Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 37
Capítulo 37 - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Parte II narrada por Rafael Duarte.



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A vida, às vezes, é uma caixinha de surpresas. Depois de tanto tempo eu nunca imaginei que estaria vivendo o que eu estou vivendo agora. Sim, talvez eu imaginasse que eu estivesse indo para a Holanda para uma reunião super chata, mas nunca pensei que estaria indo para a Holanda apaixonado pela minha acompanhante e assistente.

Já faz um tempo, muito tempo, que eu não sentia o que eu sinto agora. É como se eu estivesse vivo novamente, como se a pequena parte de mim que havia morrido junto com Sabrina, tivesse ressuscitado. Era diferente, é claro. Elas são mulheres totalmente diferentes, logo o sentimento também é. Mas o fato é que eu não pensei que pudesse me apaixonar novamente.

Desde que a Sabrina se foi eu nunca me envolvi de verdade com ninguém. Tive alguns dias de farra, incentivado por Daniel, e só. Não era como se eu precisasse de alguém, eu simplesmente não queria mais ninguém. Sabrina foi a primeira mulher da minha vida, a primeira e única que eu disse eu te amo, a única com quem eu queria passar o resto dos meus dias e a única que eu queria que fosse minha. Mas isso mudou, até o dia em que eu cheguei no escritório e entrevistei a incrível Ana Siqueira.

Eu estava desesperado por uma recepcionista, havia selecionado várias candidatas, mas nenhuma que valesse a pena. Estava quase desistindo quando Alice me indicou uma amiga para o cargo. Eu entrei no escritório e vim uma moça linda, muito linda, com um blazer rosa esperando para falar com alguém. Pensei que provavelmente seria uma cliente e me surpreendi quando Dona Sônia anunciou que ela estava ali para ser entrevistada.

Ela estava nervosa, mas isso não afetou seu desempenho na entrevista. Pelo contrario, ela se saiu muito bem e não se assustou quando eu comecei a testá-la em outros idiomas. Na metade da entrevista eu já tinha certeza de que era dela que a “Duarte” precisava. E eu suspeitava de que era dela que eu também precisava.

Aqueles olhos pretos escondiam alguns segredos e eu estava mais do que disposto a tentar desvendar cada um deles. Mas eu não podia. Era perigoso, não pra mim. Mas pra ela. O que eu mais gostava na Ana é que ela não tinha medo de mim, ao contrário de quase todos os meus funcionários. Ela tinha uma leveza e uma alegria que me contagiava e me fazia querer ser assim também, pra ela. Ela sempre sabia o que dizer, sempre tinha uma resposta na ponta da língua. Era como um desafio, eu sempre queria saber mais dela. Eu não me cansava dela. E nem poderia.

Quando dona Sônia morreu e ela se tornou minha assistente às coisas mudaram consideravelmente. Estar tão próximo dela o tempo todo era incrível. Ela me trazia a paz que eu havia perdido. E agora ela estava ali, dormindo nos meus braços, dentro de um avião. Ninguém no mundo conseguia me acalmar durante uma decolagem, mas ela conseguiu. Ela conseguia qualquer coisa. Eu mudei a minha vida com sua chegada e mesmo que fosse errado, mesmo que fosse perigoso, eu não queria mudar com sua partida.

As pessoas percebiam que tinha algo diferente em mim. Marcella se tornou a fã número 1 de Ana e apesar de eu nunca ter comentado nada sobre meus sentimentos para ninguém da minha família, era como se todos eles soubessem exatamente o que se passava. Daniel era um deles. Eu me lembro do dia em que eu confessei meus sentimentos para ela e Daniel estava saindo da casa dela. Na época ele disse que tinha ido levar um documento para Alice, mas hoje eu sabia que eles estavam juntos. Enquanto eu dirigia de volta pra casa ele conversou comigo sobre Ana, não que eu quisesse falar, mas ele havia tirado o meu direto de escolha.

— Ela é uma boa escolha. É jovem, mas ainda sim uma mulher que vale a pena. – Daniel disse.
— Ela quem? – fiz de conta que não sabia o que ele estava falando.
— A bruxa do 71.
— Esquece isso. Não tá rolando nada e nem vai rolar.
— Ah não? E aquilo que eu ouvi foi o que?
— O que você ouviu?
— Você disse que tá apaixonado por ela. – suspirei.
— Eu não devia ter dito isso. Vai complicar as coisas.
— Só se você quiser complicar. Cara, tem tanto tempo que eu não te vejo assim. Não entendo por que você não pode ficar com ela.
— Tem certeza que você não entende? – disse olhando para ele rapidamente e depois voltando minha atenção para o trânsito.
— Já tem 10 anos. Você não pode parar a sua vida assim, você tem que tentar de novo, tem que ser feliz.
— Como se fosse fácil.
— Mas é fácil. Nos somos os únicos que podemos decidir se vamos ser felizes ou infelizes. Só depende da gente. E você tá tendo a oportunidade de escolher ser feliz, mas tá escolhendo errado.
— E o que você quer que eu faça? Eu vou lá, a gente namora, casa, ela engravida e aparece um lunático que  dá um tiro nela. – desabafei.
— Isso não vai acontecer. Graças a Juliana, o André tá preso. Ele nunca mais vai chegar perto de você ou de quem você ama.
— Como se isso fosse mudar o aconteceu. O André só puxou o gatilho. Mas o culpado fui eu. Eu causei tudo aquilo. Graças a mim, a Sabrina e minha irmã estão mortas e a minha mãe quase morreu.  Eu quase perdi tudo. E a culpa é toda minha.
— Você tá se ouvindo? Você tem noção do absurdo que você tá falando? O André matou as duas. Não foi você! – ele estava a ponto de gritar comigo.
— Por minha causa. – ele suspirou alto e fechou os punhos.
— Cara, eu te amo, mas tem hora que da vontade de te dar um soco só pra ver se você acorda.
— Bela forma de demonstrar seu carinho – brinquei, mas ele não riu.


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