Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 25
Capítulo 25




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— Então o lobo mal é realmente mal?
— Não eu. O lobo mal é só pra afastar as pessoas. Eu não sou ruim, eu queria que as coisas pudessem ser diferentes para eu poder viver sabe?! Mas depois de tudo o que aconteceu comigo, eu não posso perder o controle. Ele é tudo o que me restou. Por isso eu tento ao máximo não me apaixonar. Não tive sucesso, me apaixonei pela segunda vez. Mas estou tentando manter o controle para as coisas não terminarem ruins como da primeira vez.
— Mas as coisas podem ser diferentes. Basta você querer.
— Na teoria isso é lindo, mas na pratica nem sempre funciona. Eu só faço isso pra proteger as pessoas entende? – ele sujou seu nariz de sorvete e riu. Eu me antecipei e limpei para ele, que não desviou os olhos de mim.
— E quem te protege Rafael? – disse olhando fixamente para os olhos dele.
— Eu ... eu acho melhor irmos logo para a delegacia.

E com a mesma velocidade que ele se abriu por um misero minuto, ele se fechou novamente. Fomos em silêncio para a delegacia, onde eu fiquei encantada ao vê-lo exercer seu papel como advogado com perfeição e maestria. Não era a toa que era um dos melhores do país. Ele conseguiu uma medida de proteção, Gustavo não poderia se aproximar de mim durante três meses. Cem metros de distância era o suficiente para eu seguir minha vida em paz sem a influência dele.

No caminho de volta, eu fiquei pensando em Rafael e no que ele disse. Ele se apaixonou duas vezes, são mulheres de sorte. Embora ele não tenha tido sucesso em suas paixões e se culpasse por isso, eu simplesmente não conseguia acreditar que ele era o vilão, que era o culpado. Para mim ele era o herói. O meu herói que sofreu muito e que precisava saber o que era felicidade de verdade. Eu queria ser uma das duas mulheres por quem ele se apaixonou para ter a chance de fazê-lo feliz, de mostrar a ele que ele era o herói que eu sabia que ele era.

Mas era complicado. Não devia ser, mas era. Ele era o chefe e eu era só uma funcionária. Uma funcionária apaixonada pelo chefe que não se apaixona. Isso poderia dar um belo roteiro para uma novela mexicana. Era uma pena que esta fosse a vida real, e não uma novela na qual apesar das reviravoltas, sempre tem um final feliz.

Eu posso não ser a mulher pela qual Rafael se apaixonou, mas isso não significa que eu não possa ajuda-lo a superar seus medos e seguir em frente atrás dessa paixão. Mas para isso eu precisava de mais. Mais informações. Para cortar o mal pela raiz, eu precisava saber o que aconteceu para deixar Rafael assim, descrente de si mesmo. Não tenho certeza se ele me contaria o que eu precisava saber, mas eu tinha que tentar. E eu iria tentar. Ver Rafael com outra mulher não seria fácil, mas vê-lo feliz valia qualquer sacrifício.

Assim que ele estacionou, ficamos em um silêncio gostoso. A companhia era agradável, assim como a noite. Eu poderia ficar dentro daquele carro para sempre.

— Eu acho que deveria me desculpar – disse Rafael me tirando dos meus pensamentos.
— Pelo quê?
— Você estava estranha hoje no escritório, fiquei preocupado com você. Então tomei a liberdade de chamar Alice no fim do expediente e perguntar o que tinha acontecido. Desculpe se fui intrometido e se invadi a sua privacidade. Eu só queria saber o que tinha acontecido e em como eu poderia te ajudar, além do sorvete de creme, é claro. – ele sorriu, e eu também. – Me perdoa?
— Depois de tudo o que fez por mim hoje, não tenho que te perdoar por nada. Na verdade eu é que tenho que pedir desculpas e agradecer. Você fez mais por mim nos últimos tempos do que pessoas da minha própria família. Tenho uma dívida eterna com você.
— Você também não tem que me pedir desculpas. Que tal se esquecermos isso hein?
— Combinado.
— Eu tenho que ir. Minha avó ainda está lá em casa e fiquei de jantar com ela.
— Nossa, já está tarde. Ocupei bastante do seu tempo.
— Foi um prazer. Boa noite – ele se esticou e me deu um beijo na bochecha.
— Boa noite – sorri em resposta. Antes de sair, as dúvidas continuavam na minha cabeça, e eu sabia que não ia conseguir dormir sem saber de nada. Então assim que Rafael abriu a porta para mim, eu parei de andar e voltei a encará-lo.
— Tudo bem? Esqueceu algo?
— Uma pergunta: você disse que se apaixonou duas vezes – ele assentiu confirmando – e que só viveu uma das paixões – ele concordou novamente – eu quero saber o por quê! – antes mesmo dele começar a responder, eu completei – não venha com esse papo de lobo mal, não acredito em contos de fadas, eu quero um motivo real dessa vez. – ele sorriu, e demorou uma eternidade para me responder.
— Porque ... – ele umedeceu os lábios e se aproximou de mim, colocou as mãos que estavam geladas em meu rosto, e eu pude sentir o seu hálito – É complicado. – e então ele me beijou.


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