No dia seguinte eu e Jake aproveitamos nossa casa e eu até arrisquei cozinhar. Jake disse que minha comida era ótima, mas não acreditei muito nele, desconfio de que só disse isso para me agradar. Os dias se passavam tranquilamente e minha vida de casada era perfeita. Jake chegava as sete em casa e todos os dias a essa hora eu já estava com o jantar pronto.

Aprimorei meus dotes culinários e aprendi muito sobre meu marido, coisas que antes eu não sabia por não conviver com ele. Acho que depois de casada fiquei mais sonolenta, ou cansada. Dormia em qualquer lugar, bastava me encostar para cochilar. Também passei a comer mais, o que estava me preocupando muito já que queria ser sempre atraente para meu marido.

Com dois meses de casada, passei a lecionar em uma escolinha perto de casa. Entrosava-me bem com as crianças e as mães adoravam minha companhia, acabei me tornando amiga de algumas delas. Era o inicio de uma nova era, estávamos entrando nos anos trinta e agora nós mulheres podíamos trabalhar, era algo muito gratificante e bom para nós. Era um sentimento de liberdade e independência, alguns homens não gostavam da idéia, mas Jake não era assim, ele parecia bem satisfeito com minhas realizações pessoais.

Fizemos um ano de casados. Jake quis uma grande festa, disse que era uma data muito importante e que também era um marco em nossas vidas. Aceitei e fizemos à festa em nossa casa. Vários amigos do trabalho de Jake e do meu apareceram, sem contar a família de ambos.

Daqui a algumas semanas seria o casamento de Rebecca e Roger e nossa como eles estavam radiantes com a chegada da data. Dias após a festa eu e mamãe estávamos em meu quarto, na verdade meu e de Jake, escolhendo qual vestido eu usaria no casamento de meu primo e cunhada. Nada parecia cair bem, alguns vestidos não entravam. Senti-me pesada e feia.

Os seios inchados, as maças do rosto também. Os vestidos de espartilho eram os piores, me apertavam e deixavam marcas em meu corpo. Jake fingia não notar minha mudança, mas eu sabia que ele estava perdendo seu interesse em mim. Dizia sempre estar cansado, ou então dormia antes que eu saísse do banho para me deitar.

- O que foi meu amor? – mamãe perguntou notando meu estado.

- Nada! – respondi.

- Hum, geralmente quando você diz ‘nada’ é porque tem algo. – ela disse rindo.

- Mamãe, - chamei. – acha que estou gorda?

- Não querida! – respondeu.

- A verdade mamãe. – pedi.

- Bom você engordou um pouquinho sim, mas é assim com toda mulher, o casamento muda as pessoas. – explicou.

- Você é magra! – falei chorosa olhando-me ao espelho.

- Cada um tem suas formas. – falou tentando me acalmar.

- Jake não me quer mais. – comentei.

- Como assim não lhe quer? – perguntou com sua sobrancelha levantada.

- Não querendo oras. – falei. – Não me procura mais, está sempre cansado ou com dores.

- Hum, já conversou com ele? – ela perguntou.

- Não. Mas eu noto seu desinteresse em mim. – respondi.

- Querida, não tire conclusões precipitadas. – adivertiu-me.

Depois daquela conversa mamãe foi embora. Juntei todos os vestidos e os coloquei no closet. Vi a camisola que usei em minha noite núpcias com Jake, e também a que usei em nossa primeira noite nessa casa.

Lembranças invadiram minha mente. Lembranças de um marido que me amava, me queria, me desejava. Agarrei-me aquelas duas camisolas e quando dei por mim já estava chorando com as lembranças que me traziam.

Ouvi portas sendo abertas e passos na casa, mas não dei atenção. Continuei ali encolhida em um canto do closet agarrada as roupas e as lembranças que elas me traziam. Acho que estava sensível demais, não era para tanto, eu só precisava fazer uma dieta e exercícios e então emagreceria e ficaria como antes.

Levantei de onde estava e pendurei as camisolas em seus respectivos cabides. Sai do closet e Jake estava sentado na cama tirando seu relógio. Passei por ele sem olhá-lo dizendo apenas oi, e fui para o banheiro. Tranquei-me lá dentro e pus-me a olhar meu reflexo no espelho. Eu não havia engordado tanto, mas se isso estava fazendo com que meu marido não me quisesse eu daria um jeito nisso. Lavei o rosto respirei fundo e abri a porta saindo do banheiro. Jake agora tirava os sapatos.

A janela estava fechada, por isso fui em sua direção e a abri. Estava sol, resolvi que assim que assim que pusesse o jantar no forno iria dar uma caminhada e também que não jantaria hoje. Só depois disso me dei conta de que Jake havia chegado cedo. Olhei o relógio e eram apenas quatro da tarde, ele normalmente chegava às sete.

- Chegou cedo. – comentei.

- Sim, vamos ter um jantar de negócios e quis vir cedo para me arrumar. – respondeu.

- Mas você não me avisou de nenhum jantar de negócios. – falei.

- Sim, é porque só eu vou. – falou.

- Só você? – perguntei confusa.

- É! – respondeu.

- E porque eu não vou também? – perguntei.

- É só para os empresários, as esposas não vão. – falou.

- Ah sim. – respondi achando aquela historia muito estranha.

Bom, se Jake não iria jantar em casa eu não precisaria fazer jantar. Resolvi pegar uma roupa mais confortável e uns tênis, iria caminhar mais cedo. Troquei-me e desci, disse a Jake que iria caminhar um pouco, ele pareceu não ligar, apenas deu de ombros e desejou boa sorte. Nem se quer um beijo, por mais rápido que fosse ele me deu.

Sai cabisbaixa e comecei a caminhar, o vento da tarde batia em meus cabelos parcialmente presos, levando alguns cachos a meu rosto.

- Olá Nessie! – cumprimentou-me Kim.

Kim era noiva de um dos amigos de trabalho de Jake, Jared. A conheci em uma festa que fora dada por Emily, noiva de Sam.

- Olá! – respondi.

- Ah, quanto tempo não nos vemos não é? – comentou. Sim eu não via Kim fazia uns três meses.

- Verdade. – concordei.

- Ah, mas conversaremos no jantar não é? Agora tenho que ir vou me arrumar, até a noite. – despediu-se e saiu andando.

Então as esposas poderiam ir ao tal jantar, a única que não era eu, porque Jake não queria que eu fosse por isso mentiu. Senti-me péssima e resolvi voltar pra casa. Quando cheguei Jake estava no banho. Sentei-me na cama e fiquei encarando o que quer que estivesse a minha frente. Não senti as lagrimas que rolavam por meu rosto. Jake alem de não me querer mentia pra mim. Será que havia arranjado outra mulher?

- Nessie, o que foi? – perguntou quando saía do banheiro.

Muita raiva foi o que eu senti raiva por estar me desprezando e agora por mentir também. Senti uma vontade de dar-lhe uma tapa bem forte e voltar para a casa de meus pais. E daí que seria uma mulher desquitada e que outros homens não iriam me querer? Se todos fossem como Jake eu preferiria morrer sozinha. Eu não estava tão gorda assim para que ele tivesse que procurar outra mulher.

- O que foi? – perguntei agressiva. – Você me desprezar eu ainda aceito, agora mentir pra mim Jake? Por quê?

- Do que você está falando? – perguntou sinico.

- Você disse que o jantar era só para os empresários. Disse que as esposas não iriam, mas acabei de encontrar a Kim, e ela disse que estava indo se arrumar para o tal jantar. – respondi gritando.

Jake fez uma expressão surpresa, obvio que ele não havia cogitado a possibilidade de eu encontrar alguém.

- O que foi Jake? É porque eu to gorda? Você está com vergonha de mim? – indaguei já chorando.

- Gorda? Que historia é essa meu amor? – perguntou se ajoelhando a minha frente.

- É por isso que você não me quer mais, eu engordei e estou feia e você provavelmente já arrumou outra - expliquei – outra que com certeza irá nesse jantar no meu lugar.

- Nessie, de onde tira essas coisas? – falou. – Mas é claro que não existe nenhuma outra, e de onde você tirou a idéia de que está gorda? Meu amor você continua linda e perfeita.

- Então porque você não me quer mais? – perguntei entre os soluços de meu choro desesperado.

- Não querer você? Meu amor, que historia é essa?

- Você está sempre cansado, com dor de cabeça, nunca me quer, não como antes. Não me deseja mais, não me ama mais. – falei.

- Meu amor, o que é isso heim? Mas é claro que eu te amo, e que te quero. – falou sentando ao meu lado e me abraçando.

- Então porque não me procura mais, e porque não quer me levar no tal jantar? – perguntei.

- Meu amor, nós temos que conversar sobre algo sério. – ele disse me olhando fixamente.

- Sobre o que? – perguntei.

Já imaginava que fosse querer o desquite e que me mandaria de volta para a cada de meus pais. Eu estava tendo problemas para ficar grávida, alguns meses antes Jake e eu tentávamos ter um filho, mas isso não acontecia de jeito nenhum.

- Meu amor, eu estou com sérios problemas nas empresas. – falou.

- Problemas nas empresas? – perguntei confusa.

- Sim, com essa greve, a bolsa de valores caiu e o capital da empresa está indo embora, vários sócios já se retiraram dos investimentos e tive de demitir muitos empregados. – explicou.

Ah então era isso? Jake só estava preocupado com os negócios? Isso me deixou aliviada, mas ao mesmo tempo preocupada. O quanto essa crise custaria ao meu marido profissionalmente?

- Então as empresas estão à beira da falência? – perguntei.

- É quase isso! Se essa greve dos bancos não acabar logo, nos iremos falir! – disse com pesar.

- Mas não existe nada que possamos fazer? – perguntei.

- Não tenho de onde tirar dinheiro para manter as ações, nem mesmo temporariamente. – explicou.

Lembrei-me de varias jóias que eu tinha, jóias de minha solterice e também jóias que ganhei após o casamento. Pensei em todas, era muitas, dariam um bom dinheiro, menos claro as jóias da família de Jacob. Essas eu não poderia vender, pois teriam de ser passadas a minha filha ou a mulher de meu filho, isso se eu conseguisse ter um.

- De quanto você precisa? – perguntei.

- Vinte milhões. Isso ajudaria até a greve acabar, o que está previsto para meiados do ano. – respondeu.

Levantei-me da cama e peguei minha caixa de jóias, não sei se resolveriam o problema de Jake, mas ajudaria de alguma forma, eu esperava. Entrei no closet para pega-la, era uma quantidade considerável de ouro, e pedras preciosas. As jóias da família estavam em um cofre no fundo falso de nosso armário, somente eu e Jake sabíamos a combinação. Abri o cofre, minhas jóias pessoais também estavam ali. Sai do closet carregando a caixa consideravelmente pesada e depositando-a sobre a cama ao lado de Jake.

- Suas jóias? Pra que meu amor? – perguntou Jake confuso. Apenas empurrei a caixa em sua direção, Jake me olhou assustado, pareceu se dar conta do que quis dizer quando lhe entreguei a caixa.

- Meu amor, não! São suas jóias! – falou.

- Servirão mais a você agora! – retruquei.

- Mas meu amor, você adora suas jóias. – falou.

- Adoro você muito mais. – respondi.

Jake veio em minha direção e me abraçou. Um abraço forte e amoroso, que há tempos não sentia. Seu beijo em meu rosto me deu a sensação de formigamento na pele. Ao olhar em seus olhos vi que ali ainda estavam todo aquele amor, e aquela veneração que ele tinha por mim, vi ali que tudo ainda estava igual, que ele nunca deixou de me amar, mesmo eu estando gordinha agora.

- Eu te amo muito meu amor! – ele sussurrou em meu ouvido de forma carinhosa.

- Eu também te amo. – falei sorrindo.

Seus lábios tocaram os meus. O doce de sua boca me invadiu quando sua língua pediu passagem adentrando minha boca de forma carinhosa e cheia de amor. Seus lábios macios acariciavam os meus e nossas línguas se tocavam como eu sentira falta disso, do toque de sua boca na minha.

- Não vou fazer isso com você meu amor. – ele disse desgrudando seus lábios dos meus. – Não vou tirar suas jóias de você.

- Jake, eu não preciso delas. – falei. – Peço que apenas me deixe ficar com a correntinha do morango.

Lembrei-me de nossa primeira noite de amor nesta casa, Jake me deu uma correntinha com um pingente com nossas fotos. Ele a colocou dentro de um morango, e me deu para comer.

- Meu amor, não vou lhe tomar nenhuma de suas jóias. Elas são suas! – teimou.

- Tudo bem, mas se precisar, você sabe que pode pega-las se quiser. – falei.

- Sim, agora se arrume para o jantar. – pediu.

- Pensei que não me quisesse lá com você. – falei.

- Apenas não queria que descobrisse da crise, mas você começou a falar sobre eu não te querer mais, tive de contar, mas por mim você não saberia, não queria lhe preocupar. – explicou.

- Meu amor, somos marido e mulher. Seus problemas são meus problemas também. – falei acariciando-lhe o peitoral.

- Tem razão. – concordou. – Vamos?

- Não quero ir. – falei. - Mas porque não? – perguntou.

- Minhas roupas estão apertadas, nada me cai bem depois que engordei. – expliquei.

- Mas você não está gorda. – falou.

- Ahan, sei. – caçoei.

- Estou dizendo a verdade. – falou. – Você esta mais redondinha, mas nada com que se preocupar, continua linda minha amada.

- Redondinha? – perguntei diante de seu termo para me qualificar.

- Sim, suas formas estão diferentes, mas ainda sim está maravilhosa como sempre. – explicou.

Ponderei o que Jake disse. Eu realmente não estava tão gorda, só mais redonda. Corri para o banheiro e tomei um banho rápido, estaria pronta rapidamente para acompanhar meu marido ao tal jantar. Quando terminei meu banho vi posto sobre a cama um vestido branco que havia usado em um jantar na Itália.

Jake sorriu dizendo que eu ficaria linda com aquele vestido. Vesti-me e me olhei ao espelho. Sim, Jake tinha razão, eu estava adorável, o vestido era um pouco largo e seu corte reto escondia minha forma arredondada, forma essa que eu trataria logo de consertar e voltar ao meu normal.