Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 52
Capítulo 52




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— Assim não vale. Os dois têm que ceder.
—É o que eu penso. Mas não foi o que aconteceu. Naquele momento eu entendi que precisa mais que amor pra manter um relacionamento, e eu e ela só tínhamos amor. Não tinha confiança, não tinha companheirismo, não tinha mais nada. As coisas só melhoraram quando a Sabrina engravidou de novo. Nós não queríamos criar nosso filho em meio a tantas brigas. Então nós mudamos o nosso comportamento e parecia que as coisas finalmente iam dar certo. Estávamos felizes de novo, estávamos reconstruindo as bases do nosso casamento e tudo ia bem. Mas ai aconteceu tudo aquilo e ela se foi.
— Ela morreu grávida?
— Sim. Seis meses, embora ela não tivesse barriga nenhuma. Era uma gravidez complicada. Como modelo, Sabrina vivia de dieta. Ela era meio neurótica, fazia vários tratamentos pra continuar magra, pra não ter celulite ou uma mísera estria. Eu sempre achei um exagero, mas sempre que eu falava, ela gritava comigo então eu parei de falar.
— Uma vez você me disse algo sobre isso. Não da Sabrina, mas em relação a sua mãe e sua irmã. Você é contra a essa ditatura da beleza.
— Totalmente contra. Não tinha que existir um padrão sabe? Ninguém é igual a ninguém então por que padronizar?
— É uma pena que nem todo mundo pense assim.
— Com a Sabrina as coisas foram um pouco mais difíceis, ela não sabia lidar com o fato de aparecer meio quilo a mais na balança. Ela não conseguia abandonar os antigos hábitos e isso colocou o menino em risco.
— Era menino?
— Era. Gabriel. Cecília tinha escolhido o nome. Disse que era nome de anjo e que era isso que ele seria em nossas vidas.
— Eu sinto muito Rafael.
— Como eu disse, eu não estava pronto pra ser pai. Sinceramente não sei se estarei pronto um dia. Ela já estava com seis meses, mas a ficha não tinha caído pra mim ainda. Era muito surreal.
— Eu não sei como você suportou. Você é a pessoa mais forte que eu conheço, não sei se aguentaria.
— É um processo bem doloroso. Mas não sei se um dia eu vou conseguir dizer que superei. Já tem 10 anos, é como uma ferida que nunca cicatriza.
— Eu sei como é. A gente só aprende a conviver com ela. Mas ela tá lá, sempre lembrando a gente de tudo o que aconteceu.
— Tá falando da sua mãe?
— É. Eu fico me iludindo achando que ela vai passar pela porta do meu apartamento qualquer hora e brigar comigo por não ter comprado comida saudável. Mas é melhor pensar assim do que ter que lidar com o fato de que ela nunca mais vai voltar.
— Eu não posso me dar ao luxo de pensar assim. Eu tentei, por muito tempo acredite. Só que eu estagnei a minha vida. Até você aparecer – afastei uma mecha de cabelo do rosto de Ana.
— Você me deu sorte sabia?
— Sorte?
— Antes de você, antes da Duarte, eu não conseguia fazer nada direito. Não parava em emprego nenhum, não tinha vida social, estava atolada em dívidas. Minha sorte mudou com você.
— Eu confesso que fiquei um pouco receoso antes de te contratar.
— Sério?
— Ficava com medo toda vez que ia me fazer um café. Afinal, não é todo mundo que confunde sal e açúcar. – ela ficou vermelha que nem um pimentão.
— Em minha defesa, eles são muito parecidos.
— Ah são?
— É claro. Ambos são brancos e um pozinho. – eu dei uma gargalhada – E eu aprendi a lição. Nunca errei o seu café, então não enche – ela fez bico. Eu não resisti e me joguei em cima dela e tive que beijá-la. Mas no processo derrubei a taça de vinho dela no chão.

Eu a amei de novo, e de novo, e de novo. Não vimos quando a madrugada chegou ao fim ou quando os primeiros raios solares surgiram. Acordamos na hora do almoço e depois de um banho de banheira onde nos amamos novamente, Ana e eu decidimos explorar mais da Holanda. Eu só tinha mais uma reunião e em breve poderia voltar pra casa, mas eu preferi tirar umas férias. Há anos não me divertia, eu queria aproveitar cada segundo antes de ser obrigado a voltar.

— Será que está tudo bem? A Mere parece agitada. – disse Ana me tirando de meus pensamentos enquanto descíamos para o café da manha, ou almoço. De fato, tinha uma agitação na casa, alguns homens que eu nunca vi e Mere discutia com alguém.
— Espero que não seja nada com os jardins. Ela fica maluca quando se trata dele. – chegamos na cozinha e a vimos. – Mere, tudo bem?
— Não meu senhor. Nada bem. Estamos sem luz. O disjuntor explodiu. Já chamei os eletricistas, e eles vão arrumar tudo. Mas a previsão é que fique pronto até o fim do dia. Vão mexer na casa toda. Olha a bagunça que estão fazendo.
— Tudo bem Mere. Por que não tira o dia de folga? Não há nada que possa fazer por aqui.
— E deixar eles aqui fazendo mais bagunça? Não mesmo! Vou ficar aqui de olho. Mas vocês é que devem sair. E não voltem até o anoitecer. Eu preciso colocar esse lugar em ordem. Senhorita Ana, faça esse menino comer. Olha como ele tá magrelo. Não posso devolvê-lo assim pra dona Camila. Ela vai achar que eu o deixei passar fome.
— Pode deixar Mere – ela disse pegando minha mão e beijando-a. – Eu cuido dele.
— Ótimo. Antes de irem, Rafael, precisa saber que vão trocar todos os alarmes da casa. Quando o disjuntor explodiu, eles pararam de funcionar.
— Tá bom, sem problemas. É até bom, acho que esses alarmes estão ai há mais de vinte anos. Tá na hora de trocar.
— Vem tomar café com a gente Mere – Ana convidou.
— Ah não. Não tiro o pé daqui. Vão vocês, tem uma padaria ótima logo ali na esquina.

E então nós fomos. Cinco dias depois, ainda estávamos na Holanda. Eu não pretendia voltar tão cedo. Essa folga estava sendo maravilhosa. A companhia de Ana era tudo o que eu precisava. Eu estava completamente feliz.


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