Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 46
Capítulo 46




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— Ah, sim. Eu precisava falar com você mesmo.
— E o que era?
— O que? – ela estava perdida, bom!
— O que queria falar comigo.  – eu disse impaciente.
— Ah é sobre um caso que eu peguei. Queria a sua orientação.
— No que posso ajudar?
— Ah é sobre uma herança. Os herdeiros de um senhor estão contestando um testamento que dizia que... – ela começou a falar sobre o caso e embora não seja a minha especialidade, ajudei Juliana. O estranho é que essa também não era a especialidade dela, mas quando eu a perguntei ela disse que um dos herdeiros é amigo dela e quis ajudar. Eu aceitei a desculpa, afinal eu mesmo fiz isso. Uma vez, quando o idiota do ex-namorado de Ana a machucou.
— Por que quis a minha ajuda? Sabe que não sou especialista nesses casos. Era melhor você ter perguntado para o Diego – perguntei quando ela acabou de falar. Diego era o especialista.
— Ah... Eu... Não tenho tanta intimidade assim com ele e... e...
— E?
— Achei que você poderia me ajudar já que somos mais próximos.
— Ah somos? – ela ficou em silêncio – Você pode pedir a minha ajuda profissional sempre que quiser. Mas se tiver especialistas disponíveis eles devem ser consultados. Fui claro?
— Cristalino. Você volta em dois dias né?
— Talvez antes, talvez depois. Não tenho uma data precisa.
— Mas você tem compromissos aqui! – ela rebateu bem agitada. – não pode desmarca-los. – essa reação me fez pensar que ela não queria que estivesse aqui.
— Não. Você tem razão. Mas Daniel está me representando ai. Ele tem total autonomia para responder em meu nome.
— Claro. – ela disse com tom de frustração – Claro – repetiu.
— Qual o seu interesse nisso? - perguntei
— Ah, nenhum.
— Nenhum? – repeti.
— Na verdade, é por causa da Ana.
— O que tem a senhorita Siqueira? – preferi chamar Ana assim já que não queria que Juliana tivesse ciência de nosso envolvimento.
— Você sabe que eu tive um desentendimento com ela recentemente né? Eu queria me desculpar. Não tive o melhor dos comportamentos e me envergonho muito disso. Queria conversar com ela.
— Entendo – disse automaticamente sem acreditar em uma palavra. Conhecia Juliana a tempo suficiente para saber que ela não se arrependia de seus erros e nem perdoava alguém tão rápido.
— Você por acaso tem o telefone do hotel onde ela está hospedada?
— Não. – menti. Talvez seria um teste pra saber se Ana está hospedada na minha casa ou não, não queria cair em qualquer um de seus truques – Falo com ela direto no celular.
— Certo. Talvez a Alice saiba. Vou perguntar a ela.
— Se você quer mesmo se retratar, pessoalmente não seria melhor?
— Seria. Mas a minha consciência não deixa em paz. – não consigo acreditar que ela falou isso. – Tentarei falar com ela depois. Obrigada Rafael, sua ajuda foi essencial. Você foi incrível.
— Não precisa agradecer. Você representa a Duarte, se você falhar todos nós falhamos, só estou cumprindo com meu dever como dono daquele lugar. Eu mais do que ninguém quer ver o sucesso da Duarte.
— É claro. Eu não... Quer dizer, eu imaginava isso.
— Se é só isso...
— Não. Espere. Não desligue ainda. – ela pediu
— Tem mais alguma coisa pra me falar?
— Eu tenho tanta coisa pra te falar... – ela suspirou.
— Então fale.
— Agora não. Preciso de você! Quer dizer... er... preciso falar com você pessoalmente.
— Estarei de volta me breve e poderá me falar o que quiser.
— Obrigada. Eu tenho certeza que vai gostar. Sei que esperou por isso muito tempo.
— Do que exatamente você está falando?
— Em breve saberá. – e então desligou o telefone.

Eu fiquei ainda mais confuso do que estava antes de ligar pra Juliana. Por que ela queria que eu voltasse pra casa? Qual o verdadeiro intuito dela em querer conversar com Ana? Eu certamente não acreditei nessa conversa de arrependimento. E o mais importante: O que eu esperava há muito tempo? Nenhum dos meus desejos pessoais foi confidenciado a Juliana. Ela não tem ideia do que eu espero, do que eu quero. Seja lá o que for.

Frustrado, subi tomei um banho e esperei Ana ficar pronta para sairmos juntos. Eu pensei em um passeio de bicicleta pela cidade, assim daria para ver os canais, as casinhas em forma de bloquinho, aproveitar a natureza e o ar puro agora que a chuva parou. Estava na frente da casa com James que alugou duas bicicletas pra gente e ele me atualizava dos últimos detalhes.

Senti um perfume de lírios e sabonete e sabia exatamente quem havia chegado. Ana desceu as escadas e nos encontrou. Ela estava linda, ainda mais linda. James nos deu privacidade e se foi, assim pude toma-la nos meus braços e beijá-la.

— Estava doido pra fazer isso! – ela riu e corou – Já te falei como você fica adorável quando fica sem graça?
— Adorável? Eu devo estar da cor do cabelo da Alice e isso não é adorável.
— Pois eu acho que está. Tá pronta? – ela assentiu.
— Aonde vamos? – eu não falei nada e ela revirou os olhos – ok, minha nova caixinha de surpresas, você é quem manda. – eu ri.
— Vamos começar com um passeio no parque. Pedi ao James pra alugar bicicletas pra gente. – disse pegando sua mão e indo em direção à elas.
— Só tem um problema. – ela disse – eu não sei andar de bicicleta.
— Como assim não sabe andar de bicicleta? Todo mundo sabe andar de bicicleta.
— Menos eu – ela riu – é um trauma de infância. Eu tentei eu juro, mas eu me machuquei e desisti. Nunca mais tentei de novo.
— O que aconteceu?
— Eu tinha uns 4 anos na época, meu pai tinha me dado uma bicicleta de presente de natal e minha mãe tinha colocado as rodinhas, mas ai ele achou que eu estava grande demais pra usar rodinhas e, um dia, quando minha mãe estava trabalhando, ele as tirou. Eu estava toda empolgada e super corajosa. No começo foi tranquilo, mas quando eu cheguei perto da escada não consegui parar. Isso me rendeu uma perna quebrada e uma cicatriz bem aqui – ela se virou de costas, puxou o rabo de cavalo de lado e apontou para a tatuagem que tinha atrás da orelha.  Um monte de estrelinhas que cobriam a cicatriz.
— Mas o seu pai não estava te olhando não? Ele devia ter feito algo pra impedir a sua queda. - disse enquanto ela se virava novamente.
— Deveria, mas não fez. Estava lendo o jornal. Aparentemente a sessão de esportes era mais interessante que eu. Mas tá tudo certo, eu superei. A parte ruim é que o trabalho do médico não foi muito bom, segundo ele a região era meio difícil de dar uma sutura descente. Ai eu fiz a tatuagem com uns treze anos pra tampar.
— Gostei da tatuagem, não achei que tivesse uma. Eu também tenho. Nas costas. Mas tá frio e eu me recuso a tirar a blusa pra te mostrar agora. – ela riu – Vou pegar o carro com o James então pra irmos.
— Não. Não precisa.


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