Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 84
Capítulo 84 (Últimos Capítulos)




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— Declaro aberta a sessão de julgamento dos acusados pela tentativa de assassinato de Rafael Duarte, representado pelo Dr. Daniel de Albuquerque. A defensoria pública irá representar os três réus. Peço encarecidamente que o publico presente se contenha e não se manifeste durante o julgamento.

Camila, Pedro e Marcella chegaram atrasados e se sentaram atrás de nós. Rafael virou para trás e perguntou:
— O que estão fazendo aqui?
— Achou mesmo que eu ia ficar longe no dia que o homem que quase matou meu filho vai ser condenado? – retrucou Camila.
— Eu tentei fazê-las ficar em casa, mas... – Pedro foi interrompido pela mulher.
— Mas queríamos assistir de camarote.

O juiz começou a falar uma série de coisas que eu não entendi e logo chamou as testemunhas, no caso eu, Mere e James que vieram da Holanda, além de Rafael para se sentar em locais reservados. Autoridades holandesas estavam presentes para auxiliar no julgamento. O juiz pediu a entrada dos réus e eles entraram enfileirados, Rafael disse que essa seria a ordem dos depoimentos. Primeiro Júlio, depois Gustavo e por fim uma mulher com longos cabelos negros que estava de cabeça baixa de forma que a cabeleira não permitia ver seus traços.

— É claro. Como deixei esse detalhe passar? – Rafael se recriminou baixinho.
— O que? Sabe quem ela é?
— A mulher do vídeo. A que estava com Gustavo quando ele se encontrou com Júlio e trocou as placas do carro.
— Eu não a reconheço.
— No dia dois de março de 2018, numa sexta-feira, às 20:42min, a residência de Camila Duarte, mãe da vítima Rafael Duarte, foi invadida. – o juiz retomou a palavra – Na ocasião, a vítima que estava acompanhada da namorada, Ana Siqueira, sofreu uma tentativa de assassinato. O inquérito aponta que os réus aqui presentes, Júlio Lima, Gustavo Melasques e Juliana de Assis são os responsáveis pelo crime... – tudo o que ele disse depois disso eu não ouvi. Só fixei o olhar na mulher de cabelos negros que agora ergueu a cabeça e olhava fixamente para mim com um sorriso tenebroso nos lábios.
— Eu não acredito – disse Alice, alto o suficiente para que ouvíssemos, mas ninguém além dela conseguiu esboçar uma reação. Nenhum de nós esperava por isso. 

Eu tentava apagar o nome que o juiz disse e me concentrar na figura da mulher a minha frente. A Juliana que conheci era loira, tinha cabelos curtos e os olhos mais desafiadores que já vi. Mas aquele sorriso era inconfundível. Eu o vi uma vez. Quando ela me encurralou na Duarte insinuando que eu estava dando em cima de Rafael por algum interesse em sua fortuna. Um arrepio passou por minha coluna e eu estava alheia a tudo que acontecia. E continuaria se Rafael não tivesse me cutucado para me despertar.
— Vai Ana. – sussurrou para mim e eu vi que todos me olhavam
— Onde?
— Depor – eu respirei fundo e caminhei até a cadeira diante de um microfone.

O advogado de defesa fez uma série de perguntas irrelevantes que eu, sinceramente, não via como poderia ajudar no julgamento. Quando Dan, advogado de acusação, começou as perguntas eu me senti mais segura e mais tranquila.

— Você reconhece os réus aqui presente? – ele perguntou.
— Sim
— Ana, conte qual era a sua relação com Gustavo Melasques.
— Ele era meu namorado. Nós nos conhecemos desde pequenos e quando eu tinha 18 anos começamos a namorar. A relação durou quase dois anos e nós terminamos.
— Qual foi o motivo do término? – eu olhei para Rafael que deu um leve aceno com a cabeça como sinal para que eu seguisse em frente.
— Ele me traiu. Com a vizinha dele. Fui no apartamento dele para fazer uma surpresa quando os vi. A relação terminou no mesmo instante.
— E depois disso, vocês ainda conversavam?
— Muito pouco. Eu estava com raiva dele e fugia sempre. Troquei o numero do meu telefone e até parei de andar com os mesmos amigos. Fiz de tudo para evita-lo.
— Mas mesmo assim, ele a encontrou e a agrediu?
— Sim. Um dia eu estava saindo da Duarte e encontrei com ele. Não sei se o encontro foi casual ou proposital, mas eu tentei me esquivar dele e fugir, ele não deixou. Nós discutimos e ele acabou me agredindo.
— nessa época você já mantinha relacionamento com a vítima Rafael Duarte?
— Não. Já era apaixonada por ele, mas ainda não tínhamos começado a namorar – Rafael me deu um sorriso de lado ao passo que Gustavo abaixou a cabeça. – Ele viu tudo o que aconteceu e os dois até discutiram. Gustavo pensou que estávamos juntos.
— Você acha que isso pode ter levado o réu Gustavo Melasques a querer algum tipo de retaliação por Rafael a ter defendido e por pensar erroneamente que vocês mantinham um relacionamento?
— Protesto – disse o advogado de defesa – O advogado de acusação está induzindo a testemunha a conclusões precipitadas.
— Protesto aceito – disse o juiz.
— Pois bem – continuou Daniel – como era sua relação com Juliana de Assis? – eu olhei para ela que sorria abertamente para mim.
— Ela era advogada na Duarte. No começo ela me tratava bem e parecia ser minha amiga. Até que ela começou a suspeitar de algum envolvimento que eu pudesse ter com Rafael. Como eu disse, eu não mantinha nenhum tipo de relacionamento com ele até então. Nós começamos a namorar tempos depois quando viajamos para a Holanda onde tudo aconteceu. Mas isso foi insuficiente. Ela me cercava no escritório e vinha com uns papos que não tinham nem pé nem cabeça – Dan havia me deixado tão confortável para conversar que eu, por um momento, esqueci de onde eu estava e falei de forma informal.
— Qual era o conteúdo dessas conversas? – perguntou Daniel dando meio sorriso.
— Ela acreditava fielmente que meu possível envolvimento com Rafael era apenas por interesse no dinheiro dele. Mas eu nunca quis saber do dinheiro do Rafael, isso é o que menos importa pra mim.
— Então o relacionamento de vocês não tem nenhuma influencia econômica ou financeira?
— Me apaixonei por quem ele é, se ele não tivesse um real no bolso o sentimento seria o mesmo. Não estou nem ai se ele é herdeiro de uma fortuna. – Juliana revirou os olhos.
— De que forma acha que Juliana está envolvida nesse caso?
— Protesto – repetiu o advogado de defesa que eu decidi que não gostava. – o advogado novamente faz perguntas irrelevantes ao caso induzindo a testemunha a um conceito pré-determinado por ele.
— Protesto negado. – respondeu o juiz, ainda bem pois eu queria responder.
— Um pouco antes da viagem, soubemos que Juliana não estava satisfeita por eu ir como acompanhante de Rafael para a Holanda. Ela começou a ligar na casa de Rafael sempre para saber onde estávamos, quando estaríamos em casa ou o que estávamos fazendo. Mere, a governanta de Rafael, era muito discreta e nunca revelava essas informações. Paralelamente a isso, o meu apartamento foi invadido. Soubemos que não foi um mero assalto, pois não roubaram nada de valor, apenas um celular velho que não funcionava e um computador. Esse computador tinha acesso direto à agenda de Rafael. Assim ela poderia obter todas as informações que queria e que foram negadas. – o sorriso no rosto de Juliana morreu e ela começou a me olhar com raiva. Dessa forma ficou claro para mim que ela era a mandante de todo o crime, mas eu ainda não sabia a relação que ela tinha com Gustavo ou Júlio.


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