Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 32
Capítulo 32




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Rafael desceu do carro, abriu a porta para mim e fomos em direção a praia. Estava uma noite fria, a lua estava cheia e no ápice. Tinha poucas pessoas na praia de modo que nossas roupas não chamavam muita atenção. Rafael se ofereceu para carregar meus sapatos e desfrutávamos de um silêncio único e gostoso. Ele se sentou a areia e eu me sentei ao seu lado, mas com um gesto inesperado ele me puxou, fazendo com que eu ficasse no meio de suas pernas sendo abraçada por ele. Eu estava novamente em seus braços e isso era tão bom, tão reconfortante e tão gostoso. Mas eu sabia que não seria assim sempre. Eu poderia fingir que estava tudo bem e ignorar todo o resto, mas sabia que não era tão fácil assim. E isso não tinha haver com fato de Rafael esconder coisas de mim. 

— E agora? O que acontece?
— Não sei – ele suspirou. – Mas confesso que estou com medo.
— Também estou.
— De mim?
— Não – eu sorri. – você não é perigoso para mim. Por mais que diga que é, eu não acredito.
— Acho que isso faz de você uma tola.
— Ou uma mulher apaixonada que não tem medo do que sente. – rebati e ele suspirou.
— Você sabia que eu sou viúvo?
— O que? – me virei pra ele, mas ele não me encarou de volta, olhava o mar.
— Eu me casei com 19 anos. Ela tinha 18 e na época ninguém gostou muito da ideia. Diziam que éramos muito jovens, inconsequentes e tudo ia acabar mal. De certa forma acertaram, acabou mal. Mas nossa idade nada teve a ver com isso. – ele enfim me olhou, não sei que ele viu no meu rosto, mas isso o incentivou a falar mais. – lembra quando eu disse que o Daniel era da família?
— Lembro
— Além de ser meu melhor amigo, ele é meu cunhado.
— Sério?
— Ele que me apresentou a Sabrina. Na época a gente estava na faculdade de direito e teve uma festa de aniversário dele, onde eu a conheci. Ela estava tentando ganhar a vida como modelo, mas as coisas não estavam indo muito bem. Minha irmã estava preparando o primeiro desfile dela e eu acabei indicando a Sabrina para desfilar. A Marcella adorou a ideia e então a gente foi ficando amigos, começamos a namorar e em menos de um ano eu a pedi em casamento. Rápido né?
— Não acho que exista um tempo certo pra isso, é o tempo da gente, do sentimento da gente.
— Você devia ter dito isso pro meu pai há 13 anos atrás. Ele foi totalmente contra. Mas depois ele e todo mundo viu o que eu queria e como eu tava feliz e a Sabrina acabou sendo aceita, tanto pela minha família como para o resto do mundo. Casar com o herdeiro da Duarte acabou fazendo a carreira dela descolar, não que ela tenha se aproveitado disso, mas foi inevitável. A imprensa estava em todos os lugares e aonde quer que ela ia, não era conhecida como Sabrina Malta, e sim como Sabrina Duarte, a esposa do grande herdeiro. Ela odiava isso, e eu também.
— Eu imagino.
— Imagina?
— Não deve ser fácil. Todo mundo quer se realizar profissionalmente e ser o responsável por isso. Por mais que ela tenha batalhado fica parecendo que só conseguiu porque casou com você e isso é errado. Deve ser horrível.
— O que faria se estivesse no lugar dela?
— Como assim?
— Como reagiria as criticas da imprensa e minha fama? – fez aspas com as mãos quando disse fama.
— Se você fosse meu marido, e se você me amasse e nós fossemos felizes eu acho que não iria me importar. Eu ia ignorar todo o resto, pensar na gente e na minha carreira. Acho que se você ignorar, um dia não vai mais fazer diferença o que falam ou não. – ele sorriu – mas você ia se importar não é?!
— Claro que sim. É injusto.
— Esse é um dos motivos pra você não se envolver comigo?
— Não. Pra falar a verdade, esse seria o menor dos nossos problemas.
— E qual seria o maior?
— Eu. – então ele desviou o olhar e suspirou. – ela morreu na minha frente. Eu cheguei do trabalho, iriamos no teatro com minha mãe e minha irmã. Tinha uma peça na cidade que ela adorava e então eu entrei em casa e... vi acontecer.
— Eu sinto muito. Ninguém deveria passar por uma coisa dessas.
— Foi minha culpa. Foi sim.
— O que houve?
— Um assalto – ele disse depressa, não me passando confiança então desconfiei que estava mentindo – mas ela não foi a única que eu perdi. Minha irmã mais nova morreu e minha mãe quase se foi também.
— Ai meu Deus, que horror! – levei as mãos a boca
— Um tiro certeiro na Sabrina e outro na Cecília. Minha mãe foi atingida na perna. – ele suspirou. – eu só não sei porque não me acertaram. – disse isso olhando para o mar de um jeito como se estivesse revivendo a cena e quando a expressão de dor tomou o seu rosto eu não suportei, me joguei em seus braços e o abracei tão forte como se minha vida dependesse disso. Ele retribuiu. – tem tanto tempo que eu não ganho um abraço assim que eu nem lembrava que era tão bom.
— Você não está mais sozinho. – seus olhos se iluminaram e eu me peguei lembrando da música que dançamos mais cedo e no que ela significava, de repente me parecia que os papéis estavam invertidos – nunca mais.


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