A história de Sakura escrita por Hanako


Capítulo 2
A grande testa




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Quando eu era menor, era uma criança muito insegura. Eu tinha vergonha da minha aparência, de que percebessem que eu era a garota chorona da testa grande. Sempre encostada do lado, sempre infeliz com o triste fato de ainda ser eu. Não fazia amigos, pois não acreditava que alguém fosse gostar de mim.

Na mesma escola, Ino e eu freqüentávamos as aulas juntas. Eu sempre fui a melhor aluna da sala e não me gabava disso, muito pelo contrário, escondia com todas as minhas forças. Diferente de mim, ela sempre se sentava na frente, rodeada de amigos. Eu me colocava na última cadeira, onde ninguém pudesse me ver e nem reparar nada sobre mim. De algum modo, poucos meses se passaram até alguém conseguir quebrar a barreira que eu havia criado sobre mim e me tornei chacota por causa da minha aparência.

Um dia, eu devia ter uns nove, dez anos, não tenho certeza. Eu estava chorando no intervalo entre as aulas porque um dos meus colegas criticou a minha testa. Eu odiava o meu rosto, cada pequeno detalhe dele, e tentava esconder com os meus cabelos molhados de lágrimas. Tímida, foi a Ino quem me notou pela primeira vez.

Lá estava eu, debaixo de uma das mesas, com certeza absoluta que ninguém me ouvia soluçar quando ela chegou.

— Garota, por que você chora tanto? Aconteceu alguma coisa? Por que se tiver, eu posso contar para a professora e aí ela vem e...

—N-n-não p-p-precisa... – eu disse aos soluços – E-e-eu est-tou bem... S-só me deixe s-sozinha...

— Lógico que não! É obvio que você tem um problema! E se tem um problema precisa de ajuda e, se precisa de ajuda... Eu estou aqui! – ela parecia radiante enquanto falava, como se tivesse acabado de ganhar na loteria.

— O-obrigada – eu disse meio sem graça.

Nunca tinha tido amigos até então e não sabia muito bem como me portar. Ela estava tão sorridente, tão animada... O que poderia haver de tão bom assim em mim? No fundo havia um alívio em ela ter me notado bem ali, mas o que eu sentia é que estava com pena e me abandonaria quando achasse que alguém estivesse nos olhando.

— E então – ela continuou – O que você tem? É dor de barriga ou algo do gênero? Porque quando eu me sinto assim o meu pai me pede par...

—N-não, não é nada disso – eu a interrompi – É que eu... Eu odeio a minha testa.

— Mas qual é o problema da sua testa? Venha, saia debaixo dessa mesa para que eu possa ver o seu rosto.

Eu não queria muito sair daquele esconderijo, mas também não queria que ela fosse embora. Mesmo com toda a desconfiança, internamente eu só queria que ela continuasse ali. Então eu saí timidamente e coloquei as minhas mãos para trás, segurando meus dedos nervosamente. A minha cabeça continuava abaixada e escondida entre os cabelos. E, nessa situação, eu também tinha vergonha do rosto vermelho e inchado de choro.

— Se você continuar se escondendo eu não vou conseguir ver – ela cantarolou e levantou o meu cabelo com a ponta dos dedos – Aí está você! E aí está a sua testa! E eu continuo sem entender... qual o problema com ela?

— E-e-e-ela é m-m-mu-muito grande! – e voltei a chorar, bem mais alto que antes – Eu não quero ter mais essa testa feia e grande!

—Bem, vamos resolver isso então! Primeiro, me chamo Ino! Qual o seu nome?

—S-sou Sakura – resmunguei enxugando o rosto – E-eu conheço você, nós estudamos na mesma sala...

—Verdade? Pois eu nunca tinha te notado! Engraçado, eu costumo a perceber as pessoas, principalmente se o cabelo delas é de um tom rosado tão bonito.... Mas afinal, vamos resolver o seu problema!

Eu apenas resmunguei que sim e balancei a cabeça segurando duas mechas de cabelo lado a lado com o meu rosto, como que para protegê-la da minha feiúra. Admirando aqueles olhos cheios de determinação, eu tinha certeza que ela conseguiria me ajudar.

 Ino me analisou por alguns segundos como que para fazer um diagnóstico e disse algo para si mesma. Ela andou de um lado para o outro raciocinando o meu caso com mais atenção do que daria a um problema matemático e sorriu.

— Me encontre no parquinho no final da aula – ela sorriu – eu descobri a solução perfeita para o seu problema!

Algo dentro de mim gritava para não ir, que aquilo me traria mais problemas, que era uma isca para rirem mais de mim. Mesmo assim, lá estava eu, de rosto ainda inchado, esperando que ela me encontrasse.

O bom de você enfrentar os seus medos é que você sempre pode ter novas aventuras, novas histórias para contar. Nem sempre o que te espera é algo negativo. Naquele final de tarde, Ino chegou conforme havia combinado, com uma faixa vermelha em suas mãos. Sentadas no parque, ela penteou cuidadosamente os meus cabelos e prendeu a minha franja com a faixa.

— Aí está! – ela analisou sua obra de arte – Eu acabei notando, Sakura, que quando você tenta esconder a sua testa com o seu cabelo, sem querer dá mais atenção para ela. Então porque não jogar os olhares para o seu cabelo lindo e diferente ao invés do que desagrada?

Eu esbocei um leve sorriso. Era certo que ela tinha razão. Depois desse dia Ino foi além e me chamou para sempre me sentar ao seu lado. Diferente do que eu pensava no início, a garota não tinha vergonha de mim. Me apresentou para todos os seus amigos e me convidou para freqüentar a sua casa. No final do ano ninguém mais conseguia sequer pensar que já andamos separadas um dia, éramos Sakura e Ino, as melhores amigas.

Sempre serei grata a Ino. Foi ela quem me ensinou a me considerar importante, a admirar as minhas qualidades e não ter medo dos meus defeitos. Juntas deixamos de ser crianças e amadurecemos. Minha melhor amiga me deu aulas sobre coisas como pintar as unhas e cuidar dos cabelos (algo essencial para a Sakura pré-adolescente) enquanto eu a ajudava com as notas na escola. 

Naquela época eu não precisava de mais ninguém além dela. Era para a Ino que eu ligava todos os dias após a escola para discutirmos detalhadamente tudo que nos tinha acontecido. Também era com ela que passava os meus finais de semana, discutindo revistas ou passeando cidade afora. Por isso e todos os segredos que tínhamos juntas que jamais imaginei que nossa amizade teria um baque com uma simples frase:

— Ino, acho que é a primeira vez que gosto de um garoto.

Lógico que a Ino já esperava que eu gostasse de alguém. Afinal, nessa época nós já tínhamos doze anos e a maioria das meninas já tinham seus ídolos e primeiros amores. Muitas das revistas que líamos também abordavam assuntos como primeiros beijos e namorados. Ela mesma já incluía assuntos sobre como algum garoto da sala era bonitinho ou sobre como o galã da televisão parecia perfeito. O maior problema é que me apaixonei pela mesma pessoa que ela e não me dei conta disso.

Eu não me interessava muito pelo assunto amor antes disso e não olhava muito para os rapazes, ainda era muito infantil. E por ser mesmo essa criança que eu creio que não havia uma maneira melhor de tudo ter começado do que com um jogo.  Era o início do verão quando a minha escola de fundamental I promoveu os jogos estudantis e resolveu que não teríamos aulas durante uma semana para praticarmos atividades esportivas.

Minha classe estava bem animada. Montamos cartazes, escolhemos a cor da camisa oficial dos nossos times e preparamos pompons para a torcida. Eu e Ino já éramos extremamente competitivas naquela época e nos esforçamos bastante para que nos escolhessem para participar de todas as atividades. Acabei em natação, vôlei e basquete enquanto que a minha amiga foi inscrita em futsal, handebol e badminton.

O início foi bem empolgante. Todos da minha sala vestidos de vermelho, perfilados com todas as outras turmas em suas cores. Cantamos o hino de nosso país e de nossa escola alegremente e depois nos preparamos para as divisões: como aconteceriam vários jogos simultaneamente, teríamos que dividir as equipes e também a torcida, para que ninguém ficasse sem motivação enquanto participava.

Os primeiros jogos eram basquete feminino, handebol feminino e vôlei masculino, o que significava que não poderia torcer para a Ino e vice-versa. Nos despedimos como se cada uma fosse para uma guerra diferente e fomos na certeza de que nada além da vitória seria aceito.

Eu prendi o meu cabelo em um rabo de cavalo bem alto com uma fita vermelha antes de ir. Também preparei o meu rosto mais destemido e assustador para minhas oponentes de verde. Elas pareciam mais velhas e mais preparadas, mas eu não iria deixar isso me abalar. Entrei na quadra e olhei para cada um dos alunos do time oposto meticulosamente, tentando descobrir quem tentaria me marcar durante o jogo.

O professor apitou dando início à partida e fui correndo pegar a bola.  Uma garota de verde, bem mais alta que eu conseguiu me ultrapassar e ia lançar  para sua colega quando entrei na frente para marcar e...

BAM!

Eu estava meio desorientada, sem entender o que tinha acontecido comigo. Todos me olhavam com uma cara não muito boa quando resolvi olhar para o chão. Estranho. Haviam gotas de sangue, pequenas gotas escarlate que pingavam... de mim?  O resto que ainda guardo na memória não passa de um borrão: pessoas falando meu nome e que devia ser levada à enfermaria, alguém dizendo que um nariz estava provavelmente quebrado e algo como “pobre menina”.

No fim, lembro que uma enfermeira me deu gelo para colocar no meu nariz e eu agradeci por não ter quebrado e ficado com mais um item desagradável no meu rosto. Não pude participar de nenhuma das partidas e, como a Ino estava bem inserida, também não pode me ver. Eu estava bem entediada, olhando para aquele teto branco e sem graça, balançando a fita do meu cabelo entre meus dedos, quando ouvi um movimento na cama ao meu lado. Louca por alguma ação naquele lugar monótono, logo me levantei para ver quem era meu companheiro ferido em batalha.

O meu coração não bateu normalmente no momento em que abri as cortinas que nos separavam e eu não entendi direito o motivo. Também não soube explicar por que não saiu nenhuma voz da minha boca na primeira tentativa. Ao lado da minha cama havia um garoto que possivelmente estava no mesmo ano que o meu, vestido de azul marinho. Ele tinha um cabelo negro curto levemente bagunçado e a pele bem branca. Quando olhei para ele, se demorou a virar na minha direção, despreocupado, mas logo fixou seus olhos também negros nos meus.

Fiquei fascinada em como a luz do sol refletia belamente em seu cabelo e me senti mal por ele me ver com os fios sem a fita vermelha e completamente embaraçados além, claro, do nariz inchado. Por isso, já era de se esperar que eu gaguejasse na hora de cumprimentá-lo com minha voz nasalada.

—O-olá – eu disse a ele – O que aconteceu com você?

— Eu torci meu dedo no vôlei – respondeu calmamente – Você quebrou o nariz?

—Bem, parece que não. Só ficou inchado mesmo – eu dei um leve sorriso me lembrando da situação – Uma bola de basquete acertou o meu rosto durante a partida.

Ele riu. Seu sorriso acabou me contagiando e ri com ele por um tempo. Era confortante e ao mesmo tempo um pouco assustador ficar ao lado daquele garoto que definitivamente não era como os outros. Parecia que a sua presença me enviava ondas de eletricidade que borbulhavam o estômago e aceleravam o coração.

 Após as risadas eu me peguei pensando em como eu faria para manter aquela pessoa mais tempo comigo. Olhei ao redor da sala e peguei umas folhas brancas e duas canetas da enfermeira. Apontei para ele e disse:

— Você quer jogar enquanto estamos aqui?

— Bem, nós podemos jogar sim, mas você conhece alguma brincadeira que não envolva muito o meu dedo ou o seu nariz? – riu.

— Podemos brincar de forca! – afirmei – Se você tiver dificuldades em escrever, é só me falar e eu coloco para você!

— Tudo bem então. Eu aceito o desafio. Quem ganhar vai ter direito a alguma coisa?

— Eu não sei... não tinha pensado em prêmio nenhum. Quer escolher?

— Vamos fazer assim: quem vencer propõe uma prenda para o perdedor.

—Fechado!

Foi o jogo mais acirrado de forca que já participei até hoje. Ele era muito inteligente e propunha palavras difíceis, mas eu também era a melhor aluna da sala. Estava empatado e eu estava quase perdendo a última quando o sinal da escola tocou e meus pais chegaram para me buscar. No final eu me esqueci de perguntar qual era o seu nome, mas o seu rosto não saiu da minha cabeça.

Logo que cheguei em casa tudo o que eu queria era contar para a Ino sobre os cabelos do garoto da enfermaria, o sorriso dele, sua voz, o jeito de conversar e tudo mais que tinha feito o meu peito acelerar.  O problema é que meus pais estavam muito assustados com o meu nariz para me deixarem fazer uma simples ligação. Logo, ela teve que me fazer uma visita e aproveitou para jantar conosco.

Ino era sempre muito bem-vinda na minha casa. Meus pais a viam como alguém que eu devesse ser, um estímulo para o meu crescimento. No jantar, ela contou sobre como venceu todos os jogos que participou e como a turma se saiu bem. Mesmo que a garota tivesse vindo direto da escola, seu cabelo loiro continuava em um rabo de cavalo impecável e ela não parecia ter sequer um arranhão ou gota de suor. Depois de comermos, fomos ao meu quarto.

— Uma pena que não deu para você jogar, Sakura! – ela começou – Bem no primeiro jogo e já teve esse estrago! Você deveria ganhar um prêmio como a rainha dos azarados!

— Na verdade, Ino, eu acho que dei sorte... – eu sorri – Eu conheci uma pessoa super legal na enfermaria e nós...

—Menino ou menina? – Ela interrompeu.

—Menino.

— Ponto! – Ino riu – E você conseguiu conversar com ele?

— Sim! Ele era incrível! Tinha um cabelo que brilhava no sol e um sorriso perfeito! Nós ficamos passando o tempo juntos jogando forca até meus pais chegarem e ele é super inteligente! Colocou só palavras difíceis e estava bem acirrado...

Ino caiu na gargalhada. Parecia que eu era a única pessoa no mundo que pensaria em jogar forca com um garoto só porque ele era bonitinho.

— Sakura, você é ótima! – ela não conseguia parar de rir – Primeira vez que você se apaixona! Isso é tão fofinho!

— Eu não estou apaixonada por ele!

—É lógico que está! Não para de falar sobre o bonitinho da enfermaria! Quer ver que eu identifico todos os outros sinais? Aposto que seu coração bateu loucamente quando o viu e que parecia que tinha alguma coisa se movendo loucamente no seu estômago.

—Bem, isso foi porque eu levantei rápido e ainda estava com o nariz inchado...

—Admite.

— Não posso admitir isso.

— Você já admitiu para si mesma! Apenas admite para mim para que eu possa sentir o gostinho!

— Está bem. Eu gosto dele.

— Eu quero ouvir com todas as letras.

— Ino, acho que é a primeira vez que gosto de um garoto.

— Ótimo! Então assim que você se recuperar nós vamos procurar por ele para acalentar seu coraçãozinho apaixonado!

A partir daí foram só piadas sobre a minha situação e ainda mais piadas quando disse que não sabia o nome dele. Minha melhor amiga saiu de casa naquela noite e me deixou super nervosa sobre tudo o que poderia acontecer. Eu fiquei uma semana sem poder ir à escola e, quando voltei, os nervos estavam à flor da pele.

Com o nariz já desinchado, um pouco ansiosa para descobrir o nome do meu mais novo amigo da enfermaria. Ino ainda queria que eu fizesse um relato completo sobre a história, para analisar todos os detalhes sobre o garoto e usar da sua intuição para descobrir quem era. Mesmo avisando a ela que isso só seria possível no intervalo entre as aulas, foi a primeira vez de muitas em que não consegui me concentrar em nenhuma palavra que o professor dizia.

— Bem, Sakura, acabou o tempo de você me enrolar – Ino disse na primeira oportunidade – Eu quero saber tudo sobre esse garoto, cor dos olhos, cabelo, altura, signo, ascendente... Você não falou nada com nada da última vez, só relatos de uma apaixonada sobre como o sol brilhava no cabelo e outras coisas que não ajudam a descobrir quem é o dito cujo. Então eu te dou um minuto para desembuchar sobre tudo o que houver de mais externo nesse menino!

— Está bem! Que estresse! – eu suspirei fundo – Vamos nessa então! Cor dos olhos: pretos. Cabelos: mesma cor dos olhos. Pele branca... O que diabo é um ascendente?

— Deixa pra lá! Não tenho tempo para pensar nisso agora! – Ino fez a sua famosa cara pensativa que eu amava por sempre trazer uma solução – Existem muitos meninos com essas características na escola, não é nada incomum... Não se lembra de mais nada nele que possa servir para identificação? Uma pinta no rosto ou uma cicatriz, por exemplo?

— Hm... Ele não tinha nada desse tipo – suspirei.

— Uma roupa? Uma camisa de banda famosa ou de time? – ela já estava nervosa.

—Sim! Agora eu me lembro! – sorri – Como estávamos nos jogos, ele estava com a camisa da sua turma! Era azul marinho, certeza. Ele também jogou vôlei, porque foi assim que torceu seu dedo.

Ino ficou estranha de um jeito indecifrável. Primeiro o seu rosto se iluminou como se tivesse encontrado a resposta e, consequentemente o nome do meu amado. Depois eu vi o que interpreto agora como a angústia em seus olhos, para então uma expressão de que nada havia acontecido.

— Você o conhece? – perguntei.

— Não, não conheço – ela disse sem olhar para mim – Podemos usar os intervalos para procurar por ele ou alguém da sala dele, quem sabe?!

Isso durou algumas semanas. A Ino me levava para corredores e salas que dizia ter recebido informações que era onde ele se encontrava, mas quando chegávamos lá não tinha ninguém. Eu não era boba, sabia que tinha algo errado que ela não queria me contar. Teria que dar um jeito nisso ou pelo menos descobrir o motivo. Se era tanto minha amiga, não fazia sentido uma sabotagem daquelas!

Foi então que comecei a conversar com os outros amigos mais próximos dela, coisas que eu achava que ela me contaria e fui tentando montar a solução do nosso problema. Encontrei-me com um rapaz, no final da aula, um amigo de família chamado Shikamaru. Ele estava sempre dormindo durante as aulas e, por isso, eu não gostava muito dele, mas era o único que parecia poder me ajudar.

Mesmo com muita preguiça de me responder e reclamando que isso era problema de mulher, foi Shikamaru quem me deu a informação mais valiosa: a Ino gostava de uma pessoa que se chamava Sasuke que estava no mesmo ano que a gente e na mesma escola. Agora eu só teria que descobrir quem era ele.

Eu estava decidida a encontrar esse garoto, mas parecia que a escola inteira não queria muito me ajudar. Todas as vezes que eu falava seu nome, as meninas davam risadinhas e os meninos ficavam emburrados. O que descobri é que ele era muito bonito, vinha de uma família rica e que possuía uma das maiores médias da escola. Também me contaram que o seu irmão tinha sido um dos alunos mais memoráveis e inclusive teria recebido um prêmio de aluno exemplar.

Eu tinha que tomar muito cuidado para que Ino não descobrisse o que eu andava fazendo. Como eu sabia que minha melhor amiga não era lá muito fã dos estudos, disse que estava em um grupo avançado de matemática e, por sorte, ela não quis nem chegar perto para conferir. Assim, pouco tempo depois, descobri que ele era do meu ano e estava na turma A.

Nessa hora eu já sabia que isso não acabaria bem para mim e para Ino. Algo dentro de mim já sabia perfeitamente quem ele era. Mesmo assim, para tirar a prova, fui à sala dele no começo da aula e fiz algo impensável para o meu eu há algum tempo atrás: gritei seu nome.

— Sasuke! – eu disse. E o garoto da enfermaria, que estava de costas, se virou para mim em câmera lenta e fez um movimento para se levantar. Eu, assustada, fiz a única coisa que pensei no momento, corri. Enquanto corria a esmo pelo colégio, com os olhos já cheios de lágrimas, acabei esbarrando justamente em Ino.

— Sakura – a loira olhou para mim preocupada – Aconteceu alguma coisa?

Eu estava decidida a conversar com ela de qualquer maneira, mas o corredor das salas onde todos pudessem nos ouvir não era lá o ambiente mais adequado. Então, respirei fundo e a convidei gentilmente para que nos encontrássemos próximo às árvores no pátio da escola. Ino foi um pouco tensa, era ansiosa e não gostava de surpresas.

Chegando lá, o silêncio pesado dominou o ambiente e a deixou ainda mais apreensiva. No começo, eu o senti travando a garganta, sussurrando para deixar aquilo tudo para lá, que seria melhor. Eu não podia fazer isso. Uma das coisas que a minha melhor amiga me ensinou foi que eu deveria me impor e mostrar aos outros quem eu era.

Não me entenda mal, eu não queria brigar com a Ino, muito pelo contrário. Ela era a minha melhor amiga e eu a amava como uma irmã. A loira tinha me ajudado tanto a crescer nesses últimos tempos que eu me sentia injustiçada por não ser tratada como igual. Ino me devia isso, pelo bem da nossa amizade. Então, para quebrar aquele silêncio, eu fui a primeira a falar.

— Ino, eu descobri quem era o garoto que estava na enfermaria – ela olhou para o chão e esboçou um sorriso meio frouxo.

— Finalmente! – ela disse ainda sem olhar para mim – Você não precisava fazer todo esse suspense para me contar!

—Ino... – suspirei – Por que não me contou que também gostava do Sasuke? Você sabia desde o começo que era ele na enfermaria!

— Eu...

— Será que nesse tempo todo você achou que eu não poderia competir com você? Eu não sou mais a garota que chora escondido, Ino, não mais!

— Você acha mesmo que consegue ser a minha rival? – gargalhou cinicamente.

— Não só consigo como vou ganhar de você!

— Então ótimo, Sakura. A partir de agora então é isso. Espero que não chore quando ele falar da testa enorme que você tem!

— Estarei aqui te esperando com um lenço quando ele te chamar de porca!

Mesmo que com muitas alfinetadas, a minha amizade com a Ino nunca acabou. Ainda que rivais, trocávamos segredos e até mesmo os gostos que descobríamos que Sasuke tinha. Deixamos o cabelo crescer quando surgiu um boato que era essa a sua preferência e nos tornamos cada vez mais vaidosas.

Entre todas as coisas eu sabia que tinha apenas uma única vantagem contra ela: minhas notas. No ano seguinte começaria o Fundamental II e as salas seriam divididas de acordo com o desempenho dos alunos. Sasuke era o melhor aluno da escola e eu estava em segundo lugar. Mesmo com a minha ajuda, Ino não ficaria nem entre os cinquenta melhores. Durante as férias eu pensei o tempo inteiro no que eu poderia fazer para que ele me notasse.


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Notas finais do capítulo

Alguns capítulos foram unidos. Não foi alterado o conteúdo, apenas colocados juntos. Preste atenção para se orientar na história ;)



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