Bem Me Quer escrita por Maitê Miasi


Capítulo 15
Deu Medo


Notas iniciais do capítulo

Reta final galeros ;)



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[“...Pode o mundo acabar
Pode o tempo parar
Tudo acontecer
Que eu não vou te perder

Pode o céu desabar
Pode secar o mar
Só não pode morrer
Meu amor por você
Por você...”]

****

Chico.

Gritei sem dó nem piedade aquelas palavras que estavam me sufocando, tirando a minha paz e o meu sono. Diana me olhou sem acreditar no que ouvia, provavelmente porque não fazia ideia que eu já sabia do seu segredinho sórdido.

— Que absurdo é esse que você tá falando Chico? – Ela esbravejou enquanto se levantava lentamente com as pequenas peças do bebê.

— Que absurdo o quê Diana! Você achou mesmo que ia me enganar, que ia me fazer de otário?

— Eu não faço a menor ideia do que você tá falando – sua voz foi abaixando em algumas oitavas, enquanto sua cabeça maneava desacreditada. – onde você pode ter tirado isso? Você acha mesmo que eu – ela apontava com indicador para si mesma – teria coragem de fazer uma coisa dessas com você, Chico?

Diana era uma bela atriz, com já tinha dito, chorava tanto, que eu me perguntava se realmente ela estava errada. Eu ignorei sua pergunta, e seu choro, e mais uma vez, disse o restante das palavras que ainda estavam presas na minha garganta.

— Para de dissimular Diana, já deu, eu não vou cair nesse seu joguinho sujo! Espero que o pai dessa criança fique sabendo, aliás, eu não vou permitir que uma criança que não tenha meu sangue fique perambulando por esta casa. – Eu passava minhas mãos pelo cabelo impaciente, andando de um lado pro outro, e depois de um breve silêncio, tornei a falar. – Ah, agora eu sei qual é o teu problema, você não sabe quem é o pai dessa criança não é mesmo? Pode até ser seu ex marido, ou também pode ser a torcida de todos os clubes de futebol do país, de tanto que você deve ser rodada.

Antes mesmo que pudesse finalizar minha frase cheia de veneno contra minha prima, ela me deu uma bofetada na cara com toda sua força. Na minha frente eu via uma Diana que eu nunca havia visto antes, com raiva, com sangue nos olhos, ela parecia estar possuída. Nesse mesmo instante minha mãe e minha tia apareceram no quarto, já vestidas com roupas de dormir.

— Você meça suas palavras pra falar de mim, OK?! – Ela apontava gritando. – Se você não acredita que esse filho é seu, é problema seu, mas eu não admito que você se refira a mim desta forma!

— Ah, e por que não? Você é uma falsa, hipócrita e astuta, acha que tem todo mundo nas mãos, acha que pode comprar as pessoas com esse seu rostinho bonito. Eu fui um tolo por ter caído na sua lábia, mas não, não vou continuar sendo o seu passatempo!

— Meu Deus – minha mãe se encontrava de boca aberta diante daquela situação – que diabos está acontecendo nesse quarto? – Nós dois ignoramos a sua pergunta.

— Então eu faço de você um brinquedo, e só quero passar meu tempo com você, não é? – Ela já não gritava, mas me olhava com rancor. – Então tudo que aconteceu foi uma farsa, é essa sua conclusão? Eu devo então saber fingir muito bem né, porque conseguir te levar pela “minha lábia” – fez aspas – como você mesmo disse, deve ser um trabalho pra um profissional. Mas vou te decepcionar Chico, eu ainda não cheguei a esse estágio não, não sou uma grande mentirosa e ardilosa como você acha que eu sou, e por incrível que pareça, eu estou sendo somente a vítima de toda essa acusação.

— Você é muito cínica mesmo – dei uns dois ou três passos em direção contrária a dela, e logo a fitei de novo – só que teu erro foi, falar muito alto, talvez – ironizei – eu ainda tenho pessoas que posso confiar, Diana. – Concluí.

— Você deveria abrir mais seus olhos em relação a essas pessoas, porque elas só querem te ver pelas costas. – Ela deu os mesmo três passos em minha direção.

— Meus filhos, por favor, vamos manter a calma. – Minha mãe novamente interferiu, e novamente foi ignorada.

— Acho que a única pessoa que queria isso aqui é você Diana. – Nós já não gritávamos mais.

— OK, continue pensando assim Francisco, eu só te digo uma coisa: você vai se arrepender amargamente por tudo o que me disse aqui, e quando esse dia chegar, e não vai demorar muito não, eu não vou te perdoar por nada, que isso fique bem claro.

Ela passou por mim esbarrando propositalmente em meu braço, secando as lágrimas que ainda caiam impiedosamente, e foi pra algum lugar sendo acompanhada pela minha tia. Minha mãe ficou me olhando ainda pedindo uma explicação, mas eu não tinha cabeça pra dizer nada naquele momento, e apenas segui o caminho que minha prima tinha feito segundos antes, mas saí de casa pra tentar esfriar a cabeça bem longe dali, bem longe dela.

****

A noite havia passado tão lentamente, e eu acho que mal tinha pregado os olhos.

Já era madrugada quando retornei, muito depois de perceber que as luzes já estavam apagadas, e que elas já tinham se deitado. Entrei sem fazer barulho e me deitei naquele sofá duro na esperança que o sono viesse logo e eu dormisse esquecendo de tudo o que aconteceu. Mas foi pura ilusão. O sono não chegou, e toda aquela história  ficou remoendo na minha cabeça, e por muitas vezes, me acusando.

Depois de relutar muito, me levantei pra tomar um café da manhã decente e torcer pra que ele salvasse meu dia. As três já estavam à mesa, e mesmo antes que eu dissesse "bom dia", Diana se levantou, e sem cerimônia saiu da mesa.

— Tchau mãe, tchau tia, tô indo pra escola. Beijos! - Ela deixou um beijo no cabelo das duas e saiu, e simplesmente ignorou a minha existência. Eu já esperava por isso.

— Bom dia. – Saudei sem nenhum entusiasmo.

— Bom dia. – Elas responderam em uníssono.

Eu não tive cara pra olhar pra minha tia, pois com certeza ela estava decepcionada comigo, mas isso não a impediu de me dar um sermão.

— Tá sem coragem de olhar pra mim depois do papelão de ontem né Chico? – A encarei um tanto envergonhado. – Mas eu vou te dizer uma coisa bem breve: eu pensei que nunca ficaria decepcionada com você, mas ontem você me mostrou o contrário.

— Mas tia...

— Deixa eu terminar! – Ela me cortou sem rodeios. – O que foi aquilo que você fez ontem? Como teve coragem de acusar Diana daquele jeito? Como teve coragem de duvidar da palavra dela? Então quer dizer que você ia se casar com uma mulher em quem não confia?

— Eu confiava nela.

— Daquele jeito? Você preferiu acreditar na história de qualquer um do que acreditar na mulher que há dois dias atrás você dava a vida? Que tipo de amor é esse?

Minha tia já não era a pessoa doce que alguns dias atrás dissera que apoiava o relacionamento entre mim e Diana, ela estava totalmente transformada, ela havia virado um bicho pra defender minha prima.

— Desculpa tia. – Abaixei minha cabeça sem saber mais o que dizer, mas sabia que minha tia estava certa.

— Não é pra mim que você deve desculpas Chico, é pra ela, e não estranhe se ela não quiser te ver nem pintado, ela está no seu total direito.

— Eu sei.

— Eu posso ter errado em muitas áreas na criação da minha filha, mas numa coisa eu acertei: minha filha tem caráter, minha filha não se envolve com vários homens de uma vez, ela é uma mulher direita, apesar dos inúmeros defeitos, ela é uma mulher de respeito.

Minha tia ainda disse muitas coisas, mas chegou um certo ponto que eu parei de ouvir, porque minha consciência pesava de tal forma, que eu já não suportava ouvir o que minha tia dizia, por saber que tudo que ela dizia era a mais pura verdade.

...

Diana.

Não houve maquiagem suficiente pra cobrir todas as olheiras de uma noite mal dormida, ou melhor, não dormida. Lixo. Essa era a palavra que descrevia, era assim que eu me sentia, um verdadeiro lixo.

A última coisa queria naquele dia era ver o Chico, ou melhor, eu não queria ouvir a sua voz, nem naquele dia, e se possível, dia nenhum, enquanto eu vivesse.

Cheguei na escola mais cedo que o normal, meu expediente começaria só uma hora depois, mas sabia que a biblioteca estaria vazia pelo horário, a não ser pela presença de Wanda, que chegava na escola assim que o sinal batia.

— Bom dia Diana! – Ela me saudou com um sorriso simpático arrancando um sorriso simples de mim.

— Bom dia Wanda. – Respondi um pouco tímida.

— Não sabia que pegava mais cedo hoje.

— É, na verdade não – ela me convidou pra sentar. Ela estava na sua mesa, de frente pro computador. – resolvi vir pra cá antes do horário.

— Hum, queria ter essa vidinha. Quando se é mãe e esposa, todo minuto em casa é precioso, sorte sua por ser solteira e sem filhos.

— Pois é. – Eu fiquei um pouco sem graça diante do seu comentário.

— Bom, eu não tô reclamando, porque mesmo sendo tão trabalhoso, é bom, sabe, chegar em casa e receber um abraço da família, isso não tem preço. – Ela seguiu até a prateleira pra guardar uns livros que estavam jogados pelas mesas do local, e eu a segui repetindo sua ação. – Um dia você vai saber o que é ser esposa, ser mãe.

— Sobre ser esposa eu até tenho alguma experiência – ela me olhou curiosa – na verdade eu já fui casada.

— Jura?! – Pela sua expressão parecia não acreditar no que tinha acabado de dizer.

— Sim, mas não durou muito porque o canalha fez que questão de me trocar.

— Nossa Diana, que horror! – Ela parou perto de umas das prateleiras pra escutar com mais atenção o que eu dizia. – Bom, pelo menos agora você não vai querer se envolver com ninguém tão cedo, né?

— Foi o que eu disse pra mim mesma, mas quem disse que eu cumpri com minhas palavras?

— Ihh, pelo tom, já até sei o restante da história.

— Pois é, me apaixonei perdidamente por um cara que fez pior que meu ex marido.

— O quê?! – Rapidamente os livros que estavam na sua mão foram guardados e ela me olhou com toda a atenção do mundo.

— Me humilhou da pior forma possível, me chamou de falsa, dissimulada, e o que mais você imaginar, acho que agora eu tô pior que quando me divorciei.

— Diana! – Ela estava boquiaberta diante da minha declaração. – Esse cara deve ser mais canalha do que seu ex.

— Sim, pelo menos o ex não me insultou tanto quanto esse estúpido. O pior que eu tenho que ver esse idiota todos os dias. – Suspirei pesado, e me sentei em uma daquelas cadeiras de crianças ainda com os livros na mão.

— É alguém aqui do trabalho? – Eu vi a curiosidade estampada em seus olhos.

— Não, é meu primo, Chico. – Disse sem preocupar com o que ela ia pensar de mim.

— Chico, o filho da dona Valquíria? – Pasmou.

— É, ele mesmo.

— Eu não sabia que vocês eram primos.

— Sim, somos, e pra tornar a situação ainda mais apetitosa, moramos na mesma casa.

— Nossa Diana, essa história podia virar roteiro pra filme.

— Pois é.

— Diana, se você quiser, pode passar um tempo lá em casa, até esfriar a cabeça, ou sei lá.

— Claro que não Wanda, não vou atrapalhar a rotina da sua família por causa dos meus problemas. – Me levantei e comecei a guardar os livros que estavam em minhas mãos.

— Você não vai atrapalhar. Escuta, tem um quarto vago, que minha mãe fica quando vai pra lá, e ela não vai aparecer tão cedo, ela tá na casa de uns parentes dela.

— Não, obrigada Wanda, mas eu não vou aceitar.

— Você é quem sabe. Mas se mudar de ideia, as portas estão abertas para você.

A conversa com minha colega de trabalho me deixou um pouco mais leve, mas o que fez meu dia melhor mesmo foram aquelas crianças barulhentas e escandalosas. Toda aquela correria e bagunça me faziam esquecer um pouco meus problemas, e não apenas isso, elas me faziam rir dos seus pequenos atos, ou até mesmo quando contavam alguma historinha, sem pé e sem cabeça. Era como se minha bateria estive no fim, e aqueles pequeninos fossem meu carregador.

...

Chico.

Não tive a mínima cabeça pra trabalhar até o final do turno, então fui mais cedo. Dei sorte por encontrar somente minha mãe em casa, pois acreditava que não receberia sermão dela.

Ela estava na cozinha fazendo uns salgados pra vender, então fui direto pra sala, e me joguei no sofá.

— Será que agora você pode me explicar direito o que tá acontecendo? – Da cozinha ela falava num tom confortável que dava pra eu ouvir da sala.

— Depois de tudo o que houve, a senhora ainda me pergunta? – Fui um pouco rude, mas dessa vez tinha sido sem querer.

— Então quer dizer que você se envolve com sua prima, e sua mãe é a última a saber? – Ela veio até a porta da sala, e ficou  me encarando.

— Pelo o que saiba, você e minha tia suspeitavam de nós.

— Suspeita é uma coisa, ter certeza é completamente diferente. Agora, francamente Francisco, eu sou sua mãe, tinha o direito de saber.

— Mãe...

— Não quero saber das suas desculpas, então, por favor, nem comece.

Dito isso, a senhora minha mãe voltou pros seus salgados, e eu fiquei ali no meu amigo querido sofá pensando, e pensando, e pensando. Depois de alguns longos minutos pensando, resolvi pedir um conselho a minha mãe, mas já sabia a resposta que ouviria.

— Mãe?

— Hum?

— Você acha que eu devo me desculpar com a Diana?

Assim que ela ouviu a minha pergunta, ela deixou suas coisas sobre a bancada e veio até a mim trazendo a leveza que ela tinha, e me deixando um tanto leve também.

— Seu coração tá dizendo que você deve fazer isso? – Cri que está fosse uma pergunta retórica, pois não respondi e ele continuou. – Se seu coração diz que você deve se desculpar, arrume coragem e faça, sua consciência vai ficar mais leve.

Depois das simples e sábias palavras, ela voltou pro seus afazeres e me deixou ali refletindo no que ela dissera.

Eu realmente estava disposto a me desculpar com Diana, tinha me dado conta da burrice que tinha feito, o quanto fui injusto com ela, me dando conta de que ela não merecia nada daquilo.

Eu sabia a hora que ela chegaria da escola, e então saí pra ensaiar as palavras certas que eu diria a ela. Com certeza essa era situação mais difícil que eu teria que enfrentar, eu detestava assumir que estava errado, mas nesse caso confesso que tinha passado dos limites.

Passados meia hora que ela tinha chegado, eu tomei coragem pra falar com ela, um medo tomou conta de mim, eu estava esperando todo o tipo de reação contrária dela, mas queria muito que ela me perdoasse logo na primeira tentativa. Entrei em casa e não precisei ir muito longe, dei de cara com ela perto da porta.

— Diana –  meu coração quis sair pela boca – eu, eu, eu quero falar com você. – Depois de gaguejar um pouco, a frase finalmente saiu.

— Ah, que legal, mas eu não tenho nada o que falar com você.

Ela já ia saindo, mas eu a segurei pelo braço fazendo ela me olhar de novo.

— O que é isso? Já não bastava ter me agredido verbalmente, agora quer fazer fisicamente também? Me solta! – Num arrancão ela se soltou de mim.

— Não é isso Diana, na verdade eu queria me desculpar pelo modo que eu agi ontem, eu fui um estúpido, covarde, você não merecia ter ouvido aquilo, eu acredito em você.

— Comovente Chico – bateu palmas – pena que já é tarde. Eu pensei que você confiasse na sua fonte, o que houve? Ela te disse que se enganou? – A ironia se fazia presente no tom da sua voz.

— Por favor Diana, eu me deixei levar, eu te amo, me dá uma chance de me redimir.

— Eu também te amo Chico, mas amo ainda mais a mim, e eu não esqueci e não vou esquecer facilmente as suas acusações, agora se me der licença, eu tô de saída. – Ela pegou uma mala, que até então eu nem tinha notado, e começou a caminhar para a saída.

— Espera aí, aonde você vai?

— O mais longe possível de você.

Continua.


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