Detesto Pessoas Corajosas escrita por Izzy Hojou
Notas iniciais do capítulo
O Doutor está em perigo e alguém tem que salvar esse cara, certo?
O Doutor já não gritava mais. Não tinha voz nem fôlego, e estava ciente de que ao menos um de seus corações havia falido completamente. A energia regenerativa era retirada muito lentamente, o que dava oportunidade ao Comandante zward de saborear sua vingança pessoal, assistindo o momento em que as pernas do Doutor falharam em definitivo, fazendo com que ele ficasse dependurado pelos braços dentro da câmara de vidro.
Ele não ligava mais para o que estava acontecendo. Partindo do pressuposto de que a garota que nunca existiu, Clara, estaria morta, o Doutor pensava que talvez a encontrasse em algum lugar depois que seu segundo coração falhasse também. Foi quando ouviu o som de um baque forte. Parecia batida em osso, mas ele não conseguia mais levantar o rosto para olhar.
No anexo da sala de comando, a garota do soco perfeito movia a mão esquerda para articular o pulso. Não pensara que precisaria de tamanha força para derrubar um mero soldado. Abriu a porta cautelosamente e olhou para os lados. Não havia ninguém. Correu então na direção da sala de comando, que ficava a dois corredores do anexo, e aí sim se deparou com inimigos. Mas é sabido que chaves sônicas são poderosas, e a sua em particular era bastante perigosa também. A luz verde apontada para o primeiro soldado que viu, transformou-o em uma espécie de cubo azul do tamanho de uma bola de ping-pong.
A garota abateu da mesma forma outros três soldados que estavam guardando a porta da sala de comando, e só depois percebeu que precisaria de um deles para conseguir acesso interno. Já dentro da sala, outra jovem, mais velha, havia descido pela tubulação de ar e saltado sobre o comandante, que sem o elmo não era tão ameaçador. Desferiu-lhe uma coronhada forte, e o zward desmaiou no mesmo instante. Infelizmente os cálculos dela estavam consideravelmente errados: tinha em mente apenas três inimigos e se deparou com sete. Apontou a arma usada para desacordar o comandante na direção da Espectro: uma chave de fenda sônica, que imediatamente desativou a máquina.
Após isso, ela começou uma luta frenética contra os outros seis soldados. Sua chave não tinha o mesmo poder da garota do lado de fora, então a única saída eram seus punhos.
— Por que insisti em vir de saia? – perguntou retoricamente enquanto abatia de um único golpe o primeiro adversário, jogando-o contra outro.
A saia realmente não estava ajudando, ainda mais porque a jovem utilizava principalmente da força das pernas, com chutes certeiros em cabeças e pescoços. A cena de luta não perdurou, contudo um único zward permaneceu em pé, e já tendo aprendido a estratégia da garota, lhe agarrou pelo tornozelo no chute que se seguiu.
— Belas pernas – ele comentou de maneira maliciosa, lançando um olhar ainda pior pelas coxas da jovem – Vamos nos divertir – ele levantou a perna da garota, fazendo-a se desequilibrar e cair ao chão.
O zward se colocou entre as pernas da garota, olhando para ela como olharia para um prato apetitoso. Ela se conteve enquanto tentava encontrar uma brecha naquilo tudo, permitindo – engolindo em seco – que ele subisse uma mão por sua perna esquerda. O zward se aproximou do rosto da jovem com um sorriso asqueroso nos lábios ressequidos, seu hálito não era nada agradável. A garota aproveitou um segundo de distração: fincou a chave sônica entre as omoplatas do soldado, o eletrocutando e desviando de seu corpo desfalecido antes que caísse em cima dela.
Correu então para abrir a câmara de tortura e tirar o Doutor de lá. Assustada e pronta para combate, escutou a porta da sala ser aberta por fora, mas notou ser apenas sua parceira de fuga.
— Demorou hein? Não sabe mais abrir portas? – a mais velha se enfiou dentro da Espectro para soltar os braços do Doutor. Um arrepio lhe correu a espinha quando viu as queimaduras de segundo grau nos pulsos dele.
— Não tenho culpa. Precisei de uma mão para abrir a porta – disse a mais nova desinteressada.
A mais velha segurou o Doutor pela cintura, passando um dos braços dele por cima de sua nuca para melhorar o apoio. Quando iam sair pela porta escancarada, um soldado os avistou, obrigando a menina com as mãos livres a usar sua chave sônica.
— Você atira e eu carrego? – a mais velha conseguia carregar o Doutor com facilidade, pois estava visivelmente mais magro que o normal. Tinha de tomar cuidado com as queimaduras nos pulsos dele, e após alguns segundos notou que um de seus corações estava inerte – Lily! Vamos precisar andar logo, um dos corações dele parou.
— Óbvio que parou. E óbvio que você carrega – Lily desembestou a correr na frente da irmã, atirando em tudo e em todos que atravessassem o caminho do trio fugitivo.
Como um enorme camburão, a nave era feita de celas e mais celas, separadas por raça, quadrante, galáxia. Lily mirava nos guardas, intendentes, soldados, cabos e demais zwards que iam aparecendo propositalmente ou não diante do grupo, convertendo-os todos a pequenos cubos azuis. Passaram pelo refeitório, e o zumbido alto das vozes dos tripulantes (os mesmos que dispararam seus pratos de almoço na direção do Doutor recém capturado) chamou a atenção da garota mais velha, afinal seria muito prático prender a todos naquele salão longo e cheio de mesas que não possuía outra entrada/saída se não aquela na frente do trio. Conseguiu puxar a chave sônica da mão da irmã.
— Ei!! – a exclamação de protesto de Lily saiu um pouco mais alta do que pretendia, chamando a atenção dos zwards que se situavam mais perto da porta.
— Droga Lilian, cala a boca – a mais velha apontou a chave da irmã no painel de controle da porta do refeitório e conseguiu fechá-la antes que alguém saísse. Devolveu a chave à garota – Você não pensa antes de falar?
— Olha quem fala. Louisa, a rainha boca-aberta –Voltaram a correr, não tardaria para que aquela porta fosse arrombada, e precisavam sair daquela nave o mais rápido possível.
— Já consegue chamar a Tardis? – Louisa indagou nervosamente quando percebeu que o segundo coração do Doutor estava ameaçando falhar.
— É impossível. Aqui tem muita tecnologia anti-Timelords. Com certeza é coisa alienígena – foi a primeira coisa que Lily conseguiu falar enquanto dava comandos de voz para sua chave sônica.
De repente, as duas garotas escutaram um murmúrio e uma risada fraca. Louisa olhou para o lado e percebeu que o Doutor despertara, provavelmente com a conversa infinita e a balbúrdia da escapada.
— No espaço... Todos somos alienígenas, mocinha... – ele tinha a voz arrastada e rouca, e sequer conseguia levantar a cabeça.
Andaram por mais quatro corredores, e aos poucos o Doutor ia reconhecendo o caminho por onde havia sido trazido mais cedo. Viu os módulos de escape ao fundo dos corredores que percorreu quando estava algemado, e puxou Louisa para o lado direito quando as duas estavam prestes a tomar o caminho errado.
No momento em que a chave de Lou apitou alertando que algo positivo aconteceu, a luz de emergência da nave se acendeu, e um alerta geral ecoou pelo lugar. O Doutor reconheceu a voz que partia dos autofalantes: era o maldito Comandante.
— Como ele acordou tão rápido? – Louisa apressava o passo, tentando sem muito êxito apanhar a chave de fenda sônica do bolso na saia.
— Deve ter sido o escândalo feito pelos caras no refeitório. Já pegou a chave pra chamar a Tardis? – Lily começou a apressar o passo também, atirando quando o primeiro inimigo despontou no fundo do corredor.
— Doutor, pode alcançá-la para mim? – Louisa balançou os quadris indicando o bolso que continha a chave.
Ele conseguiu virar o pescoço e encontrar pelo olhar o tal bolso. Sentiu o rosto esquentar ao perceber que havia a possibilidade de sua mão passar pelo lugar errado. Ia fazer menção de falar, mas a garota notou seu rubor, parou de andar e riu:
— No futuro, você vai pegar bem mais do que só na minha bunda – ela se divertia com aquilo, e acabou apanhando a chave sozinha.
A porta pela qual o trio iria passar se fechou sem aviso prévio, obrigando-os a tentar outro caminho qualquer. Àquela altura havia soldados vindo na direção dos fugitivos, e Lily os transformava em cubos azuis, os quais o Doutor fitou meio horrorizado.
— Não é para matar ninguém, menina! Se este fosse o necessário, eu mesmo o teria feito – ele tentou se empertigar enquanto Louisa o segurava, estava se recuperando dos ferimentos, mas acabou sentindo uma pontada no peito e só conseguiu tossir forçosamente.
— Não estou matando. É apenas desidratação instantânea. Lou, me dê sua chave, preciso recarregar – Lily apanhou a chave sônica que a comparsa lhe atirou. Jogada ao ar, seus detalhes ficaram nítidos aos olhos embaçados do Doutor: era a chave sônica que dera a River Song em Darillium.
— De onde roubaram isso? – dessa vez o Timelord se impôs, parando as duas garotas por um instante – Isso não é algo que se consiga assim, num mercado de pulgas. Exijo saber! – houve uma breve fúria por parte do Doutor, porém sem possibilidade de continuação.
O Comandante zward – até agora de nome desconhecido – apontou no corredor armado até os dentes, pronto para atirar no trio fugitivo. Nesse instante, um som característico pairou sobre e envolta do grupo: era uma Tardis, sem dúvida, que se materializou de modo a colocar as garotas e o Doutor em seu interior. A máquina foi rapidamente redirecionada para pousar dentro da Tardis do Doutor, e Lily correu até seu console, tirando a máquina azul da rota de colisão com uma supernova – rota essa que havia acabado de destruir a nave Zward.
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Quem são essas duas? Então... Boa pergunta, né?