Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 67
Capítulo 67




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Depois da saída do hospital, fomos direto pra casa. Dan e Alice ficariam hospedados na casa de Rafael, de modo que eu teria que tirar minhas coisas do quarto de hóspedes e mudar pro quarto de Rafael, o que não era incomodo nenhum já que eu queria ficar de olho nele. Apesar de ele parecer bem, eu ainda tinha medo dele passar mal.

Assim que chegamos, nos deparamos com uma Mere super preocupada que nos recepcionou calorosamente.

— Eu fiquei tão preocupada meu menino! Tentei te visitar, mas não deixaram. Disseram que era só a família que podia entrar. Me barraram, logo eu, que troquei suas fraldas várias vezes.
— É norma do hospital Mere. – disse Rafael – mas eu estou bem, não tem com o que se preocupar.
— Você perdeu um órgão. Isso é sério.
— Sorte a minha que o apêndice é inútil. Tão inútil quanto o novo sistema de segurança dessa casa. Ele falhou, e por isso nós quase morremos.
— Eu queria mesmo falar sobre isso. Não foi um acidente. Chamei os técnicos para verificarem tudo e me disseram que o alarme simplesmente foi programado para parar de funcionar no dia da invasão.
— Perai, a polícia sabe disso? – disse Dan
— Creio que não Daniel.
— Sabe onde esses técnicos estão? Precisamos leva-los a delegacia.
— Eu posso ligar pra lá e pedir para que venham até aqui.
— Ótimo.
— Outra pessoa faz isso. Você está de férias a partir de hoje. – Rafael disse
— O que? Férias?
— Férias sim senhora. Depois de tudo o que aconteceu, merece um tempo pra descansar. Não aceito um não como resposta.

Enquanto Rafael conversava com Mere, eu fiquei alheia a tudo o que se passava, eu olhava para o chão, perto da escada, onde há algumas noites  tinha um carpete. O carpete em que Rafael se deitou, sangrando, baleado e teve uma parada cardíaca. Ele não estava mais lá, mas não era preciso que estivesse. Eu conseguia me lembrar de cada detalhe.

(...) Eu me rendi ao homem e rezava para que Rafael sumisse dali e ligasse pra policia, que ficasse escondido em algum lugar em segurança. Mas ele não moveu um único músculo. Ficou ali segurando o cutelo como se sua vida e a minha dependessem disso. Tudo ficou pior quando o homem disse que as balas tinham um dono, e esse seria o meu Rafael. Eu sabia o que ele ia fazer. Tentei lançar olhares sem denuncia-lo ao homem, mas ele parecia bem convicto do que fazer. Pra falar a verdade, Rafael não poderia ter outra atitude senão me defender. E eu sabia que ele faria qualquer coisa para isso, até mesmo colocar a sua vida em risco.

E ele colocou. Eu tinha que protege-lo já que ele mesmo não fazia isso. Por isso, enquanto ele conversava com o homem e esse parecia ter esquecido da minha existência naquela sala, eu me aproximei devagar e peguei um vaso de cima do aparador. Minha ideia era acertar ele na cabeça do homem, mas ele foi mais rápido do que eu. Ele atirou, covardemente, no homem da minha vida. Sem dó, piedade, remorso ou sem pensar duas vezes. Eu não consegui conter o grito de desespero (...).

— Foi aqui? – disse Alice me tirando de meus pensamentos e segurando minha mão. Eu assenti – esquece isso, tá tudo bem agora.
— Eu sei.
— Vou preparar o jantar em um minuto – disse Mere tendo minha atenção novamente – você deve ter se alimentado muito mal naquele lugar. – disse ainda conversando com Rafael.
— De fato. Mas o que eu queria mesmo era tomar um banho. Tirar esse cheiro de hospital – Rafael disse.
— Vamos – eu disse – eu te ajudo – peguei a mão dele e o levei pro quarto.

Assim que entramos, eu ajudei Rafael, que tentou disfarçar um gemido de dor, a se sentar na cama. Fui pra banheira e preparei um banho bem gostoso pra ele e quando eu voltei pro quarto para busca-lo, ele me olhava de um jeito bem diferente de quem estava sentindo dor.

— Que cara é essa?
— Cara de quem tava doido pra ficar sozinho com você.
— Pra fazer o que?
— Continuar o que começamos no hospital
— Você não queria tomar banho?
— Quero. Com você.
— Rafael. Vamos com calma tá. Lembra-se do que o médico disse, sem esforços. – disse me aproximando dele
— Mas você sabe que isso não é esforço nenhum para mim. – disse dando o sorriso mais safado que conseguiu. Meu Deus, esse homem ia me levar a loucura. Mas eu iria ser firme, bem firme. Eu não ia ceder. Não dessa vez.
— Você acabou de sair de uma cirurgia complicada. Precisa descansar e se recuperar para voltar logo para casa e retomar sua vida. – disse apelando para o bom senso enquanto ele passava os braços pela minha cintura e me abraçava entre suas pernas – Se você tiver alguma complicação, vai ter que voltar pro hospital, comer aquela comida ruim, e ai não poderá fazer nenhum esforço por muito tempo.
— Muito tempo? – ele pareceu ponderar e eu assenti – acho que vale a pena o risco.
— Não. Não vale. Vamos! Vou te ajudar com o banho, se demorarmos muito é capaz da Mere vim atrás da gente com uma junta médica pronta pra te interditar. – isso o fez sorrir e ele relaxou os braços e se levantou.

Sorri vitoriosa pelo ter conseguido resistir a Rafael, mas a verdade é que eu achei que ele tivesse concordado com meus argumentos e aceitado que no fim eu estava certa. Doce ilusão. Assim que Rafael entrou na banheira ele me puxou de roupa e tudo junto com ele, e por mais que eu tentasse enganar a mim mesma de que eu ia ser forte e ia afastá-lo, eu não queria isso. Eu queria sentir os toques, os beijos, os carinhos, ouvir os sons graves que ele emitia, queria que ele me levasse à loucura, ao paraíso, ali mesmo naquela banheira. Eu queria Rafael, e no final das contas, uma orientação médica não foi o suficiente para mantê-lo longe de mim. Eu tive o que eu queria.


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