Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 56
Capítulo 56




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Um tempo depois Ana e eu subimos pro quarto e tomamos um banho relaxante. Ela me fez uma massagem e conversamos sobre coisas aleatórias como músicas favoritas e comidas favoritas. Aquela sensação de que alguma coisa estava errada voltou e me deixou tenso. Estava mais forte e mais real agora. Fiz de tudo pra Ana não perceber. A verdade é que ela estava tensa também. Toda essa história com a Juliana a fez ficar bem ansiosa e nervosa. Ana estava com medo do próximo passo dela e apesar de eu fazer de tudo pra tranquiliza-la eu via o pavor em seus olhos.

Para ser sincero, eu sabia que esse medo só iria embora no momento em que chegássemos em casa e até lá eu não podia fazer nada. A noite caiu, o que significava que só teríamos mais algumas horas na Holanda e em breve estaríamos de volta. Iriamos para o aeroporto às cinco da manhã e logo toda essa tensão e esse tormento acabariam.

Obviamente, esse não era o único motivo pelo qual eu adoraria sair da Holanda o mais rápido possível. Meu pai estava sendo operado nesse exato momento e eu daria tudo, qualquer coisa, para estar ao lado dele e de minha mãe.

— A mamãe está em estado de choque. Não come, não fala, não faz nada. As vezes fica tão quieta que eu fico me perguntando se ela está respirando. – Marcella me contou em uma ligação.
— A vovó ainda está ai com vocês?
— Está sim, ela disse que apesar de detestar o nosso pai ela não deseja o mal dele e vai ficar do nosso lado o tempo que for preciso.
— Eu embarco amanhã bem cedo, no começo da tarde eu devo estar de volta.
— Que bom meu irmão. Sinceramente, não estou dando conta disso tudo sozinha. – ela fungou e eu me dei conta que ela chorava – Tento parecer forte para passar confiança pro papai e pra mamãe, mas eu já estou no meu limite. Eu estou muito preocupada. Tudo o que eu quero agora é que ele saia logo dessa cirurgia vivo.
— É uma cirurgia de muito risco?
— O médico disse que toda cirurgia tem um risco, mas a cara dele não estava muito boa. Acho que as coisas estão bem piores do que imaginamos.
— Não pensa assim, vamos ter pensamento positivo. Vai dar tudo certo. Tem que dar. Nosso pai é durão, vai ser difícil derrubar o velho – me peguei repetindo as palavras que ouvi de Daniel uns dias atrás.
— Assim eu espero. Não estou preparada se o pior acontecer.

Eu também não estava, eu queria dizer à ela. Quem é que está? Mas acabei caindo no velho clichê de dizer que tudo ia dar certo, que as coisas iam melhorar e que logo estaríamos rindo disso no futuro. Mas eu sei que não é bem assim que as coisas funcionam e apesar disso eu queria acreditar em minhas próprias palavras. Só me restava acreditar.

Ana se remexeu do meu lado na cama e vi que estava quase adormecendo. Apesar de não querer acordá-la pensei que se a deixasse dormir agora, ela não ia descansar durante o voo que seria bem longo e ela tinha que comer.

— Amor, não dorme.
— Não estou dormindo – ela disse com a voz embolada de olhos fechados, mas sorrindo.
— Então vamos levantar e comer. Temos que nos despedir da Mere.
— E do James. E do jardineiro que eu esqueci o nome. – eu ri
— Ele chama George. – ela nada respondeu e eu a cutuquei – Anaaaa.
— Ai caramba esqueci como você é chato às vezes. – ela se levantou bem rápido e se desequilibrou caindo na cama de novo de um jeito bem engraçado. – Ai – ela disse tirando o controle da TV de debaixo dela.
— Machucou?
— Não. – então ela me olhou – E você não é chato, só não me deixa dormir. O que é um absurdo, já que você acabou com todas as minhas energias à tarde.
— Você tem energia de sobra. Aposto que está pronta pra outra rodada. – ela negou com a cabeça e bocejou.
— Não estou nada pronta.  Assim com não estou pronta pra ir embora. Eu sei que temos que ir, mas eu estou apaixonada por esse lugar.
— Vamos ter muitas oportunidades pra voltar. Teremos tempo. Quero te levar pra vários lugares. – ela sorriu e me deu um beijo, depois se aninhou nos meus braços. – Se você dormir de novo, eu vou fazer cocegas em você.
— Você não ousaria
— Quer pagar pra ver? – ela levantou a cabeça e ao invés de me dar aquele olhar irritado que eu sabia que ela me daria, ela me deu um olhar apaixonado.
— Eu te amo – disse sorrindo e olhando no fundo dos meus olhos fazendo com que aquelas palavras atingissem a minha alma. – Amo mesmo, como nunca amei ninguém. Não esquece disso tá?! Nunca! Aconteça o que acontecer, eu sempre vou amar você. Independente de qualquer coisa. Te dei meu coração e você não tem direito à devolução. – notei que o tom dela era de despedida, assim como o tom de voz que meu pai usou na nossa ultima conversa. Pra aliviar o clima e eu resolvi brincar pra diminuir a tensão que eu sentia cada vez maior.
— Eu sei. Quem não amaria um cara incrível como eu?  – ela riu e eu continuei – Lindo, bem humorado, inteligente. Se eu fosse mulher, acho que até eu me apaixonaria por mim mesmo. – ela continuou rindo.
— Bem humorado é forçar um pouco a barra. Acho que só falta um pouquinho de humildade, ai fica perfeito.
— Como ser humilde com todos esses atributos? Sem contar que o fato de eu ser super dotado tem um peso enorme. Não dá pra ser humilde assim – ela gargalhou muito alto.
— Isso não podemos discordar. Vamos descer, antes que você continue falando besteiras e fure os meus tímpanos.

Ela me puxou pela mão e descemos as escadas. Quando chegamos na sala de estar, pude ver que Mere ainda não tinha colocado a mesa de jantar, eu pretendia perguntar se o jantar ia demorar. A cara de sono de Ana denunciava que ela não conseguir segurar por muito tempo. Mas então eu ouvi um estrondo um pouco alto vindo da cozinha.


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