Era uma vez, uma rubi. Diferentemente das gems comuns, ela não nasceu em um Jardim de Infância, mas em meio a um monte de pedregulhos. Essa pequena rubi tinha um espírito guerreiro, e emoções tão fortes que a tomavam por inteiro.

Quando souberam daquilo, as diamantes custaram a acreditar. Não achavam que algo de bom poderia sair daquele lugar tão devastado. Então, Rubi teve que provar seu valor.

Rubi foi submetida a uma série de testes para ver se ela poderia servir ao império. Eles foram feitos para medir sua resistência e força, mas, por mais que tentasse, Rubi falhava consecutivamente. Ela era boa com tudo aquilo, mas ficava muito nervosa na hora dos testes.

Malsucedida, Rubi foi designada a ser segurança de julgamentos em Homeworld. Um serviço simples, que poderia ser feito por qualquer um.

Inicialmente, a gem vermelha ficou feliz em poder continuar servindo às diamantes, mas, ao ver toda a injustiça que acontecia no tribunal, não sabia se queria continuar fazendo aquilo. Grande parte das gems eram condenadas a serem despedaçadas simplesmente por serem defeituosas.

Um dia, ela se deparou com uma safira que seria julgada.

Foi amor à primeira vista. Aqueles longos cabelos em ondas escondiam um lindo rosto de um olho só. A cor favorita de Rubi sempre foi azul.

Desde aquele momento, Rubi já sabia que aquela gem não teria chances. Ela previa coisas que acabaram de acontecer, portanto, era inútil.

Rubi levou a Safira para o salão do tribunal com um aperto no coração.

“O que você acha que vai acontecer?” Safira perguntou a ela, agarrando seu braço um pouco mais forte.

“Desculpe.” Respondeu “Eu não posso ver o futuro, mas todos os julgamentos que vi terminaram da mesma forma...”

Ao entrar no salão, ela deixou que Safira continuasse sozinha e ficou esperando o final do julgamento ao lado da porta, agora invisível.

“Se ao menos eu pudesse fazer alguma coisa por você...”

A sessão ocorreu conforme o previsto, e quando terminou, Rubi foi a responsável por levar Safira à sua cela. Enquanto andavam pelos corredores brilhantes, a cabeça de Rubi estava a mil. Dessa vez, em vez de passar pelo corredor de costume, ela desviou por outro caminho e começou a correr.

“Rubi? O que você está fazendo?”

“Estou salvando você!”

Safira foi levada pelo braço por escadas de degraus intermináveis. Ela tropeçava tanto que Rubi a pegou no colo e correu o mais rápido que pode. Chegando à saída de serviço, uma pérola tinha acabado de abrir a porta. Elas a atropelaram e saíram praticamente voando.

“RUDE!!!” A pérola se esgoelou.

“Desculpe!” Rubi gritou de volta.

Ao ar livre, Rubi e Safira correram pelas estradas largas até que as ruas platinadas fossem substituídas por terra batida. Quase não era possível se ver a luz do sol devido às grades construções que se estendiam acima. Era naquele lugar onde o entulho de Homeworld era jogado, e onde uma grande quantidade de comunidades clandestinas cresciam.

“AHAHAHA! Escapamos, Safira!” Ela comemorou, girando a outra gem pelo ar. “Aqui você vai poder ser livre. Ouvi dizer que há gems foragidas vivendo por aqui, você só tem que se juntar a elas! Não se preocupe, elas devem ser legais!”

Safira estava feliz por ser liberta, mas não entendia porque aquela Rubi a ajudara.

“Por que você fez isso? Agora eles vão vir atrás de você!”

Rubi enrubesceu, o que na verdade não teve efeito nenhum.

“Eu não sei. Apenas fiz.”

Safira sorriu para Rubi. Ela estava prestes a lhe dar um beijo na bochecha quando Rubi avistou um robonóide em formato de cone atrás dela. Ela soltou uma exclamação abafada, e não pode fazer nada para impedir que a luz vermelha do robô escaneasse as duas. O drone brilhou, e antes que o seu raio mortal as atingisse, Rubi empurrou Safira ao chão. O raio passou bem por cima de suas cabeças.

“Safira, corra!”

Ela agarrou a mão de Safira e desatou a correr novamente. Safira ficou aterrorizada.

“Ah, não! Uma ameaça está prestes a vir!”

Rubi parou no meio do caminho.

“Quê? Aonde?!”

“É um Shattering Robonoid!”

Ela levou as mãos à cabeça, enquanto Rubi chacoalhava suas mãos e pés desesperada.

“Qual é?!!! Vamos, Safira!”

As duas continuaram a correr. Rubi virou para ver se o robô tinha ficado para trás, quando as duas caíram em um buraco.

Colunas se estendiam ao longo da caverna, repleta de poeira. Rubi despencou primeiro e Safira caiu em cima dela, como uma dama. A luz vermelha do robô passou inofensiva por cima do buraco. Nada de ser despedaçada hoje, isso é, nada além das costas da Rubi.

“Cuidado, um buraco!” Safira gritou.

Rubi saiu debaixo da gem azul e começou a andar em círculos.

“Oh minhas Diamonds... Aquele robô tentou me despedaçar! Você sabe o que isso quer dizer, Safira? Quer dizer que eu consto no registro de off colors! O banco de dados de gems erradas! Quem fez isso comigo?”

Safira refletiu por um tempo. Rubi se virou para ela e então percebeu que ela estava chorando.

“Eles fizeram isso porque você me salvou. Se não fosse por mim, nada disso teria acontecido.”

Lágrimas escorriam pelo seu rosto. Rubi afastou uma mecha do cabelo de Safira e viu seu olho trêmulo, mal conseguindo encarara-la.

“Não, não! Não chore!”

Safira levou as mãos ao rosto, procurando afastar as lágrimas.

 “Se não fosse agora, eu iria sair daquele serviço de qualquer maneira.” Rubi tentou a acalmar. “Eu não podia aguentar ver gems sendo despedaçadas apenas por serem diferentes.”

Ela esperou Safira se recompor. Ou talvez tivesse esperado suas palavras chegarem até ela, naquele mundinho com delay em que ela vivia.

“Mas você não precisava fazer isso por mim! Agora você está foragida para sempre!”

“Safira, eu fiz isso por minha conta e risco. O que vier agora, que seja.”

Ela pegou Safira pela mão.

“Venha, vamos tentar achar outras gems.”

Assim, as duas gems andaram pelos corredores da caverna até encontrarem um velho jardim de infância, onde as gems off colors se escondiam. No princípio, as outras ficaram assustadas com a sua presença, mas logo as reconheceram como membras do grupo.

Lá viviam diversas gems que não eram desejadas, desde fusões até gems defeituosas. Rhodonites, rutilos e outras rubis e safiras conviviam e dividiam tudo o que tinham. Com o tempo, Rubi começou a ver beleza naquilo. Apesar de seu novo mundo não ser tão bonito quanto a superfície, com seus imponentes prédios de pedras preciosas, ela via beleza na confidência que as gems tinham entre si.

Aquele era o lugar onde quem não pertence, pode se encaixar. Aonde gems podem se fundir sem serem julgadas. Seus defeitos, afinal, não eram tão “defeitos” assim.

Muitos dias se passaram desde a vinda das duas gems. Certa vez, Rubi e Safira estavam descansando em um buraco de emersão, quando Safira olhou para tudo aquilo e disse:

“Eu prevejo que vamos nos amar.”

As duas riram de contentamento, pois sabiam que, apesar de imperfeito, aquele mundo foi bondoso em permitir que elas ficassem juntas.

FIM