Bem Me Quer escrita por Maitê Miasi


Capítulo 2
Quando Amanhã Chegar


Notas iniciais do capítulo

Meninas, desculpa pela demora, é que nos últimos dias estava sem tempo pra nada, e como se não fosse o bastante, meu celular (que é por onde eu escrevo) só Deus na causa, mas acho que as coisas vão melhorar, pq já providenciei outro, e talvez eu fique mais folgada semana que vem.

Quero dedicar esse capítulo ao mô da minha vida, Jess Corniish, que me deu não só uma mão, mas as duas, e os braços, e se não fosse por ela, esse capítulo não estaria pronto, então mô, é só seu!! ♥ ♥ ♥

Desfrutem.



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[...“Quando amanhã chegar eu estarei por conta

 própria

Me sentindo assustada com as coisas que eu não

Conheço

Quando amanhã chegar...”]

****

Com tantas lembranças juntas, Chico se sentiu um pouco perdido em seus sentimentos. Não sabia se sentia raiva de Diana, por ter agido como agiu, como se ele não tivesse um pingo de valor para ela, ou se admitia sentir saudades, admitia que ela lhe fazia falta, que deixou seu coração em mil pedaços quando se foi, e que jamais encontrou alguém que o fizesse sorrir como ela fazia.

Depois de se embriagar em suas recordações, Chico decidiu que sua raiva ganharia de todos os possíveis sentimentos bonitos que ainda sentia por Diana, chegou à conclusão de que ela não merecia seu carinho, afinal, os tempos eram outros, ele mudou, ela mudou, e nenhum dos dois eram mais crianças aquelas inocentes, mas mesmo diante de toda essa raiva, ele sabia que algo dentro de si, já ansiava por vê-la.

...

Com passos firmes e pesados, Chico entrou em casa, encontrando sua mãe jantando sozinha. Talvez Valquíria o tivesse esperado por algum tempo, mas conhecendo bem o filho, sabia que o mais certo, era não o esperar.

— Pensei que não entraria mais.  – Valquíria disse assim que ele entrou com os olhos fixos no prato.

— Vontade não me faltou de dormir lá fora. – Ele ia se retirando para seu quarto, mas a voz de sua mão o fez parar.

— Não vai jantar?

— Não, tô sem fome. – Respondeu frio.

— Essa sua reação infantil ainda é por causa de mais cedo? – Perguntou indignada, fitando-o.

— Chame como quiser, eu não sou obrigado a fingir estar pulando de alegria, eu não sou assim, e a senhora sabe muito bem. – Ele deu dois passos, mas se deteve, voltando novamente à mãe. – Ah, uma última pergunta, que horas elas vão chegar?

Ela suspirou, não queria lhe responder, mas manteve a calma.

— Elas vão viajar amanhã à noite, provavelmente vão chegar depois de amanhã de manhã.

— Ótimo, esse horário eu estarei longe de casa.

Sem esperar reação de sua mãe, Chico saiu para o seu quarto, para uma possível noite de sono tranquila, possível.

****

Era bem cedo quando Ana entrou no quatro da filha, abrindo as cortinas, permitindo que a luz do sol invadisse o cômodo, despertando Diana.

— Caramba mãe – ela se virou para o lado oposto que estava, cobrindo todo o seu corpo – dá pra sair daqui!

— Princesinha, caso não se lembre, hoje nosso dia vai ser bem corrido, então – foi até a cama e tirou o cobertor de cima dela – trate de levantar dessa cama, e começar a arrumar suas coisas.

— E quem disse que eu vou? – Olhou a mãe com cara de deboche.

— Sabe qual foi meu maior erro? – A encarou séria. Diana a olhava esperando sua resposta. – Foi ter te mimado demais, agora – fez uma cara de brava – levanta desta cama, senão serei obrigada a tomar certas medidas, e acho que você não quer isso. – Diana arregalou os olhos, e ela virou as costas para sair. – Te espero lá em baixo – antes de passar pela porta, ainda a fuzilou com os olhos – não me faça vir aqui de novo Diana, para o seu bem. – Ela bateu a porta atrás de si, e Diana ficou a olhar para o nada.

— Eu hein, louca.

...

O café da manhã foi demorado, afinal, esse seria o último na grande mansão, depois disso, só Deus sabia como seriam os próximos cafés da manhã, e até mesmo as próximas refeições, elas não iriam passar fome, mas com certeza os chás, os queijos e os vinhos importados, não fariam mais parte da mesa delas.

Ana seguiu a todo vapor na arrumação, enquanto Diana fingia fazer alguma coisa. Hora ou outra, sua mãe a encontrava sem fazer nada, e maldizia a si mesma por ter bajulado tanto sua filha, transformando-a numa pessoa um pouco supérflua, e muito, muito mimada.

...

O dia já estava chegando ao fim quando Ana terminou de organizar suas coisas. Ela foi até Diana, sabia que se deixasse a filha terminar sozinha, elas nunca sairiam daquela casa.

— Oi – disse ao entrar no quarto – como estamos?

Diana estava sentada em sua cama, colocando algumas roupas em uma mala, sem nenhuma pressa.

— Bem – respondeu sem entender a pergunta da mãe, ou fingiu que não entendeu – por que a pergunta?

Ana percebeu o cinismo da filha, e resolveu agir antes que desse umas palmadas nela. Ela foi ate seu closet, colocando várias peças de roupas na mala ao mesmo tempo, sem ao menos dobrar, Diana ficou a olhá-la, dessa vez não entendeu, de verdade.

— Mãe, para! – Gritou.

Ana parou a sua frente.

— Diana, são quase seis horas e temos que estar na rodoviária antes das onze, e se você continuar nesse ritmo vamos perder o ônibus.

— Não vejo nenhum problema. – Ela fingiu roer suas unhas, deixando sua mãe irritada.

— Diana – suspirou – por favor. – Pediu.

— Tá, tá bom, desculpa. – Ela se levantou, dessa vez ágil. – Me ajuda terminar isso aqui então.

Em dois tempos, as duas finalizaram a arrumação, restando poucas coisas para o final.

— Não! Esses não! – Ela exclamou quando sua mãe pegou uns vestidos de festa para guardar.

— E por que não?

— Porque não vou usá-los lá mesmo, quer dizer, não vai ter nenhuma ocasião pra usá-los, deixe-os aí pra Clarisse ter o trabalho de jogá-los fora, ou talvez ela reconheça que eu sempre me vesti melhor que ela, e aproveite-os.

— Você não vale nada. – Ela deixou escapar um risinho.

— Obrigada, obrigada! – Ela fechou os olhos e sorriu com deboche.

— Isso não foi um elogio.  Então você também não vai levar esses sapatos, não é?

— Claro que vou!

— Ué, não vai ter nenhuma ocasião pra você usá-los, assim como os vestidos, então pra que quer levar?

— Ah, é que eles têm um valor sentimental, e eu não quero me desfazer de nenhum deles. – Sua voz era manhosa.

Ana balançou a cabeça de um lado ao outro, como se não acreditasse no que acabara de ouvir, e colocou os vestidos de volta no closet, minutos depois, tudo estava devidamente arrumado, e no lugar, deixando Ana aliviada.

...

Finalmente hora de irem. Hora de recomeçarem, hora de deixarem pra trás as coisas ruins que ali viveram, guardar as boas lembranças, e torcer para que, o que estivesse por vir, fossem bons fluídos.

Ana e Diana desceram as escadas em silêncio, com o coração acelerado, e uma vontade imensa de desistir dessa ideia louca. Elas continuaram caminhando, torcendo para que aquilo não passasse de um sonho estranho, mas ainda continuaram descendo lentamente os degraus, e por fim, chegaram ao pé da escada, suas coisas já estavam próximas à porta, esperando por elas. Perto da escada, estavam três empregados, os mais antigos da mansão, um do lado do outro, surpreendendo-as com suas presenças.

— Vocês já deviam estar em casa, já está um pouco tarde. – Diana disse, com uma voz tristonha.

— Dona Diana, nós queríamos nos despedir da senhora, já que a senhora sempre foi uma boa patroa, não queríamos que fosse, sem antes saber o quanto a estimamos. – Disse uma mulher com seus cinquenta e poucos anos, um pouco acima do peso, com cabelos grisalhos.

— Eu... Eu não esperava isso. – Ela ficou surpresa com as palavras da governanta.

— Nós desejamos que a senhora seja muito feliz onde for morar, e que as coisas deem certo dessa vez, porque tenho certeza que quem saiu perdendo, foi o senhor Pedro. – Especulou o mordomo alto e magricela.

— Sim – foi a vez da cozinheira, que aparentava uns quarenta anos, mas um pouco maltratada pelo tempo – a senhora merece as melhores coisas – sorria exageradamente – e merece ser muito feliz, não vai demorar muito para que o senhor Pedro perceba a borrada que fez, pois ele não vai encontrar ninguém melhor que a senhora.

Diana tinha a difícil tarefa de não cair em lágrimas, mas dessa vez era de alegria, eles não sabiam, mas alegraram imensamente a moça.

— Nossa, eu nem sei o que dizer – sorriu emocionada – eu não esperava receber palavras tão bonitas, na verdade, nem sei se mereço, obrigada, de coração. – Ela secou a pequena lágrima que brotou em seus olhos.

— Não precisa agradecer dona Diana – o magricela disse – só esperamos que seja feliz.

— Vou tentar, pode deixar. Bom, depois disso, só um abraço, não é mesmo?

Ela fez questão de abraçar os três, pois não se sentia superior a nenhum de seus empregados, muito pelo contrário, ela sempre foi muito bem vista por todos eles, e respeitada, por ser uma boa e simpática patroa. Ana também se infiltrou no abraço, dessa vez sentia orgulho da filha, e principalmente de si mesmo, porque ela sabia que tinha acertado em algo na educação que havia dado a ela.

Depois da sessão de choro, as duas fizeram o que devia ser feito, e foram a caminho da porta, sorrindo, contentes, alguma coisa nesse dia teria valido muito a pena, mas ao abrir a porta, o sorriso que iluminava o rosto de Diana sumiu imediatamente, graças à presença ilustre de Pedro e Clarisse.

— O que vocês estão fazendo aqui? Vieram ter certeza de que eu estou deixando livre o ninho de amor de vocês?

— Não, até que não Diana, mas confesso que essa é a cena mais linda que já vi nos últimos dias. – Clarisse debochou.

— Clarisse! – Pedro a repreendeu. – Pensei que não estivesse mais aqui Diana, por isso viemos.

— Bom, se vocês saírem da frente, em questão de segundos, eu não incomodo mais vocês, agora, nos deem licença. – Pedro não lhe deu passagem. – Dá pra sair da frente?

— Diana, eu sinto muito por tudo ter tomado o rumo que tomou, espero que você se encontre nessa nova vida e, dê notícias.

— Pedro! – Clarisse não gostou do que ouviu.

— Eu espero que você nunca mais saiba de mim, assim como eu não quero mais saber de você, aliás, quero sim, quando essazinha – olhou Clarisse – encontrar outro babaca mais rico que você e te deixar, eu quero saber que você tá na merda, agora, saía da minha frente! – Ela, seguida por Ana, saíram os dois, sem olhar para trás.

...

Atordoada com a presença inesperada do seu ex-marido, Diana conteve seus gritos, sua raiva e seu choro, ela prometeu para si mesmo que nunca mais derramaria uma lágrima sequer por Pedro, e iria cumprir, nem que fosse a última coisa que fizesse na vida.

As duas seguiram a caminho da rodoviária sem dizerem nada, e dessa vez Ana não se incomodou com o silêncio que as rodeava.

Quando o ônibus entrou em movimento, Diana sabia em sete horas, ela estaria frente a sua nova vida, mas já detestava essa nova realidade. A noite seria tensa e desgastante, mas quem disse que ela conseguiu pregar os olhos? Sua mãe dormia ao seu lado, mas ela prosseguiu acordada ao decorrer do percurso, vendo todas as placas de trânsito, hotéis e restaurantes de beira de estrada, e por mais que estivesse com sono, nesse momento, ele era apenas um amigo muito distante.

Ainda estava escuro quando elas chegaram. Haviam poucas pessoas trabalhando, e o lugar estava assustadoramente deserto, típico de parada de ônibus do interior.

— Boa noite. – Diana se aproximou do cara dentro da cabine.

— Bom dia. – Ele continuou mexendo no computador a sua frente.

— Bom dia? Mas ainda tá escuro! – Ela olhou pra fora, pra constatar que não estava maluca.

— Bom dia moça, o que a senhora deseja? – Ele perguntou perdendo a paciência.

— Hum... Que horas tem ônibus pra Tapebuias?

— Bom, ele sai do ponto final às 05h30min, e deve chegar aqui, hum... – Pensou. – 06h15min, e daqui pra Tapebuias, mais uma hora.

— Eu vou ter que esperar uma hora e quarenta e cinco minutos? – Pasmou.

— A senhora é boa de matemática. – Debochou. – Agora pode me deixar trabalhar?

Diana saiu dali bufando, não só pelo tempo que teria que esperar, mas sim pela delicadeza do cara que a atendeu.

— E aí, o ônibus tá vindo? – Ana estava sentada num banco, com seus pertences próximos a ela.

Diana ignorou o comentário da mãe, e com pior das fisionomias, sentou-se ao seu lado.

...

Finalmente, depois da longa espera, elas avistaram aquela casinha ao longe, Ana abriu um largo sorriso, conhecia muito bem a casa de sua prima, e já estava ansiosa para abraça-la depois de tanto tempo.

Ana foi em direção a casa às pressas, e foi recebida com festa por Valquíria, enquanto Diana andava em passos lentos, mostrando a todos a sua insatisfação por estar ali.

— Vocês não sabem como eu estou feliz por estarem aqui, eu estava contando a hora pela chegada de vocês. – Ela deu um abraço apertado nas duas.

— Nós também estamos felizes, não é Diana? – Olhou para a filha.

— Claro. – Respondeu seca.

— Diana! – Valquíria a analisou de cima a baixo. – Como você está bonita, você era tão magrinha, franzina, agora tá esse mulherão!

— Obrigada? – Respondeu visivelmente sem graça.

— Lindinha! – Apertou a bochecha dela. – Vocês querem um cafezinho? – Ela não parava de se movimentar nem por um instante.

— Ah, eu aceito! – Ana respondeu sorrindo.

— Ham... Eu... Eu vou ali fora – estendeu a mão em direção à porta – vou ver se eu ainda... Ham... Me lembro de alguma coisa por aqui.

Diana forçou um sorriso, e saiu logo que umas das duas a impedisse.

...

Seus pés frearam assim que ela passou pela porta, obrigando-a a analisar minuciosamente cada canto que seus olhos podiam alcançar naquele momento. Com sua mão esquerda sobre o corrimão, ela desceu lentamente os três degraus que ficavam a frente da casa, seus olhos captavam aquela paisagem, tão diferente de onde viera, mas contra sua vontade, ela já se sentia confortável ali.

Seus pés ainda estavam no controle do seu corpo, e fizeram questão de levá-la a um lugar que marcou sua infância, e que ela lembrava bem. Diana parou próxima a uma árvore, talvez a mais antiga ali presente, e algo que chamou sua atenção, foi o balanço, que também era bem antigo.  Um sorriso nostálgico surgiu em sua boca, ao se lembrar como fora feliz ali, das vezes que se sentia livre quando voava alto naquele balanço, e sempre queria ir mais alto, e mais alto, em meio às lembranças, se recordou do seu sonho de infância, um sonho que ela só tinha compartilhado com uma pessoa, o sonho de que dia pudesse ter asas e voar o mais alto possível, sem medo da possibilidade de cair, ela queria apenas voar, e voar.

Encostada na árvore, olhando para o balanço, Diana fez com que coisas boas viessem à tona, e tentou imaginar como seria a vida dela dali para frente, talvez se fosse um pouco parecida com a infância, não seria tão ruim, mas logo descartou essa possibilidade, as coisas haviam mudado muito, e nada seria mais como fora na sua infância.

— Ora, ora, ora, se não é a senhora Diana Linhares aqui.

Diana se assustou com aquela voz grave atrás de si, e se virou rapidamente pra ver quem era o louco que estava ali. Ao se virar, encarou o cidadão de baixo a cima. Ele usava botas, uma calça jeans surrada, com alguns rasgos ao longo, uma blusa azul xadrez, e no rosto um cavanhaque até que bem feito, mas depois dessa análise, percebeu que não reconhecera a pessoa que falava com ela.

— Você está equivocado no seu comentário – ela controlou sua respiração ofegante, causada pelo susto – ou alguém te passou a informação errada, já que Linhares era meu nome de casada, e como não sou mais casada, não tem porque usá-lo. – Ela arqueou uma sobrancelha.

— É, pelo visto nem esse seu marido te aturou. – Ele sobrepôs seu peso sobre sua perna direita.

— Escuta aqui, quem você pensa que é pra falar assim comigo hein? Por acaso você me conhece? – Diana se irritou levantando o braço instintivamente.

— Você abaixa o tom pra falar comigo, prima. – Sem nenhuma força, ele segurou seu braço.

— Prima? – Se soltou ainda sem entender de quem se tratava.

— As coisas não acontecem como você esperava, não é mesmo? Achou que viraria a mocinha da cidade, e olha aonde você veio parar. Sabe, eu pensei que as coisas, as pessoas da cidade fossem melhores que aqui, mas não deve ser tão boas assim, pra você voltar.

— Quem é você hein?

— Ué Diana, não tá me conhecendo? Nós fomos grandes amigos na infância, daí você foi embora. Engraçado, foi aqui neste mesmo lugar que nos vimos pela última vez, e anos depois, tornamos a nos ver, no mesmo lugar, esse destino hein.

— Chico?

— Sim Diana – ele se aproximou perigosamente dela, sentindo a velocidade de sua respiração aumentar rapidamente – quem diria, nós dois aqui de novo, só que agora eu já sou um homem, e você uma mulher.

Diana sentiu seu coração acelerar com aquela proximidade, mas não sabia o que dizer, e nem como agir, em contrapartida, Chico ficou profundamente imerso naqueles olhos verdes, controlando o seu único desejo naquele momento: beijá-la.

Continua.


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