmo, parando num sorriso trêmulo, suas bochechas ficando mais vermelhas ainda; junto disso, seu estômago de repente estava ordenado de novo, o ar voltou a passar em seus pulmões, e uma alegria enorme borbulhou em seu peito. Aquela era a sensação de ser correspondido? Ela era ótima, se sentia revigorado, como se não tivesse treinado por horas e seus músculos não estivessem cansados e doloridos, como se não estivesse tenso e com medo há menos de um minuto. Podia se acostumar com ela. Também podia se acostumar com aquele pequeno sorriso que apareceu no rosto do Kageyama em resposta ao seu.

Tinha batido na porta dele e entrado também.

Mas… O que fazer em seguida? Se encararam por vários segundos em puro e constrangedor silêncio, um esperando que o outro dissesse ou fizesse alguma coisa, a expectativa aumentando a cada segundo, e Shouyou não sabia quanto tempo mais conseguiria encarar. Não só não sabia quanto tempo aguentaria ficar sem piscar (porque, inconscientemente, transformou aquilo num jogo), quanto também não sabia quanto tempo aguentava ficar sob o olhar intenso do outro sem que virasse uma poça derretida no chão. Aquele foi um dos momentos mais esquisitos pelo qual passou em sua vida, que só acabou quando seu celular tocou; era sua mãe, que estava preocupada com sua demora para chegar em casa, o que forçou-o a falar e se despedir do colega — ainda poderia chamá-lo de colega? Ou de amigo? O que eles eram agora, que sabiam que tinham os mesmos sentimentos um pelo outro?

(‘Namorado’ pareceu um bom jeito de chamá-lo agora, pensou enquanto descia a montanha de bicicleta, o que foi muito eficiente em fazê-lo esquecer de brecar numa encruzilhada e quase ser atropelado).

Apesar de sua confissão ter dado certo, o dia seguinte foi bastante estranho. Não porque coisas incrivelmente constrangedoras aconteceram, mas exatamente pelo contrário — nada mudou. Eles estavam agindo como normalmente, competindo, discutindo por besteiras, passando os intervalos juntos falando de voleibol. E não era como se aquilo fosse, de fato, ruim, já que tinha medo de que nunca mais fizessem isso… Mas as coisas não deveriam mudar? Achava que sim, mas… Como fazia as coisas mudarem? Não sabia que tipo de investidas podia fazer, ou como fazer uma investida, ou o que podia considerar uma investida para começo de conversa, além de que não fazia ideia de como seria recebido pelo outro (e porque lhe faltava coragem, mas não queria admitir).

Na hora do almoço, percebeu que as mesmas coisas passavam pela cabeça de Kageyama, quando viu a mão livre dele se aproximar da sua e se afastar quando estavam prestes a encostar, voltando para perto de sua comida. Aquilo o surpreende, mas não deveria: os dois estão no primeiro ano e, até onde sabia, nenhum deles tinha experiência em relacionamentos; aquele era território novo para ambos e estavam hesitando em dar o próximo passo.

Mas as coisas melhoraram a partir de segunda-feira, depois de tomarem coragem em casa durante o fim de semana. Quando estavam saindo da escola naquela noite, depois do treino extra que fizeram, enquanto andavam lado a lado pela rua, seus ombros esbarrando vez ou outra pela proximidade que estavam, a mão do mais alto tocou levemente a sua, como que pedindo timidamente permissão, até que, não tendo enfrentado rejeição, a envolveu por completo, quase a cobrindo. Ele apertava um pouco forte e sua palma estava suando, apesar de estar relativamente frio, mas a sensação era boa, muito boa. Shouyou queria pular até sair voando, perder-se entre o escuro do céu e as estrelas, levando-o junto para que não tivesse mais de soltar. Olhou-o com o canto dos olhos e ele estava sorrindo, seus olhos brilhando com um ar de vitória, e teve de fazer um esforço real para não deixar suas pernas colocarem-no no ar. Aquele momento era precioso e Kageyama provavelmente começaria a gritar com ele se o fizesse (apesar de que a perspectiva de assustá-lo e ver sua reação não parecia tão ruim). Ele não soltou o caminho todo, e assim fez todos os dias que vieram em seguida.

E eles prosseguiram tentando coisas novas depois disso. Começaram a falar sobre coisas diferentes, outros tópicos além de vôlei, tentando conhecer um pouco melhor um ao outro; desde suas séries favoritas até a opinião deles sobre gansos (se perguntaram isso um dia quando viram uma família de patos saindo de um bosque e atravessando a rua e Kageyama falou que foi atacado por um ganso quando era criança, o que era tanto assustador quanto muito engraçado), trocaram sugestões de músicas algumas vezes e começaram a se falar mais por mensagens durante a noite, embora não fosse muito.

Shouyou decidiu que iria tomar a próxima iniciativa, sentindo que estava perdendo para o Kageyama naquele sentido. Várias iniciativas foram dele e simplesmente não podia deixá-lo ganhar, nem no jogo não-oficial do romance adolescente, embora ainda achasse que tinha pontos a mais por ter se declarado primeiro. Então, antes mesmo do final da aula de sexta-feira, pegou o celular e decidiu mandar-lhe uma mensagem, chamando-o para sair — algo que exigiu muita coragem, mais do que achava que fosse precisar.

Para: Kageyama

Assunto: Sábado!!!

estava pensando em ir comprar tênis novos pro treino!!! quer vir??????

Repousou o celular em sua perna (Não podia arriscar deixar o celular em cima da mesa para vibrar e fazer um barulho muito alto! Aquilo poderia causar muitos problemas!!!) e torceu para que ele concordasse em vir, uma vez que ele negara tantas outras vezes. Talvez Kageyama não gostasse de sair de casa? Não sabia dizer.

De: Kageyama

Assunto: Re: Sábado!!!

Ok

Onde nos encontramos?

Sucesso!!! Pressionou os lábios um contra o outro com força numa tentativa de suprimir um gritinho de alegria, se deixando apenas erguer um punho em comemoração. Mas… E agora? Não havia pensado muito bem no que estava fazendo nem feito um plano de verdade, apenas tomara a decisão e atitude num impulso. Shouyou, seu idiota… Perdeu alguns minutos para pensar no que dizer em seguida.

Para: Kageyama

Assunto: Re: Re: Sábado!!!

eu busco você na sua casa depois do almoço!!!!! pode ser?

A resposta, novamente, chegou em breve, o celular saltando em seu joelho, dando-lhe um pequeno susto.

De: Kageyama

Assunto: Re: Re: Re: Sábado!!!

Ok

Shouyou sorriu e deu o assunto como terminado, guardando o celular em sua bolsa escolar e voltando prestar atenção na aula — ou tentar, porque acabou apenas olhando pela janela, sonhando acordado, imaginando coisas. Ele foi se lembrar apenas quando já estava em casa que ele não sabia onde ficava a casa do Kageyama, enquanto estava contando para sua mãe sobre o encontro que teria no dia seguinte (não quis dizer com quem), tendo de se forçar a mandá-lo mais uma mensagem pedindo seu endereço. Não podia simplesmente andar por aí, tocando campainhas aleatoriamente até acertar a casa! Perderia muito tempo!!! O que não tornou ter de mandar aquele SMS menos constrangedor.

Este pequeno inconveniente foi totalmente esquecido no dia seguinte, substituído por uma ansiedade que não passava. Ela era, em parte, boa — mal podia esperar pra almoçar e ir até a casa do Kageyama para saírem juntos, inquieto o tempo todo — mas, ao mesmo tempo, sentia um medo irracional de tudo dar errado. De dizer alguma besteira que deixasse o outro furioso, ou então fazer algo muito constrangedor que o deixasse com vontade de nunca mais serem vistos juntos, de ficarem em silêncio a maior parte do tempo e terem um encontro que tirasse a vontade dele de ficarem juntos. Além disso, aquela familiar dor de estômago, que sentira tantas vezes antes de um jogo importante, estava de volta. Racionalmente, sabia que estava se preocupando demais, mas…

O ‘mas’ sempre voltava à mente enquanto comia, tomava banho, se vestia e caminhava até o endereço que tinha no celular, e o odiava muito. Ele só perde a força quando tocou a campainha e a porta se abriu imediatamente, como se Kageyama estivesse sentado do outro lado, esperando que ele chegasse. O pensamento o deixa um tanto feliz, mas não mais feliz do que se sentiu ao vê-lo. Não só ele estava bonito — francamente, o quanto Kageyama conseguia ficar bem vestindo qualquer coisa era enraivecedor,  mesmo estando apenas com uma camiseta preta com o nome de alguma banda escrito e jeans justos, dava até vontade de socá-lo — como também se sentiu um pouco mais seguro em ver seu rosto, como se tivesse se esquecido de com quem estava saindo até aquele momento. Estava saindo com um amigo, alguém com quem passara por muitas coisas juntos, alguém que o vira fazer coisas muito constrangedoras e desagradáveis e ainda assim não foi embora (mesmo que eles tenham se batido algumas vezes em decorrência delas). Alguém que rejeitara uma menina bonita no dia anterior para tentar algo com ele, e estava ali, aparentemente tão animado quanto ele para ir, via em seus olhos. Shouyou sorriu, deu-lhe a mão e foram andando até a loja de equipamento esportivo.

E tudo correu bem durante a tarde… Apesar de nunca terem chegado a pisar dentro da loja de esportes, porque a loja tinha fechado permanentemente. Descobriram quando chegaram lá e viram apenas uma porta trancada e vitrines vazias. Droga… Era sua loja esportiva favorita… Depois de alguns segundos se lamentando, virou-se para Kageyama, na esperança de que ele tivesse uma ideia do que fazer agora, já que o ponto central de estarem ali juntos era vir comprar tênis.  Mas ele apenas o olhara de volta, aparentemente com a mesma pergunta em mente. E aí eles começaram  a olhar ao redor.

Voltaram a andar pelas ruas sem um objetivo, apontando para coisas que achavam interessantes, e passaram a tarde assim. Olhando pros pássaros nas árvores, pros cãezinhos passeando, pras vitrines das lojas. Apontavam roupas, bichos de pelúcia, objetos que nem sabiam a utilidade, máquinas de gashapons. Se não estivesse entediado, Shouyou com certeza nunca teria visto nada daquilo. Além disso, era fascinante ver a reação de Kageyama às coisas: ele reclamou múltiplas, senão todas as vezes em que ficou animado com alguma coisa, mas o próprio estava sorrindo quase o tempo todo, visivelmente contente (o mais baixo tentou tirar uma foto dele escondido uma hora, enquanto tentava colocar o enfeite de celular que comprou para ele, porque ele estava tão irritantemente fofo que precisava registrar aquilo, mas prontamente levou um soco por isso e a foto ficou borrada).

Andaram e compraram coisas, tanto para si mesmos quanto um para o outro, até que viram o Sol se pondo e decidiram parar um momento para admirar. Ou, pelo menos, o mais baixo prestou atenção na paisagem, porque o outro ficou mais entretido com a sorveteria no final daquele quarteirão. Trocaram olhares e começaram a correr até lá, e Shouyou quase ganhou, mas Kageyama conseguiu encostar a mão no vidro da geladeira primeiro, virando para ele em seguida com um sorriso convencido no rosto. Maldito braço longo! Aquela fora a única derrota que valeu a pena, porque não teve de gastar os últimos yen que tinha na carteira. Teriam corrido até o banco onde quiseram sentar também, mas seria muita burrice, pois acabariam derrubando seus cones, então apenas andaram até lá.

Sentiu vontade de beijá-lo enquanto estavam sentados ali. Nada novo sob o Sol, uma vez que sentira aquilo várias vezes antes, tipo quando ele dizia algo legal (mesmo que sem perceber), ou quando olhava intensamente para o horizonte pensando em alguma coisa e fazia um pequeno bico, e também quando sorria. Sentira várias vezes durante aquele dia, inclusive, mas nunca antes tinha sentido que podia fazer aquilo, como estava sentindo naquele instante. Talvez fosse porque se encararam o dia todo, em vários momentos do dia; quem sabe não fosse o fato de que estavam sem discutir já fazia pelo menos meia hora; ou então, podia ser a iluminação. Não sabia dizer, mas, quando fizeram contato visual de novo, sentiu que deveria tentar, embora, ao mesmo tempo, estivesse sentido seu coração bater como se tivesse corrido uma maratona e uma bagunça acontecer no seu estômago.

Colocou o que restava de seu cone de sorvete na boca, mastigando e engolindo o mais rápido que conseguiu, e colocou as mãos dos dois lados do rosto dele, cobrindo suas bochechas, ignorando o fato de que parecia que seu coração iria pular para fora do seu corpo, selando seus lábios aos dele antes que desistisse. Estavam gelados por causa do sorvete e um pouco rachados, sentia que estavam num ângulo estranho e ele demorou alguns (excruciantes) segundos a reagir, deixando que o pânico crescesse em seu peito — será que tinha se antecipado?! Talvez nenhum deles estivesse pronto para isso ainda!!! — até que ele finalmente retribuísse, pressionando de volta. Separaram-se depois de poucos segundos, olhando um para o outro como se tivessem acabado de fazer algo insano, como um novo tipo de ataque no vôlei ou tivessem assaltado um banco.

Shouyou esperava um pouco mais do seu primeiro beijo, sendo bem honesto. As pessoas faziam um escândalo tão grande a respeito… Foi bom, mesmo que um pouco constrangedor, mas ainda assim, toda a ansiedade que sentira… não tinha certeza se valera a pena. O que realmente fez valer foi a expressão que Kageyama fez em seguida: ele parecia estar bravo, franzindo as sobrancelhas e apertando os olhos, ao mesmo tempo em que tentava conter um sorriso e seu rosto ficava vermelho. Vê-lo daquele jeito, tão engraçado e tão adorável ao mesmo tempo, simplesmente aquecia seu coração, não conseguiu evitar que um sorriso de ponta a ponta surgisse em seu rosto, enrugando o canto dos seus olhos no processo. Até sabia o que ele estava pensando naquele momento, e teve de se segurar muito para não começar a rir imediatamente.

—Aaaah, você queria ter feito isso primeiro, não é, Kageyama? — Não perdeu a oportunidade de provocá-lo, porque, agora que ele não era mais tão intimidador, suas feições irritadas eram até fofinhas, e os insultos, bastante engraçados — Eu acertei?

— Você está trapaceando! Sempre fazendo as coisas do nada! — E ele se deixou levar pela provocação, esbravejando, puxando-o pela gola da camiseta, como o esperado — É injusto ‘cê fazer as coisas sem avisar, seu idiota!

— O que você quer que eu faça?! Que eu mande um sinal de fumaça?! — Teve um surto de risos com a resposta do outro, sua barriga chegando a doer, sem conseguir parar; apenas conseguia rir e manter o braço esticado entre ele e o outro, tendo colocado a mão no ombro dele para afastá-lo por puro hábito, mesmo sabendo que ele não faria nada de fato.

— Sim! Quero dizer, não! Só…!!! — Palavras, realmente, não eram seu forte; estava tentando articular alguma coisa, explicar-se, mas não conseguia, talvez porque nem ele tivesse uma explicação, ou talvez tivesse percebido no meio da frase que estava fazendo uma demanda estúpida; eles não estavam num jogo de voleibol para trocar sinais de mãos ou sinais verbais, ainda tinham de descobrir o que fazer — Só não trapaceie!

— Está bem, eu não vou trapacear. — disse a fim de apaziguá-lo, satisfeito com o resultado da sua brincadeira, embora ainda achasse graça na reação de Kageyama e sentisse bolhas de riso presas em sua barriga; em seguida, ousou perguntar — Então… Eu posso fazer outras vezes?

Kageyama fez uma cara estranha depois da pergunta, voltando a ficar vermelho. Ah, ele ficou constrangido. Tão fofo que gostaria de socá-lo. Suavemente. Com a boca.

— … Sim…

Contemplou a possibilidade de beijá-lo de novo naquele momento, mas acabou não o fazendo, pois encarou-o o suficiente para que ele se sentisse mais envergonhado ainda e se afastasse. Droga, Shouyou… Ficou quieto com aquela vontade pinicando e não soube o que falar ou fazer por alguns minutos, deixando que o outro terminasse o que restava do sorvete em paz, até o momento em que decidiram voltar a caminhar entre as lojas (embora tenham deixado de prestar atenção no que estava acontecendo ao redor e começado a disputar várias brigas de dedão no caminho).

Só se deram conta do tempo que passou quando perceberam que já estava escuro, o sol tendo se posto, e chegaram juntos à conclusão de que tinham de voltar para casa. Queriam prosseguir andando, passeando, acariciando os cachorros que viam, tirando fotos de coisas aleatórias, fazendo qualquer coisa juntos, não importava realmente o que fosse. Simplesmente não queriam ir embora, que aquilo acabasse — ao menos, Shouyou se sentia assim, e a forma como o outro apertava sua mão com força parecia confirmar que era recíproco. Mas um já havia prometido à mãe que chegaria cedo e o outro falou que iria ajudar a irmã mais nova com a tarefa de casa. Trocaram olhares tristes antes de suspirarem em conformação e começarem a andar de volta.

Um quis acompanhar o outro até em casa, mas não entraram em um acordo sobre ir à casa de quem, nem depois de tirarem a melhor de cinco no pedra-papel-tesoura, então despediram-se no meio do caminho com um pequeno beijo — um que foi definitivamente melhor do que o primeiro. Não estavam com a boca gelada, nem em um ângulo estranho; estavam um de frente pro outro, logo embaixo de um poste, de mãos dadas, Kageyama sendo aquele quem se aproximou primeiro.

— Um a um. — disse baixinho, com aquele mesmo sorrisinho irritante de mais cedo ao que se afastou e viu surpresa no rosto de Shouyou.

— Você!!! É a pior pessoa que eu conheço!!! — empurrou-o com uma mão enquanto a outra cobria o próprio rosto, como se pudesse esconder seu constrangimento. — Tchau!!!

Kageyama apenas riu (Ele!!! Riu!!! Queria ter gravado aquilo, porque era tão raro e precioso…) e acenou em despedida, seguindo para a direita, ficando cada vez menor em sua linha de visão até simplesmente não estar mais lá. Shouyou ficou observando-o ir com uma sensação estranha no peito, uma que não sabia descrever. Era um tanto estranho sentir tanta afeição e querer estar perto tanto tempo de alguém, mas sentia, e mal conseguia manter aquilo só pra si. Seu coração parecia grande demais para seu tórax e as palavras tantas que não cabiam na garganta, tanto que chegou em casa e acabou contando à Natsu sobre o encontro enquanto ela fazia a tarefa ao invés de ajudá-la, assim ganhando o prêmio imaginário de Pior Irmão do Mundo, e ao Kenma também, tudo em letras maiúsculas, quando ele veio perguntar como foi seu dia.

(Também mandou mensagens para o Kageyama de tópicos não relacionados, dizendo para si mesmo que só queria conversar, que aquilo não era saudade).

Enquanto suspirava deitado em sua cama, tentando dormir, decidiu que daria um jeito de saírem todo fim de semana, mesmo que ficasse sem mesada para gastar em outras coisas. Não precisava ele mesmo comprar as revistas da Volleyball Monthly, precisava? Elas sempre apareciam na sala do clube, de um jeito ou de outro. Ou então o seu sorvete favorito… Podia sempre tomá-lo com companhia. Não havia quantia de dinheiro que fosse deixá-lo mais contente do que sendo gasto em comida e aleatoriedades, desde que pudesse estar junto dele por mais tempo. E não foi preciso qualquer esforço para que desse certo — Kageyama concordava rápido em sair e até fazia seus próprios convites.

Fora isso, quase nada mudou na dinâmica deles. Eles continuavam sendo uma dupla poderosa no vôlei, continuavam apostando corrida e discutindo por idiotices, ainda iam mal nas provas e faziam barulho por onde passavam, apenas faziam tudo isso com um pouco mais de afeição. Se tocavam suavemente quase o tempo todo, desde manterem as mãos juntas um pouco mais depois de baterem as mãos em comemoração por um ponto, fazerem cafuné um no outro de vez em quando, ficarem de pé um do lado do outro tão perto que seus ombros quase tocavam, até mesmo se batiam com menos força, fazendo um leve carinho sobre a pele atingida — da forma mais discreta que conseguiam.

Mas, aparentemente, as pessoas ao redor deles eram mais perceptivas às sutilidades do que imaginavam, pois, em pouco tempo, começaram a notar as pequenas diferenças na maneira em que se relacionavam, os primeiros sendo os colegas de time, uma vez que estavam quase sempre por perto.

— Ei! Vocês dois andam tão unidos ultimamente! — Nishinoya chegou falando alto e animado como sempre, dando um tapa com cada mão nas costas dos dois, rindo — Vocês estão namorando ou o que?

Estavam fazendo um pequeno intervalo no treino para beber água quando o mais velho fez aquela pergunta, todo o time ali perto para ouvir, bastante interessados inclusive. Parecia que aquela era uma dúvida que todos tinham, pelo olhar que jogaram sobre a dupla (até o Tsukishima olhou, embora bem brevemente, voltando logo a prestar atenção em sua água). Shouyou sentiu o equivalente a um soco de constrangimento, quase cuspindo a água que tinha na boca imediatamente. Não esperava ouvir aquela questão, nem naquele momento nem nunca, honestamente. Não sabia como responder, ou o quê responder, e a pressão do olhar de (quase) todos os colegas não ajudava.

Olhou para Kageyama em busca de um conforto, mas encontrou-o paralisado. “Ele não está respirando!” ouviu ecoar em sua cabeça o grito que Yamaguchi soltou da vez em que o professor Takeda falou sobre as provas… A frase se encaixava muito bem naquele momento, também. Estava sozinho naquela hora.

— Então… É que… Erm… É… Uhm… — tentou, balançando as mãos como se fosse pegar palavras melhores flutuando no ar, sentindo seu rosto ardendo em chamas de vergonha.

Por sorte, seu murmúrio disconexo pareceu ser resposta o suficiente, poupando-o de se fazer parecer mais idiota — mas não da vergonha, porque as reações dos colegas de time fizeram-no querer abrir um buraco na quadra e se enterrar ali.  Nishinoya com certeza não é o mais surpreso do time (considerando que foi ele quem perguntou, faz total sentido, pois ele provavelmente já tinha suspeitas), mas ainda assim ergueu as sobrancelhas junto do que sorriu; Tanaka, que estava logo do lado, fez uma expressão que era tanto sofrida quanto alegre, se encolhendo um pouco enquanto se lamentava que ele era o senpai, que deveria estar dando exemplo, mas nunca estivera em um namoro; Ennoshita, Kinoshita e Narita riem um pouco, sorrindo; os terceiranistas sorriem ao fundo, comemorando, como se já estivessem esperando por isso, embora Azumane tivesse feito uma expressão bastante chocada antes de sorrir; Yachi pareceu ser a mais surpresa, dizendo que só achava que eles tinham se tornado amigos melhores, e também a mais contente (ela parecia até que ia chorar); Tsukishima, aquele desgraçado, começou a rir, sem nenhuma explicação, enfurecendo os dois, que teriam partido para a briga se não tivessem segurado-os pelo braço; e Yamaguchi riu um pouco também, mas sem maldade, comentando que “eles dois se mereciam”.

Mas bem que gostaria que só os colegas de time tivessem notado, pois o resto dos colegas também percebeu e as coisas começaram a mudar.

Inicialmente, apenas recebiam alguns olhares feios, de pessoas que já não gostavam deles para começo de conversa. Faziam alguns comentários maldosos, mas não era como se estivessem se importando muito. Mantinham relações amigáveis com o resto da sala, então estava tudo bem. Pelo menos, até perceberem que, aos poucos, os demais não se aproximavam mais. Não conversavam mais nos intervalos, não perguntavam mais sobre as partidas, sobre tarefas e provas, sobre o novo programa que está passando na TV, nada. Apenas encaravam-nos de longe, cochichando algo nos ouvidos dos outros.

E então, algum tempo depois, mensagens começaram a aparecer na sua carteira escolar — nenhuma boa, aliás. Primeiro, elas vieram em forma de bilhetes, e rapidamente as amassava e jogava fora, achando que tirá-las da sua frente faria com que elas machucassem menos, mas quando começaram a aparecer riscadas na madeira, com letras crescentemente hostis, era difícil ignorá-las. Cobri-las com seu material escolar não as fazia desaparecer. “Vá embora” estava escrito bem grande, no centro da mesa, e era a que doía mais. Queria poder dizer aquilo de volta, gritar na cara de quem escreveu aquilo, especialmente depois de conversar com Kageyama e descobrir que ele estava recebendo mensagens parecidas, aquilo o deixando com uma sensação estranha no peito de querer protegê-lo (o que não fazia muito sentido, considerando que não poderia fazer muita coisa com toda sua falta de tamanho, além de que o outro era bem mais intimidador e se defenderia melhor).

A pior parte, entretanto, foi quando um professor os viu juntos no corredor e os chamou para ter uma conversa séria sobre o comportamento deles. Segundo o docente, a atitude deles era inaceitável e inadequada, que eles deveriam manter seu relacionamento apenas na esfera íntima, pois era contra as regras, e que eles estavam incomodando os outros alunos. Se eles não mudassem de atitude, seus pais teriam de ser chamados. Eles apenas acenaram com a cabeça e saem da sala em silêncio.

Shouyou saiu da sala dos professores com uma sensação ruim, não exclusivamente por ter levado uma bronca de um professor, mas por sentir que aquilo era injusto. Sabia que não era exatamente o aluno modelo, já havia criado alguns problemas na escola, mas seria aquilo realmente correto? Claro, demonstrações de afeto e namoros dentro da escola eram proibidos por regra… Mas os garotos e garotas também eram chamados por isso? Ainda via outros casais andando por aí e, mais importante, não via ninguém reclamando. Nem os professores, nem os outros alunos. Ninguém ficava olhando-os feio, ou parava de falar com eles, ou espalhava rumores, ou…

Virou-se para Kageyama para dar voz aos seus pensamentos, mas não sentiu que fosse preciso depois de olhá-lo e ver como ele estava. Semelhante a como o próprio Shouyou estava, ele estava com uma expressão de aborrecimento, de que algo o atormentava em sua mente, de que algo estava errado. E realmente estava, podia sentir o peso da injustiça em si e na densidade do ar.

Mas não conseguia se sentir melhor mesmo sabendo que não estava sozinho em sua revolta, só a troca de olhares de compreensão não era o bastante, não fazia sumir aquela angústia presa em si. Apoiou a cabeça no ombro do outro em busca de algum conforto, só percebendo que aquela era uma má ideia quando sentiu-o ficar tenso. Eles estavam no meio do corredor, que podia encher a qualquer instante, bem de frente para a porta da sala dos professores, de onde tinham saído logo antes. Mas, apesar de ótimos motivos para tal, não se moveu, ao menos, não conscientemente. Em algum momento, se abraçaram, apertando com mais força que o necessário, e era desconfortável ao mesmo tempo que era tudo o que precisava naquele momento. Se separaram num susto ao ouvirem alguém subindo as escadas, correndo na direção contrária, saindo o mais rápido do prédio e indo em direção à sala do clube.

(Passaram o treino todo um pouco esquisitos, não jogando com o mesmo ânimo de sempre, pensando em outras coisas, e o time nota a diferença, mas não fizeram perguntas.)

Não gostava nem um pouco de se submeter àquilo, mas preferiu evitar problemas maiores com a direção da escola e seguiu as ordens do professor — não era daquela maneira que gostaria que sua mãe soubesse da sua sexualidade, nem queria uma suspensão. Era um incômodo incrível ter de conter-se, impedir-se de pegar na mão do outro quando estavam no corredor, ou de beijá-lo quando gostaria, ou de apoiar sua cabeça no ombro dele quando sentavam-se juntos, ou qualquer outra coisa; era como ignorar uma coceira que não parava, como tentar tolerar seu estômago quando estava com muita fome, ou ter de ir embora da escola sem fazer treino extra. Era irritante, era uma chateação constante, e não via como aquilo poderia melhorar; não se via acostumando-se àquilo. Então, prosseguiu daquela forma pelas semanas seguintes.

Até que, um dia, Kageyama decidiu que era o suficiente, e beijou-o no corredor, antes de separarem-se e irem para suas salas, no início da manhã.

— V-Você ‘tá louco?! — quase gritou quando se separaram, colocando uma das mãos sobre a boca dele e empurrando-o levemente, olhando para todos os lados do corredor, com medo — A gente não pode fazer isso!

— Claro que podemos. — Kageyama disse depois de tentar lamber a sua mão, com uma expressão estranhamente calma e um tom de quem achava aquilo a coisa mais óbvia do mundo — O problema não é a gente fazer, é alguém ver. Ninguém estava olhando.

— !!! — olhou-o bravo, querendo brigar, mas, enquanto tentava pensar em algo para rebater, o argumento dele começou a fazer sentido; não é como se fosse errado que demonstrassem afeto, ou o que sentiam, para todos os efeitos; tudo aquilo apenas aconteceu porque os outros os viram, porque não foram cautelosos o suficiente, uma vez que discrição não era exatamente um de seus fortes, e não sabiam as consequências disso; agora eles sabiam as regras do jogo, e podiam fazer aquilo direito — Você tem razão!!! Não é que às vezes ‘cê consegue dizer algo inteligente, né, Kageyama?

— Você é a última pessoa que pode me dizer isso, idiota!!! — ele finalmente empurrou-o de volta, ficando constrangido e irritado em partes iguais, e Shouyou riu livremente — Vai ‘pra sua sala, sai daqui!!!

Aquela era a primeira vez que se sentia tão leve dentro da escola desde a visita à sala dos docentes, bolhas de riso se proliferando em seu torso, estufando seu peito. Apenas conseguiu parar depois de respirar fundo algumas vezes, atraindo alguns olhares, mas não se importou. Havia encontrado uma solução para o seu problema, era tudo que importava naquele momento.

Daquele dia em diante, voltaram a fazer o que faziam antes, desta vez, com uma dose maior de cautela, adicionando um nível de dificuldade a mais àquele relacionamento, que tornava-se cada vez mais parecido com um jogo. Mas foi desde o começo, não? A relação deles sempre se baseou em sentimento mútuo (seja o de rivalidade ou o romântico) e pequenas competições, e aquilo não era diferente. Pouco a pouco, além de ser um jogo deles, como time, contra a escola, tornou-se um jogo entre eles dois: não só tentavam se beijar o mais rápido possível e com mais pessoas por perto enquanto elas não estivessem olhando, como também queriam pegar um ao outro de surpresa, assim, contando mais ou menos pontos. Kageyama não era muito bom nessa brincadeira, chegou à conclusão depois de algumas vezes, o que era infinitamente interessante. Não porque ele não conseguia marcar pontos — francamente, tem algum jogo que ele não saiba jogar? Shouyou sempre perdia quando ele vinha à sua casa e jogavam videogame, mesmo que tivesse domínio total dos comandos e o outro não, e ele era ótimo em jogos de carta também, sem contar o vôlei — mas porque ele tem reações mais intensas ao susto. Ele era, de longe, o que ficava mais vermelho e chamava mais a atenção dos colegas, embora ninguém entendesse a razão de seu transtorno.  Era adorável, e adorava dizer aquilo para ele, porque ele se constrangia ainda mais, escondendo o rosto nas mãos.

Além disso, a dificuldade do local também adicionava pontos. É claro que não perdiam uma oportunidade de estarem juntos se estivessem em um lugar vazio, como perto das salas dos clubes durante o intervalo ou no campo vazio atrás da escola, que tinham de pular a cerca para poderem deitar na grama, mas lugares vazios assim não contavam pontos. Os lugares mais lotados, os que precisavam de muito mais coragem para tentar, como o refeitório, o pátio ou a entrada da escola em horários de início e fim das aulas, eram também os que contavam mais; Shouyou chegou a conseguir 7 pontos por ter dado um beijo na bochecha do mais alto enquanto estavam comprando lanche na cantina, enquanto a fila estava cheia. Nem sabia, de verdade, como ninguém viu, foi algo que nunca imaginou que daria certo, o que deu muita vontade de tentar de novo. Talvez fosse viciado em adrenalina, ou talvez fosse só burrice, não sabia dizer.

Aos poucos, a lista de lugares em que já tinham feito foi aumentando. Tinha o corredor das salas do terceiro ano; o da sala dos professores; perto da máquina de vendas onde Kageyama compra leite todo dia de manhã (especificamente, durante o intervalo, quando os alunos formam fila); o refeitório; os corredores principais da escola, quando fizeram um treinamento de manobras de evacuação em casos de incêndio; na frente de todas as salas do primeiro ano, uma dessas vezes sendo especificamente para incomodar o Tsukishima; e… Shouyou nem conseguia pensar mais. A criatividade dele estava começando a falhar, não conseguia pensar em lugares novos, o que era tanto incrível quanto um problema: eles estavam empatados, como sempre, e, se aquele jogo tinha de acabar, que fosse com um deles vitorioso.

Ficou pensando nisso quase que uma manhã inteira, olhando cada canto do colégio esperando por uma oportunidade nova, apenas para se lembrar de alguma vez em que já se beijaram ali, tanto que quase foi embora logo depois da última aula, tendo se esquecido até da partida contra uma escola vizinha que teriam naquela tarde. Kageyama estava lá para puxá-lo para o lado, para longe da direção da saída e em direção à sala do clube.



A sala do clube.

Imediatamente encarou para o outro com os olhos arregalados, já sentindo seu coração batendo mais forte. Finalmente, tinha pensado num lugar que nunca tinham tentado — ou pensado a respeito! Sempre que estavam lá, esqueciam-se dessa brincadeira, conversando com os colegas de time, lendo as revistas de esporte, ou estudando. Nunca teria passado pela sua cabeça tentar alguma coisa lá, até aquele momento. E Kageyama, que sentiu seu olhar sobre si e o olhou de volta, parece ter visto a ideia no fundo da sua mente e encarou-o com a mesma intensidade, como que o desafiando. Eu vou tentar primeiro, ele parecia tentar dizer apenas com uma encarada. Não! Eu que-

— Ei, o que vocês estão fazendo aí parados? — o capitão chamou do lado de fora da sala, enquanto abria a porta — Temos que ir pra quadra logo e nos aquecer pro jogo!

Quebraram contato visual para concordarem em voz alta, mas, em seguida, se entreolharam de novo. E depois para o Sawamura, na sacada. E depois se olharam de novo.

Ele não ficaria nem um pouco contente se os visse tentando qualquer gracinha.



E então, apertaram as mãos, aceitando o empate, e correram até a escada.


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