Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 62
Capítulo 62




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Uma hora depois eu começava sentir dores nas pernas de tanto andar na sala de espera do hospital, mas eu me recusava a sentar. Ficar parada uma hora daquelas era uma coisa que eu não ia conseguir de jeito nenhum. E então um homem com roupa da polícia veio em minha direção. Eu esperava que ele dissesse que o filho da mãe que colocou Rafael nessa situação estivesse preso.

— Senhora Siqueira?
— Sou eu.
— A senhora precisa nos acompanhar até a delegacia.
— Por que?
— Para prestar esclarecimentos.
— Eu não posso sair daqui agora. Rafael está sendo operado. Não vou a lugar algum.
— Infelizmente senhora, a sua presença é fundamental. A senhora é a principal testemunha do crime.
— Eu sei, mas... – fui interrompida pela enfermeira que estava atrás do balcão da recepção.
— Ana, o procedimento do Rafael vai demorar pelo menos mais umas cinco horas. Você pode ir lá tranquila.
— Cinco horas?
— É uma cirurgia delicada. – ela disse dando um sorriso amigável. Fala sério, quem conseguia sorrir numa hora dessas?
— Sendo assim, a senhora pode me acompanhar – disse o policial
— Eu não posso sair daqui. Não agora. Não com o Rafael correndo risco de vida.
— A senhora se importaria então de dar o seu depoimento aqui mesmo?
— Podemos fazer isso? – perguntei e o policial olhou para a enfermeira.
— Vou procurar um consultório vago para dar mais privacidade a vocês. – ela disse e se afastou. O policial chamou algumas pessoas pelo rádio e logo subiram mais cinco homens enormes e assustadores.

Eu estava um pouco nervosa. Eu sabia que eu ia ter que falar com a polícia, mas eu achei que eles iam respeitar o meu momento de dor. Afinal, o amor da minha vida entrou numa sala de cirurgia e eu nem sabia se ele ia sair de lá com vida. Mas então eu percebi que quanto mais rápido eu fizesse isso, mais rápido eu poderia esquecer que aquela noite existiu. E poderia colaborar com a polícia para poder descobrir quem foi que fez essa maldade.

E foi com esse pensamento que eu entrei no consultório da pediatria com todos aqueles policiais e disse tudo o que aconteceu. Eu contei tudo o que sabia. Que aquele homem invadiu a casa de Rafael disposto a mata-lo. Que Rafael era considerado um problema e ele estava cumprindo ordens superiores. Perguntaram-me se eu sabia de alguns desafetos de Rafael, se eu conhecia alguém que tivesse motivos para cometer aquele crime.

Tinha alguém. Alguém que queria que Rafael estivesse na palma de suas mãos, alguém que prometeu que essa viagem a Holanda seria um divisor de águas e que aconteceria algo grave, alguém que estava atrás da agenda de Rafael. A mesma pessoa que invadiu a minha casa e roubou o meu computador, a mesma pessoa que tentava me intimidar na Duarte e me acusava de ser aproveitadora. Juliana.

Eu contei sobre ela para os polícias, disse que ela era procurada pela polícia em nosso país por roubo. Contei sobre a conversa que Dan ouviu e sobre tudo o que ela tinha feito até então. Eu não era advogada, mas eu sabia que seria a minha palavra contra a dela. Nada do que eu disse poderia acusar Juliana de tentativa de assassinato, de ser a mandante do crime. Mas apesar disso, eu não consegui não acusar.

A parte boa de tudo isso, é que logo Dan e Alice chegariam para me orientar no que fazer, e Dan poderia falar sobre Juliana também. Não sei se ajudaria de alguma coisa, mas já seria a palavra dela contra a palavra de duas pessoas. Isso tinha que ter um peso não?

No final do meu depoimento o delegado me questionou se eu poderia ser capaz de reconhecer o criminoso. Eu disse que ele usava um capuz que só permitia que eu visse os olhos azuis, mas ainda assim ele insistiu em um reconhecimento. Mas se ele queria que eu reconhecesse, era porque o bandido tinha sido capturado não é?

— Vocês conseguiram pegá-lo? – eu perguntei enquanto o delegado tirava uma foto de dentro de um envelope e estendia para mim.
— Sim, ele foi encontrado quatro quadras depois da mansão. Mas não tem sido muito útil. Ele não fala inglês, não conseguimos arrancar nada dele.

Então eu me dei conta de que era verdade. Em todo o momento o homem misterioso falou em nosso idioma. Eu fiquei feliz por terem capturado o homem certo. Sentindo-me segura e um pouco mais aliviada, eu peguei a foto das mãos do delegado e encarei o homem alto e largo de pele clara, que tinha um piercing na sobrancelha esquerda e uma falha, ou um risco proposital, na direita. Os olhos estavam lá. Eram os mesmos olhos que certamente me assombrariam a noite e que iam me atormentar por muito tempo.

— É ele.
— Você tem certeza?
— Absoluta. Jamais esqueceria esses olhos.
— Ele não é holandês. É do país de vocês e entrou ilegalmente no país. Vamos chamar um tradutor e ver se conseguimos um depoimento e logo em seguida ele será deportado. A polícia de seu país vai assumir o caso.

Eu fiquei um pouco triste. Deus sabe que a justiça de meu país é lenta e pouco eficiente, eu preferia que o homem ficasse preso aqui. Conseguiram capturar o homem logo depois da fuga, se estivéssemos em casa provavelmente isso não aconteceria.

Eu sai do consultório e fui direto falar com a enfermeira e ela me disse que ainda não tinha nenhuma novidade. Eu conferi as horas, e haviam se passado três horas e meia de cirurgia. Eu comecei a caminhar de novo e as lembranças da morte da minha mãe foram inevitáveis. Eu também havia ficado esperando horas por uma cirurgia milagrosa e no final não havia dado em nada. Ela se foi. E me deixou. Na ocasião Alice estava comigo, me abraçou quando eu precisei e escutou o meu choro.

Mas agora era tudo diferente. Eu não estava em meu país, Alice não estava comigo e não era minha mãe quem estava sendo operada. Enquanto pensava nela, eu me lembrei de um sonho que tive pouco tempo antes de ir pra Holanda. Foi um pesadelo com minha mãe, que estava de viagem marcada para a Holanda. Desde o principio, tive um péssimo pressentimento sobre essa viagem, mas achei que estava ficando louca já que vivi os melhores momentos da minha vida ao lado de Rafael. Infelizmente, esses momentos não compensavam a dor que eu sentia nesse momento. Eu trocaria todos eles pela vida de Rafael sem nem pensar duas vezes. Preferiria mil vezes que ele voltasse a ser o chefe chato que me ignorava no escritório a essa dura batalha sem saber se ele vai sobreviver ou não.


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