Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 76
Capítulo 76




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No final das contas, a polícia não precisou de outros depoimentos. Rafael e eu voltamos para a cidade e a vida seguiu normalmente. A investigação havia sido concluída e o julgamento de Gustavo ocorreria daqui a longos seis meses. Eu simplesmente odiava essa justiça lenta.

Marcella, obviamente, aceitou se casar com Pedro e a cerimonia aconteceria em breve. Segundo ela, o vestido de noiva dos sonhos dela não combina com um manequim de gestante. Me surpreendendo, ela escolheu uma cerimonia simples, sob os protestos de Camila, e sempre pedia a minha opinião em algum detalhe. Não que eu saiba alguma coisa sobre casamentos, mas acho que ela realmente gostava de mim, tanto que chegou a convidar Rafael e eu para sermos os padrinhos do matrimônio. Ela mesma ia desenhar o vestido das madrinhas, de modo que eu não tinha muito com o que me preocupar. A única coisa que eu sabia é que ele seria rosa.

Rafael voltou à Duarte, mas apesar estar sentado na cadeira do presidente, ele ainda deixava Daniel no comando. Ele estava colocando em prática seu plano de qualifica-lo para assumir a presidência no futuro, assim Rafael poderia voltar a estudar e se tornaria professor, que era o que ele sempre quis. Seu pai não gostou muito da ideia, ele não queria que a Duarte saísse das mãos da família, mas como Dan era praticamente da família ele teve que aceitar.

Eu gostaria de dizer que as coisas com Dr. Duarte ficaram boas. Mas não. Depois da cirurgia, ele foi submetido à um difícil tratamento de quimioterapia e os efeitos dela o deixava cada vez mais fraco. Os médicos se mantinham otimistas, mas a própria família de Rafael não estava tão otimista assim.

A família de Rafael ficou muito feliz com o nosso relacionamento e me tratavam muito bem. Mas segundo eles, o namoro já era esperado e eles sabiam que não ia demorar muito para que eu e Rafael ficássemos finalmente juntos. Eu gostava disso, eles faziam com que eu me sentisse acolhida, como se eu fosse parte da família e nenhum deles me culpou pelo ocorrido na Holanda. Pelo contrario, a raiva que nutriam por Gustavo era quase tão grande quanto a que eu mesma nutria.

Ficamos por um tempo sem notícias de Juliana, o que me assustava. Mas até então ela não tinha feito absolutamente nada. Acho que era isso que mais me deixava com medo. O silêncio.

Dentro de dois ou três meses depois, eu estava tranquilamente trabalhando na recepção da Duarte, observando Rafael que estava muito nervoso numa videoconferência com os terríveis americanos. Agora ela sabe na pele tudo o que eu passei com aqueles engravatados chatos. Alice saiu do escritório dela com o tablet na mão e veio até a minha mesa.

— Como tá o dia perua? – ela perguntou.
— Tudo tranquilo, só estou avaliando o momento certo de levar um calmante para o chefe – eu disse e ela olhou para a parede de vidro para observar Rafael e se voltou para mim
— Sugiro que o quanto antes melhor. Aquela veia na testa dele vai explodir a qualquer momento.
— E o seu dia?
— Ah, hoje é um daqueles dias em que não tenho nada pra fazer e estou só aguardando o momento do fim do expediente pra ir pra casa e morrer na minha cama.
— Credo Alice
— É sério. Eu estou muito cansada.  Mas, bem, eu não vim falar sobre isso com você.
— E o que te trás a minha humilde mesa de trabalho?
— Isso – ela estendeu o tablet para mim e eu li a notícia.

“Universidade abre processo seletivo com bolsas de 100% para ex-alunos e funcionários nos cursos de direito, administração, nutrição, enfermagem, arquitetura (...)”.


— Isso aqui é sério? – perguntei.
— Claro que é. É nossa antiga faculdade amiga. É a chance que você estava esperando pra terminar seus estudos.
— Eu vou é fazer a minha inscrição agora. – eu disse sorrindo e enchendo meu coração de esperança.

Abri o site no meu computador e fiz a inscrição. Enquanto isso, Alice fazia planos para gastar o dinheiro que eu havia juntado durante todo esse tempo.

— Eu não vou gastar. – eu disse – Sabe que tem uma chance eu não passar? Vai ter uma prova de conhecimentos gerais e uma redação.
— Você sempre foi boa em redação e conhecimentos gerais não deve ser tão difícil assim. Amiga confia em mim. Estou com um bom pressentimento. E eu li o seu horoscopo hoje.
— Não me conta.
— Não vou contar. Quando é a prova?
— No fim de semana, e o resultado já sai na segunda-feira.
— Eles estão rápidos. Na nossa época demorou mais de um mês pra sair o resultado.
— Eu lembro. Foi torturante. Eu chorava quase todos os dias de aflição.
— Mas pensa só. Você vai poder voltar a estudar, vai se formar e trabalhar com o que você gosta. Nunca mais vai ter que lidar com aqueles americanos – ela apontou para o escritório de Rafael.
— É, mas o curso continua integral. Não vou poder continuar na Duarte.
— Mas esse era o plano não era? Trabalhar aqui um ano, juntar a grana e pedir demissão. Tudo bem que já tem mais de um ano, mas ainda assim.
— É, mas isso foi antes.
— Antes do Rafael? – ela perguntou e eu assenti – deixa de ser boba. O Rafael te ama, e se você não aproveitar essa oportunidade, ele não vai te perdoar. Não se prenda a Duarte, nem a ele. Ele é seu namorado e vai te apoiar em qualquer que seja a situação.
— Na teoria isso é lindo.
— Bom então vamos colocar em prática. – ela bateu as palmas das mãos e isso atraiu a atenção de Rafael. Eu ficava impressionada em como ele percebia tudo o que acontecia o tempo todo. Nada escapava dele. Ele não estava mais na videoconferência, estava no celular e parecia bastante preocupado.
— Obrigada Alice. Agora ele vai perguntar porque você estava batendo as palmas sendo que nem é meu aniversário.
— Falando nisso, tá chegando hein. Como se sente com quase 25 anos?
— A mesma Ana de 24. – resmunguei.
— Você é tão ranzinha às vezes. Como é que eu sou sua amiga? – ela disse dramatizando e Rafael abriu a porta da sala.
— Ana, cancela toda a minha agenda para o resto do dia – ele disse.
— Ok. O que aconteceu? – mas ele não respondeu. Foi que nem um foguete para a sala de Daniel. De lá os dois voltaram para a sala de Rafael falando alguma coisa sobre o que Dan devia fazer na ausência de Rafael.
— O que tá acontecendo? – Alice sussurrou.
— Não faço ideia. – então Rafael saiu da sala e Dan assumiu o seu lugar na mesa dele.
— A senhorita não tem processos para analisar senhorita Brandão? – disse Rafael indo para o elevador e apertando o botão “Desce”.
— Sabe que não – disse Alice petulante – estava falando isso agora com a Ana. Tô bem ociosa hoje.
— Então vai ajudar o Dan. Ele certamente precisa de ajuda. – ele pressionou o botão de novo.
— Você sabe que ficar apertando esse botão não vai fazer o elevador subir mais rápido né – disse Alice.
— O que aconteceu Rafael? – perguntei e as portas do elevador se abriram.
— Meu pai... – ele disse antes de entrar e as portas se fecharem e eu senti um aperto no peito.


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