Bem Me Quer escrita por Maitê Miasi


Capítulo 11
Que O Nosso Amor Pra Sempre Viva


Notas iniciais do capítulo

Esperro que gostem *_*



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[“...Ando por aí querendo te encontrar
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar

Que o nosso amor pra sempre viva
Minha dádiva
Quero poder jurar que essa paixão jamais será

Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras...”]

****

Chico.

Logo vi a decepção estampada na cara dela assim que contei sobre mim e Diana. Talvez eu devesse contar com um pouco mais de jeito, ou nem devesse contar isso a ela, já que era uma coisa íntima, uma coisa minha e de Diana, porém não via outra saída, já que ela insistia na história de que minha prima e eu jamais daríamos certo, que Diana não era mulher pra mim, e não me daria o mesmo que ela daria.

Rosa engolia toda aquela informação a seco, e por alguns instantes pensei que ela fosse voar no meu pescoço e me estrangular, eu vi a fúria nos olhos dela, e jamais havia visto ela dessa forma.

— Você só pode tá de brincadeira – ela dizia histérica andando de um lado pro outro – você tá inventando essa história pra me manter longe – ela me fitou enquanto eu tentava manter a calma – você não tá falando sério Chico. – Sua voz abaixou em algumas oitavas.

— Rosa – engoli alguma saliva, mas não tinha muita, minha boca estava seca – eu não teria porque inventar essa história, no entanto eu  não queria que você ficasse assim, mas uma hora você ia acabar sabendo. – Dei um passo até ela, porém ela se afastou bruscamente.

— Eu sou uma idiota mesmo, fiquei me insinuando pra você todo esse tempo, enquanto vocês dois riam de mim pelas costas, eu não acredito nisso, burra – ela batia em sua testa – burra, mil vezes burra!

— Espera aí Rosa, não é assim. – Disse dando um leve toque em seu ombro.

— Não encosta em mim Francisco – ela se esquivou – eu não quero sua pena, ou sua piedade. Eu só queria entender porque você me deixou aproximar de você se não tinha nenhuma intenção, pra zombar de mim?

— Claro que não Rosa, eu nunca tive essa intenção, só que eu não vejo você como mulher, pra mim você é uma amiga, uma irmã.

— Irmã? Que coisa mais patética Francisco! – Ela deu um riso sarcástico. – Eu não queria ser sua irmã, eu queria construir uma família com você, queria poder ter filhos, lindos assim como você, mas você e Diana estragaram tudo. – Sua voz era chorosa.

— Rosa...

Eu já não sabia o que falar, ela estava chateada demais, e nada que eu dissesse ajudaria muito.

— Eu não quero ouvir mais a sua voz! Que você e Diana sejam muito felizes.

Ela saiu cuspindo marimbondos, e eu não tinha nenhum argumento diante daquela situação. Realmente tinha sido um erro abrir o jogo com ela, mas o quê eu podia fazer, uma hora ou outra ela iria acabar sabendo, melhor que fosse por mim, do que por terceiros.

...

Já era bem tarde, minha mãe e minha tia já tinham se deitado, e eu continuava ali na cozinha, de frente pra um copo d'água, que naquela altura já estava quente pelo tempo que eu estava ali. Eu me sentia mal por Rosa, ela era uma grande amiga, alguém em quem eu confiava de olhos fechados, que se precisasse de um rim, eu daria sem hesitar, mas era só isso.

Eu não era tão tolo de não entender suas intenções, eu sabia claramente o que ela queria, mas me fazia de desentendido, com certeza esse foi o meu erro, ter dado a ela esperanças de algo que nunca seria possível, eu devia ter cortado o mal pela raiz, mas infelizmente, deixei chagar longe demais.

Fazia mais ou menos umas duas horas desde que eu me sentei ali pra refletir, já era bem tarde, e eu não tinha visto o tempo passar. Meu traseiro já estava dormente, e eu não estava mais sentindo minhas pernas por passar o tempo todo na mesma posição, mas a falta de coragem me impedia de levantar e pro meu quarto, que agora era na sala.

Eu debrucei minha cabeça sobre a mesa e fechei os olhos, esperando cochilar um pouco, não faria diferença dormir ali ou no sofá, já que ele era tão duro quanto à mesa. Já estava entrando em transe, começando a sonhar, quando ouvi que alguém batia na porta. Levantei minha cabeça no susto, e fiquei olhando de um lado pro outro tentando me achar ali.

Já estava chegando até porta, tentando descobrir quem iria bater tão tarde. Pensei até que fosse Rosa, querendo discutir mais um pouco, pois mulheres não se cansam de falar nem um só minuto, e hesitei em abrir, mas como já estava ali em frente, resolvi encarar o problema de uma vez, e abrir logo a porta. E quando eu abri, dei de cara com o problema mais lindo de todos.

— Diana!

Não me contive ao ver minha prima parada ali na minha frente, e sem pensar muito, abracei ela, como se houvesse muito tempo que não nos víamos. Suspendi seu corpo, e quando nos olhamos, a beijei matando aquela saudade toda, matando o desejo de tê-la ali pertinho.

— Chico – ela dizia enquanto sorria – nossas mães podem nos ver.

— Eu não tô nem aí, que vejam.

Coloquei ela no chão, e trocamos outro beijo. Minha energia estava sendo recarregada enquanto nossos lábios estavam em contato, eu sabia que era disso que eu precisava pra que meus dias voltassem a ter cor.

— Bom – depois de perder o ar, finalmente nos separamos – não vai me convidar pra entrar, eu tô morta de cansada.

— Claro, entra. – Dei passagem a ela.

— Chico, eu ouvi um barulho, o que houve?

Minha mãe saiu do quarto vestida de um pijama horrível, de gatinhos, bem velhinho, e eu me segurei pra não zombar dela. Logo atrás minha tia a seguia, vestida de uma camisola de seda preta, que era bem menos ridícula do que a roupa que minha mãe estava usando, e bem fina também, minha tia parecia essas mulheres ricas de novela.

— Ah meu Deus – minha tia se manifestou ao ver Diana – filha, finalmente você chegou!

Depois da troca de abraços, estávamos todos na sala, ouvindo o triste relato de Diana sobre a despedida da ex sogra. Por um momento me senti mal por ter ficado com ciúmes dela e do ex uma semana antes.

— Ai gente, eu me senti tão mal acompanhando aquilo tudo, a vida é tão passageira, e a gente perde tanto tempo com coisas mesquinhas.

— Pelo menos serviu pra você olhar a vida de outra forma filha. – Minha tia acariciou a mão da filha.

— Isso serviu pra eu te dar mais valor, mãe. – Ela devolveu a carícia com um sorriso.

— Eu vou preparar um lanche pra você, você deve tá com um pouquinho de fome.

— Obrigada tia.

— E então, você não ficou tentada em ficar por lá não? – Perguntei.

— Não – ela riu – eu não tenho mais nada lá.

— Nem mesmo diante daquele luxo todo? – Insisti.

— Ah, um conforto a mais é sempre bom, mas não encheu meus olhos, percebi que o que eu preciso tá aqui.

Ela olhou pra mãe, mas eu senti que ela destinou aquela frase a mim, ou eu quis acreditar assim.

Ficamos mais alguns minutos conversando, e fomos nos deitar, apesar de querer ficar grudado em Diana, sabia que ela precisava descansar, ficar presa num ônibus por horas não era nada agradável.

...

Diana.

Como era bom estar em casa, na minha casa, no meu lugar.

Meu coração se encheu ao ver meu Chico ali me recebendo de braços abertos, era disso que eu precisava, eu suspirei aliviada ao abraçar minha mãe e dizer a ela tudo o que eu sentia por ela, o quanto eu era grata por tê-la comigo, e agradecer a ela por jamais ter desistido de mim, e também agradeci a tia Valquíria por nos ter dado um teto, e apoio, enfim, eu tinha a melhor família do mundo comigo.

Depois de um pequeno bate papo, eu já estava deitada e pronta pra dormir, e faria isso se não tivesse sido interrompido por batidas na minha janela. E eu já imaginava de quem se tratava.

— Por que você não me chamou na porta? – Perguntei assim que abri, dando de cara com Chico parado, um pouco mais baixo que eu.

— É mais romântico pela janela.

Nós rimos.

— Vim pegar meu amuleto.

— Sério? — Arqueei as sobrancelhas. – Podia ter esperado até amanhã.

Eu virei às costas e fui até minha bolsa de mão que estava pendurada na cabeceira da cama, peguei a moeda prateada e fui até ele.

— Aqui está. – Estendi a mão com o objeto.

— Eu estava brincando, não vim aqui pra isso. – Ele riu achando a situação engraçada. – Eu vim aqui por outro motivo.

— Outro? Que motivo? – Coloquei a moeda na base da janela um tanto curiosa.

— Eu queria te pedir uma coisa Diana. Bom – coçou a garganta – eu sei que você terminou um relacionamento há pouco tempo, e talvez fosse prematuro demais iniciar outro, mas eu não quero fazer nada com você as escondidas, eu quero que todo mundo saiba de nós dois, e...

— E...?

— Talvez você me ache um cafona, mas esse é meu jeito – ele olhou pro chão – Diana, você quer se casar comigo?

Ele tinha dito o que eu havia imaginado? Eu havia sido pedida em casamento? Ah meu Deus!

— Chico – tentei controlar minha emoção – olha pra mim – ele me olhou – pode repetir a pergunta, eu não entendi direito. – Ele olhou pro chão novamente. – Mas olhando pra mim Chico.

Ele olhou nos meus olhos, e eu pude perceber que ele estava tremendo.

— Diana, casa comigo?

Me deu uma vontade de gritar, acordar toda a vizinhança e espalhar pra todo mundo o que tinha acabado de acontecer ali, um alvoroço se formou dentro de mim, e várias coisas estranhas aconteciam, mas era um estranho bom. Eu quis abraça-lo, beijá-lo, mostrar a ele o quanto aquele pedido havia me deixado feliz,  mas resolvi simplesmente respondê-lo:

— Sim, eu aceito me casar com você Chico.

Sem esperar nem mais um segundo, eu pulei a janela, que não era alta, com a sua ajuda, e fiquei cara a cara com meu futuro esposo. Nenhuma palavra foi dita por nós, apenas trocamos um beijo, confirmando aquele pedido. A noite estava linda, bem estrelada, e a lua cheia clareava tudo envolta, talvez fosse um sinal de que dessa vez daria certo.

— Eu esperei por esse momento desde que você foi pra capital. –  Ele segurou minha mão direita, e com a outra mão, tirou um objeto do bolso, o que provavelmente seria uma aliança. – Essa aliança Diana – ele dizia em meio às lágrimas, enquanto colocava o objeto delicado no meu dedo anelar – não é muito fina, e foi bem barata, na verdade, eu comprei na lojinha de 1,99 do Joca, mas eu prometo te dar uma melhor, e mais bonita no dia que você entrar na igreja.

Quando ele terminou de colocar, eu olhei meu dedo, agora contendo aquela aliança, tão simples, mas que simbolizava algo tão forte, que fazia meu coração bater tão rápido, que parecia que ia parar.

— É linda! E eu não tô ligando pra luxo, o que importa é que eu esteja do seu lado.

— Eu te amo tanto, que você nem imagina, te amo desde a primeira vez que te vi de novo, com aquela cara de nojo. – Ele sorria enquanto segurava minha mão direita com uma mão, e com a outra acariciava meu rosto.

— Eu também te amo, desde aquela vez que você me beijou a força.

Nós rimos.

— Mas você gostou, que eu sei.

— Sim, eu gostei.

Sabe quando parece que as coisas realmente faz sentido? Quando tudo parece estar caminhando para seu devido lugar? Era assim que eu me sentia, não mais aquela mulher fútil, desinteressada, agora eu me sentia repleta, feliz, em êxtase.

Tudo bem ter quebrado a promessa que fiz a mim mesma de não me envolver com mais ninguém, mas também não se tratava de qualquer um, se tratava de Chico, um homem completamente diferente de todos outros homens. Por trás do lado ogro, grosso, existia um Chico carinhoso, amável e sensível, e não estava surpresa por ter me apaixonado por ele, era como se tudo já tivesse sido escrito, e agora estaria se cumprido.

Enfim, em breve eu me tornaria uma mulher casada, e a mais feliz da face da terra.

...

Depois de uma noite maravilhosa, mesmo sem termos ter terminado na cama, nos pegando como loucos, eu acordei com um sorriso de orelha a orelha, minha mãe até perguntou por que eu sorria tanto, eu apenas respondi que estava feliz por estar de volta, de certa forma não era mentira.

— Não sei que tanto nossas mães fazem nessa feira, já é a terceira vez essa semana. – Meu primo comentou. Nós dois estávamos sozinhos em casa arrumando a cozinha do café da manhã.

— Ah Chico, de repente as duas tão de casinho com alguém vendedor. – Eu ri, porém Chico ficou sério.

— Deixa de bobeira Diana.

— Qual o problema? – Deixei algumas louças na pia. – Elas são viúvas, e tem todo o direito de refazerem suas vidas.

— Não vejo minha mãe com outro cara. Ela é minha mãe Diana. – Protestou.

Eu revirei os olhos, mas ri logo em seguida.

— Deixa de ser fresco Chico, eu hein, parece que tem dez anos.

Ficamos quietos enquanto fazíamos as tarefas, até que ele se manifestou.

— Falei com a Rosa sobre a gente.

— O quê?! – Eu arregalei os olhos de tal forma que eles pareciam que iam saltar.

—  Eu não tive outra escolha, eu tive que dizer que não poderia ter nada entre a gente e o único jeito foi dizer que você e eu estávamos juntos.

— Você contou exatamente o quê? – Perguntei com medo.

— Tudo.

— Ah meu Deus! – Me joguei na primeira cadeira que eu vi. – Ela deve tá me odiando. – Falei baixinho.

— A culpa é minha, fingi que não tava entendendo nada, e deixei as coisas chegaram nesse estado, acabei dando esperanças a ela.

— Não Chico, a culpa é minha. Eu encorajei ela a se aproximar de você. – Ele me olhou sem entender. – É uma longa história, mas eu preciso falar com ela, preciso esclarecer as coisas com ela. Mas acho que ela não vai me perdoar.

— Ela tá bem chateada.

“Obrigada Chico, você ajudou bastante.” Eu pensei enquanto o olhava.

...

Era por volta de umas três da tarde, e eu estava sozinha em casa. Chico tinha saído pra trabalhar, e minha tia e minha mãe ainda não tinham voltado, e eu acabei rindo da possibilidade delas estarem com algum rolo na rua. Eu parecia a filha adolescente, que ficava em casa ajeitando as coisas enquanto os outros faziam seus afazeres na rua, e como uma boa adolescente, eu estava ali enrolando pra terminar as coisas que faltavam.

Eu estava sentada na cozinha, com uma vassoura na mão, em um completo silêncio, quase cochilando, quando ouço alguém entrando sem a mínima educação, fazendo um barulho enorme, eu me assustei, é claro.

— Queria mesmo falar com você.

— Flor! – Meu coração acelerou, e eu me levantei rapidamente. – Que bom ver você!

— Não me chama de Flor, sua falsa!

Continua.


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