Mark não gostava de amarelo. Nem de azeitona na pizza e nem de sorvete de chocolate, preferia o de baunilha. Também nunca gostou muito de música pop. E preferia cachorros à gatos.

Um dia, Mark conheceu a Jane. Foi no aniversário do melhor amigo, num barzinho. Jane era da turma do Francis na faculdade. Ela tinha olhos verdes, cabelos encaracolados e sempre cheirava a balas de menta. Provavelmente porque ela sempre tinha um pacotinho no bolso. Não por ter mau hálito, mas porque gostava mesmo.

Naquela noite, Jane estava de amarelo. Era um vestido sem manga. O fundo era branco, mas era todo estampado com margaridas amarelas.

Mark nunca fora fã de amarelo porque também não era muito fã de ovo. E nem de mostarda. Mesmo assim, ele achou-a linda. Nunca soube se foi porque o vestido lhe caía muito bem, porque ela ostentava um sorriso muito simpático ou se era culpa dos 3 únicos goles que dera numa vodka.

Assim, Mark se aproximou. Ela parecia ser legal. E após alguns segundos de conversa, ele logo descobriu que ela de fato o era.

Conversaram quase a noite toda. Falaram sobre seus sonhos, seus gostos (ela gostava de azeitonas. Mark deu uma careta quando soube e ela riu um riso melodioso) e essas coisas aleatórias sobre as quais grandes amigos conversam, que vão desde a política da Europa e histórias da infância à dieta dos pandas e contos de fada.

Em um dado momento, começou a tocar uma música bem famosa, que Mark tinha ouvido nas rádios quase todos os dias daquela semana e por isso já tinha pego antipatia da pobre melodia. Mas, Jane gostava dela e dançou-a desajeitadamente até o final, fazendo Mark sorrir. De repente, a música parou de parecer tão irritante.

Trocaram telefone. Ele não tinha esperanças de revê-la novamente tão cedo, mas o fez porque sentiu que devia fazê-lo.

Duas semanas depois, eles se encontraram de novo, em uma sorveteria. Poderia ter sido um encontro marcado, no entanto foi simplesmente por acaso, já que nenhuma mensagem havia sido mandada desde a festa. Depois da tarde na sorveteria, elas começaram a aparecer.

Depois de dois meses, Mark e Jane conversavam todos os dias. Teriam se tornado melhores amigos, se a vontade que tinham de se beijar não atrapalhasse toda a história da amizade.

Mais cinco meses, o desejo mútuo foi descoberto e eles começaram a namorar.

               Mark começou a gostar de amarelo. Amarelo deixou de ser “a cor que lembra ovo” para tornar-se  a cor que lembra a Jane, porque era a que ela mais gostava. Ela dizia que a lembrava patinhos e girassóis.

               No dia dos namorados, ele lhe comprou um buquê de girassóis, o que foi meio engraçado, porque ela tinha colocado justamente aquele mesmo vestido florido para encontrá-lo. Assim, Jane naquele dia ficou repleta de girassóis e margaridas.

               Agora, a maioria das pizzas que Mark comprava vinham com azeitonas em cima. Não, Jane não havia feito o milagre de fazê-lo gostar de azeitonas, ele ainda as odiava. Só que agora, ele deixava todas para ela.

               Ele também ainda não gostava de sorvete de chocolate, mas agora havia um pote na geladeira, para quando Jane vinha visita-lo. Ela amava chocolate.

               Quando tocava pop na rádio, diferente de como costumava fazer, ele não trocava de estação na hora. Ao menos não se Jane estivesse com ele, só para ouvi-la berrar a letra de alguma música famosa em meio a muitas risadas, enquanto ele refletia sobre o quanto os olhos dela brilhavam quando ela ria e do quanto isso a deixava linda.

               E ele ainda preferia cachorros, mas depois de alguns meses, até que simpatizou com o Gorducho, o gato laranja de Jane que com certeza fazia jus ao nome.

               E houveram algumas outras mudanças, e Mark estava plenamente ciente de todas elas. Mas Mark não se importava. O sorriso da Jane era bonito.

               Além disso, ele sabia que ela também fizera seus sacrifícios. Aprendera a gostar, ou ao menos suportar Heavy Metal. Aprendeu a cantar algumas músicas do Coldplay. Assistiu todos os filmes do Jurassic Park, depois de Mark prometer que leria toda a saga Harry Potter. O armário dela foi tomado por diversas roupas azuis, porque esta era a cor favorita do Mark. E várias outras pequenas coisas.

               Mas Jane também não se importava. O sorriso do Mark era bonito.

               E eles se amavam. No amor, a felicidade de uma pessoa torna-se um motivo para a sua própria. Engraçado, não? É, o amor... ele tem dessas coisas.