Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 39
Capítulo 39




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— Que moça linda, meu filho. – ela abraçou – é um prazer conhecer você.
— O prazer é todo meu – ela disse completamente sem graça e corada. Ela ficava incrivelmente adorável quando ficava sem graça.
— Vocês estão com fome? É claro que estão! Que pergunta a minha! Eu vou preparar um jantar rapidinho pra vocês.
— Mere não precisa fazer nada, nós já comemos no avião e está tarde. Você deveria ir dormir, nós já vamos também.
— Onde estão as malas? – disse Mere ignorando cada palavra que eu disse anteriormente. Mere era sempre assim, era ela quem mandava na casa e dava a última palavra.
— O James tá cuidando delas. – Ana tinha um semblante confuso, provavelmente estava estranhando o jeito expansivo e exagerado de Mere.
— Sendo assim, eu vou para minha cozinha depois de mostrar a essa graciosa moça onde será quarto.
— Não precisa. Eu mesmo faço isso. – eu disse. Ela me deu um beijo no rosto e foi para a cozinha.
— Vou te levar no seu quarto – peguei a mão dela e subimos as escadas, ela estava gelada e estranhamente calada.

Assim que entramos, vimos a bagagem de Ana já no quarto de hospedes. Ele era exatamente como eu me lembrava, a parede do fundo da cama era vermelha e contrastava com a cama de madeira maciça, tinha uma lareira que dava uma iluminação charmosa ao ambiente, e janelas bem grandes com vista para o jardim de minha mãe. Era um dos melhores cômodos da casa, mas isso não pareceu impressionar Ana. Ela entrou, ainda extremamente quieta, e se sentou na cama.

— Você quer tomar um banho antes de comer? Tem uma banheira maravilhosa ali. – perguntei.
— Por que disse aquilo? – ela tinha um olhar estranho, ao mesmo tempo em que parecia cheia de expectativa parecia que estava com medo. Não entendi o por que disso.
— O que?
— Quando a gente se falou pelo telefone, você não soube me responder o que você é e agora me apresenta pra sua governanta como sua namorada. Eu não estou te entendendo Rafael – ah, era isso. Inevitavelmente eu sorri.
— Eu não menti pra Mere. – disse me aproximando dela.
— Então...
— Eu falei que ia tentar, e eu quero. Quero que isso dê certo. – ela tinha uma mecha de cabelo solta do coque que eu prendi atrás de sua orelha. – Então, eu acho que tudo bem te apresentar para as pessoas como minha namorada, já que eu sei o que eu sou agora. – ela sorriu.
— É meu namorado.
— Finamente, sim. Eu sou. – eu a beijei. Ela ainda sorria enquanto me beijava e isso me fez sorrir também. De repente vi que eu parecia um adolescente bobo que tinha ficado com a garota dos sonhos. Mas era o que ela era, então eu fico feliz por parecer um bobo.  
— Não que você tenha me dado a chance de recusar, sabe?! Esse foi, definitivamente, o pedido de namoro mais estranho da história dos namoros. – ela brincou.
— Se eu tivesse feito o pedido como manda o figurino você teria dito “não”?
— Ah nunca se sabe – ela desdenhou – você não fez então nunca poderemos saber. – olhei para o criado mudo ao lado da cama e tinha um vaso de flores, de plástico.
— Eu sei que isso é bem frustrante e sei que minha mãe ia odiar esse vaso de flores de plástico sendo que temos centenas de flores mais bonitas no jardim – disse roubando uma tulipa amarela do vaso – mas acho que eu estou sem opções – me ajoelhei na frente dela e ela tinha uma feição surpresa – Senhorita Ana Siqueira , você aceita namorar comigo?
— Eu não estava pensando nisso tudo. E caso queira saber, esse sim é o jeito certo de pedir uma garota em namoro.
— Obrigado pela informação. Vou anotar na minha caderneta que eu nunca abro, agora se puder poupar esse pobre homem da agonia dilacerante de esperar uma reposta vai ser muito útil. – dramatizei
— Meu Deus, quanto exagero. Você poderia ser ator. Mas, caro Rafael, essa é uma pergunta bem difícil – ela também encenava e ria – uma coisa dessas não pode ser respondida assim, tem que pensar bastante – disse se ajoelhando também, ficando a centímetros de mim e pegando a frustrante tulipa de plástico de minhas mãos – eu precisaria de um tempo.
— Um tempo? – disse sem conter um sorriso.
— É, um ou dois meses – disse beijando minha bochecha – Só pra analisar tudo direitinho e não fazer besteira – disse beijando a outra bochecha.
— Que tipo de besteira? – disse colocando as mãos na cintura dela e a abraçando. – Aceitar o meu pedido? – ela sorriu travessa e se jogou em cima de mim, me fazendo perder o equilibro de modo eu fiquei deitado no chão com ela em cima de mim.
— A besteira maior seria recusar – e então ela me beijou.

Eu a deixei no quarto para tomar um banho e se trocar e fui para o meu e assim que entrei meus olhos inevitavelmente foram parar na estante em cima da lareira. Tinha uma porção de porta retratos ali. Um deles do meu casamento. Me movi para lá sem controle. Peguei o porta retrato e admirei a foto.

Sabrina não era religiosa e não via motivo algum em termos uma cerimonia religiosa. Nos casamos apenas no civil mesmo com os protestos de minha mãe. Ela usava um vestido tomara que caia com decote em formato coração bem justo, que marcava bem as suas curvas de modelo. Sua pele negra fazia um contraste lindo com o vestido branco. Ela tinha apenas uma flor nos cabelos cacheados, o que a deixava com um astral quase angelical.

Tínhamos tirado aquela foto logo após assinarmos os papeis. Toda a nossa família ali, reunida em uma só. Os pais dela, Daniel, meus pais, Marcella e Cecília, e nós dois no centro. Parte da família feliz, a outra nem tanto. Se fosse um ano atrás eu provavelmente estaria a ponto de chorar querendo que o tempo voltasse e que eu pudesse viver tudo aquilo de novo. Hoje não, eu estava pronto pra viver o meu presente e planejar o meu futuro. Era hora de deixar o passado para trás. E foi assim que deixei o porta retrato no mesmo lugar, mas abaixado, deixado para trás.


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