Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 42
Capítulo 42




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Por mais triste e dolorosa que fosse a segundo opção, eu a escolhi. Foi exatamente o que eu fiz. Depois disso me enfiei no escritório e me preparei para a reunião do almoço. Tantos contratos, tantas negociações e tantas leis fizeram minha cabeça doer. Para me recuperar fui dar uma volta no jardim de minha mãe e respirar um pouco de ar puro para ver se a dor passava. Já eram quase 10 da manhã, o que significava que Ana provavelmente já teria acordado.

Ana, minha namorada. Ela sempre dava um jeito de me surpreender, como nessa madrugada. Eu nunca havia ficado de joelhos perante uma mulher, nem mesmo quando pedi a mão de Sabrina em casamento – estava sentado em um restaurante. Por Deus, quem dá uma flor de plástico para uma mulher? Eu devia ter vergonha disso. Mas eu não tinha, pensei rindo. Não tinha, pois foi um dos momentos mais felizes de minha vida. Obviamente eu ia reparar o meu erro, e foi pensando assim que eu roubei uma tulipa amarela do jardim de minha mãe, que nem a de plástico que dei a Ana no meu pedido de namoro, e fui atrás dela.

Ana estava ajudando Mere a colocar a mesa do café. Esperei, pelo momento em que Ana estivesse sozinha para surpreendê-la, em um canto onde não pudessem me ver, enquanto isso elas conversavam animadamente, até que começaram a falar de mim.


— Onde será que ele tá? – perguntou Ana, em inglês, enquanto colocava a jarra de suco na mesa.
— Trabalhando, como sempre. Aquele menino só faz isso. Ele pulou cedo da cama e se trancou no escritório. Tentei oferecer café pra ele, mas ele disse que ia esperar a senhora acordar para lhe acompanhar.
— Senhora não, pelo amor de Deus. Eu só tenho 24 anos. – Mere riu. – Você o conhece bem né?
— Ah sim. Como a palma de minha mão.
— Como ele era quando era mais novo?
— Ele sempre foi uma criança muito esperta. Não aguentava ele. Corria de um lado pro outro sem parar. Parecia que a bateria dele não acabava nunca. Mas ai ele cresceu e foi ficando mais quieto. Foi um adolescente bem tímido, adorava estudar. Nunca teve uma nota baixa. Esse menino era uma benção.
— A senhora fala dele com muito orgulho. – Ana disse.
— Porque é o que eu sinto. Rafael passou por muita coisa, e não é me gabando nem nada, mas eu praticamente fui a mãe desse menino. Dona Camila ainda trabalhava como modelo quando ele era criança e ficava viajando pra baixo e pra cima, quase não dava atenção a ele. Mas ele nunca reclamava. Eu sempre tentei dar toda atenção do mundo pra ele e para as minhas duas meninas. Rafael e Marcella se tornaram pessoas maravilhosas. Eu os amo como se fossem meus filhos. Eu sinto muito que o caminho de Cecília tenha sido interrompido, mas sei que ela também seria uma mulher maravilhosa.
— O Rafael fala bem pouco dela.
— Ele era doido com ela. Nunca vi um irmão mais babão quanto o Rafael. Principalmente com Cecília por ser a mais nova. Ele voltava a ser criança perto dela. Eram quase 10 anos de diferença. Com a Marcella era diferente, eles brigavam o tempo inteiro, mas se amavam demais. Um faria tudo pelo outro. Cecília... ah, ela era um anjo. Linda, linda, linda.
— É uma pena que tudo tenha acontecido do jeito que foi. – disse Ana me fazendo ter culpa, por um momento, por não ter contado toda a verdade para ela.
— Rafael se sente culpado.
— Eu sei, eu só não entendo o porque. Foi uma fatalidade.
— Foi sim, mas foi uma retaliação. Por isso ele se sente culpado – Mere ia acabar falando a verdade, eu ia ter que dar um jeito de interromper aquela conversa.
— Por que retaliação? – Ana, curiosa como sempre, perguntou.
— Ora, foi por conta daquele caso que... – ela foi interrompida por James, que chegou me salvando de ser desmascarado.
— Meredith, o jardineiro chegou e disse que precisa fazer algumas mudanças no jardim central, ele quer a sua autorização.
— Minha autorização? Ele que ligue pra dona Camila se tiver coragem. Ai dele se encostar em uma florzinha daquele jardim, ela é capaz de nos matar e distribuir nossos membros na praça da estação de trem.
— E o que eu faço?
— Nada né James, você nunca faz nada. Ai dona Ana, estou cansada. É tudo eu nessa casa. Onde já se viu? Uma mulher da minha idade! Ora! A senhora me dê licença. – disse Mere e saiu da sala brigando com James fazendo Ana rir.

Me dei mais alguns  minutos para me recuperar. Ana merecia saber a verdade, mas merecia que eu a contasse e não os outros. Mas eu ainda não conseguia, pois o que faltava é o que a colocaria em risco. Eu fui 70% honesto com ela, e por mais que ela e eu merecêssemos um relacionamento com 100% de honestidade eu ainda não conseguia falar disso. Não era só porque ela é minha namorada e isso já seria o bastante para colocar a sua vida em risco. Eu simplesmente não conseguia falar disso. Com ninguém, exceto com Daniel. Mas não falamos há anos, graças à uma briga na qual ele me defendia e eu me culpava. Porque é isso o que eu sou. Sou o culpado pela morte de minha irmã e de minha esposa.

Mas eu não queria e não podia pensar na morte delas agora, era hora de seguir em frente e se eu tiver sorte um dia, vou conseguir me entender comigo mesmo, superar meus próprios abismos, vencer meus medos e contar os 30% que faltam a Ana. E foi pensando assim que sai de onde eu estava e fui até ela, que ia se sentar para o desjejum. Cheguei por trás dela, abracei e lhe dei um beijo no pescoço. Pude sentir seu maravilhoso perfume natural e vi que ela se arrepiou com meu beijo.

— Bom dia – eu disse.
— Bom dia – ela respondeu e se virou pra mim sorrindo. A flor estava escondida em uma de minhas mãos e eu a entreguei. Ela me deu um lindo sorriso. – Ah, que linda.
— Uma reparação pro meu erro de ontem a noite. Eu devia ter te dado uma de verdade.
— Eu gostei da de plástico. Ela é perfeita, vou poder me lembrar daquele momento enquanto ela viver. – eu sorri. – Mas eu sugiro que não conte a Mere que roubou essa tulipa, ela é uma boa defensora do jardim de sua mãe. Parece que o jardineiro queria mudar algumas coisas e ela não vai facilitar o trabalho dele.
— Mexer naquele jardim é uma coisa altamente perigosa. – ela sentiu o cheiro da tulipa e sorriu pra mim. – Dormiu bem? – ela assentiu.
— Senti sua falta hoje de manhã. Por um momento eu achei que a noite passada tivesse sido um sonho. Você não estava lá quando acordei.
— Foi um sonho real. Está sendo na verdade. E me desculpe, eu tinha que rever algumas coisas para a reunião de daqui a pouco.
— Falando nisso, a gente tem que pegar o relatório que... – eu a interrompi com um beijo.
— Ainda não. Temos – olhei meu relógio – uma hora e vinte minutos antes de ter que falar de coisa chata, então, por favor, me fala qualquer coisa menos sobre contratos.
— Ok. Então que tal aproveitarmos esse maravilhoso café da manhã, que tá recheado de coisas que eu nunca comi na vida?
— Excelente ideia Senhorita Namorada. – puxei a cadeira para ela e nos sentamos para tomar o café. Basicamente falamos de comida, Ana gostava de qualquer coisa que experimentava.


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