Bem Me Quer escrita por Maitê Miasi


Capítulo 14
Extremos


Notas iniciais do capítulo

Por um milagre, estou aqui de novo. Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/738032/chapter/14

[“...Com um suspiro
Eu espero encontrar
Apesar da tentação
Que no caminho
Faz confundir o coração...”]

****

Chico.

As palavras que Rosa disse ecoaram na minha cabeça, na verdade parecia que haviam jogado uma granada dentro dela, e naquele exato momento ela havia explodido, me deixando sem nenhum raciocínio. Marteladas, socos, e mais tantos golpes vinham ao meu encontro e eu não conseguia reagir a eles, era como se eu estivesse nas águas do mar e não conseguisse voltar à beira, por conta das ondas que me assolavam, era assim que eu estava me sentindo depois que Rosa proferiu aquelas malditas palavras.

— Que tolice é essa que você tá falando Rosa? De onde você tirou um absurdo desses? – A essa altura, eu já estava praticamente espumando.

— Que absurdo o quê Chico – ela estava mais calma que uma pena levada pelo vento – eu o que tô falando é a mais pura verdade. Pra quê que eu inventaria isso? Eu ouvi as duas conversando. – Deu de ombros.

— Isso não pode ser verdade! – Esmurrei o sofá com tanta força, que vi a Rosa piscar seus olhos com medo do Chico que via na sua frente.

— Mas é! Eu não estou mentindo Chico, será que você não confia mais em mim?

Eu ignorei sua pergunta, e fiquei pensando. Aquelas palavras me atordoaram de tal forma, que eu não sabia se chorava por saber que a mulher que eu amava tivesse sido capaz de algo do tipo, ou se xingava todos os milhões de palavrões que vieram a minha mente.

Rosa ainda continuava ali esperando alguma palavra ou reação minha, mas nem liguei em dar atenção a ela, mas ele não desistiu do assunto.

— Chico – ela tocou meu ombro com um pouco de receio – fica calmo, ela não merece que você fique assim por ela.

— Sai daqui Rosa! – Eu gritei o mais alto que minha voz conseguiu apontando a direção da porta.

— Mas, mas...

— Sai da minha frente Rosa, eu não quero ver ninguém!

— Eu não tenho culpa tá, não mereço que você me trate desse jeito! – Ela já estava em prantos, como uma grande chorona que era, e eu não dei à mínima.

— Você é surda Rosa, ou é burra, ou tem demência? Eu já não mandei você sair daqui, eu não quero ver ninguém, me deixa em paz!

Eu mandei que ela saísse, mas depois de gritar com ela, saí sem rumo, precisava esfriar minha cabeça, e me preparar pra falar poucas e boas pra Diana. Coitada da Rosa, não tinha nada a ver com história, só estava querendo me alertar, e acabou por receber toda minha grosseria.

...

Diana.

Acho que eu nunca tinha estado numa correria tão grande na minha vida como naquele dia. Aquele evento da escola tava sugando todas as minhas poucas energias, mas eu estava adorando. Poder ver aquelas crianças todos os dias, correndo, pulando, brincando, me dava uma alegria enorme. Tamanha pureza só trazia paz para os meus dias.

O que me deixava mais feliz era saber que em breve meu pimpolho estaria ali também, trazendo paz não só pra mim, mas pra outras pessoas que estivessem ao seu redor.

— Diana? – A professora de uma das turmas que parou ao meu lado, puxando assunto. – Tá gostando das apresentações?

— Ah sim, todas estão muito bonitas, você e as outras professoras capricharam!

— Dá um pouco de trabalho, mas vale a pena vê-los assim, arrancando suspiros de quem veio prestigiar.

— Isso com certeza.

Continuamos ali admirando os pequeninos dançando, cheios de vontade e sentindo-se os maiorais, eu sabia muito bem como eles estavam se sentindo, pois eu era a primeira a me manifestar quando a professora queria alguém pra fazer algo desse tipo.

...

Depois que as crianças foram pra casa, eu, juntamente com os outros funcionários da escola, ficamos ainda pra arrumar a bagunça que era a protagonista ali. Quase duas horas se passaram, e finalmente, casa.

Há uns dias atrás, quando eu voltava pra casa, ficava de olho nas vitrines de calçados e roupas, mas agora, pareciam que meus pés passavam automaticamente dessas vitrines, e iam direto para as coisas de bebês. Eu olhava cada coisinha admirando a beleza daquelas miniaturas, e doida pra saber quem estava ali dentro, para então poder comprar tudo que esse pimpolho tivesse direto.

Cheguei em casa exausta, porém satisfeita. Tudo ocorreu como costumeiro: tomei meu banho, jantamos em família, e fui ver um pouco de TV.

Minha mãe e minha tia estavam fazendo alguma outra coisa que eu não sabia o que era, enquanto Chico e eu estávamos a sós na sala. Ele estava muito calado, algo que não era normal.

— Que foi meu amor, você tá tão quieto.

— Não é nada Diana. – Ele respondeu seco.

— Como assim, não é nada — o imitei – você tá diferente Chico. – Eu o encarava enquanto ele não se dava o mínimo trabalho de me olhar.

— Tô cansado só isso.

Eu não aceitava o modo como ele estava agindo comigo, e não fazia ideia do porquê de ele estar assim. Não sabia se ele estava falando a verdade quando falava de cansaço ou se era uma invenção.

Saí do seu lado no sofá, e fiquei na frente da TV, brincando mesmo, pra vê se ele voltava ao normal, ou pelo menos se animava um pouco.

— Qual o seu problema Diana? – Perguntou de forma hostil. – Será que dá pra parar de criancice e sair logo da minha frente?!

— Tá, desculpa.

Eu me senti a pior das pessoas. Chico estava tão estranho, e eu não sabia se eu tinha feito algo pra merecer toda aquela grosseria. O deixei sozinho e fui para o quarto, sem ao menos desejar boa noite, não sei que conseguiria ouvir mais algum desaforo calada.

...

Naquela linda manhã de sol, fui acordada com a presença da minha mãe, que agora vivia sorrindo pra cima e pra baixo, e aquela euforia toda dela, só me deixava mais animada.

— Um bom dia pra mamãe mais linda desse mundo! – Ela me abraçou, e me encheu de beijinhos.

— Ai mãe, como eu adoro ser acordada assim.

— Não vai pra escola hoje mocinha? – Ela se acomodou ao meu lado na cama.

— Depois do evento de ontem, eles deram folga pra alguns funcionários no horário da manhã, e eu sou uma delas. – Soltei um sorriso satisfeito.

— Hum. Trouxe uma coisinha pra você, bom, não pra você, mas pro meu netinho, ou netinha.

Ela me entregou uma caixinha envolta por um papel de presente colorido, com um lindo laço vermelho em cima. Abri logo aquela caixinha e vi o que tinha lá dentro: um par de meias, um par de luvas e uma touquinha, aquelas pecinhas tão pequenas e tão lindas, e eu não consegui segurar minhas lágrimas.

— Grávidas são muito choronas. – Ela concluiu depois de olhar meu estado. – Você gostou mesmo? Eu comprei branco porque não sabemos o sexo ainda, mas você pode trocar quando descobrir.

— Não vou trocar nada, eu simplesmente amei! – Me joguei nos seus braços da mesma forma que eu fazia quando criança quando ganhava alguma coisa que eu queria muito. – Esse nenenzinho já tem a melhor avó do mundo. – Num pulo eu saí da cama, e coloquei aquele mimozinho no guarda-roupa. – Você já falou com a tia Valquíria?

— Não, eu vou deixar que o Chico conte a novidade a ela. E você, já pensou como vai contar pra ele que ele vai ser o pai do ano? – Se animou.

— Ah – voltei pra cama com mil e uma ideias na cabeça – acho que eu vou fazer um jantarzinho romântico, e aí conto. Só tô preocupada com uma coisa: será que ele vai gostar?

— Claro que vai filha, tira isso da sua cabeça, e trate de falar logo com ele. Ah, temos que marcar logo o pré natal, quero meu netinho ou netinha sendo bem cuidado desde já.

— Tá bom mãe. – Respondi sorrindo mais que o normal, e me joguei no seu colo.

...

Após aquela linda surpresa da minha mãe, eu tinha certeza que meu dia seria maravilhoso. Saí de casa dando bom dia para as árvores, pássaros, e pra quem eu encontrasse pela frente, definitivamente, eu era a pessoa mais feliz do mundo.

No decorrer do caminho, acabei por avistar Rosa, e pensei que ela nem olharia na minha cara, mas pelo contrário, ela olhou e ainda falou comigo.

— Tudo bem Diana?

Eu me mantive em alerta, não sabia o que esperar depois do nosso último encontro.

— Oi Rosa – devolvi sua saudação meio sem jeito – tudo, e você?

— Eu tô ótima, na verdade, melhor impossível. – Ela sorria demasiadamente. – E como vai você e o Chico?

— Estamos bem, estamos ótimos, pra ser sincera. – Dei uma alfinetada de leve.

— Ah, que bom. Bom, eu já vou indo, felicidades ao casal.

— Nossa, como a Rosa tá diferente. – Falei pra mim mesma.

Aquela pequena conversa com a minha ex amiga me deixou um tanto desconfiada. Depois do que houve entre nós, eu jamais poderia esperar tanta cordialidade da parte dela para comigo. Alguma me dizia que tinha algo errado acontecendo, e eu ia ficar de olhos abertos pra caso ela quisesse aprontar alguma.

...

Chico.

Desde quando Rosa havia me dado àquela bela notícia, eu não conseguia raciocinar direito. Eu já estava dando foras em todo mundo que falava comigo, e não queria que ninguém viesse de conversinha pro meu lado. Quando eu via a Diana na minha frente, queria mata-la com as minhas próprias mãos, não aguentava ver aquela cara de inocente dela, de quem não tinha feito nada. Eu aceitaria tudo dela, menos uma traição dessas.

Já era noite, e eu só queria um banho quente pra tentar por minhas ideias no lugar. Entrei no meu antigo quarto sem nenhuma cerimônia, e encontrei a santa do pau oco em mais um de seus romances idiotas.

— Oi pra você também. – Ela disse num tom de brincadeira. – E então, como foi o dia do meu futuro maridinho?

Ela repousou seu livro sobre as pernas, mas eu não tinha a mínima vontade de manter um diálogo com ela, e então permaneci em silêncio.

— Chico, da pra parar de agir como se não estivesse aqui? Desde ontem você tá assim comigo, por acaso eu te fiz alguma coisa?

— Você deveria perguntar isso pra você mesma.

Essa era a deixa que ela tinha pra me contar a verdade, mas ela se fez de desentendida.

Eu somente queria pegar umas roupas e deixar ela ali, mas parece que até isso tava dando errado, por que a roupa que eu estava procurando parecia ter desaparecido. Num vai e vem de peças de roupa, uma caixinha de presente caiu do guarda roupas, e saiu dali algumas coisinhas de bebê, isso só significava uma coisa: Rosa não mentiu, Diana estava mesmo grávida.

Ela viu o que tinha caído, e ficou me olhando com olhos esbugalhados, talvez esperando qual fosse a minha reação. Eu catei tudo o que estava no chão, e coloquei de volta na caixa, e de pé a sua frente, esperei que ela me desse alguma explicação.

— Meu amor – ela veio até mim sorrindo – eu ia te contar, eu só estava esperando o momento certo.

— Momento certo Diana, que momento certo?! – Sem me dar conta, percebi que minha voz ia aumentando de volume.

— Calma Chico, eu sei que a gente tinha combinado de ter filhos só depois que tivermos nossa casa, mas aconteceu amor, e eu acho que não poderia vir em melhor hora. – Vi suas mãos se erguendo para me tocar, mas antes que elas pudessem me alcançar, eu me afastei.

— Você acha que eu sou algum idiota Diana! – A fitei, berrando como um ogro que eu sabia que era, enquanto aquela caixinha ia de encontro ao chão. – Você achou que ia me fazer de trouxa?

— O que você tá fazendo? – A essa altura seus olhos já estavam cheios de lágrimas. – Você ficou louco? Por que tá falando comigo desse jeito? – Ela também gritava enquanto recolhia as coisas que eu tinha lançando no chão.

— Eu já sei do segredo Diana, sei que você espera um filho que não é meu, um filho que é de outro cara!

Continua.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bem Me Quer" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.