Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 19
Capítulo 19




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— Ela já chegou? – disse Marcella descendo as escadas num salto agulha de 15 centímetros com a maior classe. – Olá minha querida. – me abraçou também e se sentou ao lado de sua mãe. – Eu não disse que ela era linda mamãe? – então elas conversaram sobre mim? Que bom hein?!
— Disse, mas confesso que seus elogios não fazem jus a essa mulher diante de mim. Ela é radiante. – corei
— Ela tá sem graça mamãe. Acho melhor parar.
— Você aceita uma água, um suco? – e antes mesmo antes mesmo que eu pudesse responder Rafael surgiu sem camisa e todo molhado. Eu esqueci como respirar.
— Mãe, não tem jeito, vai ter que trocar ... – ele me viu (hipnotizada) e abriu o mais lindo dos sorrisos. – você já chegou! Que bom, temos muito o que fazer hoje. Marcellinha, você pode acompanhar a Ana até o escritório do nosso pai? – ela assentiu depois de trocar um olhar intrigante com sua mãe. Rafael se virou para mim – não vou demorar, tomarei um banho e vou tentar dar um jeito na cozinha e já te vejo tá bom?! – assenti, incapaz de pronunciar qualquer palavra.
— Vamos querida?
— Vamos!

Segui Marcella, completamente desestabilizada, até o escritório que era bem decorado com tons escuros. Depois que a irmã de Rafael me deixou sozinha, comecei a explorar o lugar. Móveis sofisticados num disposição que deixava o ambiente aconchegante e harmonioso. Tinha até uma lareira! Eu sempre quis ter uma lareira em casa. Ela era linda e só de olhar para ela eu sentia uma paz inexplicável. Me aproximei dela e fiquei encantada com as chamas. Comecei a pensar na minha vida, em como tudo mudou em tão pouco tempo. Como minha relação com Rafael, que antes era indiferente, mudou para algo mais ... mais ... ah, eu não sei explicar. Eu só sei sentir. E foi ali, procurando uma explicação para o inexplicável, admirando aquelas chamas que vi a verdade bem diante de meus olhos. Eu me apaixonei por Rafael. E eu não estava certa se isso era uma coisa boa.

 Decidi enfiar a cara no trabalho para esquecer Rafael, como se adiantasse alguma coisa. No final das contas Rafael estava certo, tinha muita coisa a ser feita e eu estar longe do escritório não ajudava muita coisa. Stella me ligava a cada cinco minutos e estava perdida lá na “Duarte” sozinha, tadinha.

— Ana, esses advogados são loucos. Esse lugar é uma loucura e eu tô ficando louca. – disse na décima primeira ligação.
— Calma, vai dar tudo certo. Encaminha os documentos pra mim e se precisar de mais alguma coisa é só me ligar. – ela desligou e eu suspirei exasperada. Quando Rafael me demitisse, o escritório ia quebrar.

— Problemas? – disse Rafael entrando na sala, (in)felizmente agora ele já usava uma camisa e não estava molhado. Não usava seu inseparável terno e era muito estranho ver Rafael com roupas ... normais. – que foi? – disse ao contatar que eu estava olhando demais pra ele.
— Você tá sem terno.
— Não há sentido em usar um se vamos trabalhar em casa. Minha vestimenta não é adequada?
— Eu odeio quando fala assim. Não pode parecer um ser humano normal do século XXI? – ele sorriu.
— Como estamos indo?
— Ah, até que bem. Já adiantei a maior parte e creio que antes do almoço acabo tudo aqui. Você só precisa assinar documentos e tá dispensando.
— Ah, então você, minha chefe, tá me dispensando?
— Claro que sim. – ele sorriu e veio ver o que eu estava fazendo no computador.
— Caramba. Se todos os meus funcionários fossem ágeis como você eu realmente não teria cabelos brancos antes dos 33.
— Você não tem cabelos bran .. - me interrompi – tem sim. É meu amigo, não queria te dizer isso, mas a idade chega para todos.
— Obrigado, eu acho.
— Mas relaxa, até que é charmoso. – ele abriu um largo sorriso e só então percebi o quanto estávamos próximos. Eu sentava e ele inclinado sobre mim, na direção do computador, com aquele sorriso.
— Acho que foi um elogio.
— Foi sim.
— E você gosta de homens charmosos então?!
— Quem não gosta?
— Eu. Na verdade eu prefiro mulheres. – deu um sorriso torto
— Charmosas?
— Com certeza. – e isso me tirava claramente das opções dele já que de charmosa eu não tinha nada. Desastrosa seria uma qualidade melhor. – Bom, já que minha excelente funcionária já tá quase acabando, creio que ela terá a tarde de folga.
— Não terá mesmo. O escritório tá um pandemônio, Stella tá completamente perdida lá. Assim que acabarmos aqui, vou pra lá.
— Fico impressionado e grato pela sua dedicação.
— Ah, sabe como é. Preciso do salário caindo na minha conta todo dia 6 então o mínimo que eu posso fazer é manter aquele lugar funcionando, já que sem mim você fecharia as portas em dois tempos. – ele sorriu, alguém bateu na porta e ele se endireitou.

— Entre – disse Rafael.
— Atrapalho? – disse Dr. Duarte entrando no escritório, me levantei afinal não queria que ele me achasse folgada por usar o escritório dele e estivesse sentada na cadeira. - Pode ficar a vontade querida – disse ele, estranhamente gentil. – eu só vim ver se vocês precisam de alguma coisa.
— Tá tudo certo, pai. Obrigado.
— Vocês vão demorar muito?
— Creio que não. Ana já fez a maior parte. Mas por que?
— Sua avó chega hoje de viagem, você ficou de busca-la no aeroporto Rafael.
— Puxa, esqueci completamente. – franziu o cenho de um jeito extremamente sexy
— Se quiser que eu vá no seu lugar ...
— Quero, quero sim. É melhor não deixar Ana sozinha, ainda não terminamos e eu já a explorei muito aqui.
— Tá tudo bem Rafael. Vou para o escritório daqui a pouco, só preciso que assine alguns documentos e me dê as próximas orientações. – me pronunciei sob o olhar atento de Dr. Duarte.
— Tá tudo bem mesmo? – eu assenti – sendo assim, eu te deixo no escritório quando for para o aeroporto. – virou-se para o pai - Obrigado por me lembrar.
— Disponha. – se retirou.

— É melhor acabarmos logo então. – ele assentiu, deu a volta na mesa e começou a assinar alguns papeis que lhe passei. – sua vó que vai chegar, é mãe da sua mãe ou mãe do seu pai?
— Da minha mãe. O ponto alto do meu dia vai ser encontra-la. Vou adorar ser paparicado um pouco. – eu ri. – é serio. Eu sou o neto mais velho, mais bonito e o favorito.
— E o mais humilde suponho – disse lhe entregando mais alguns papeis.
— Mas tudo isso é verdade. Somos 5 netos, 4 mulheres e eu. Ela me adora, e eu também. Por mim ela vivia aqui conosco.
— E por que ela não mora com vocês?
— Ela não se dá muito bem com meu pai. Na verdade vovó acha que meu pai se casou com minha mãe por interesse. Ela era uma modelo iniciante e rica enquanto que meu pai era só um motoboy de um escritório de advocacia. Minha vó não acredita em amor, não mais.
— E por que?
— Meu avó teve um caso com outra mulher, desde então ela se recusa a amar e não acredita que um homem possa amar de verdade. Custei para fazê-la mudar de ideia.
— Não existe nada mais abominável que traição – suspirei.
— Parece que conhece a sensação.
— Infelizmente sim. Não existe nada pior no mundo.
— Sinto muito por isso.
— Eu também. Mas pelo menos eu me livrei de um traste. – o assunto morreu e passamos alguns instantes focados no trabalho. Mas eu nunca conseguia ficar calada então comecei a puxar assunto. – sua mãe tem quantos anos?
— 62.
— Ela não parece ter essa idade. Quando ela me recebeu achei que pudesse ser uma irmã ou uma prima. Nunca sua mãe. Ela parece ter uns 40 anos.
— Bem vinda ao mundo das modelos. Ela e minha irmã são extremamente vaidosas. Quantos anos acha que minha irmã tem?
— Uns 20?
— Ela tem 31.
— Meu Deus. E eu aqui, acabada aos 24.
— Você não está acabada. Tá longe disso. Você é de verdade.
— E as modelos não são?
— É diferente. É muito artificial pra mim. Elas são lindas. Vivo pedindo minha mãe pra não usar maquiagem, mas ela não ouve. São muitos tratamentos estéticos, muitos sacrifícios pra alcançar uma perfeição que não existe. Acho que cada um é único e perfeito a sua maneira. Você por exemplo, é linda do seu jeito. Quando tá calor no escritório e faz um coque estranho que realça ainda mais sua beleza – corei – ou quando recebe um elogio, fica corada e encantadora. – ele sorriu - É natural entende? Tudo bem usar maquiagem, não acho um problema. Se vocês precisam e se sentem seguras, ok! Mas é o excesso e a neura que me incomoda. Aquele dia da premiação, por exemplo, você usou maquiagem, embora não precise. Mas vê-la no dia seguinte no escritório ao natural, livre leve e solta foi tão maravilhoso quanto na noite anterior. Você não é dependente disso, ao contrário da minha mãe e minha irmã. Não consigo me lembrar de um dia que elas não tenham usado maquiagem. – eu não consegui responder nada, só fiquei olhando pra ele. – Acho que acabamos. - Juntou os papeis e me entregou. – Que tal se formos almoçar naquele restaurante perto do escritório? 


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