Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 88
Capítulo 88 (Últimos Capítulos)




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Eu nem pude dizer nada e Rafael se levantou do meu lado e saiu que nem um foguete do tribunal. Ele estava transtornado. Não conseguia ver como eu poderia ajuda-lo. Se é que haveria uma forma. Mas mesmo assim eu me levantei para segui-lo, mas antes de dar o primeiro passo, Camila me impediu.

— Não vá. Deixe-o sozinho por enquanto. – disse Camila com a face completamente rosada de tanto chorar.

Voltei ao meu lugar e me sentei novamente e aguardei o resultado da sentença. Vi Alice se levantar e ir até onde Dan estava sentado. Ele estava com a cabeça baixa e não disse nada quando ela se aproximou. Deus sabe que as coisas não iam bem entre eles, mas naquele momento nada pareceu importar. Alice abriu os braços e Dan a abraçou. Ele tentava manter a máscara de advogado e tratar toda a situação com impessoalidade, mas ali abraçado com minha melhor amiga eu vi o quanto as palavras de Juliana o afetaram, afinal ele era irmão de Sabrina.

Eu me peguei desejando poder dar o mesmo apoio a Rafael, mas ele fugiu. Não se importou com a sentença e foi pra algum lugar que só Deus sabe onde é, não que eu o julgasse por isso, afinal foram anos de luto e insegurança jogados bem na cara dele em poucas horas. Eu desviei os olhos de Dan e Alice, pois fiquei constrangida de ver tamanha intimidade e entrega e então olhei para o lado, onde a família de Rafael estava. Marcella, assim como a mãe, tinha o rosto inchado e vermelho e respirava fundo para se acalmar. Pedro do seu lado passava a mão sobre seu ventre claramente preocupado com a esposa grávida diante de tantas emoções.

Camila, que estava ao lado de Marcella, segurava uma foto e olhava para ela com os olhos marejados. Eu não conseguia imaginar a dor que aquela mulher sentia, perder uma filha do jeito que perdeu e por um motivo como aqueles... não sei se eu suportaria. E foi por empatia que eu saí do meu lugar e me sentei a seu lado e segurei sua mão.

— Obrigada – ela disse sorrindo tristemente para mim.
— Eu sinto muito. Por tudo isso. Queria poder fazer alguma coisa por vocês.
— Você faz meu filho feliz, isso é mais do que qualquer coisa que uma mãe possa querer. – ela me mostrou a foto que segurava – esse foi o nosso último natal reunidos – Dr Gustavo e Camila no centro, ao lado dos três filhos. Cecília sentada no colo do pai com vestido branco com flores bordadas e com longos cabelos pretos como os da mãe, exibia um sorriso radiante de criança, Marcella ao lado da mãe com o cabelo um pouco mais escuro do que usava agora, abraçava Rafael de lado que usava uma blusa vermelha de mangas compridas e tinha uma sombra no rosto que indicava que a barba estava começando a crescer. Eu não sei quantos anos ele tinha na foto, mas parecia tão jovem, tão feliz, tão pleno... Eu acho que nunca vi aquele brilho nos olhos de Rafael.
— Não sei como ajuda-lo.
— Você só precisa amá-lo.
— Por que não me deixou ir atrás dele?
— Eu não deixei você ir atrás de Rafael, pois sei que quando ele está assim tem um comportamento autodestrutivo. Sei que deve estar por ai se culpando de uma coisa que não teve culpa. E sei que ele precisa pensar. É como se estivéssemos passando por tudo aquilo de novo. A diferença, minha querida, é que dessa vez ele vai ter o seu amor para seguir em frente. Ele foi gravemente ferido no passado, e quando essa ferida finalmente começou a cicatrizar foi reaberta da forma mais brutal possível. Você vai ajudar a curar as feridas com seu amor.
— Mas nós iremos vê-lo assim que acabar o julgamento. – Marcella entrou na conversa – eu sei exatamente onde ele está.

O juiz voltou e proferiu a sentença: todos condenados em regime fechado. Júlio condenado a 18 anos de prisão, Gustavo a 22 anos e Juliana a 30 anos sendo que iria a julgamento novamente pela reabertura do processo da morte de Sabrina e Cecília. Eles saíram do tribunal algemados direto para a penitenciaria.

Na saída do tribunal, fomos bombardeados de fotógrafos querendo saber sobre Rafael e o que ele achava do resultado do julgamento. Ao que parecia ele conseguiu se desviar da imprensa e sair despercebido. Assim que chagamos no carro de Pedro perguntei para Marcella:

— Onde ele está?
— Já estamos a caminho. – ela respondeu sorrindo.

Aquele lugar tinha tudo para ser um lugar de paz e tranquilidade. Poderia facilmente ser confundido com um parque por ter um lago, pássaros cantando, uma grama bem aparada e árvores bonitas. Mas na verdade aquele era um dos piores lugares do mundo. Eu sabia disso, pois era o lugar onde minha mãe estava enterrada. O mesmo lugar onde Dr. Duarte também estava enterrado. Rafael estava em um cemitério, e de acordo com o que Camila me disse, ele foi pedir perdão.

Pedro resolveu ficar no carro e nos dar um momento de privacidade. Em meio ao campo repleto de lápides, lá estava ele. Sentado no chão, com a cabeça apoiada nos braços, sem duvidas chorando. Eu estava tentando manter as emoções que aquele lugar trazia a tona afastadas, mas ver o amor da minha vida ali, daquele jeito acabou comigo. Ele ergueu a cabeça a tempo de nos ver chegar.

— Quantos anos? - disse se referindo à sentença.
— Muitos anos. – eu disse e ele balançou a cabeça.
— Mas ainda é pouco para fazer justiça ao que foi feito.
— O seu pai encontrou a paz. – disse Camila. – Deus sabe que tudo o que ele mais queria na vida era que os culpados pela morte da nossa menina pagassem pelo que fizeram – Camila disse olhando para a lápide do marido e da filha – Conseguimos isso.
— Mãe... me perdoa. Eu nunca quis que a senhora passasse por nada disso.
— Eu sei que não meu amor, mas existem que coisas que fogem do nosso controle. – ela se sentou ao lado do filho – você nunca foi o culpado por nada do que aconteceu. De todos nós, você foi a maior vítima.


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