Born to be free escrita por hidechan


Capítulo 4
Capítulo IV: Blackout


Notas iniciais do capítulo

Pessoal obrigada a quem acompanha a fanfic ♥ seus lindos!



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Kagami puxou as fichas para arrumar, eram quase 35 casos para catalogar e encaminhar para a polícia. Olhou com tédio para a tela do computador, participou de alguns deles, mas a maioria era datas antigas.

— Oi, Kagami... pare de procrastinar e comece logo _disse seu colega de forma preguiçosa _escolha um. 

O ruivo suspirou, detestava a parte burocrática de seu trabalho.

— Chuta um número _pediu

— 19

Abriu a pasta com o número correspondente e começou a ler. Teve que repetir a primeira linha, pois a preguiça não o deixou entender nada. Detestava aquele tipo de trabalho, mas de tempo em tempos alguém era recrutado para dar conta da burocracia e sua vez chegara naquela manhã de terça-feira.

Começou a ler o segundo parágrafo, releu novamente agora por um motivo muito ruim.

                Seu coração disparou.

Ele se lembrava desse caso, ainda estava na experiência, mas foi um rebuliço no dia. Cinco reféns na agencia Star Platinum: 1 deles saiu ileso, os outros 3 com ferimentos a bala e 1 (não noticiado para o público) fora retirado pelos fundos, em estado de choque. Seu nome era Kise Ryota, 19 anos. Kagami se aprofundou na pasta, a vítima sofrera danos físicos e morais: estupro e um tiro de raspão. 

O ruivo buscou na memória as conversas com Daiki. Com 19 anos o mesmo havia acabado de entrar como recruta então tirou como conclusão que ele provavelmente sentiu o desespero na pele: ficou todas as seis horas de cárcere sofrendo sem ter certeza do desfecho e não podendo fazer absolutamente nada. Ele e Kise já moravam juntos, ainda era modelo teen apesar de estar quase na idade adulta; tudo se encaixava de forma alucinante em sua mente.

— O que foi? _espiou por cima do ombro _hum.. o caso mórbido da família Kise.

— Me conte _disse fraco.

— ...não é um assunto para hoje, Taiga. Só saiba que esse garoto perdeu tudo o que tinha, por Deus que ele ainda esteja vivo.

— Moriyama senpai, por favor _arrastou sua cadeira de rodinhas até a mesa atrás de si _sabe que não gosto de ficar curioso _sua voz era muito mais séria do que curiosa.

 O senhor suspirou.

— São pessoas esquecidas pela sorte _meneou a cabeça _os pais desse garoto morreram num incêndio provocado por um curto da fiação, se não me engano um abalo sísmico acabou provocando tal coisa. Foi horrível, todos já estavam correndo com as vítimas do desastre natural e ainda esse chamado de última hora... a criança sobreviveu, tinha alguns poucos anos de vida. Nós nunca achamos que um raio pode vir a cair duas vezes no mesmo local e olha ai, anos depois foi vítima de outro colapso; o meliante era um ex-empresário que acabou falindo por conta da Star... entrou com armas por uma vingança sem sentido e abusou do jovem de 19 anos, aquele que por seu sucesso, carisma e beleza acabou gerando lucros para a empresa rival.

Taiga ofegou.

— O mundo não é gentil com as pessoas meu filho, se hoje você sorri sem os ombros arcados é por que teve uma vida boa... outros não têm a mesma sorte.

Pesado, o ruivo certamente estava acostumado a ouvir e a viver coisas do tipo, porém nunca havia ficado de frente com uma vítima daquela maneira. Os olhos de Kise na primeira vez que se encontraram eram um mar de tristeza e desespero e agora podia entender um pouquinho melhor o motivo; hesitou por um momento naquela hora, pois fora tragado por eles sentindo o próprio coração apertar.

Precisava conversar com Aomine imediatamente.

— O-obrigado _voltou ao trabalho _mas... o que aconteceu depois? _insistiu.

— ...ah já deve imaginar não? A empresa fechou, o escândalo foi enorme, até hoje ainda falam sobre o menino que fora apagado da mídia. Ele se tornou um tipo de lenda, ninguém gosta de falar sobre isso.

— A vida dele deve ter se tornado um inferno _arriscou.

— Com certeza _encarou o jovem ruivo que agora tinha suas bochechas vermelhas _com certeza _voltou a afirmar.

—-------- + --------------------

— Bom dia amor... _Aomine afagou os cabelos macios de Kise e beijou o topo de sua cabeça.

— Hn... bom dia... _resmungou, passou a mão de forma inconsciente pelo pescoço e ombro esquerdo, havia pegado aquela mania desde seu incidente. Era uma forma de se lembrar de que agora estava tudo bem, que era um dia a mais que o distanciava daquela fatídica data.  

— Ah que preguiça, tem que levantar e ir trabalhar.

— Também _murmurou _tenho um voo às 14h30min.

A rotina deles começara como de costume, a mesmice das manhãs trazia ao moreno uma sensação de leveza e nostalgia dos tempos em que morava com seus pais. Gostava de novidades, mas ao mesmo tempo não abria mão de pequenas coisas como aquelas; abraçou o namorado enquanto o mesmo escovava os dentes e ficou o observando pelo espelho. Ganhou sua escova na boca já com pasta e sorriu.

— Obrigado... onde será o voo?

— Hokkaido. Volto à noite, quer alguma coisa de lá?

— ... _deu os ombros enquanto enxaguava a boca _não sei o que tem lá.

— Vou descobrir também! E você to- ah...! Não faça isso tão... _tentou em vão afastar os lábios gelados de suas cicatrizes.

— Amo você _sussurrou _por favor, volte em segurança.

— E-eu que deveria dizer isso _resmungou.

Daiki se trocou rapidamente e pegou seus pertences, o selinho demorado no namorado fora a última coisa antes de sair. Era sempre assim.

Kise voltou para suas tarefas enquanto cantarolava qualquer coisa, gostava de cantar, sentia falta da sua época de ídolo; deu uma volta no quarto a procura de suas roupas jogadas pelos cantos durante a noite e resolveu também limpar o closet.

— I bet my life... _subiu no banquinho, distraído, até chegar à parte mais alta da prateleira _I bet my life on you…? _tirou algumas coisas de cima de uma sacola prateada e no mesmo instante abriu um largo sorriso. Era uma embalagem da Tiffany; gloriosa marca de alianças.

Ele a recolocou no lugar depois de alguns segundos de euforia, ali dentro só poderia ter uma única coisa uma vez que estavam anos luz longe de seu aniversário ou qualquer outra data comemorativa – e ainda tinha o fato de estar escondido – seu anel de noivado. Daiki o pediria em casamento, certo? E com aquela deliciosa suspeita seu dia mudou totalmente, passou a ver arco Iris pela janela e todas as dúvidas que se esgueiravam dentro de si sumiram.

                Ele certamente o amava.

Deixou a cena do ‘crime’ exatamente como estava antes e fechou o closet, não sairia por ai dando indiretas sobre a aliança só esperaria com o coração na mão. Além de obviamente não olhar o que tinha dentro.

— Amo você _repetiu várias vezes tendo um mini ataque de euforia agarrado ao seu próprio travesseiro.

—-------- + --------------

— Oi Taiga hum... _olhou para o relógio _hoje tenho ronda noturna...

— Café da tarde?

— Você não trabalha? _riu pelo nariz _que bombeiro mais folgado. Hoje não, Taiga.

— Ok, então até mais, bom trabalho.

— Não estou de dispensando, é só que... hoje não vai dar mesmo.

— ...é por causa dele?

— Eu tenho ronda noturna _repetiu soltando um longo suspiro.

— Tudo bem já entendi.

— Entendeu o que?

— Você está ansioso, aconteceu alguma coisa?

— Preciso desligar.

— Daiki?

— ...

— O Kise está bem?

O moreno olhou para o relógio mais uma vez.

— O voo para Hokkaido ainda não aterrissou, saiu no noticiário que o avião perdeu o contato com a torre de controle... não sei se é o mesmo voo, mas... talvez não seja. Eu não me lembro o horário nem o número do voo. Está todo mundo apreensivo.

— Não fiquei sabendo, segura ai um minuto. Moriyama-san! _e em seguida alguns segundos de silêncio, Taiga voltou a falar um pouco mais baixo _não reportaram nada, fique tranquilo. Notícias ruins chegam rápido.

— Eu não quero ter uma notícia ruim! Estou desligando.

— Espera! Não foi isso que eu quis dizer... Daiki, se acalme.

— Hoje não, Taiga! _e desligou.

Hoje ele não precisava da calmaria e liberdade de Kagami Taiga, não queria ver o por do sol nem ao menos ouvir histórias mirabolantes; queria apenas que Kise estivesse em casa quando terminasse sua ronda noturna.  Se ele não estivesse seguro então nada mais importava.

— Aomine-san? Já entramos em contato com o aeroporto, o voo não pertence ao capitão Ryota Kise.

Ele apenas acenou para a mulher e voltou ao computador.

— Certo... _pensou em dizer alguma coisa, mas preferiu deixá-lo em paz.

Kise saiu para seu voo como normalmente fazia, ligou antes de entrar no avião e desde então Aomine seguia tranquilo. Era para ser algo corriqueiro até que, na hora do almoço, uma notícia na tv fez com que os guardas parassem de comer: o voo 345, que estaria previsto para chegar em uma hora no estado de Hokkaido perdeu o contato com a torre. Não era incomum, mas nesse meio tempo teriam que esperar pelo bom ou pelo ruim.

O capitão Aomine Daiki largou sua comida pela metade e antes que pudesse conseguir maiores informações Taiga o ligou convidando para um passeio fora de hora. O odiou imensamente por aquilo desejando que o ruivo desaparecesse da face da Terra.

— Aquele idiota _resmungou, agora com a culpa batendo em seu íntimo. Kise estava bem, seu nervosismo passou.

Caçou o celular sobre a mesa e foi até a área de fumantes escondida atrás da estação. Não teve que esperar dois toques para ser atendido.

— Taiga? Me desculpe por agora pouco, estava realmente nervoso.

— Eu sei. Não estou bravo _sua voz estava suave o que deixou Daiki aliviado.

— Então... semana que vem? Ah ele está bem.

— Semana que vem, não precisava nem me dizer _riu _até mais capitão.

— Oe...

— É sério... olha, Daiki... a diferença entre Kise e eu é que... ele é todos os dias, a mim você só precisa de vez em quando.

— Não! Taiga, me desculpe eu só fui grosso poqu-

— Conversaremos sobre isso depois _o cortou _acho que está começando a confundir as coisas. Sério, preciso desligar agora. Até mais Ahomine.

E desligou, Daiki ficou sem entender o que de fato estava acontecendo. Taiga estava chateado consigo? Aquilo fora uma lição de moral, certo?

— Vai se ferrar _resmungou.

Um “caso” jamais teria permissão de lhe tratar assim, talvez estivesse na hora de dispensá-lo; ainda assim alguma coisa dentro de si queria se jogar em seus braços o quanto antes e pedir desculpas. Uma sinfonia de altos e baixos, viajar em sonhos loucos e em seguida enfrentá-lo, ver seu rosto irritado, fazer sua voz estremecer... o que estava acontecendo consigo. Tanta curiosidade sobre ele.

Aomine saiu para sua ronda um pouco atordoado, ultimamente tudo em Taiga fazia seu mundo girar e estranhamente cada passo que Kise dava também interferia em tudo. Algo transbordou dentro de si e ele não sabia dizer exatamente o que. Caminhou pelas ruas sem prestar atenção nas pessoas, queria apenas que a hora passasse.

—---------- + ---------------

Kise chegou em casa perto da meia noite, Aomine ainda não deveria estar então se apressou para tomar um banho e esperar acordado. Acordado era uma tarefa bem difícil depois dos voos, ficava extremamente cansado afinal seu trabalho exigia uma demanda enorme de energia.

Trocou pelo pijama macio e se aconchegou no sofá, tinha trazido um doce maravilhoso e esperaria para comer com seu namorado.

— Namorado _cantarolou, se lembrou das alianças... quando será?

Apesar de estarem juntos a tanto tempo, Aomine sempre deixou bem claro que não o pediria em casamento tão cedo. Só o faria quando tivesse total certeza de que estava seguro de si mesmo como um homem bem realizado na vida profissional e amorosa; também tinha a questão do seu psicológico ser extremamente frágil, variando entre ataques de fúrias e dosagens exageradas de amor, queria ter um controle maior sobre isso. Quando finalmente estivesse satisfeito então estaria pronto para casar com Kise e apontar um novo marco em sua vida. Algo um pouco sem sentido talvez, já que transparecia egoísmo, entretanto Kise aceitou que fosse assim tomando aquela meta para si mesmo também.

Após ter sofrido aquele incidente aos seus 19 anos sua vida desabou: perdeu a carreira de modelo, algo que realmente gostava, e teve muitos problemas com seus tios na época. A maioridade no Japão era apenas aos 20 anos então todo seu dinheiro ficava sob-responsabilidade dos tios, ele só conseguiu sair para morar com Daiki quando disse que pouparia dinheiro e debutaria na carreira de modelo: seus tios aceitaram uma vez que os mesmos não queria gastar mais do que o necessário (apesar de ser seu por direito). Kise tivera a morte precoce dos pais e fora morar com a irmã mais velha de seu pai, a garota na época com 31 anos era recém-casada e não queria de forma alguma ter filhos, ficara com a responsabilidade uma vez que não havia outros parentes vivos mais chegados com melhores condições. Teve que arcar com o peso de uma criança de seis anos, justo ela que tinha a vida toda planejada. Ryota nunca fora mal tratado, mas cresceu sabendo de toda a verdade e a culpa, que já fazia parte de sua personalidade, cresceu imensamente lhe fazendo ser um menino totalmente independente antes da hora. Queria agradá-los da melhor forma possível arrumando um emprego ainda na pré-adolescência e deixando suas economias na posse de seus tios sem reclamar por nada.

Muitas vezes desejou comprar algo e não tivera coragem de pedir. Mas morar com Daiki fora algo que realmente quis, sair da casa deles fora bom para ambos e prometeu que aumentaria a renda debutando na empresa. Infelizmente o incidente lhe arrancou o sonho de ser modelo, com o peso da promessa pesando em sua consciência simplesmente acabou dando uma boa parte aos tios como pedido de desculpa e os mesmos aceitaram sem pensar nas dificuldades do menino. Daiki ficou irado, tanto ele quanto sua família acabou intercedendo no processo pagando uma boa parte das despesas de Kise (hospital e psicólogo) dizendo que família era aquela que o amava e não quem pagava suas contas.

O loiro ficou eternamente agradecido aos Aomine e até hoje não negava esforços para mandar presentes e qualquer outra coisa que pudesse ajudar.

Kise crescera sob o peso de ser um intruso na casa de seus tios, depois acabara sofrendo com os descontrole de Aomine Daiki durante toda sua vida escolar, quando finalmente pareceu melhorar sofrera o ataque na empresa deixando marcas que até hoje tinham em seu corpo. Se não fosse Aomine com certeza não estaria aqui agora, tem vergonha de admitir, mas pensou em muitas besteiras naquela época. Tudo explodiu em sua mente.

E agora que parecia finalmente estar indo para um rumo tranquilo, Daiki estava supostamente apaixonado por outra pessoa. Seu Aomine Daiki... não. Não podia ser verdade. Poderia perder tudo outra vez, menos aquela pessoa que estava ao seu lado desde sempre. Passaram juntos por tanta coisa. Ainda se lembrava como o moreno fora paciente nos meses seguintes ao estupro, Kise não suportava a ideia de ser tocado, entretanto Daiki, aos poucos, conseguiu tirar esse trauma. Seu trauma insuportável.

Resolveu parar de pensar no passado, se aconchegou melhor no sofá e pensou na embalagem da Tiffany que estava no closet. O sorriso que brotou em seus lábios cresceu ao ouvir as chaves girando na fechadura da porta de entrada.

— Olá meu amor! Bem vindo de volta _o recebeu ainda sentado, mas acenou e sorriu como se eles não se vissem há dias.

— Oh... estou em casa _sorriu também _tudo bem?

— Melhor agora, trouxe doces de Hokkaido _apontou para a mesinha de centro _está muito cansado?

— Não _se aproximou roubando um selinho e deixando o namorado com um ar de quero mais _vou tomar um banho e já volto.

— Ok!

Daiki parou um instante para observar Kise e reparou que estava muito animado, irradiava algo que fez seu coração disparar.

— Hey _o chamou, Kise olhou por cima do ombro _eu te amo.

— ...ahn uhn, eu também meu amor _seu rosto corou instantaneamente.

Satisfeito, Daiki rumou para o banheiro. “Corando depois de todo esse tempo uh?”

—---------- + -----------------------------

— Viagem de quatro dias?

— Sim... _o loiro olhou para o relógio de pulso jogado ao lado do travesseiro _irei até os Emirados. Vou ter um dia de descanso antes de voltar, são 18 horas de voo.

— Hum, quatro dias... está ficando cada vez mais longo _resmungou.

— Volto assim que possível! E prometo que trago vários presentes pra você.

Aomine o abraçou com força aproveitando para encher sua barriga de cócegas. Kise riu e quando seu fôlego estava no fim, foi libertado da tortura.

— Morrerei de saudades, nunca ficamos mais do que... um dia longe um do outro? No máximo dois.

— Sim, eu sei _disse entre ofegos_ ...Daikicchi, nos conhecemos desde o fundamental. Isso não é legal? Somos quase amigos de infância.

— Quase... mas por que isso agora?

— Nada, só foi uma coisa que passou pela minha cabeça agora _entrelaçou seus dedos, sua mão era menor e muito mais fina, parecia mesmo uma menina.

— Hum... vou te levar ao aeroporto. Quando vai partir?

— De-depois de amanhã _e sempre que o moreno demonstrava um afeto como aquele, se sentia envergonhado.

— Mas já _mordeu de leve sua bochecha _hey, vamos fazer algo divertido então. Onde quer ir?

— ...agora?

— Agora! Estamos em Ginza, podemos ir ao cassino.

— Está frio _reclamou _vamos ficar aqui, quentinhos, você e eu.

— Não! Quero sair _e começaram a travar uma luta debaixo da coberta _vamoooos!

— Nãaaao! Esta bem, ai cacete! _se contorceu ao sentir a mão gelada em sua barriga _assim não vale!

— Vamos!

A briga continuou até Kise se render. Eram momentos como aquele que fazia ambos se apaixonarem ainda mais um pelo outro. Desde sempre, como Kise mesmo dissera, Aomine estava ao seu lado rindo ou esbravejando, não importava. Cresceu sozinho, se tornou independente, frio, fechado. Se não fosse por ele e pelo time de basquete então hoje teria se tornado um homem péssimo.

Aqueles sentimentos antigos fizeram Ryota Kise se tornar o que era hoje e deles jamais se desfariam.

— Coloque sua melhor camisa de grife _anunciou o moreno após uma ducha rápida _pode escolher pra mim também. Quero estar 100% impecável.

— O-o que? Como assim? _voltou a camisa de linho branco para dentro do closet _onde vamos?

— Já disse, para o cassino _assoviou uma música antiga qualquer.

Kise separou um conjunto para cada sempre olhando com desconfiança para Aomine, quer dizer, o moreno era sempre quem se recusava a sair de casa por preguiça da vida; Kise tinha que insistir muito para conseguir um jantar fora ou uma viagem. Se animou. Escolheu para ambos a melhor roupa social que tinham, não deixou de fora nenhum acessório básico e por fim ajeitou seus cabelos os escovando para trás. Eles pareciam um casal rico, estrangeiros, a procura de diversão na cidade mais cara do Japão.

— Você está... _engoliu seco _muito bonito.

— Você também Ryo _deu um selinho rápido enquanto terminava o nó em sua gravata _vamos de X6 ou de Mercedes?

— Ah... e-eu dirijo. Se você bebermos demais prefiro voltar com a minha Mercedes _ainda um pouco embargado pelo desejo de agarrá-lo e destruir todo o perfeccionismo com o qual passou a camisa de Daiki, saiu a procura das chaves do carro.

— Leve só o cartão internacional. Hey _o segurou pelo pulso _você está delicioso nessa roupa, me aguarde quando voltarmos. Vou te chupar até seu pau chegar no fundo da minha garganta.

— Uh!

O gemido e a face corada de Kise só significavam uma coisa: esse cassino não ia durar nem meia hora se dependesse do mesmo.

A Mercedes branca rasgou as ruas largas de Ginza, logo estariam parando em frente ao cassino mais famoso da cidade aonde o casal ia de vez em nunca fazer uma aposta ou duas. Era ali que Kise no geral saia com outros caras se não Aomine. Mas nunca passava de um beijo gostoso ou uma troca de olhares, era bom ganhar na mesa de poker ao lado de alguém e comemorar na hora com uma garrafa de champanhe e um gesto de carinho; nada mais. Em relação aos convites para viagens e sexo, Kise sempre recusava educadamente, não gostava de ser tocado de forma mais íntima por outras pessoas se não seu namorado – na realidade nem conseguia depois do trauma aos seus 19 anos – e já tivera propostas tentadoras envolvendo muito mais dinheiro que o loiro jamais ganharia na vida. Por seu rosto delicado, os cabelos claros e sua personalidade amável, não era difícil ganhar o interesse de velhos aristocratas e jovens ricos.

Kise admitia que aquelas fugas fossem muito interessantes no começo, podia ir com liberdade onde quer que fosse e amava gastar dinheiro deixando sua imagem pública num nível altíssimo. Porém ao passar dos anos, com a idade avançando para a casa dos 30 acabou parando um pouco de aparecer na jogatina, o trabalho começara a pesar e a responsabilidade também. Muitas contas, muito cansaço e pouco tempo. O contato com outras pessoas aos poucos foram perdendo o brilho e apesar de ser deixado muitas noites sozinho nos finais de semana preferia ficar em casa vendo um filme velho ao sair como Aomine frequentemente fazia.

Se sentiu mal nas primeiras vezes, depois como sempre, acabou se acostumando também. Saírem juntos não era tão raro assim, claro, ainda assim o moreno parecia não se cansar nunca de ficar fora de casa.

— Hum, a jogatina hoje vai ser foda pra caralho _comentou o moreno espiando pelo retrovisor _ah como é bom ser rico... na maioria das vezes.

— Bobo _sorriu, usou a mão livre para acariciar sua perna e arriscou tirar os olhos da pista por um instante _meu Daikicchi é tão bobo.

— Teu cu _e apesar da provocação olhou com admiração para o outro. Seu namorado ficava mesmo muito lindo de terno dirigindo aquela Mercedes branca; combinava demais consigo.

— Chegamos _anunciou já estacionando com maestria na frente do cassino, logo um dos funcionários veio lhe receber.

— Boa noite senhores! A casa está animada hoje.

— Obrigado _entregou as chaves com um sorriso ameno. O menino sorriu de volta um pouco constrangido: Kise era elegante e charmoso ao extremo.

Ambos passaram pelas portas de vidro fume pisando no tapete vermelho e dourado da entrada, do lado de dentro muitas mulheres vieram recebê-los. Uma delas beijou delicadamente a bochecha de Kise enquanto lhe entregava um cartão com o valor equivalente das apostas da primeira rodada, ele aproveitou para pedir um Dom Perignon e se dirigiram para a mesa já preenchida por outras 3 pessoas: era hora de começar a ganhar dinheiro.

—--------- + --------------

— Hum, vamos pra casa _Daiki reclamou apesar de nem saber ao certo o que estava dizendo, seu corpo mole pendia para o lado sendo reconfortado pelo abraço de Kise. O loiro ainda permanecia na mesa de apostas firme e forte com as fichas em mãos.

— Vamos sim _beijou seus lábios macios _apostado _afastou a primeira e a segunda fileira de suas fichas para frente _me dê tudo o que tem ou vai sair de mãos abanando.

O homem corpulento grunhiu, apostou também tudo o que tinha e ficou esperando as cartas do loiro. Bom, Kise sempre fora bom em tudo o que fazia e jogos de azar estavam na lista. Ele sozinho ganhou mais do que duas mesas juntas; sempre fora assim por isso acabou fazendo certa fama local. Felizmente o cassino era justo e nunca tivera problemas fora dele.

As cartas viradas deram ao casal sua décima vitória depois de quatro derrotas. Estava excelente para uma noite totalmente não planejada na rotina deles.

— Ganhamos! Pede mais um Dom Perignon! _Daiki se exaltou ao ouvir a comemoração ao seu lado.

— Não! Já bebemos demais.

— Ah... _a voz de Kise parecia muito distante, ainda assim acatou.

— Vamos embora _ergueu-se da mesa trazendo-o consigo e se despediu dos companheiros de jogo.

Eles caminharam lentamente para fora do cassino, os olhares curiosos caíram sobre ambos durante todo o tapete vermelho. Bom ou não, Ryota Kise sempre amou receber atenção e sentiu o ego inflar ao sair vitorioso daquela noite: seu nome estava no telão como ranking número um.

— Não querem um quarto? _a mulher de vestido azul marinho se aproximou de ambos já na saída, com uma piteira de prata em mãos ela soprou a fumaça aromatizada de cravo e canela antes de continuar _temos uma suíte de luxo disponível se forem vocês.

— Obrigado, mas vamos voltar pra casa _o loiro ganhou um trago do cigarro percebendo que havia um pouco mais do que só tabaco.

— Tem certeza? Nossas meninas e meninos _indicou com um gesto de cabeça para o lado esquerdo _fazem qualquer trabalho.

— Imagino que sim _murmurou.

— Peitos _Daiki pareceu acordar de seu sono mais profundo ao ver um par de peitos enormes escapando pelo decote do vestido, imediatamente levantou uma das mãos, mas fora impedido por Kise.

— Outra dessa e eu enterro meu pau na sua garganta a noite toda _resmungou em seu ouvido. Daiki logo se afastou da mulher sorrindo maliciosamente.

— Passar bem meu anjo _deu um ultimo sorriso para a dama e saiu pelas portas de vidro.

Já de volta no carro Kise apertava os olhos para a pista á sua frente, o sono e o álcool não o deixavam pensar direito muito menos enxergar. Passou em alta velocidade em uma lombada fazendo o carro pular e isso tirou um resmungo do agora irritado Aomine. Queria estar em casa dormindo, detestava o trajeto de volta.

— Me desculpe _balbuciou _está tudo bem, Daikicchi?

— Uhum... _respirou fundo _me desculpe pelo mau humor.

— ...oh, você fica tão sincero bêbado _riu.

— Fico?Ah eu fico mesmo. E sei que nessas horas você aproveita pra perguntar várias coisas.

— Claro _parou no farol, aproveitou para olhar para seu amado e acariciar seu rosto _mas eu também sei que você nunca mentiu pra mim bêbado ou não.

— ...confia em mim?

— Sim _disse sem pestanejar.

Daiki estava sendo levado pela bebida, sabia disso, e naquele instante sentiu seu coração partir em muitos pedaços. Era um sentimento de culpa intensificado pelo álcool e pelas palavras doces do namorado; ele de fato não estava mentindo, mas sabia que uma hora ou outra precisavam conversar sobre sua relação atual. Sobre Kagami Taiga. E cada vez que pensava naquilo seu coração apertava, mas agora, depois de muito champanhe, a urgência parecia ainda maior.

Olhou para os lados tentando fugir de si mesmo, uma fuga inútil.

— Ryo... sobre o Taiga, me desculpe _começou sem saber o que realmente queria dizer _sei que precisamos conversar e venho fugindo.

— ...tudo bem, podemos falar disso quando você não estiver bêbado _seguiu em frente acelerando um pouco mais do que o normal. Ficara ansioso com o assunto e acabou descontando daquela forma.

— Nunca tinha conhecido alguém como ele, sabe, tem um senso de liberdade que eu nunca imaginei que existisse. É simples e ao mesmo tempo tão difícil de acreditar que alguém possa de fato viver nela; isso me atraiu. Ele também é bonito, carismático, sabe conversar sobre qualquer coisa, transa bem pra cacete... meu pau, nossos gostos batem bastante _começou a falar tudo sem considerar a pessoa ao lado _ele é... muito parecido comigo. Quase uma alma gêmea, não, talvez ele seja minha alma gêmea.

Kise ouvia tudo em silêncio, já não importava mais chegar ou não em casa. Não importava mais nada naquele momento, estava finalmente sabendo o que Daiki pensava sobre Taiga. O que o atraia, os motivos para Taiga passar de um simples caso para algo bem mais complexo.

— Isso não significa que vou simplesmente abandonar você, Ryo... você é de fato a minha vida. Não consigo me imaginar sem você _respirou fundo mais uma vez _só que eu não sei o que pensar de Taiga também... não é possível amar duas pessoas ao mesmo tempo. Queria entender mais do que qualquer um o que está acontecendo comigo.

O moreno olhou para a garagem que agora se abria lentamente, havia chego ao apartamento.

— Me desculpe Ryota...

Ele teria continuado a falar se Kise não o puxasse para fora do carro e subisse o escorando até o apartamento. Assim que ambos caíram na cama de casal Daiki adormeceu.

—--------- + -------------

A manhã seguinte fora a pior de sua vida em anos, Daiki sentia a cabeça pesar com o mínimo movimento e qualquer pensamento lhe dava pontadas horríveis – sem falar que o aroma cítrico do produto de limpeza que fora limpo o quarto lhe dava enjoos – resolveu se virar para o lado e arriscou abrir um dos olhos.

— Kii? _o chamou a esmo mesmo sabendo que o namorado não se encontrava na cama. Encontrou dois comprimidos e um copo d’água, os agarrou como se sua vida dependesse disso.

Estar na casa dos 30 anos era muito pior do que aparentava, seu corpo já não aguentava mais qual seja o valor do álcool: sempre teria ressaca. Enquanto as dores estavam lá, Daiki fechou os olhos e tentou se lembrar exatamente do que dissera ao loiro na volta pra casa. Sabia que estava falando sobre Taiga e não se lembrava de ter ouvido a voz de Kise em momento algum. Isso era um mau sinal.

Com certeza tinha um discurso pronto, já o repassara diversas vezes em sua cabeça, mas na hora do álcool só dissera 1/3 do que estava planejando então algo deve ter saído errado. Estava falando sobre como Kagami Taiga era incrível e depois apagou.

Ótimo! Claro que a melhor coisa a se fazer era elogiar o cara com quem saía para transar uma vez por semana e matava o namorado de ciúme.

Se xingou várias vezes. Não era assim que queria começar aquela conversa tão importante. Queria realmente ser sincero e explicar o porquê estar com Kagami ainda, mas não daquela forma tão sincera, certos fatos poderiam ser poupados de Kise assim como o loiro sempre o poupou de seus casos. Agora com certeza estava fodido. Muito fodido. Só poderia aparecer na frente do loiro quando estivesse com 100% de certeza que conseguiria conversar sem hesitação explicando o que realmente gostaria com aqueles elogios todos. Respirou fundo. Dormiria mais umas duas horas antes de dar sinal de vida, então finalmente...

E voltou a entrar no mundo dos sonhos. Taiga estava lá com seu sorriso maroto, será que poderia dormir umas 12 horas ao invés de 2?

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Notas finais do capítulo

Até a próxima! Um beijoooooo e me sigam nas redes sociais que estão láaaaa no meu perfil! s2



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